JORNAL PUBLICO: Sem "erros do passado"

23-10-1999
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22/05/95

A estreia de Durão Barroso em pré-campanha eleitoral

Sem "erros do passado"

Foi a estreia de Durão Barroso na pré-campanha eleitoral, desde que foi derrotado no último Congresso do PSD por Fernando Nogueira. Em Amarante, num comício-festa da JSD/Porto, o ministro dos Negócios Estrangeiros marcou diferenças. Foi o ataque declarado ao PS, a afirmação da década cavaquista, sem insistir nos "erros do passado". Guterres não foi poupado, nem política nem pessoalmente.

A expectativa era grande. Tratava-se, afinal, da primeira intervenção partidária de campanha eleitoral de Durão Barroso, o candidato derrotado por Fernando Nogueira no congresso do Coliseu de Lisboa. Que tentou convencer o partido de que seria ele, e não Nogueira, o candidato adequado para renovar a maioria absoluta do PSD.

O comício-festa em Amarante, anteontem à noite, foi animado, mas não muito concorrido. Porém, a pequena multidão, saboreando o frango, o caldo verde, o malhão e a obrigatória "menina que estás à janela" - um dos tais temas que corta transversalmente o espectro partidário -, aguentou e engrossou até perto das 23 horas, quando Durão Barroso chegou, acompanhado do presidente da distrital do PSD/Porto, Luís Filipe Meneses. Corria que Nogueira também apareceria de surpresa (com base numa informação difundida pela TSF). Afinal, não. Além de Sérgio Vieira, o líder da JSD/Porto, que fez o balanço das jornadas promovidas em Amarante pela estrutura juvenil dos sociais-democratas do distrito, Durão Barroso foi a única estrela da noite. Meneses (previsto no programa de festas) e Valentim Loureiro (extra-programa) foram chamados ao palco por Sérgio Vieira, mas optaram por deixar Durão a "solo".

Algumas centenas de "jotas" precisavam de descomprimir. Vinham de 24 horas de reflexão, durante as quais confrontaram Carlos Coelho, Álvaro Barreto, Carlos Pimenta e Nuno Rogeiro com mil e uma dúvidas sobre a educação, o emprego, o ambiente e a política internacional. O comício-festa teria sido morno sem eles. À míngua de gente e de entusiasmo, marcaram o compasso laranja junto ao palco, agitaram bandeiras e plagiaram o "slogan" da Juventude Comunista "quem não salta é laranjinha". Transformado, claro, em "quem não salta é socialista" e "salta, Barroso, salta".

Durão Barroso saltitou e aqueceu os ânimos. Assestou as baterias no PS e não se deteve sobre os erros do passado "cavaquista", nem reconheceu os que lhe são atribuídos.. Motivado pela reportagem do "Independente" sobre a facilidade de entrada de cidadãos indonésios em território nacional, imputada à entrada em vigor do acordo de Schengen, Durão Barroso foi impiedoso com os chamados "pseudonacionalistas", acusando-os de quererem converter os portugueses em "cidadãos de segunda na Europa, como dantes". Também não se comoveu com o encerramento do inquérito aos "casos OGMA" e o fornecimento de material militar português a Angola, nos quais seria directamente visado: "Nós somos", afirmou, "a favor do aumento da cooperação militar com os países de língua portuguesa".

O verbo de Durão Barroso, nesta estreia em campanha, não obedeceu, decididamente, a qualquer gramática de contenção. Contra os "patrioteiros retrógrados", clamou que não tem "vergonha de ser português na Europa", reduziu as propostas socialistas pelo emprego a "palavras" ("os jovens querem emprego, não querem palavras"), adoptou em estilo próprio o velho discurso de Cavaco Silva, reduzindo a diversidade do discurso oposicionista ao único objectivo comum de derrubar o PSD. Fê-lo com humor duvidoso, e algo batido, ao inventar mais uma gravura de Foz Côa, em que Guterres e Manuel Monteiro se cumprimentariam, para remeter para a pré-história as ideias do PS ou do PP.

Ainda no mesmo estilo, acusou "Guterres de não saber nadar", quando "chega ao mar encapelado da navegação" ( ..."não sabe nadar, iiiô", correspondiam aguerridos os "jotas"), para logo de seguida se sair com nova e inspirada metáfora sobre o dirigente socialista: "Nadar em palavras é fácil, porque a inteligência, quando é pouca, os corpos flutuam".

A proposta de rendimento mínimo nacional, acarinhada por Guterres, também foi tratada por Durão Barroso com extrema violência, acusando os socialistas de a saberem "impraticável" e, indo mais longe, ao considerar que a sua concretização se traduziria em reduzir as verbas dedicadas às pensões: "Ia-se buscar dinheiro àqueles que já não podem trabalhar para aqueles que não querem trabalhar".

Perante um discurso destes, que iria acrescentar Luís Filipe Meneses, cujo estilo comicieiro é tantas vezes criticado, mesmo dentro do próprio partido? Durão Barroso entusiasmou os presentes no ataque ao PS, mas a desorientação entre os sociais-democratas permanece. No "PSD profundo" do distrito do Porto, muitos não percebem o conflito entre a direcção nacional e os deputados do partido e falava-se à boca cheia do frecasso das jornadas parlamentares. Mistura-se (quase) tudo no mesmo saco: "Não servem o país. Quando vão visitar o vale do Ave, é pior que a geada negra". Palavras de um responsável distrital.

João Queirós

22/05/95

A estreia de Durão Barroso em pré-campanha eleitoral

Sem "erros do passado"

Foi a estreia de Durão Barroso na pré-campanha eleitoral, desde que foi derrotado no último Congresso do PSD por Fernando Nogueira. Em Amarante, num comício-festa da JSD/Porto, o ministro dos Negócios Estrangeiros marcou diferenças. Foi o ataque declarado ao PS, a afirmação da década cavaquista, sem insistir nos "erros do passado". Guterres não foi poupado, nem política nem pessoalmente.

A expectativa era grande. Tratava-se, afinal, da primeira intervenção partidária de campanha eleitoral de Durão Barroso, o candidato derrotado por Fernando Nogueira no congresso do Coliseu de Lisboa. Que tentou convencer o partido de que seria ele, e não Nogueira, o candidato adequado para renovar a maioria absoluta do PSD.

O comício-festa em Amarante, anteontem à noite, foi animado, mas não muito concorrido. Porém, a pequena multidão, saboreando o frango, o caldo verde, o malhão e a obrigatória "menina que estás à janela" - um dos tais temas que corta transversalmente o espectro partidário -, aguentou e engrossou até perto das 23 horas, quando Durão Barroso chegou, acompanhado do presidente da distrital do PSD/Porto, Luís Filipe Meneses. Corria que Nogueira também apareceria de surpresa (com base numa informação difundida pela TSF). Afinal, não. Além de Sérgio Vieira, o líder da JSD/Porto, que fez o balanço das jornadas promovidas em Amarante pela estrutura juvenil dos sociais-democratas do distrito, Durão Barroso foi a única estrela da noite. Meneses (previsto no programa de festas) e Valentim Loureiro (extra-programa) foram chamados ao palco por Sérgio Vieira, mas optaram por deixar Durão a "solo".

Algumas centenas de "jotas" precisavam de descomprimir. Vinham de 24 horas de reflexão, durante as quais confrontaram Carlos Coelho, Álvaro Barreto, Carlos Pimenta e Nuno Rogeiro com mil e uma dúvidas sobre a educação, o emprego, o ambiente e a política internacional. O comício-festa teria sido morno sem eles. À míngua de gente e de entusiasmo, marcaram o compasso laranja junto ao palco, agitaram bandeiras e plagiaram o "slogan" da Juventude Comunista "quem não salta é laranjinha". Transformado, claro, em "quem não salta é socialista" e "salta, Barroso, salta".

Durão Barroso saltitou e aqueceu os ânimos. Assestou as baterias no PS e não se deteve sobre os erros do passado "cavaquista", nem reconheceu os que lhe são atribuídos.. Motivado pela reportagem do "Independente" sobre a facilidade de entrada de cidadãos indonésios em território nacional, imputada à entrada em vigor do acordo de Schengen, Durão Barroso foi impiedoso com os chamados "pseudonacionalistas", acusando-os de quererem converter os portugueses em "cidadãos de segunda na Europa, como dantes". Também não se comoveu com o encerramento do inquérito aos "casos OGMA" e o fornecimento de material militar português a Angola, nos quais seria directamente visado: "Nós somos", afirmou, "a favor do aumento da cooperação militar com os países de língua portuguesa".

O verbo de Durão Barroso, nesta estreia em campanha, não obedeceu, decididamente, a qualquer gramática de contenção. Contra os "patrioteiros retrógrados", clamou que não tem "vergonha de ser português na Europa", reduziu as propostas socialistas pelo emprego a "palavras" ("os jovens querem emprego, não querem palavras"), adoptou em estilo próprio o velho discurso de Cavaco Silva, reduzindo a diversidade do discurso oposicionista ao único objectivo comum de derrubar o PSD. Fê-lo com humor duvidoso, e algo batido, ao inventar mais uma gravura de Foz Côa, em que Guterres e Manuel Monteiro se cumprimentariam, para remeter para a pré-história as ideias do PS ou do PP.

Ainda no mesmo estilo, acusou "Guterres de não saber nadar", quando "chega ao mar encapelado da navegação" ( ..."não sabe nadar, iiiô", correspondiam aguerridos os "jotas"), para logo de seguida se sair com nova e inspirada metáfora sobre o dirigente socialista: "Nadar em palavras é fácil, porque a inteligência, quando é pouca, os corpos flutuam".

A proposta de rendimento mínimo nacional, acarinhada por Guterres, também foi tratada por Durão Barroso com extrema violência, acusando os socialistas de a saberem "impraticável" e, indo mais longe, ao considerar que a sua concretização se traduziria em reduzir as verbas dedicadas às pensões: "Ia-se buscar dinheiro àqueles que já não podem trabalhar para aqueles que não querem trabalhar".

Perante um discurso destes, que iria acrescentar Luís Filipe Meneses, cujo estilo comicieiro é tantas vezes criticado, mesmo dentro do próprio partido? Durão Barroso entusiasmou os presentes no ataque ao PS, mas a desorientação entre os sociais-democratas permanece. No "PSD profundo" do distrito do Porto, muitos não percebem o conflito entre a direcção nacional e os deputados do partido e falava-se à boca cheia do frecasso das jornadas parlamentares. Mistura-se (quase) tudo no mesmo saco: "Não servem o país. Quando vão visitar o vale do Ave, é pior que a geada negra". Palavras de um responsável distrital.

João Queirós

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