Benfica só pagou a vedetas

14-09-1999
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Vale e Azevedo aparece aos olhos de milhares de benfiquistas com uma imagem cada vez mais tremida, mas continua a manter as mais díspares cumplicidades

Esta situação, faz com que o presidente benfiquista ainda se veja ameaçado por eventuais rescisões com justa causa. Mas não é só no futebol, pois as modalidades amadoras debatem-se igualmente com graves atrasos nos salários (à cabeça, o hóquei em patins, com três meses).

O EXPRESSO apurou também que Vale e Azevedo aproveitou logo os 54 mil contos da receita líquida do último Benfica-FC Porto, para refazer a conta bancária de onde extraíra o dinheiro para os ordenados, mas ainda não conseguiu tranquilizar o espírito dos dirigentes da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) no que respeita ao caso Poborsky. Isto porque, se o Benfica não saldar no fim deste mês a dívida de 630 mil contos que tem para com o Manchester United, poderão vir a abater-se dias negros sobre o número 25 da Praça da Alegria.

Aliás, a FPF já foi escaldada no caso Menad, pois há uns anos a UEFA obrigou-a a pagar a transferência do jogador, por ter aceite o certificado internacional quando ele veio de França sem qualquer termo de responsabilidade. Ora, como o Famalicão não pagou, coube à FPF fazê-lo.

A partir daí, a FPF acautelou-se. Estatuiu então que, no futuro, só avalizaria as inscrições de futebolistas estrangeiros transferidos para clubes portugueses, desde que o processo fosse acompanhado por um termo de responsabilidade sobre qualquer débito correspondente por regularizar, ou então um atestado, reconhecido notarialmente, provando que o clube nada deve e tem a operação totalmente regularizada.

Os receios da equipa dirigida por Gilberto Madaíl prendem-se exactamente com este pormenor. É que, segundo confidenciou ao EXPRESSO uma fonte ligada ao processo, quando Vale e Azevedo pediu a inscrição do checo, em Dezembro de 1997, apresentou um documento com assinatura reconhecida, garantindo que nada devia ao Manchester United. Só que algum tempo depois a realidade provou o contrário. Os ingleses reclamaram o pagamento da dívida junto do clube português mas, como não tiveram êxito, recorreram, através da federação inglesa, à FIFA. Esta, por sua vez, fixou o prazo de 30 dias (termina a 29 do corrente) para Vale e Azevedo pagar. Caso o não faça, a FIFA não só impedirá o Benfica de participar nas competições europeias, como deverá responsabilizar a FPF, chamando-a a assumir a falha do seu filiado. A FPF aguarda ansiosa que nada disto aconteça. Porém, se tal vier a suceder, restar-lhe-á cumprir a decisão e cobrar ao Benfica.

FPF: solução comprometida

Na opinião de alguns juristas contactados pelo EXPRESSO, desde que vieram a público as primeiras reclamações do Manchester United, aquele acto de Vale e Azevedo deveria ter já merecido uma tomada de posição da FPF. Hugo Velosa, por exemplo, diz que a simples descoberta do facto «obrigava de imediato à suspensão da inscrição do jogador e à abertura de um inquérito». Competiria, depois, às instâncias disciplinares pronunciar-se sobre se deveria ou não ser emitida nota de culpa para apuramento de responsabilidades.

De acordo com o mesmo advogado, no caso de se concluir ter havido dolo, o clube arrisca-se a sofrer diversas penalizações que podem ir até à perda dos pontos conquistados pela equipa nos jogos em que o jogador foi utilizado, nos 30 dias imediatamente anteriores à sentença. Velosa adiantou ainda que já há jurisprudência sobre situações semelhantes e lembrou o caso do zairense Mapuata, que representou o Belenenses.

Há, no entanto, outros causídicos que preconizam cenários divergentes, considerando que neste momento a FPF está «de mãos e pés atados» e pouco ou nada pode fazer. O melhor é tentar que tudo se resolva sem a pôr em causa, porque o Benfica «ficaria também em muito maus lençóis». Mas, no caso extremo da federação vir a ser responsabilizada por aquela dívida, Madaíl tem na sua posse um instrumento de peso contra Vale e Azevedo. E, embora contrariando as regras que a própria FIFA estipula, poderia sempre recorrer aos tribunais civis, podendo acusar o presidente do Benfica do crime de burla.

José Pereira

e Alexandra Simões de Abreu

Vale e Azevedo aparece aos olhos de milhares de benfiquistas com uma imagem cada vez mais tremida, mas continua a manter as mais díspares cumplicidades

Esta situação, faz com que o presidente benfiquista ainda se veja ameaçado por eventuais rescisões com justa causa. Mas não é só no futebol, pois as modalidades amadoras debatem-se igualmente com graves atrasos nos salários (à cabeça, o hóquei em patins, com três meses).

O EXPRESSO apurou também que Vale e Azevedo aproveitou logo os 54 mil contos da receita líquida do último Benfica-FC Porto, para refazer a conta bancária de onde extraíra o dinheiro para os ordenados, mas ainda não conseguiu tranquilizar o espírito dos dirigentes da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) no que respeita ao caso Poborsky. Isto porque, se o Benfica não saldar no fim deste mês a dívida de 630 mil contos que tem para com o Manchester United, poderão vir a abater-se dias negros sobre o número 25 da Praça da Alegria.

Aliás, a FPF já foi escaldada no caso Menad, pois há uns anos a UEFA obrigou-a a pagar a transferência do jogador, por ter aceite o certificado internacional quando ele veio de França sem qualquer termo de responsabilidade. Ora, como o Famalicão não pagou, coube à FPF fazê-lo.

A partir daí, a FPF acautelou-se. Estatuiu então que, no futuro, só avalizaria as inscrições de futebolistas estrangeiros transferidos para clubes portugueses, desde que o processo fosse acompanhado por um termo de responsabilidade sobre qualquer débito correspondente por regularizar, ou então um atestado, reconhecido notarialmente, provando que o clube nada deve e tem a operação totalmente regularizada.

Os receios da equipa dirigida por Gilberto Madaíl prendem-se exactamente com este pormenor. É que, segundo confidenciou ao EXPRESSO uma fonte ligada ao processo, quando Vale e Azevedo pediu a inscrição do checo, em Dezembro de 1997, apresentou um documento com assinatura reconhecida, garantindo que nada devia ao Manchester United. Só que algum tempo depois a realidade provou o contrário. Os ingleses reclamaram o pagamento da dívida junto do clube português mas, como não tiveram êxito, recorreram, através da federação inglesa, à FIFA. Esta, por sua vez, fixou o prazo de 30 dias (termina a 29 do corrente) para Vale e Azevedo pagar. Caso o não faça, a FIFA não só impedirá o Benfica de participar nas competições europeias, como deverá responsabilizar a FPF, chamando-a a assumir a falha do seu filiado. A FPF aguarda ansiosa que nada disto aconteça. Porém, se tal vier a suceder, restar-lhe-á cumprir a decisão e cobrar ao Benfica.

FPF: solução comprometida

Na opinião de alguns juristas contactados pelo EXPRESSO, desde que vieram a público as primeiras reclamações do Manchester United, aquele acto de Vale e Azevedo deveria ter já merecido uma tomada de posição da FPF. Hugo Velosa, por exemplo, diz que a simples descoberta do facto «obrigava de imediato à suspensão da inscrição do jogador e à abertura de um inquérito». Competiria, depois, às instâncias disciplinares pronunciar-se sobre se deveria ou não ser emitida nota de culpa para apuramento de responsabilidades.

De acordo com o mesmo advogado, no caso de se concluir ter havido dolo, o clube arrisca-se a sofrer diversas penalizações que podem ir até à perda dos pontos conquistados pela equipa nos jogos em que o jogador foi utilizado, nos 30 dias imediatamente anteriores à sentença. Velosa adiantou ainda que já há jurisprudência sobre situações semelhantes e lembrou o caso do zairense Mapuata, que representou o Belenenses.

Há, no entanto, outros causídicos que preconizam cenários divergentes, considerando que neste momento a FPF está «de mãos e pés atados» e pouco ou nada pode fazer. O melhor é tentar que tudo se resolva sem a pôr em causa, porque o Benfica «ficaria também em muito maus lençóis». Mas, no caso extremo da federação vir a ser responsabilizada por aquela dívida, Madaíl tem na sua posse um instrumento de peso contra Vale e Azevedo. E, embora contrariando as regras que a própria FIFA estipula, poderia sempre recorrer aos tribunais civis, podendo acusar o presidente do Benfica do crime de burla.

José Pereira

e Alexandra Simões de Abreu

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