Saleiro e Judas têm cargos na berlinda

02-09-1999
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Na demissão do ministro - apesar deste frisar que se trata de um «juízo» de «natureza estritamente pessoal» - há quem veja também uma reacção a essa cobertura a Saleiro e Judas, e com a qual, obviamente, pelo menos no plano dos princípios, Vitorino estava em manifesto desacordo.

Agora, o primeiro-ministro terá de reiterar a confiança tanto no governador civil de Beja como no presidente da Câmara de Cascais, em frontal dissonância com a declaração de princípios com que Vitorino justificou a exoneração. Ou, pelo contrário e dando o dito por não dito, Guterres terá de forçar o afastamento de Saleiro e Judas e ficará com o ónus de só o ter feito como consequência da decisão do seu número dois. E isto porque quer Judas quer Saleiro insistem em não alterar as respectivas posições iniciais.

Judas (que colocou a recandidatura à disposição de Guterres e de Jorge Coelho quando saiu a primeira notícia sobre as irregularidades fiscais que reconheceu) considera que, uma vez que lhe foi manifestada a confiança política pelo secretário-geral do PS e pelo presidente da FAUL, nada justifica a demissão do cargo que ocupa ou a não recandidatura. Tanto mais que, conforme declarou em comunicado ontem divulgado, caberá assim ao eleitorado de Cascais pronunciar-se sobre o seu «trabalho como autarca» e o seu «comportamento como cidadão».

Já Antonio Saleiro continua a negar a prática de qualquer acto ilícito que fundamente o inquérito do Ministério Público e da Polícia Judiciária por alegado envolvimento em crimes de corrupção.

Em declarações ao EXPRESSO, o governador civil de Beja disse também não ter «nada a ver» com a transacção que está na origem da demissão de António Vitorino.

Saleiro desmente que tenha sido intermediário da compra e venda do monte em Almodôvar e esgota a sua participação em todo este caso no acto de apresentação dos contratantes: «António Vitorino pediu-me que lhe apresentasse as pessoas, o que fiz com o maior prazer».

Certo é, porém, que as posições de Judas e de Saleiro não foram bem recebidas não só pela oposição como também no seio do PS e do Governo. Antes suscitaram fortes críticas.

Marcelo exige demissão de Saleiro

Por isso, Marcelo Rebelo de Sousa adiantou ao EXPRESSO que vai hoje apresentar ao Executivo um «pedido de demissão formal» do governador civil de Beja. E frisa: «O número dois do Governo mostrou ao número um como se deve actuar nestas situações».

Também os líderes do PP, Manuel Monteiro, e do PCP, Carlos Carvalhas, viram na atitude de António Vitorino um «exemplo» para Judas e Saleiro.

E no interior do próprio PS e do Governo houve quem assim entendesse, ao menos parcialmente. Alberto Costa diferenciou os casos de Vitorino e Saleiro, uma vez que o ministro reconhecera ter declarara em escritura pública valor inferior ao preço real da respectiva compra e venda e o governador civil voltou a dar-lhe a palavra de honra de que não cometera nenhum acto ilícito. Mas já quanto ao presidente da Câmara de Cascais, o ministro da Administração Interna considerou-o «diferente» e assumiu: «Se estivesse no lugar dele, demitia-me».

Também o secretário de Estado Vitalino Canas defendeu que «José Luís Judas devia demitir-se de presidente da Câmara e, depois, sujeitar-se ao escrutínio eleitoral». O que, para um colaborador de Judas, «não faria sentido», considerando que a falha reconhecida e corrigida pelo autarca «não teve nada a ver com o exercício das suas funções».

Apesar das divisões, os socialistas são maioritários na afirmação de que qualquer destes casos «está directamente ligado à consciência individual de cada um», nas palavras do líder parlamentar, Francisco Assis.

MÁRIO RAMIRES

Na demissão do ministro - apesar deste frisar que se trata de um «juízo» de «natureza estritamente pessoal» - há quem veja também uma reacção a essa cobertura a Saleiro e Judas, e com a qual, obviamente, pelo menos no plano dos princípios, Vitorino estava em manifesto desacordo.

Agora, o primeiro-ministro terá de reiterar a confiança tanto no governador civil de Beja como no presidente da Câmara de Cascais, em frontal dissonância com a declaração de princípios com que Vitorino justificou a exoneração. Ou, pelo contrário e dando o dito por não dito, Guterres terá de forçar o afastamento de Saleiro e Judas e ficará com o ónus de só o ter feito como consequência da decisão do seu número dois. E isto porque quer Judas quer Saleiro insistem em não alterar as respectivas posições iniciais.

Judas (que colocou a recandidatura à disposição de Guterres e de Jorge Coelho quando saiu a primeira notícia sobre as irregularidades fiscais que reconheceu) considera que, uma vez que lhe foi manifestada a confiança política pelo secretário-geral do PS e pelo presidente da FAUL, nada justifica a demissão do cargo que ocupa ou a não recandidatura. Tanto mais que, conforme declarou em comunicado ontem divulgado, caberá assim ao eleitorado de Cascais pronunciar-se sobre o seu «trabalho como autarca» e o seu «comportamento como cidadão».

Já Antonio Saleiro continua a negar a prática de qualquer acto ilícito que fundamente o inquérito do Ministério Público e da Polícia Judiciária por alegado envolvimento em crimes de corrupção.

Em declarações ao EXPRESSO, o governador civil de Beja disse também não ter «nada a ver» com a transacção que está na origem da demissão de António Vitorino.

Saleiro desmente que tenha sido intermediário da compra e venda do monte em Almodôvar e esgota a sua participação em todo este caso no acto de apresentação dos contratantes: «António Vitorino pediu-me que lhe apresentasse as pessoas, o que fiz com o maior prazer».

Certo é, porém, que as posições de Judas e de Saleiro não foram bem recebidas não só pela oposição como também no seio do PS e do Governo. Antes suscitaram fortes críticas.

Marcelo exige demissão de Saleiro

Por isso, Marcelo Rebelo de Sousa adiantou ao EXPRESSO que vai hoje apresentar ao Executivo um «pedido de demissão formal» do governador civil de Beja. E frisa: «O número dois do Governo mostrou ao número um como se deve actuar nestas situações».

Também os líderes do PP, Manuel Monteiro, e do PCP, Carlos Carvalhas, viram na atitude de António Vitorino um «exemplo» para Judas e Saleiro.

E no interior do próprio PS e do Governo houve quem assim entendesse, ao menos parcialmente. Alberto Costa diferenciou os casos de Vitorino e Saleiro, uma vez que o ministro reconhecera ter declarara em escritura pública valor inferior ao preço real da respectiva compra e venda e o governador civil voltou a dar-lhe a palavra de honra de que não cometera nenhum acto ilícito. Mas já quanto ao presidente da Câmara de Cascais, o ministro da Administração Interna considerou-o «diferente» e assumiu: «Se estivesse no lugar dele, demitia-me».

Também o secretário de Estado Vitalino Canas defendeu que «José Luís Judas devia demitir-se de presidente da Câmara e, depois, sujeitar-se ao escrutínio eleitoral». O que, para um colaborador de Judas, «não faria sentido», considerando que a falha reconhecida e corrigida pelo autarca «não teve nada a ver com o exercício das suas funções».

Apesar das divisões, os socialistas são maioritários na afirmação de que qualquer destes casos «está directamente ligado à consciência individual de cada um», nas palavras do líder parlamentar, Francisco Assis.

MÁRIO RAMIRES

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