JORNAL PUBLICO: O "nim" de Nobre Guedes

01-10-1999
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28/05/95

Partido Popular aprovou nove cabeças de lista

O "nim" de Nobre Guedes

O PP aprovou ontem nove cabeças de lista, mas Lisboa continua em aberto. Guedes, o candidato da Comissão Política, pediu mais tempo para pensar, por motivos profissionais. Mas no Caldas há quem lembre o processo no DIAP. Cavaleiro perfila-se, de novo, como segundo no Porto. Aveiro mantém-se a principal dor de cabeça de Monteiro.

Passava já da uma da tarde quando Luís Nobre Guedes pediu a palavra no Conselho Nacional do Partido Popular que ontem se reuniu em Lisboa. Alegando motivos de ordem profissional, apelou aos seus pares para que lhe dilatassem o prazo de resposta ao convite para liderar a lista da capital.

Um arrepio percorreu a espinha dos presentes, esperançados em que este membro da Comissão Política - directamente envolvido na "construção" do novo PP - sossegasse o partido e assegurasse o lugar que o presidente, Manuel Monteiro, deixou vago ao candidatar-se em Braga. E, ao mesmo tempo, fechar o ciclo delineado pelos estrategos do PP: apresentar caras de jovens dirigentes nos círculos tidos por mais importantes.

O nome de Nobre Guedes tinha sido aprovado pela Comissão Política na sexta-feira à noite, mas restava saber se aceitaria. Antes de Nobre Guedes falar, Monteiro fizera uma incursão ao passado para lembrar que o potencial cabeça de lista em Lisboa fora um dos militantes que mais lhe pediram para se candidatar à presidência do então CDS e tomar as rédeas do partido. Era a forma implícita de Monteiro pressionar Guedes a dizer logo que sim.

Pedido que não foi correspondido. Nobre Guedes explicou que não podia responder enquanto não esclarecesse a situação com os sócios do seu escritório de advocacia. Quando, de tarde, foram aprovados nove cabeças de lista, foi-lhe feita a vontade e Lisboa ficou para depois - ainda que o nome da independente Maria José Nogueira Pinto seja apontado como quase certo em segundo lugar e continue sem resposta o convite dirigido a outra independente, Manuela Moura Guedes.

O fantasma do DIAP

Embora Nobre Guedes se tenha apenas referido ao seu escritório, alguns dirigentes do PP explicaram ao PÚBLICO que entre os motivos que o levam a hesitar está o facto de ser alvo de um inquérito no DIAP por alegada evasão fiscal.

Mais: o processo do DIAP teria recentemente sido "suspenso", de acordo com uma versão, ou "arquivado para melhor prova", segundo a expressão usada por outro dirigente. Esta seria, assim, a real causa para Guedes pedir mais tempo. Uma questão que, quando interrogado pelo PÚBLICO, o próprio se recusou a abordar: "Não comento!"

Apesar de Lisboa ter ficado adiada, os 45 conselheiros, por voto secreto, aprovaram unanimemente Manuel Monteiro em Braga, Galvão Lucas em Viseu, Helena Santo em Santarém e Francisco Sampaio Soares em Portalegre. Com um voto em branco foram aprovados Krus Abecasis por Setúbal, José Mesquita por Bragança, Adelaide Freixinho por Coimbra e José Monjardino pelos Açores.

Já a aprovação de Lobo Xavier como cabeça de lista pelo Porto não foi tão consensual: um voto branco e dois contra. Foi o resultado da "guerra" entre o vice-presidente nacional e dirigentes portuenses, desencadeada pelo ultimato lançado pela distrital a Manuel Cavaleiro Brandão para que aceitasse ser o segundo nome da lista do PP. Um desaguisado que deverá ter um final feliz. Tudo indica que Cavaleiro Brandão poderá ter já concordado em ser segundo, tendo atrás de si, Silva Carvalho e Sílvio Cervan.

Por encontrar continua o cabeça de lista em Aveiro. Um problema que Monteiro e Girão Pereira, o "homem forte" do PP neste distrito, terão de resolver até domingo, dia do almoço com militantes em que deverá ser anunciado o candidato mistério.

Cartilha para a AR

No encerramento, Monteiro passou ao lado das questões polémicas e optou por enunciar - em estilo de moção que foi aprovada por "unanimidade e aclamação" - alguns princípios que enformarão as bases do prometido código de deputado.

A saber: a revisão da lei eleitoral que faça "os deputados depender dos eleitores"; a revisão constitucional que abra à candidatura de listas de independentes à AR; o não aos deputados "funcionários" e a defesa de que no Parlamento se sentem "as verdadeiras elites do país real"; o fim do regime "privativo de reformas" e a diminuição das férias; a defesa do referendo; um novo regulamento para as comissões de inquérito; a ida do primeiro-ministro à AR de quinze em quinze dias; e que os projectos e as propostas de lei sejam acompanhados de um "estudo de custos e impacto de criação de emprego".

Monteiro aproveitou para erguer, de novo, a bandeira da moralização. Desta vez, através da divulgação dos rendimentos dos deputados e dos membros dos governos central e regionais. E criticou a criação de novas incompatibilidades entre o cargo de deputado e o exercício de outras profissões, porque, considera, pode ficar a ideia de que "só vai para a política quem não sabe trabalhar".

São José Almeida

28/05/95

Partido Popular aprovou nove cabeças de lista

O "nim" de Nobre Guedes

O PP aprovou ontem nove cabeças de lista, mas Lisboa continua em aberto. Guedes, o candidato da Comissão Política, pediu mais tempo para pensar, por motivos profissionais. Mas no Caldas há quem lembre o processo no DIAP. Cavaleiro perfila-se, de novo, como segundo no Porto. Aveiro mantém-se a principal dor de cabeça de Monteiro.

Passava já da uma da tarde quando Luís Nobre Guedes pediu a palavra no Conselho Nacional do Partido Popular que ontem se reuniu em Lisboa. Alegando motivos de ordem profissional, apelou aos seus pares para que lhe dilatassem o prazo de resposta ao convite para liderar a lista da capital.

Um arrepio percorreu a espinha dos presentes, esperançados em que este membro da Comissão Política - directamente envolvido na "construção" do novo PP - sossegasse o partido e assegurasse o lugar que o presidente, Manuel Monteiro, deixou vago ao candidatar-se em Braga. E, ao mesmo tempo, fechar o ciclo delineado pelos estrategos do PP: apresentar caras de jovens dirigentes nos círculos tidos por mais importantes.

O nome de Nobre Guedes tinha sido aprovado pela Comissão Política na sexta-feira à noite, mas restava saber se aceitaria. Antes de Nobre Guedes falar, Monteiro fizera uma incursão ao passado para lembrar que o potencial cabeça de lista em Lisboa fora um dos militantes que mais lhe pediram para se candidatar à presidência do então CDS e tomar as rédeas do partido. Era a forma implícita de Monteiro pressionar Guedes a dizer logo que sim.

Pedido que não foi correspondido. Nobre Guedes explicou que não podia responder enquanto não esclarecesse a situação com os sócios do seu escritório de advocacia. Quando, de tarde, foram aprovados nove cabeças de lista, foi-lhe feita a vontade e Lisboa ficou para depois - ainda que o nome da independente Maria José Nogueira Pinto seja apontado como quase certo em segundo lugar e continue sem resposta o convite dirigido a outra independente, Manuela Moura Guedes.

O fantasma do DIAP

Embora Nobre Guedes se tenha apenas referido ao seu escritório, alguns dirigentes do PP explicaram ao PÚBLICO que entre os motivos que o levam a hesitar está o facto de ser alvo de um inquérito no DIAP por alegada evasão fiscal.

Mais: o processo do DIAP teria recentemente sido "suspenso", de acordo com uma versão, ou "arquivado para melhor prova", segundo a expressão usada por outro dirigente. Esta seria, assim, a real causa para Guedes pedir mais tempo. Uma questão que, quando interrogado pelo PÚBLICO, o próprio se recusou a abordar: "Não comento!"

Apesar de Lisboa ter ficado adiada, os 45 conselheiros, por voto secreto, aprovaram unanimemente Manuel Monteiro em Braga, Galvão Lucas em Viseu, Helena Santo em Santarém e Francisco Sampaio Soares em Portalegre. Com um voto em branco foram aprovados Krus Abecasis por Setúbal, José Mesquita por Bragança, Adelaide Freixinho por Coimbra e José Monjardino pelos Açores.

Já a aprovação de Lobo Xavier como cabeça de lista pelo Porto não foi tão consensual: um voto branco e dois contra. Foi o resultado da "guerra" entre o vice-presidente nacional e dirigentes portuenses, desencadeada pelo ultimato lançado pela distrital a Manuel Cavaleiro Brandão para que aceitasse ser o segundo nome da lista do PP. Um desaguisado que deverá ter um final feliz. Tudo indica que Cavaleiro Brandão poderá ter já concordado em ser segundo, tendo atrás de si, Silva Carvalho e Sílvio Cervan.

Por encontrar continua o cabeça de lista em Aveiro. Um problema que Monteiro e Girão Pereira, o "homem forte" do PP neste distrito, terão de resolver até domingo, dia do almoço com militantes em que deverá ser anunciado o candidato mistério.

Cartilha para a AR

No encerramento, Monteiro passou ao lado das questões polémicas e optou por enunciar - em estilo de moção que foi aprovada por "unanimidade e aclamação" - alguns princípios que enformarão as bases do prometido código de deputado.

A saber: a revisão da lei eleitoral que faça "os deputados depender dos eleitores"; a revisão constitucional que abra à candidatura de listas de independentes à AR; o não aos deputados "funcionários" e a defesa de que no Parlamento se sentem "as verdadeiras elites do país real"; o fim do regime "privativo de reformas" e a diminuição das férias; a defesa do referendo; um novo regulamento para as comissões de inquérito; a ida do primeiro-ministro à AR de quinze em quinze dias; e que os projectos e as propostas de lei sejam acompanhados de um "estudo de custos e impacto de criação de emprego".

Monteiro aproveitou para erguer, de novo, a bandeira da moralização. Desta vez, através da divulgação dos rendimentos dos deputados e dos membros dos governos central e regionais. E criticou a criação de novas incompatibilidades entre o cargo de deputado e o exercício de outras profissões, porque, considera, pode ficar a ideia de que "só vai para a política quem não sabe trabalhar".

São José Almeida

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