"Big show" Balsemão

12-10-1999
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"Big Show" Balsemão

Por RUI BAPTISTA

Quarta-feira, 6 de Outubro de 1999

No PSD tocou a reunir. A ordem é desvendar os truques do "grande ilusionista" António Guterres, como lhe chamou Pinto Balsemão. Ontem, no Porto, o fundador do PSD arrasou o secretário-geral dos socialistas, para gáudio da multidão que encheu o recinto da Praia do Molhe. Uma estratégia afinada com Durão, que recorreu também a metáforas circenses para atacar Guterres, chamando-lhe "equilibrista", "malabarista" e "hipnotizador".

Enquanto isto,Guterres explicitou as suas promessas de melhoria da qualidade de vida associada a uma cultura de ambição, de exigência e de responsabilidade, prosseguindo na senda da auto-vitimização. O PP revela as fragilidades dos seus cabeça-de-lista, enquanto acusa o PS de "comprar votos". Ontem, no Porto, a campanha da CDU aqueceu.

Meninos e meninas, senhoras e cavalheiros, benvindos ao "Grande Circo das Ilusões e das Promessas" do Partido Socialista. A grande atracção é ilusionista António Guterres, que há quatro anos mantém em cena o seu "Big Show" das ilusões, com ajuda da sorridente "partenaire" Maria de Belém Roseira e de mais alguns aprendizes de feiticeiros. Guterres é a estrela, o "homem que embrulha e desembrulha", baralha e torna a dar, mas o mestre de cerimónias, o dono da tenda de circo, chama-se Jorge Coelho.

Este podia ser o resumo do discurso de Pinto Balsemão no comício do PSD no Porto. Uma intervenção arrasadora para António Guterres, antecipada ao longo do dia por Durão Barroso. Apostando em metáforas circenses, o líder do PSD chamou, entre outras coisas, "equilibrista", "malabarista", "prestigiditador " e "hipnotizador" ao secretário-geral do PS. O cabeça de lista do PSD no Porto, Vieira de Carvalho, também deu a sua ajuda na demolição da liderança de Guterres, dizendo que quem manda no país "é o aparelho do PS, autêntico polvo dominado por Jorge Coelho". Mas a estrela do dia foi mesmo Balsemão.

Irónico, sarcástico, e terrivelmente eficaz a fazer passar a mensagem, o ex-primeiro-ministro ridicularizou o líder socialista, arrancando gargalhadas à plateia. Foi um verdadeiro "Big Show" Balsemão, digno do "prime time" da SIC.

Balsemão captou, logo na primeira frase, a atenção do público, levemente entorpecido após uma interminável intervenção de Vieira de Carvalho. "Venho aqui denunciar o 'Big Show" das ilusões e das promessas, o grande espectáculo montado há quatro anos por aquele que chamo o grande ilusionista - que embrulha e desembrulha e depois vende as suas ilusões", disse a abrir. E depois lançou-se numa descrição sucinta dos "números" do "grande ilusionista" (cujo nome só pronunciou no final da intervenção) e dos seus ajudantes. O "número das estradas", "o número dos hospitais", "o número da justiça". Em todas estas áreas, explicou Balsemão, o "grande ilusionista" conseguiu convencer os portugueses de que algo estava a ser feito. Pura ilusão. Na opinião do potencial candidato do PSD à Presidência da República, ao fim de "quatro anos de espectáculo" não há um quilómetro de estrada para mostrar, não foi construído nenhum novo hospital e as listas de espera na saúde já ultrapassam dois anos, e a justiça está um caos. "O ajudante da justiça [o ministro Vera Jardim] mais parece um sonâmbulo do que um ajudante activo", ironizou.

Sublinhando que "os bons ilusionistas nunca foram bons políticos", Balsemão comparou depois a alegada "onda vitoriosa socialista" à onda virtual que no passado Verão desassossegou as praias do Algarve. "É ilusão de óptica, é falsa, engana as pessoas, não existe". E antes de passar aos elogios rasgados a Durão Barroso, deixou um vatícinio acerca do futuro do "Big Show das ilusões e das promessas" do PS: "O espectáculo está gasto, os truques são conhecidos, o público está farto e o grande ilusionista cansado ao ponto de ter tido que usar nos cartazes uma fotografia de há quatro anos". Os apoiantes "laranjas" contorceram-se de riso, e Balsemão, com um "timing" perfeito, retirou-se de cena, deixando o palco, finalmente, a Durão Barroso.

Antes do comício da praia do Molhe, Durão Barroso e respectiva comitiva tinham andado numa correria pelas estradas do distrito do Porto. Implacável, a distrital do Porto marcou para bem cedo na manhã uma volta por Trofa, Santo Tirso, Paços de Ferreira, Paredes, Valongo e Gondomar. Aqui, tinha mais de 1500 pessoas à espera para uma feijoada.

Durão arrancou então com o ataque a Guterres, ao qual Balsemão viria mais tarde a dar seguimento. "Que grande artista português é o engenheiro António Guterres. Nos tempos em que estava em minoria no seu próprio partido, contra Mário Soares, Vítor Constâncio ou Jorge Sampaio - nos chamados tempos de conspiração do sótão - mostrou grandes qualidades de equilibrismo, primeiro, e de malabarismo depois". E continuou no mesmo tom: "É um grande ilusionista porque fala muito sem ter obra para mostrar, além de revelar grandes qualidades de hipnotismo porque pede para os portugueses fecharem os olhos".

Durão estava embalado, mas foi abafado pelos berros do animador de serviço e pelos gritos de apoio da "Jota" que ontem estrearam um "slogan" novo: "Guterres manhoso, vamos votar no Barroso". Mas ainda teve tempo para recuperar a tese da conspiração contra si e contra o PSD de "alguma comunicação social", acusando mesmo alguns jornalistas de "mentirem descaradamente" sobre a adesão aos comícios do seu partido - "Temos de passar a ter torniquetes à entrada dos comícios para se continuar a ver que o PSD é o grande partido da mobilização em Portugal".

Rui Baptista

"Big Show" Balsemão

Por RUI BAPTISTA

Quarta-feira, 6 de Outubro de 1999

No PSD tocou a reunir. A ordem é desvendar os truques do "grande ilusionista" António Guterres, como lhe chamou Pinto Balsemão. Ontem, no Porto, o fundador do PSD arrasou o secretário-geral dos socialistas, para gáudio da multidão que encheu o recinto da Praia do Molhe. Uma estratégia afinada com Durão, que recorreu também a metáforas circenses para atacar Guterres, chamando-lhe "equilibrista", "malabarista" e "hipnotizador".

Enquanto isto,Guterres explicitou as suas promessas de melhoria da qualidade de vida associada a uma cultura de ambição, de exigência e de responsabilidade, prosseguindo na senda da auto-vitimização. O PP revela as fragilidades dos seus cabeça-de-lista, enquanto acusa o PS de "comprar votos". Ontem, no Porto, a campanha da CDU aqueceu.

Meninos e meninas, senhoras e cavalheiros, benvindos ao "Grande Circo das Ilusões e das Promessas" do Partido Socialista. A grande atracção é ilusionista António Guterres, que há quatro anos mantém em cena o seu "Big Show" das ilusões, com ajuda da sorridente "partenaire" Maria de Belém Roseira e de mais alguns aprendizes de feiticeiros. Guterres é a estrela, o "homem que embrulha e desembrulha", baralha e torna a dar, mas o mestre de cerimónias, o dono da tenda de circo, chama-se Jorge Coelho.

Este podia ser o resumo do discurso de Pinto Balsemão no comício do PSD no Porto. Uma intervenção arrasadora para António Guterres, antecipada ao longo do dia por Durão Barroso. Apostando em metáforas circenses, o líder do PSD chamou, entre outras coisas, "equilibrista", "malabarista", "prestigiditador " e "hipnotizador" ao secretário-geral do PS. O cabeça de lista do PSD no Porto, Vieira de Carvalho, também deu a sua ajuda na demolição da liderança de Guterres, dizendo que quem manda no país "é o aparelho do PS, autêntico polvo dominado por Jorge Coelho". Mas a estrela do dia foi mesmo Balsemão.

Irónico, sarcástico, e terrivelmente eficaz a fazer passar a mensagem, o ex-primeiro-ministro ridicularizou o líder socialista, arrancando gargalhadas à plateia. Foi um verdadeiro "Big Show" Balsemão, digno do "prime time" da SIC.

Balsemão captou, logo na primeira frase, a atenção do público, levemente entorpecido após uma interminável intervenção de Vieira de Carvalho. "Venho aqui denunciar o 'Big Show" das ilusões e das promessas, o grande espectáculo montado há quatro anos por aquele que chamo o grande ilusionista - que embrulha e desembrulha e depois vende as suas ilusões", disse a abrir. E depois lançou-se numa descrição sucinta dos "números" do "grande ilusionista" (cujo nome só pronunciou no final da intervenção) e dos seus ajudantes. O "número das estradas", "o número dos hospitais", "o número da justiça". Em todas estas áreas, explicou Balsemão, o "grande ilusionista" conseguiu convencer os portugueses de que algo estava a ser feito. Pura ilusão. Na opinião do potencial candidato do PSD à Presidência da República, ao fim de "quatro anos de espectáculo" não há um quilómetro de estrada para mostrar, não foi construído nenhum novo hospital e as listas de espera na saúde já ultrapassam dois anos, e a justiça está um caos. "O ajudante da justiça [o ministro Vera Jardim] mais parece um sonâmbulo do que um ajudante activo", ironizou.

Sublinhando que "os bons ilusionistas nunca foram bons políticos", Balsemão comparou depois a alegada "onda vitoriosa socialista" à onda virtual que no passado Verão desassossegou as praias do Algarve. "É ilusão de óptica, é falsa, engana as pessoas, não existe". E antes de passar aos elogios rasgados a Durão Barroso, deixou um vatícinio acerca do futuro do "Big Show das ilusões e das promessas" do PS: "O espectáculo está gasto, os truques são conhecidos, o público está farto e o grande ilusionista cansado ao ponto de ter tido que usar nos cartazes uma fotografia de há quatro anos". Os apoiantes "laranjas" contorceram-se de riso, e Balsemão, com um "timing" perfeito, retirou-se de cena, deixando o palco, finalmente, a Durão Barroso.

Antes do comício da praia do Molhe, Durão Barroso e respectiva comitiva tinham andado numa correria pelas estradas do distrito do Porto. Implacável, a distrital do Porto marcou para bem cedo na manhã uma volta por Trofa, Santo Tirso, Paços de Ferreira, Paredes, Valongo e Gondomar. Aqui, tinha mais de 1500 pessoas à espera para uma feijoada.

Durão arrancou então com o ataque a Guterres, ao qual Balsemão viria mais tarde a dar seguimento. "Que grande artista português é o engenheiro António Guterres. Nos tempos em que estava em minoria no seu próprio partido, contra Mário Soares, Vítor Constâncio ou Jorge Sampaio - nos chamados tempos de conspiração do sótão - mostrou grandes qualidades de equilibrismo, primeiro, e de malabarismo depois". E continuou no mesmo tom: "É um grande ilusionista porque fala muito sem ter obra para mostrar, além de revelar grandes qualidades de hipnotismo porque pede para os portugueses fecharem os olhos".

Durão estava embalado, mas foi abafado pelos berros do animador de serviço e pelos gritos de apoio da "Jota" que ontem estrearam um "slogan" novo: "Guterres manhoso, vamos votar no Barroso". Mas ainda teve tempo para recuperar a tese da conspiração contra si e contra o PSD de "alguma comunicação social", acusando mesmo alguns jornalistas de "mentirem descaradamente" sobre a adesão aos comícios do seu partido - "Temos de passar a ter torniquetes à entrada dos comícios para se continuar a ver que o PSD é o grande partido da mobilização em Portugal".

Rui Baptista

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