As «contas de mercearia» da AD

11-09-1999
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MARCELO Rebelo de Sousa distingue entre as bases programáticas e o acordo político da Alternativa Democrática. Tanto que constituiu dois grupos de trabalho autónomos para elaborar cada um dos documentos: o que respeita às ideias e o que respeita à «mercearia» - expressão depreciativa que o líder do PSD utiliza propositadamente para desvalorizar a negociação de lugares nas listas. Mas, apesar do desprezo a que Marcelo parece votar o capítulo «lugares», é exactamente a «mercearia» - muito mais do que as ideias - que neste momento interessa às bases de ambos os partidos. E, sobretudo no PSD, o negócio não se afigura muito atraente. Um mau negócio para o PSD Matematicamente, os sociais-democratas têm muito pouco a ganhar em aliar-se aos populares liderados por Paulo Portas. Estes, em contrapartida, e na convicção de que provavelmente valem hoje metade do que valiam há quatro anos, têm muito pouco a perder. Com efeito, se o PSD e o PP obtivessem nas próximas legislativas exactamente o mesmo número de votos que conquistaram em 1995, a nova AD teria mais quatro deputados do que os totalizados agora pelas duas bancadas da direita do hemiciclo. O EXPRESSO fez as contas, através da aplicação do método de Hondt, e concluiu que a mera soma aritmética dos votos obtidos há quatro anos pelo PSD e pelo PP traria, à custa do PS, mais um parlamentar popular nos distritos de Braga, Coimbra e Viana do Castelo e um social-democrata no círculo eleitoral de Setúbal. E embora a maioria continuasse a pertencer aos socialistas, seria nesse hipotético cenário relativíssima: 108 deputados, contra 107 da nova AD. O PCP manteria os mesmos quinze mandatos. PP não tem direito a cabeças-de-lista A extrapolação dos votos de 1995 para 1999 permite sustentar a convicção dos dirigentes do PSD - tornada pública, primeiro, pelo ex-secretário-geral António Capucho e, sábado passado, por Marques Mendes - de que o PP não tem direito a nenhum cabeça-de-lista nas próximas legislativas. E a confirmar-se que, no acordo político que Marcelo e Portas terão que fechar durante a próxima semana - a Comissão Política Nacional do PSD está já convocada para 8 de Fevereiro, a fim de apreciar tanto esse texto como as bases programáticas -, «o único critério aplicável à negociação de lugares são os resultados anteriores», assim será. Pela seca aplicação das regras matemáticas, o PP não tem direito, sequer, a um segundo lugar. O melhor que consegue é um terceiro lugar em Setúbal - onde, há quatro anos, o PSD obteve quatro mandatos e o PP um. Em Aveiro (6 mandatos para o PSD e 2 para o PP em 95), Braga (7-1), Leiria (5-1), Lisboa (15-5), Santarém (3-1), Viana do Castelo (3 para o PSD) e Viseu (4-1), o nível mais elevado a que os populares ascendem é o quarto lugar. Em Beja, Bragança, Évora, Faro, Guarda, Portalegre e Vila Real, as contas não dão espaço sequer a que surja um nome popular na lista. Naturalmente, esta situação decorre da aplicação estrita dos resultados obtidos nas últimas legislativas, o ponto de partida natural para a negociação de lugares nas listas conjuntas com que PSD/PP se deverão apresentar às urnas em Outubro próximo. Assim, no âmbito do acordo político que está a ser negociado, é provável que o PP surja nalguns círculos numa posição bem mais apetecível do que aquela que os valores de 95 lhe atribuíam. Tudo depende das cedências que o PSD esteja disposto a fazer ou das conquistas que o PP tenha o mérito de conseguir. O interesse do PP em aliar-se ao PSD Mas, mesmo não ganhando nada, o PP tem todo o interesse em celebrar uma aliança pré-eleitoral com o PSD. E, ao mesmo tempo, compreende-se bem as reservas dos militantes e eleitores sociais-democratas quanto aos benefícios para o partido de uma coligação à direita. Com efeito, os populares de Paulo Portas - conscientes de que, sozinhos, dificilmente manteriam, em Outubro, os 10% alcançados por Manuel Monteiro há quatro anos - só têm a ganhar: mesmo que a nova AD não conquiste novos eleitores, basta que mantenha os que, em 95, votaram PSD e PP para ganhar mais três deputados: um segundo em Braga, um em Coimbra e outro em Viana do Castelo, distritos em que não tinham conseguido eleger nenhum representante em 1995. Já o PSD colhe aparentemente poucos frutos desta estratégia coligacionista: mesmo que o eleitorado repita os votos de há quatro anos, só consegue eleger mais um parlamentar. Se nem esses resultados conseguir obter, então, é o desastre. Considere-se a hipótese de a nova AD perder um deputado (relativamente a 1995) em cada círculo eleitoral: os resultados dão uma perda de apenas quatro parlamentares para o PP (em Aveiro, Lisboa, Porto e Santarém, distritos onde o método de Hondt atribui o último lugar elegível aos populares). Em todos os demais círculos os danos são dos sociais-democratas. E aqui reside o cerne das críticas à nova AD - nomeadamente as proferidas pelo ex-secretário-geral António Capucho -, para mais alimentadas pelos valores das sondagens. Estas não só auguram resultados para a AD inferiores à soma dos votos PSD/PP de 1995 como dão o PSD a valer, sozinho, pouco menos do que em aliança com os populares. Cristina Figueiredo Europeias em segundo plano APESAR de só se realizarem em Outubro, são já as legislativas e as listas de candidatos à Assembleia da República que agitam as hostes da AD. As europeias, que se realizam já em Junho, despertam menos entusiasmo, mas a semana foi fértil na proliferação de notícias sobre potenciais candidatos a cabeças-de-lista ao Parlamento Europeu.

Antes mesmo de se saber se a AD inclui ou não listas conjuntas às europeias - um factor «que não é irrelevante» para decidir qual será o protagonista da campanha, disse Marcelo Rebelo de Sousa ao EXPRESSO -, os nomes de Paulo Portas, Marques Mendes e Barbosa de Melo juntaram-se ao rol que já incluía, pelo menos, Leonor Beleza, Carlos Pimenta e Durão Barroso.

A JSD decidiu propor que o líder do PP seja o cabeça de listas conjuntas às europeias. O líder do PSD/Coimbra avançou com a possibilidade Barbosa de Melo - mas o ex-presidente da Assembleia da República não se mostrou muito entusiasmado. Por último, o nome de Marques Mendes - uma hipótese que vinha sendo veiculada em surdina - surgiu também em títulos de jornais. O líder do parlamentar do PSD nega qualquer disponibilidade.

Pelo mesmo método aritmético utilizado para calcular o ganho da AD nas legislativas, o EXPRESSO concluiu que uma aliança pré-eleitoral entre o PSD e o PP nas eleições para o Parlamento Europeu pode trazer um ganho de um deputado aos sociais-democratas (que passariam a ter dez representantes em Bruxelas). Segundo este estudo, ao PP caberia o terceiro, o sétimo e o décimo-primeiro lugares da lista. C.F.

AD prejudica PSD

As «contas de mercearia» da AD

Capucho tinha razão

Durão Barroso fora de jogo

Menos Governo

«Flop» no lançamento da AD

Governo resiste ao PCP com ajuda do CDS-PP

MARCELO Rebelo de Sousa distingue entre as bases programáticas e o acordo político da Alternativa Democrática. Tanto que constituiu dois grupos de trabalho autónomos para elaborar cada um dos documentos: o que respeita às ideias e o que respeita à «mercearia» - expressão depreciativa que o líder do PSD utiliza propositadamente para desvalorizar a negociação de lugares nas listas. Mas, apesar do desprezo a que Marcelo parece votar o capítulo «lugares», é exactamente a «mercearia» - muito mais do que as ideias - que neste momento interessa às bases de ambos os partidos. E, sobretudo no PSD, o negócio não se afigura muito atraente. Um mau negócio para o PSD Matematicamente, os sociais-democratas têm muito pouco a ganhar em aliar-se aos populares liderados por Paulo Portas. Estes, em contrapartida, e na convicção de que provavelmente valem hoje metade do que valiam há quatro anos, têm muito pouco a perder. Com efeito, se o PSD e o PP obtivessem nas próximas legislativas exactamente o mesmo número de votos que conquistaram em 1995, a nova AD teria mais quatro deputados do que os totalizados agora pelas duas bancadas da direita do hemiciclo. O EXPRESSO fez as contas, através da aplicação do método de Hondt, e concluiu que a mera soma aritmética dos votos obtidos há quatro anos pelo PSD e pelo PP traria, à custa do PS, mais um parlamentar popular nos distritos de Braga, Coimbra e Viana do Castelo e um social-democrata no círculo eleitoral de Setúbal. E embora a maioria continuasse a pertencer aos socialistas, seria nesse hipotético cenário relativíssima: 108 deputados, contra 107 da nova AD. O PCP manteria os mesmos quinze mandatos. PP não tem direito a cabeças-de-lista A extrapolação dos votos de 1995 para 1999 permite sustentar a convicção dos dirigentes do PSD - tornada pública, primeiro, pelo ex-secretário-geral António Capucho e, sábado passado, por Marques Mendes - de que o PP não tem direito a nenhum cabeça-de-lista nas próximas legislativas. E a confirmar-se que, no acordo político que Marcelo e Portas terão que fechar durante a próxima semana - a Comissão Política Nacional do PSD está já convocada para 8 de Fevereiro, a fim de apreciar tanto esse texto como as bases programáticas -, «o único critério aplicável à negociação de lugares são os resultados anteriores», assim será. Pela seca aplicação das regras matemáticas, o PP não tem direito, sequer, a um segundo lugar. O melhor que consegue é um terceiro lugar em Setúbal - onde, há quatro anos, o PSD obteve quatro mandatos e o PP um. Em Aveiro (6 mandatos para o PSD e 2 para o PP em 95), Braga (7-1), Leiria (5-1), Lisboa (15-5), Santarém (3-1), Viana do Castelo (3 para o PSD) e Viseu (4-1), o nível mais elevado a que os populares ascendem é o quarto lugar. Em Beja, Bragança, Évora, Faro, Guarda, Portalegre e Vila Real, as contas não dão espaço sequer a que surja um nome popular na lista. Naturalmente, esta situação decorre da aplicação estrita dos resultados obtidos nas últimas legislativas, o ponto de partida natural para a negociação de lugares nas listas conjuntas com que PSD/PP se deverão apresentar às urnas em Outubro próximo. Assim, no âmbito do acordo político que está a ser negociado, é provável que o PP surja nalguns círculos numa posição bem mais apetecível do que aquela que os valores de 95 lhe atribuíam. Tudo depende das cedências que o PSD esteja disposto a fazer ou das conquistas que o PP tenha o mérito de conseguir. O interesse do PP em aliar-se ao PSD Mas, mesmo não ganhando nada, o PP tem todo o interesse em celebrar uma aliança pré-eleitoral com o PSD. E, ao mesmo tempo, compreende-se bem as reservas dos militantes e eleitores sociais-democratas quanto aos benefícios para o partido de uma coligação à direita. Com efeito, os populares de Paulo Portas - conscientes de que, sozinhos, dificilmente manteriam, em Outubro, os 10% alcançados por Manuel Monteiro há quatro anos - só têm a ganhar: mesmo que a nova AD não conquiste novos eleitores, basta que mantenha os que, em 95, votaram PSD e PP para ganhar mais três deputados: um segundo em Braga, um em Coimbra e outro em Viana do Castelo, distritos em que não tinham conseguido eleger nenhum representante em 1995. Já o PSD colhe aparentemente poucos frutos desta estratégia coligacionista: mesmo que o eleitorado repita os votos de há quatro anos, só consegue eleger mais um parlamentar. Se nem esses resultados conseguir obter, então, é o desastre. Considere-se a hipótese de a nova AD perder um deputado (relativamente a 1995) em cada círculo eleitoral: os resultados dão uma perda de apenas quatro parlamentares para o PP (em Aveiro, Lisboa, Porto e Santarém, distritos onde o método de Hondt atribui o último lugar elegível aos populares). Em todos os demais círculos os danos são dos sociais-democratas. E aqui reside o cerne das críticas à nova AD - nomeadamente as proferidas pelo ex-secretário-geral António Capucho -, para mais alimentadas pelos valores das sondagens. Estas não só auguram resultados para a AD inferiores à soma dos votos PSD/PP de 1995 como dão o PSD a valer, sozinho, pouco menos do que em aliança com os populares. Cristina Figueiredo Europeias em segundo plano APESAR de só se realizarem em Outubro, são já as legislativas e as listas de candidatos à Assembleia da República que agitam as hostes da AD. As europeias, que se realizam já em Junho, despertam menos entusiasmo, mas a semana foi fértil na proliferação de notícias sobre potenciais candidatos a cabeças-de-lista ao Parlamento Europeu.

Antes mesmo de se saber se a AD inclui ou não listas conjuntas às europeias - um factor «que não é irrelevante» para decidir qual será o protagonista da campanha, disse Marcelo Rebelo de Sousa ao EXPRESSO -, os nomes de Paulo Portas, Marques Mendes e Barbosa de Melo juntaram-se ao rol que já incluía, pelo menos, Leonor Beleza, Carlos Pimenta e Durão Barroso.

A JSD decidiu propor que o líder do PP seja o cabeça de listas conjuntas às europeias. O líder do PSD/Coimbra avançou com a possibilidade Barbosa de Melo - mas o ex-presidente da Assembleia da República não se mostrou muito entusiasmado. Por último, o nome de Marques Mendes - uma hipótese que vinha sendo veiculada em surdina - surgiu também em títulos de jornais. O líder do parlamentar do PSD nega qualquer disponibilidade.

Pelo mesmo método aritmético utilizado para calcular o ganho da AD nas legislativas, o EXPRESSO concluiu que uma aliança pré-eleitoral entre o PSD e o PP nas eleições para o Parlamento Europeu pode trazer um ganho de um deputado aos sociais-democratas (que passariam a ter dez representantes em Bruxelas). Segundo este estudo, ao PP caberia o terceiro, o sétimo e o décimo-primeiro lugares da lista. C.F.

AD prejudica PSD

As «contas de mercearia» da AD

Capucho tinha razão

Durão Barroso fora de jogo

Menos Governo

«Flop» no lançamento da AD

Governo resiste ao PCP com ajuda do CDS-PP

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