Portas mais credível que Marcelo

29-08-1999
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A maior parte dos portugueses não confere grande credibilidade a nenhum dos líderes da AD, mas, na comparação entre ambos, é Portas quem ganha: se 42 por cento o classificam pouco credível (51% pensam o mesmo de Marcelo), 35 por cento tomam-no, pelo contrário, muito credível (Marcelo só o é para 28%). O mesmo sucede na inteligência: embora a maioria não hesite em reconhecer craveira aos dois líderes, é Portas quem leva a melhor: é considerado muito inteligente por 71 por cento dos inquiridos, enquanto a percentagem dos que pensam o mesmo de Marcelo desce até aos 56 por cento.

No que respeita à simpatia, o líder do PSD volta a perder: a maioria (46 por cento) acha que ele é pouco simpático em comparação com Paulo Portas - a quem só 39 por cento dos eleitores atribuem esse defeito. Quanto à capacidade empreendedora de Marcelo, as opiniões dividem-se: 41 por cento pensam que ele é muito empreendedor, quase tantos quantos os que acham exactamente o contrário (39 por cento). Em relação a Portas, as ideias estão mais definidas: chegam aos 53 por cento os que lhe reconhecem muita capacidade empreendedora, ficando-se pelos 28 por cento os que pensam o oposto.

Marcelo só leva vantagem (e escassa) em dois atributos. A maioria dos inquiridos acha que ambos os líderes da AD são muito autoritários, mas ainda assim essa é uma característica que 68 por cento reconhecem facilmente a Portas, «ficando-se» pelos 55 por cento os que também a conferem a Marcelo. Tolerância é, em complementaridade, um atributo que os eleitores não descortinam nos presidentes do PSD e do PP: exactamente a mesma percentagem (52 por cento) crêem que são ambos pouco tolerantes. Marcelo, porém, é considerado muito tolerante por mais 5 por cento do que os que dizem o mesmo de Portas (e que são apenas 18 por cento).

O que poucos negam aos «chefes» da nova AD é cultura: a esmagadora maioria de 77 por cento acha que tanto um como outro são muito cultos. Já na honestidade, as opiniões fiam mais fino: há 40 por cento que acham que Marcelo e Portas o são muito; outros 40 por cento, no entanto, pensam que eles o são pouco ou nada.

PSD preocupado

Curiosamente, a imagem de Marcelo na opinião pública foi um dos temas de conversa na última reunião da Comissão Política Nacional, na sexta-feira da semana passada. O tema foi introduzido pelo representante da Madeira na direcção partidária, Correia de Jesus, que, embora salientando que «a liderança é inquestionável», se revelou preocupado com a forma como, a avaliar pelas sondagens, a imagem do líder passa para a opinião pública. Segundo uma fonte da Permanente, presente na reunião, a intervenção de Correia de Jesus foi «perfeitamente pertinente» mas, «infelizmente, Marcelo nem sequer lhe respondeu».

Instado a comentar os resultados do Painel EXPRESSO/Euroexpansão, José Miguel Júdice, vogal da Comissão Política do PSD, afirma «as respostas obtidas provam que o efeito Painel funciona distorcendo os resultados». No seu ponto de vista, «as opiniões sobre as características tendem a ser influenciadas pelas opções partidárias». E cita, a título de exemplo: «A percentagem atribuída a Marcelo em termos de honestidade é ofensivamente baixa e a percentagem atribuída a Portas relativamente ao autoritarismo é absurdamente elevada». Não obstante a sua desconfiança em relação à sondagem, Júdice considera que «aos dois líderes resta ainda muito trabalho a fazer em termos de imagem».

Outra interpretação tem o presidente da JSD. Embora considere que as sondagens são apenas «um elemento interessante», Pedro Duarte pensa que «preocupante seria se Marcelo, a esta distância das eleições, já tivesse atingido o pico de popularidade». Justificando a má imagem do líder social-democrata com o facto de «Marcelo, ao contrário de Guterres, não gerir a sua acção política pelas sondagens», o líder dos jovens sociais-democratas aposta que o que agora «é uma aparente fraqueza de Marcelo vai transformar-se na sua melhor força nos momentos-chave». A melhor imagem de Portas não o preocupa: «O líder do PSD tem tudo a ganhar com isso porque vai ter que haver uma grande complementaridade entre ambos. Mal estaríamos se se entrasse numa lógica de rivalidade».

A comparação entre os dois responsáveis máximos da AD é algo que, para o membro da comissão directiva do PP Sílvio Cervan, «está desactualizado». Na sua opinião, «a partir do referendo interno do PP, o termo de comparação de Portas é Guterres e o Governo socialista e não Marcelo Rebelo de Sousa». Cervan crê que Portas «seria um bom candidato a qualquer lugar», mas apressa-se a acrescentar que não serão «essas questões menores a condicionar a AD». «Não vale a pena inventar ou criar artificialmente pequenas ciumeiras. As sondagens valem o que valem», conclui.

Cristina Figueiredo

com Ana Serzedelo e Teresa Oliveira

Ficha técnica

A maior parte dos portugueses não confere grande credibilidade a nenhum dos líderes da AD, mas, na comparação entre ambos, é Portas quem ganha: se 42 por cento o classificam pouco credível (51% pensam o mesmo de Marcelo), 35 por cento tomam-no, pelo contrário, muito credível (Marcelo só o é para 28%). O mesmo sucede na inteligência: embora a maioria não hesite em reconhecer craveira aos dois líderes, é Portas quem leva a melhor: é considerado muito inteligente por 71 por cento dos inquiridos, enquanto a percentagem dos que pensam o mesmo de Marcelo desce até aos 56 por cento.

No que respeita à simpatia, o líder do PSD volta a perder: a maioria (46 por cento) acha que ele é pouco simpático em comparação com Paulo Portas - a quem só 39 por cento dos eleitores atribuem esse defeito. Quanto à capacidade empreendedora de Marcelo, as opiniões dividem-se: 41 por cento pensam que ele é muito empreendedor, quase tantos quantos os que acham exactamente o contrário (39 por cento). Em relação a Portas, as ideias estão mais definidas: chegam aos 53 por cento os que lhe reconhecem muita capacidade empreendedora, ficando-se pelos 28 por cento os que pensam o oposto.

Marcelo só leva vantagem (e escassa) em dois atributos. A maioria dos inquiridos acha que ambos os líderes da AD são muito autoritários, mas ainda assim essa é uma característica que 68 por cento reconhecem facilmente a Portas, «ficando-se» pelos 55 por cento os que também a conferem a Marcelo. Tolerância é, em complementaridade, um atributo que os eleitores não descortinam nos presidentes do PSD e do PP: exactamente a mesma percentagem (52 por cento) crêem que são ambos pouco tolerantes. Marcelo, porém, é considerado muito tolerante por mais 5 por cento do que os que dizem o mesmo de Portas (e que são apenas 18 por cento).

O que poucos negam aos «chefes» da nova AD é cultura: a esmagadora maioria de 77 por cento acha que tanto um como outro são muito cultos. Já na honestidade, as opiniões fiam mais fino: há 40 por cento que acham que Marcelo e Portas o são muito; outros 40 por cento, no entanto, pensam que eles o são pouco ou nada.

PSD preocupado

Curiosamente, a imagem de Marcelo na opinião pública foi um dos temas de conversa na última reunião da Comissão Política Nacional, na sexta-feira da semana passada. O tema foi introduzido pelo representante da Madeira na direcção partidária, Correia de Jesus, que, embora salientando que «a liderança é inquestionável», se revelou preocupado com a forma como, a avaliar pelas sondagens, a imagem do líder passa para a opinião pública. Segundo uma fonte da Permanente, presente na reunião, a intervenção de Correia de Jesus foi «perfeitamente pertinente» mas, «infelizmente, Marcelo nem sequer lhe respondeu».

Instado a comentar os resultados do Painel EXPRESSO/Euroexpansão, José Miguel Júdice, vogal da Comissão Política do PSD, afirma «as respostas obtidas provam que o efeito Painel funciona distorcendo os resultados». No seu ponto de vista, «as opiniões sobre as características tendem a ser influenciadas pelas opções partidárias». E cita, a título de exemplo: «A percentagem atribuída a Marcelo em termos de honestidade é ofensivamente baixa e a percentagem atribuída a Portas relativamente ao autoritarismo é absurdamente elevada». Não obstante a sua desconfiança em relação à sondagem, Júdice considera que «aos dois líderes resta ainda muito trabalho a fazer em termos de imagem».

Outra interpretação tem o presidente da JSD. Embora considere que as sondagens são apenas «um elemento interessante», Pedro Duarte pensa que «preocupante seria se Marcelo, a esta distância das eleições, já tivesse atingido o pico de popularidade». Justificando a má imagem do líder social-democrata com o facto de «Marcelo, ao contrário de Guterres, não gerir a sua acção política pelas sondagens», o líder dos jovens sociais-democratas aposta que o que agora «é uma aparente fraqueza de Marcelo vai transformar-se na sua melhor força nos momentos-chave». A melhor imagem de Portas não o preocupa: «O líder do PSD tem tudo a ganhar com isso porque vai ter que haver uma grande complementaridade entre ambos. Mal estaríamos se se entrasse numa lógica de rivalidade».

A comparação entre os dois responsáveis máximos da AD é algo que, para o membro da comissão directiva do PP Sílvio Cervan, «está desactualizado». Na sua opinião, «a partir do referendo interno do PP, o termo de comparação de Portas é Guterres e o Governo socialista e não Marcelo Rebelo de Sousa». Cervan crê que Portas «seria um bom candidato a qualquer lugar», mas apressa-se a acrescentar que não serão «essas questões menores a condicionar a AD». «Não vale a pena inventar ou criar artificialmente pequenas ciumeiras. As sondagens valem o que valem», conclui.

Cristina Figueiredo

com Ana Serzedelo e Teresa Oliveira

Ficha técnica

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