SAPO

25-08-1999
marcar artigo

22 de Abril de 1999 / Autor: "Correio da Manhã" / Nacionais

Acordo de paz entre irmãos Os elementos das milícias pró-indonésias procederam ontem a uma entrega simbólica das armas à polícia de Díli. Uma acção decorrente do acordo de paz assinado pouco antes entre os grupos rivais, mas irmãos timorenses.O acto foi testemunhado pelos dois bispos de Timor-Leste, D. Ximenes Belo e Basílio do Nascimento, e ainda pelo ministro indonésio da defesa, general Wiranto. O primeiro-ministro português, António Guterres, congratulou-se com o acordo, mas levantou algumas reservas em relação ao seu cumprimento. E estava mais que certo porque, poucas horas depois, próximo de Liquiçá, as milícias voltaram a abater cinco pessoas (ver caixa).

O presidente do Conselho Nacional da Resistência Timorense, Xanana Gusmão, detido na casa-prisão de Salemba não pôde estar presente, mas também subscreveu o acordo de paz. O documento com a assinatura de Xanana chegou a Díli via fax, enviado pelo ministério da justiça da Indonésia.

Os signatários comprometeram-se a desenvolver esforços para parar com o ódio, a intimidação e o terror entre os grupos rivais em Timor-Leste e para ajudar a criar a paz no território, disseram fontes do governo local.

As partes comprometeram-se igualmente a ajudar o governo da Indonésia, a Comissão Nacional dos Direitos Humanos da Indonésia e a Igreja Católica de Timor-Leste a promoverem o respeito pelos direitos humanos e pela lei no território.

O documento foi assinado pelo presidente do Fórum para a Democracia e Justiça, Domingos Soares, pelo comandante das milícias pró-integração, João Tavares, e pelo coordenador do Conselho Nacional da Resistência Timorense, Leandro Isaac.

Assinaram ainda o governador Abílio Osório Soares, nomeado por Jacarta, o comandante militar indonésio de Timor-Leste, coronel Tono Suratman, o chefe da polícia do território, coronel Timbul Silaen, e Joko Sugianto, da Comissão Nacional dos Direitos Humanos da Indonésia. Reserva portuguesa A assinatura deste acordo, que teve lugar na residência de D. Ximenes Belo, aconteceu depois do general Wiranto ter conversado com as diversas facções e com os bispos timorenses. Wiranto chegou terça-feira a Díli e ontem seguiu para Jacarta.

Por cá, o Governo reagiu imediatamente, ao mais alto nível. O primeiro-ministro, António Guterres, considerou positivo este acordo entre milícias pró-integração e defensores da independência, mas manifestou reticências quanto ao seu cumprimento.

"Tudo o que contribua para a estabilidade e segurança dos timorenses é positivo. A primeira reacção é de contentamento, mas muitas vezes estes acordos não são cumpridos", disse o chefe do Governo, que falava em conferência de imprensa conjunta com o presidente de Moçambique, Joaquim Chissano.

Guterres falou ainda da ronda negocial que hoje junta os ministros dos Negócios Estrangeiros de Portugal e da Indonésia em Nova Iorque, sob a égide das Nações Unidas. Neste sentido, o primeiro-ministro manifestou as suas dúvidas, essencialmente por haver "indicações contraditórias" e por se desconhecer ainda "qual a amplitude do mandato da delegação indonésia", chefiada pelo ministro Ali Alatas.

"A nossa atitude é de prudência", rematou.

Apesar das reservas de Lisboa, para hoje, em Nova Iorque, prevê-se a finalização da proposta de autonomia para Timor-Leste que será sujeita à votação do povo em Julho. Se os timorenses rejeitarem a autonomia, Jacarta diz que lhes dará a independência.

E o presidente indonésio, Jusuf Habibie, deu a sua palavra de que cumprirá a promessa de conceder a independência ao território se tal for decidido pelos timorenses, noticiava ontem a imprensa australiana.

Numa reunião com editores de jornais australianos em Jacarta, Habibie expressou o desejo de que cinco nações - Alemanha, Austrália, Estados Unidos, Filipinas e Japão - liderem o processo de preparação de uma consulta popular sobre a independência, sob a fiscalização das Nações Unidas.

A participação internacional só incluiria pessoal civil e apoio logístico para fiscalizar a consulta, enquanto o exército indonésio se encarregaria da segurança.

"Se o povo de Timor-Leste decidir separar-se (da Indonésia), faremos tudo o que for possível para que isso se concretize de uma maneira pacífica", assegurou Habibie, adiantando que gostaria de manter uma relação de "boa vizinhança" com um futuro Timor-Leste independente. Horas depois... cinco mortos Cinco jovens foram mortos por elementos de uma milícia pró-integracionista ao início da tarde de ontem, pouco depois da assinatura em Díli de um acordo de paz entre timorenses a favor da independência e da integração.

Segundo fontes do Conselho Nacional da Resistência Timorense (CNRT), elementos da milícia Besi Merah Putih, atacaram a vila de Bazar Tete, no posto administrativo de Liquiçá, a cerca de 30 quilómetros sudoeste de Díli, cerca das 14 e 30, hora local (7 e 30 em Lisboa).

Durante o ataque, foram mortos Alberto dos Santos, Miguel, Abílio Araújo e Domingos Santos, todos irmãos, e também Florindo Paulo, primo dos primeiros - acrescentou a fonte.

Uma outra fonte do CNRT disse entretanto à Lusa que, pelo menos, 30 jovens foram ontem detidos na região de Hera, a cerca de cinco quilómetros a leste de Díli, encontrando-se na residência do ex-chefe da povoação, identificado apenas por Mateus.

Segundo a fonte, os jovens, naturais de Akanuno, posto administrativo de Fatuai, tencionavam deslocar-se à escola politécnica de Hera quando foram detidos pelo ex-chefe da localidade apoiado "por elementos de uma milícia".

"Para já, ainda não sabemos quais são as identidades dos detidos, mas sabemos que eles estão detidos na residência do Mateus", disse a fonte. Manifestação na Embaixada dos EUA O Movimento Timorense pela Paz, que organizou ontem uma concentração frente à embaixada dos Estados Unidos, em Lisboa, pediu a este país que pressione a Indonésia a aceitar incondicionalmente o envio de uma força da ONU para Timor-Leste.

A petição entregue pelo Movimento ao primeiro-secretário da embaixada norte-americana solicita ainda aos Estados Unidos que, "pelas relações privilegiadas que mantém com a Indonésia", actue no sentido de suspender a violência que se vive no território.

Pede também que pressione o governo indonésio para retirar o seu contigente militar de Timor, proceder ao desarmamento das milícias e salvaguardar a integridade física e psicológica de Xanana Gusmão e dos membros do Conselho Nacional de Resistência Timorense (CNRT).

A mesma petição foi entregue ontem pelo Movimento às embaixadas do Reino Unido, Rússia, China e França, tendo nesta última sido recebidos pelo embaixador.

Constituido expressamente para esta iniciativa, o Movimento Timorense pela Paz integra "jovens de todos os quadrantes políticos timorenses, embora não pró-integracionistas", disse Célia Cardoso, da comissão organizadora. Ao telefone com Clinton O primeiro-ministro, António Guterres, e o presidente norte-americano, Bill Clinton, falaram ontem ao telefone da situação em Timor-Leste e dos confrontos ocorridos nos últimos dias no território.

Durante a conversa, Guterres abordou com Clinton a ronda de negociações Portugal-Indonésia que decorre em Nova York, sob a égide da ONU.

Este contacto com Bill Clinton - com quem Guterres se encontrará na cimeira da NATO, amanhã e sábado, em Washington - segue-se a outras conversas telefónicas nos últimas dias com os primeiros-ministros da Holanda, Wim Kok, e do Reino Unido, Tony Blair, e ainda com o líder timorese Xanana Gusmão.

Envie esta notícia a um amigo. Especifique o seu nome e o E-Mail de destino.

Nome: E-Mail: Voltar à listagem de notícias

22 de Abril de 1999 / Autor: "Correio da Manhã" / Nacionais

Acordo de paz entre irmãos Os elementos das milícias pró-indonésias procederam ontem a uma entrega simbólica das armas à polícia de Díli. Uma acção decorrente do acordo de paz assinado pouco antes entre os grupos rivais, mas irmãos timorenses.O acto foi testemunhado pelos dois bispos de Timor-Leste, D. Ximenes Belo e Basílio do Nascimento, e ainda pelo ministro indonésio da defesa, general Wiranto. O primeiro-ministro português, António Guterres, congratulou-se com o acordo, mas levantou algumas reservas em relação ao seu cumprimento. E estava mais que certo porque, poucas horas depois, próximo de Liquiçá, as milícias voltaram a abater cinco pessoas (ver caixa).

O presidente do Conselho Nacional da Resistência Timorense, Xanana Gusmão, detido na casa-prisão de Salemba não pôde estar presente, mas também subscreveu o acordo de paz. O documento com a assinatura de Xanana chegou a Díli via fax, enviado pelo ministério da justiça da Indonésia.

Os signatários comprometeram-se a desenvolver esforços para parar com o ódio, a intimidação e o terror entre os grupos rivais em Timor-Leste e para ajudar a criar a paz no território, disseram fontes do governo local.

As partes comprometeram-se igualmente a ajudar o governo da Indonésia, a Comissão Nacional dos Direitos Humanos da Indonésia e a Igreja Católica de Timor-Leste a promoverem o respeito pelos direitos humanos e pela lei no território.

O documento foi assinado pelo presidente do Fórum para a Democracia e Justiça, Domingos Soares, pelo comandante das milícias pró-integração, João Tavares, e pelo coordenador do Conselho Nacional da Resistência Timorense, Leandro Isaac.

Assinaram ainda o governador Abílio Osório Soares, nomeado por Jacarta, o comandante militar indonésio de Timor-Leste, coronel Tono Suratman, o chefe da polícia do território, coronel Timbul Silaen, e Joko Sugianto, da Comissão Nacional dos Direitos Humanos da Indonésia. Reserva portuguesa A assinatura deste acordo, que teve lugar na residência de D. Ximenes Belo, aconteceu depois do general Wiranto ter conversado com as diversas facções e com os bispos timorenses. Wiranto chegou terça-feira a Díli e ontem seguiu para Jacarta.

Por cá, o Governo reagiu imediatamente, ao mais alto nível. O primeiro-ministro, António Guterres, considerou positivo este acordo entre milícias pró-integração e defensores da independência, mas manifestou reticências quanto ao seu cumprimento.

"Tudo o que contribua para a estabilidade e segurança dos timorenses é positivo. A primeira reacção é de contentamento, mas muitas vezes estes acordos não são cumpridos", disse o chefe do Governo, que falava em conferência de imprensa conjunta com o presidente de Moçambique, Joaquim Chissano.

Guterres falou ainda da ronda negocial que hoje junta os ministros dos Negócios Estrangeiros de Portugal e da Indonésia em Nova Iorque, sob a égide das Nações Unidas. Neste sentido, o primeiro-ministro manifestou as suas dúvidas, essencialmente por haver "indicações contraditórias" e por se desconhecer ainda "qual a amplitude do mandato da delegação indonésia", chefiada pelo ministro Ali Alatas.

"A nossa atitude é de prudência", rematou.

Apesar das reservas de Lisboa, para hoje, em Nova Iorque, prevê-se a finalização da proposta de autonomia para Timor-Leste que será sujeita à votação do povo em Julho. Se os timorenses rejeitarem a autonomia, Jacarta diz que lhes dará a independência.

E o presidente indonésio, Jusuf Habibie, deu a sua palavra de que cumprirá a promessa de conceder a independência ao território se tal for decidido pelos timorenses, noticiava ontem a imprensa australiana.

Numa reunião com editores de jornais australianos em Jacarta, Habibie expressou o desejo de que cinco nações - Alemanha, Austrália, Estados Unidos, Filipinas e Japão - liderem o processo de preparação de uma consulta popular sobre a independência, sob a fiscalização das Nações Unidas.

A participação internacional só incluiria pessoal civil e apoio logístico para fiscalizar a consulta, enquanto o exército indonésio se encarregaria da segurança.

"Se o povo de Timor-Leste decidir separar-se (da Indonésia), faremos tudo o que for possível para que isso se concretize de uma maneira pacífica", assegurou Habibie, adiantando que gostaria de manter uma relação de "boa vizinhança" com um futuro Timor-Leste independente. Horas depois... cinco mortos Cinco jovens foram mortos por elementos de uma milícia pró-integracionista ao início da tarde de ontem, pouco depois da assinatura em Díli de um acordo de paz entre timorenses a favor da independência e da integração.

Segundo fontes do Conselho Nacional da Resistência Timorense (CNRT), elementos da milícia Besi Merah Putih, atacaram a vila de Bazar Tete, no posto administrativo de Liquiçá, a cerca de 30 quilómetros sudoeste de Díli, cerca das 14 e 30, hora local (7 e 30 em Lisboa).

Durante o ataque, foram mortos Alberto dos Santos, Miguel, Abílio Araújo e Domingos Santos, todos irmãos, e também Florindo Paulo, primo dos primeiros - acrescentou a fonte.

Uma outra fonte do CNRT disse entretanto à Lusa que, pelo menos, 30 jovens foram ontem detidos na região de Hera, a cerca de cinco quilómetros a leste de Díli, encontrando-se na residência do ex-chefe da povoação, identificado apenas por Mateus.

Segundo a fonte, os jovens, naturais de Akanuno, posto administrativo de Fatuai, tencionavam deslocar-se à escola politécnica de Hera quando foram detidos pelo ex-chefe da localidade apoiado "por elementos de uma milícia".

"Para já, ainda não sabemos quais são as identidades dos detidos, mas sabemos que eles estão detidos na residência do Mateus", disse a fonte. Manifestação na Embaixada dos EUA O Movimento Timorense pela Paz, que organizou ontem uma concentração frente à embaixada dos Estados Unidos, em Lisboa, pediu a este país que pressione a Indonésia a aceitar incondicionalmente o envio de uma força da ONU para Timor-Leste.

A petição entregue pelo Movimento ao primeiro-secretário da embaixada norte-americana solicita ainda aos Estados Unidos que, "pelas relações privilegiadas que mantém com a Indonésia", actue no sentido de suspender a violência que se vive no território.

Pede também que pressione o governo indonésio para retirar o seu contigente militar de Timor, proceder ao desarmamento das milícias e salvaguardar a integridade física e psicológica de Xanana Gusmão e dos membros do Conselho Nacional de Resistência Timorense (CNRT).

A mesma petição foi entregue ontem pelo Movimento às embaixadas do Reino Unido, Rússia, China e França, tendo nesta última sido recebidos pelo embaixador.

Constituido expressamente para esta iniciativa, o Movimento Timorense pela Paz integra "jovens de todos os quadrantes políticos timorenses, embora não pró-integracionistas", disse Célia Cardoso, da comissão organizadora. Ao telefone com Clinton O primeiro-ministro, António Guterres, e o presidente norte-americano, Bill Clinton, falaram ontem ao telefone da situação em Timor-Leste e dos confrontos ocorridos nos últimos dias no território.

Durante a conversa, Guterres abordou com Clinton a ronda de negociações Portugal-Indonésia que decorre em Nova York, sob a égide da ONU.

Este contacto com Bill Clinton - com quem Guterres se encontrará na cimeira da NATO, amanhã e sábado, em Washington - segue-se a outras conversas telefónicas nos últimas dias com os primeiros-ministros da Holanda, Wim Kok, e do Reino Unido, Tony Blair, e ainda com o líder timorese Xanana Gusmão.

Envie esta notícia a um amigo. Especifique o seu nome e o E-Mail de destino.

Nome: E-Mail: Voltar à listagem de notícias

marcar artigo