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04-10-1999
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Um pilar em forma de pássaro numa porta de Lisboa Dulce Fernandes O pilar "em forma de pássaro, talvez devido à proximidade

do Aeroporto" Da autoria do engenheiro António Reis, a quem foi atribuído o último Prémio Secil, o viaduto da rotunda do Relógio é uma obra que não tem uma história normal. A sua proposta, escolhida pelos donos da obra quando já se estava a discutir a construção, aumentou o preço base e a equipa disse mesmo que se fosse vencedora do concurso para a execução do viaduto, cuja concepção original não era sua, recusaria o benefício normalmente atribuído aos vencedores: construir a obra. "Há cerca de um ano foi lançado o concurso de construção, que não impedia os concorrentes de apresentarem alternativas. Pareceu-me que, tratando-se de uma zona de Lisboa particularmente sensível do ponto de vista do impacto da obra na malha urbana, se deveria procurar uma solução mais integrada do ponto de vista estético", explica António Reis, director do Departamento de Engenharia Civil do Instituto Superior Técnico. A proposta, feita por António Reis à Expo-98 e à Câmara Municipal de Lisboa (CML), era "construir-se alguma coisa de emblemático numa zona que pode ser considerada uma porta cidade". As alterações ao projecto original foram radicais: desde a sua localização na praça até à redução dos pilares a um apenas. "No projecto foi importante a posição da Expo-98 e da CML. Tiveram a abertura para aceitar uma variação que só normalmente o é quando o preço desce. É uma atitude muito rara. Mas é importantíssimo passarmos a dar mais atenção ao aspecto estético, paisagístico e à integração na malha da cidade das obras urbanas, essa preocupação deve ser permanente. Muitas vezes perde-se muito tempo com as grandes obras que não têm, do ponto de vista da sua percepção pelas pessoas, o impacto que têm as obras urbanas, que são obras que as pessoas podem tocar". A ideia do projecto de António Reis foi reduzir ao mínimo os elementos dentro da praça, fazer um viaduto o mais transparente possível. O problema da destruição da rotunda, acentuando um processo contínuo em Lisboa, foi também sentido pelo engenheiro e António Reis justifica-se, adiantando que essa fase de estudos estava ultrapassada quando chegou ao processo: "Tive que assumir que era um viaduto. A opção que me restava era alterar a concepção com a qual não concordava, tentando que se integrasse o melhor possível na praça". O projecto teve que contar com o facto de ir ser construído numa zona de tráfego extremamente intenso, que não podia ser perturbado. "A betonagem no local da obra estava fora de questão. Uma grande parte do viaduto foi pré-fabricado. Vigas em forma de "u" (cobertas posteriormente para formar um caixão) - as maiores, com 34 metros, atingindo um peso de 102 toneladas - foram ligadas três a três com barras de aço transversais, para dar uma forma monolítica ao tabuleiro. "Isso é novo, porque ainda não se tinha executado este tipo de solução em Portugal, ligando transversalmente os elementos". Mas se a leitura é continua na face inferior do viaduto, o que a pré-fabricação impôs foi a impossibilidade do tabuleiro se colar totalmente ao traçado em curva, estabelecido para a ligação da Segunda Circular à avenida Marechal Gomes da Costa. "Com a betonagem no lugar, conseguiam-se fazer troços curvos cumprindo a curva do traçado, mas com a pré-fabricação a curva só pode ser feita com segmentos rectos". O pilar "em forma de pássaro, talvez devido à proximidade do Aeroporto", permitiu a "esbelteza do tabuleiro". O pilar aberto tornou possível criar dois apoios no tabuleiro, reduzindo os vãos a vencer para cada lado: "À medida que o comprimento do vão vai aumentando, ou seja, a distância entre os apoios, o tabuleiro tem que se tornar mais alto, por razões de resistência e deformabilidade sobre as acções das cargas." Mas o pilar, acrescenta António Reis, assumiu a forma de uma ave, porque ao lado das razões estruturais era importante que, do ponto de vista escultural, tivesse algum significado, marcando a praça. Isabel Salema (c) Copyright PÚBLICO Comunicação Social, SA Email: publico@publico.pt

Um pilar em forma de pássaro numa porta de Lisboa Dulce Fernandes O pilar "em forma de pássaro, talvez devido à proximidade

do Aeroporto" Da autoria do engenheiro António Reis, a quem foi atribuído o último Prémio Secil, o viaduto da rotunda do Relógio é uma obra que não tem uma história normal. A sua proposta, escolhida pelos donos da obra quando já se estava a discutir a construção, aumentou o preço base e a equipa disse mesmo que se fosse vencedora do concurso para a execução do viaduto, cuja concepção original não era sua, recusaria o benefício normalmente atribuído aos vencedores: construir a obra. "Há cerca de um ano foi lançado o concurso de construção, que não impedia os concorrentes de apresentarem alternativas. Pareceu-me que, tratando-se de uma zona de Lisboa particularmente sensível do ponto de vista do impacto da obra na malha urbana, se deveria procurar uma solução mais integrada do ponto de vista estético", explica António Reis, director do Departamento de Engenharia Civil do Instituto Superior Técnico. A proposta, feita por António Reis à Expo-98 e à Câmara Municipal de Lisboa (CML), era "construir-se alguma coisa de emblemático numa zona que pode ser considerada uma porta cidade". As alterações ao projecto original foram radicais: desde a sua localização na praça até à redução dos pilares a um apenas. "No projecto foi importante a posição da Expo-98 e da CML. Tiveram a abertura para aceitar uma variação que só normalmente o é quando o preço desce. É uma atitude muito rara. Mas é importantíssimo passarmos a dar mais atenção ao aspecto estético, paisagístico e à integração na malha da cidade das obras urbanas, essa preocupação deve ser permanente. Muitas vezes perde-se muito tempo com as grandes obras que não têm, do ponto de vista da sua percepção pelas pessoas, o impacto que têm as obras urbanas, que são obras que as pessoas podem tocar". A ideia do projecto de António Reis foi reduzir ao mínimo os elementos dentro da praça, fazer um viaduto o mais transparente possível. O problema da destruição da rotunda, acentuando um processo contínuo em Lisboa, foi também sentido pelo engenheiro e António Reis justifica-se, adiantando que essa fase de estudos estava ultrapassada quando chegou ao processo: "Tive que assumir que era um viaduto. A opção que me restava era alterar a concepção com a qual não concordava, tentando que se integrasse o melhor possível na praça". O projecto teve que contar com o facto de ir ser construído numa zona de tráfego extremamente intenso, que não podia ser perturbado. "A betonagem no local da obra estava fora de questão. Uma grande parte do viaduto foi pré-fabricado. Vigas em forma de "u" (cobertas posteriormente para formar um caixão) - as maiores, com 34 metros, atingindo um peso de 102 toneladas - foram ligadas três a três com barras de aço transversais, para dar uma forma monolítica ao tabuleiro. "Isso é novo, porque ainda não se tinha executado este tipo de solução em Portugal, ligando transversalmente os elementos". Mas se a leitura é continua na face inferior do viaduto, o que a pré-fabricação impôs foi a impossibilidade do tabuleiro se colar totalmente ao traçado em curva, estabelecido para a ligação da Segunda Circular à avenida Marechal Gomes da Costa. "Com a betonagem no lugar, conseguiam-se fazer troços curvos cumprindo a curva do traçado, mas com a pré-fabricação a curva só pode ser feita com segmentos rectos". O pilar "em forma de pássaro, talvez devido à proximidade do Aeroporto", permitiu a "esbelteza do tabuleiro". O pilar aberto tornou possível criar dois apoios no tabuleiro, reduzindo os vãos a vencer para cada lado: "À medida que o comprimento do vão vai aumentando, ou seja, a distância entre os apoios, o tabuleiro tem que se tornar mais alto, por razões de resistência e deformabilidade sobre as acções das cargas." Mas o pilar, acrescenta António Reis, assumiu a forma de uma ave, porque ao lado das razões estruturais era importante que, do ponto de vista escultural, tivesse algum significado, marcando a praça. Isabel Salema (c) Copyright PÚBLICO Comunicação Social, SA Email: publico@publico.pt

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