Jardim diz que não aceita resultado eleitoral

12-10-1999
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Presidente do Governo Regional da Madeira acusa Guterres de ter "sacrificado uma população"

Jardim Diz Que Não Aceita Resultado Eleitoral

Por TOLENTINO DE NÓBREGA

Terça-feira, 5 de Outubro de 1999

Alberto João Jardim não vai reconhecer o resultado eleitoral, porque a campanha decorreu "sob o signo da fraude, da intoxicação da opinião pública por uma máquina de propaganda montada para falar de Timor". O presidente do Governo Regional da Madeira acusou António Guterres de "sacrificar uma população" [os timorenses] para "cumprir um calendário eleitoral" e avisou o líder do PS que, a partir de agora, é, ele, Jardim, o seu adversário principal: "Prepare-se, senhor Guterres, que daqui em diante o combate é entre si e mim, porque estou farto de ser enxovalhado".

Num comício da Ponta do Sol, Jardim chamou aos jornalistas "os seus [de Guterres] jagunços que atentam contra as liberdades" e confessou-se "farto de ser enxovalhado pelos jagunços do poder". Lançou outros avisos 'ameaçadores': "Não nos provoquem porque não somos de paleio. Fomos explorados por Lisboa durante 550 anos, o povo madeirense não se vai submeter porque é um povo superior e inteligente, não é como o outro que o senhor domina". Também suspirou: "Já não posso mais". Repetiu várias vezes, depois de várias críticas ao Governo, que "agora é entre mim e si, porque a oposição não se lembra destas coisas". Acusou Guterres de "destruir as liberdades deste país e montar uma máquina tenebrosa de comunicação social que até forjou líderes da oposição".

Guerra às "forças de ocupação colonial"

Antes do comício da Ponta do Sol, Jardim já tinha declarado não admitir na Madeira "forças de ocupação colonial". Indistintamente, quer se chamem GNR ou se designem por RDP, o governante insular, passando de agressor a vítima, a todos declarou guerra, tendo por alvo privilegiado os jornalistas "ao serviço de Lisboa".

O gabinete da presidência do executivo madeirense decidiu ontem "proceder criminalmente" contra a RDP, acusada de, "tendenciosamente", fazer "um programa de campanha contra o governo regional, o seu presidente e a maioria que o apoia". Convidado pela direcção daquela estação para participar num debate público com os demais cabeças-de-lista, no âmbito das emissões ao vivo que a Antena 1 vem realizando a partir de outras cidades do país, declinou o convite e exigiu a participação de Guilherme Silva, em sua substituição.

Habituado a inviabilizar debates na Madeira não aceitando sentar-se com adversários políticos locais perante os microfones ou câmaras dos centros regionais da RDP e RTP - "um político nacional não deve confrontar-se com candidatos regionais", alega - Jardim desta feita não conseguiu concretizar o seu objectivo. O responsável pelo programa, Sena Santos, não transigiu e fez cumprir a regra seguida em anteriores programas em que deixou vazia a cadeira do ausente. Para pressionar e exigir a presença de Guilherme Silva na antena nacional, militantes sociais-democratas compareceram durante a emissão no café Apolo junto ao qual, em estranha coincidência, umas fugitivas bailarinas promoveram os seus dotes corporais em barulhento ritmo brasileiro.

Para o PSD, a RDP tomou uma "atitude censória sem precedentes, confirmando a situação totalitária que se vive na controlada comunicação social do Estado". E, ao não aceitar um substituto de Jardim, a RDP, "ditatorialmente, esquece que somos uma Região Autónoma", revela "intenção planeada" e confirma as "suspeitas sobre a [sua] democraticidade".

Razões do apelo do PSD aos madeirenses para "estarem atentos ao combate desleal que, do continente, se vem fazendo à Madeira, só porque esta é a única parcela do território português que não é socialista". A "vil e baixa campanha", "milimetricamente urdida e planeada" pelo PS, com "ataques soezes e continuados ao presidente do governo regional", visa, ainda segundo os sociais-democratas, "atingir a Madeira e a tomada do poder a todo o custo". Contra os que "servil e provincianamente, servem humilhante e vergonhosamente o senhorio da antiga capital do Império", a ordem "é de combate pela dignidade do povo madeirense".

Assim repete o PSD a palavra de ordem dada no último fim-de-semana por Jardim que, em campanha permanente, desdobrou-se nas funções de presidente do governo, de líder regional do PSD e de candidato número um por este partido. Numa ou noutra qualidade, como único orador, o discurso é sempre de declarada "guerra contra Lisboa", apenas com variantes ditadas pelas circunstâncias ou pelos mais próximos acontecimentos.

Em Câmara de Lobos, refere as "ofensivas" reportagens sobre pedofilia atribuídas a "televisões e jornalistas socialistas", para incitar a pouco pacífica população a um "ajuste de contas" com estes profissionais "pagos por Lisboa". No Porto Moniz, a fiscalização a produtos agrícolas serviu de pretexto para também se dizer "farto das provocações" da Brigada Fiscal da GNR, "sempre comandadas por madeirenses e, infelizmente neste momento" com "um comandante que eu não sei quem é". "Nesta terra eu não consinto forças de ocupação colonial", avisou Jardim que, protegido da chuva, disse-se "feliz porque os jornalistas estão apanhando uma molha".

Todos os pretextos servem para zurzir os jornalistas que estariam ao serviço da classe política de Lisboa, uns e outros "adversários da Madeira" e representantes da "continuidade da tradição colonialista que marcou 550 anos da nossa história". O voto no PSD, conclui, servirá para que "Deus nos livre de ficarmos outra vez dependentes de Lisboa".

Tolentino de Nóbrega

Presidente do Governo Regional da Madeira acusa Guterres de ter "sacrificado uma população"

Jardim Diz Que Não Aceita Resultado Eleitoral

Por TOLENTINO DE NÓBREGA

Terça-feira, 5 de Outubro de 1999

Alberto João Jardim não vai reconhecer o resultado eleitoral, porque a campanha decorreu "sob o signo da fraude, da intoxicação da opinião pública por uma máquina de propaganda montada para falar de Timor". O presidente do Governo Regional da Madeira acusou António Guterres de "sacrificar uma população" [os timorenses] para "cumprir um calendário eleitoral" e avisou o líder do PS que, a partir de agora, é, ele, Jardim, o seu adversário principal: "Prepare-se, senhor Guterres, que daqui em diante o combate é entre si e mim, porque estou farto de ser enxovalhado".

Num comício da Ponta do Sol, Jardim chamou aos jornalistas "os seus [de Guterres] jagunços que atentam contra as liberdades" e confessou-se "farto de ser enxovalhado pelos jagunços do poder". Lançou outros avisos 'ameaçadores': "Não nos provoquem porque não somos de paleio. Fomos explorados por Lisboa durante 550 anos, o povo madeirense não se vai submeter porque é um povo superior e inteligente, não é como o outro que o senhor domina". Também suspirou: "Já não posso mais". Repetiu várias vezes, depois de várias críticas ao Governo, que "agora é entre mim e si, porque a oposição não se lembra destas coisas". Acusou Guterres de "destruir as liberdades deste país e montar uma máquina tenebrosa de comunicação social que até forjou líderes da oposição".

Guerra às "forças de ocupação colonial"

Antes do comício da Ponta do Sol, Jardim já tinha declarado não admitir na Madeira "forças de ocupação colonial". Indistintamente, quer se chamem GNR ou se designem por RDP, o governante insular, passando de agressor a vítima, a todos declarou guerra, tendo por alvo privilegiado os jornalistas "ao serviço de Lisboa".

O gabinete da presidência do executivo madeirense decidiu ontem "proceder criminalmente" contra a RDP, acusada de, "tendenciosamente", fazer "um programa de campanha contra o governo regional, o seu presidente e a maioria que o apoia". Convidado pela direcção daquela estação para participar num debate público com os demais cabeças-de-lista, no âmbito das emissões ao vivo que a Antena 1 vem realizando a partir de outras cidades do país, declinou o convite e exigiu a participação de Guilherme Silva, em sua substituição.

Habituado a inviabilizar debates na Madeira não aceitando sentar-se com adversários políticos locais perante os microfones ou câmaras dos centros regionais da RDP e RTP - "um político nacional não deve confrontar-se com candidatos regionais", alega - Jardim desta feita não conseguiu concretizar o seu objectivo. O responsável pelo programa, Sena Santos, não transigiu e fez cumprir a regra seguida em anteriores programas em que deixou vazia a cadeira do ausente. Para pressionar e exigir a presença de Guilherme Silva na antena nacional, militantes sociais-democratas compareceram durante a emissão no café Apolo junto ao qual, em estranha coincidência, umas fugitivas bailarinas promoveram os seus dotes corporais em barulhento ritmo brasileiro.

Para o PSD, a RDP tomou uma "atitude censória sem precedentes, confirmando a situação totalitária que se vive na controlada comunicação social do Estado". E, ao não aceitar um substituto de Jardim, a RDP, "ditatorialmente, esquece que somos uma Região Autónoma", revela "intenção planeada" e confirma as "suspeitas sobre a [sua] democraticidade".

Razões do apelo do PSD aos madeirenses para "estarem atentos ao combate desleal que, do continente, se vem fazendo à Madeira, só porque esta é a única parcela do território português que não é socialista". A "vil e baixa campanha", "milimetricamente urdida e planeada" pelo PS, com "ataques soezes e continuados ao presidente do governo regional", visa, ainda segundo os sociais-democratas, "atingir a Madeira e a tomada do poder a todo o custo". Contra os que "servil e provincianamente, servem humilhante e vergonhosamente o senhorio da antiga capital do Império", a ordem "é de combate pela dignidade do povo madeirense".

Assim repete o PSD a palavra de ordem dada no último fim-de-semana por Jardim que, em campanha permanente, desdobrou-se nas funções de presidente do governo, de líder regional do PSD e de candidato número um por este partido. Numa ou noutra qualidade, como único orador, o discurso é sempre de declarada "guerra contra Lisboa", apenas com variantes ditadas pelas circunstâncias ou pelos mais próximos acontecimentos.

Em Câmara de Lobos, refere as "ofensivas" reportagens sobre pedofilia atribuídas a "televisões e jornalistas socialistas", para incitar a pouco pacífica população a um "ajuste de contas" com estes profissionais "pagos por Lisboa". No Porto Moniz, a fiscalização a produtos agrícolas serviu de pretexto para também se dizer "farto das provocações" da Brigada Fiscal da GNR, "sempre comandadas por madeirenses e, infelizmente neste momento" com "um comandante que eu não sei quem é". "Nesta terra eu não consinto forças de ocupação colonial", avisou Jardim que, protegido da chuva, disse-se "feliz porque os jornalistas estão apanhando uma molha".

Todos os pretextos servem para zurzir os jornalistas que estariam ao serviço da classe política de Lisboa, uns e outros "adversários da Madeira" e representantes da "continuidade da tradição colonialista que marcou 550 anos da nossa história". O voto no PSD, conclui, servirá para que "Deus nos livre de ficarmos outra vez dependentes de Lisboa".

Tolentino de Nóbrega

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