«Foz Côa não merecia ser assim enganada»

21-09-1999
marcar artigo

Mas, em Foz Côa, o presidente da Câmara Municipal, António Gouveia, garante que é tudo «bluff». Na próxima semana, autarcas, empresários, arqueólogos e governantes vão fazer o balanço. António Gouveia antecipa a sua análise.

EXPRESSO - O que é que mudou em Foz Côa nos últimos dois anos?

ANTÓNIO GOUVEIA - Há uma total frustração das expectativas que nos foram criadas. Disseram-nos que as gravuras rupestres iam servir de centro dinamizador do PROCÔA, que dispunha de 25 milhões de contos, mas tudo não passou de um «bluff».

EXP. - Mas há projectos em andamento, como os centros rurais e a recuperação das aldeias históricas...

A.G. - Esses são casos de engenharia financeira, de puro ilusionismo. Eram projectos que já vinham de trás, com dotações financeiras próprias. Por exemplo, em relação a Foz Côa: o Governo diz que foram financiados vários projectos, nomeadamente a Pousada da Juventude, mas a única coisa que fez foi comprar o terreno, pôr lá uma tabuleta e, passados dois anos, ainda não foi lançada uma única pedra. Dizem que foi investido quase meio milhão de contos e não há nada.

EXP. - Foram criados, porém, alguns postos de trabalho para a população local, tanto no Parque, como na unidade de gestão do PROCÔA.

A.G. - Em dois anos, cerca de uma dúzia. E, como não foram feitas as respectivas leis orgânicas, são postos de trabalho precários, a recibos verdes, ou pagos como formação profissional.

EXP. - Dos 25 milhões, o que foi afinal aplicado?

A.G. - Sessenta e nove mil contos, em caminhos agrícolas.

EXP. - Porque é que os financiamentos não estão a ser distribuídos?

A.G. - Porque o PROCÔA não tem dotação financeira própria. As pessoas gastaram dinheiro a fazer os projectos (cerca de 35 mil contos só em Vila Nova de Foz Côa) e depois não lhes foi atribuído o dinheiro prometido para os concretizarem. Há pequenos empresários que investiram e hoje são eles que estão a suportar os encargos. Por exemplo, o proprietário de uma residencial fez alguns melhoramentos, gastou três mil contos, e os responsáveis do PROCÔA disseram-lhe que as obras não se enquadram no espírito do programa. As pessoas sentem-se defraudadas.

EXP. - O comércio local não foi animado pelos milhares de visitantes do Parque Arqueológico?

A.G. - O afluxo de pessoas ao Parque está a funcionar à margem da realidade local. É um turismo de passagem. E, curiosamente, são os centros de atendimento do Parque a fazer concorrência: servem lá o café, as sandes e os sumos e ninguém tem necessidade de ir ao comércio local. É sintomático que a maior parte dos anúncios nos jornais locais sejam de vendas e trespasses de estabelecimentos comerciais. Foz Côa está a ser esquecida...

EXP. - Esquecida?

A.G. - Foz Côa foi apresentada ao mundo e ao país como o exemplo de que este Governo punha em primeiro lugar os valores culturais, face ao betão. Infelizmente, isso não está a acontecer. O Ministro da Cultura só viu as gravuras rupestres, esqueceu-se do resto, e estranho que não levante um dedo para pressionar os seus colegas do Governo. Era a ele que cabia liderar a capacidade reivindicativa.

EXP. - Mas o programa estende-se até 1999.

A.G. - Duvido que o Governo seja capaz de recuperar num ano aquilo que não se fez em três.

EXP. - Sempre foi um defensor da compatibilização entre as gravuras e a barragem. Dizia que queria «ganhar o totoloto e o jackpot»...

A.G. - Agora digo que não fomos capazes de acertar nos números certos e que a roleta nos traiu. Alguém fez batota e os números que saíram foram todos zero. Apelo ao senhor primeiro-ministro para que tente salvar a honra do Governo. A população de Foz Côa não merecia ser enganada desta maneira.

Valentina Marcelino

Mas, em Foz Côa, o presidente da Câmara Municipal, António Gouveia, garante que é tudo «bluff». Na próxima semana, autarcas, empresários, arqueólogos e governantes vão fazer o balanço. António Gouveia antecipa a sua análise.

EXPRESSO - O que é que mudou em Foz Côa nos últimos dois anos?

ANTÓNIO GOUVEIA - Há uma total frustração das expectativas que nos foram criadas. Disseram-nos que as gravuras rupestres iam servir de centro dinamizador do PROCÔA, que dispunha de 25 milhões de contos, mas tudo não passou de um «bluff».

EXP. - Mas há projectos em andamento, como os centros rurais e a recuperação das aldeias históricas...

A.G. - Esses são casos de engenharia financeira, de puro ilusionismo. Eram projectos que já vinham de trás, com dotações financeiras próprias. Por exemplo, em relação a Foz Côa: o Governo diz que foram financiados vários projectos, nomeadamente a Pousada da Juventude, mas a única coisa que fez foi comprar o terreno, pôr lá uma tabuleta e, passados dois anos, ainda não foi lançada uma única pedra. Dizem que foi investido quase meio milhão de contos e não há nada.

EXP. - Foram criados, porém, alguns postos de trabalho para a população local, tanto no Parque, como na unidade de gestão do PROCÔA.

A.G. - Em dois anos, cerca de uma dúzia. E, como não foram feitas as respectivas leis orgânicas, são postos de trabalho precários, a recibos verdes, ou pagos como formação profissional.

EXP. - Dos 25 milhões, o que foi afinal aplicado?

A.G. - Sessenta e nove mil contos, em caminhos agrícolas.

EXP. - Porque é que os financiamentos não estão a ser distribuídos?

A.G. - Porque o PROCÔA não tem dotação financeira própria. As pessoas gastaram dinheiro a fazer os projectos (cerca de 35 mil contos só em Vila Nova de Foz Côa) e depois não lhes foi atribuído o dinheiro prometido para os concretizarem. Há pequenos empresários que investiram e hoje são eles que estão a suportar os encargos. Por exemplo, o proprietário de uma residencial fez alguns melhoramentos, gastou três mil contos, e os responsáveis do PROCÔA disseram-lhe que as obras não se enquadram no espírito do programa. As pessoas sentem-se defraudadas.

EXP. - O comércio local não foi animado pelos milhares de visitantes do Parque Arqueológico?

A.G. - O afluxo de pessoas ao Parque está a funcionar à margem da realidade local. É um turismo de passagem. E, curiosamente, são os centros de atendimento do Parque a fazer concorrência: servem lá o café, as sandes e os sumos e ninguém tem necessidade de ir ao comércio local. É sintomático que a maior parte dos anúncios nos jornais locais sejam de vendas e trespasses de estabelecimentos comerciais. Foz Côa está a ser esquecida...

EXP. - Esquecida?

A.G. - Foz Côa foi apresentada ao mundo e ao país como o exemplo de que este Governo punha em primeiro lugar os valores culturais, face ao betão. Infelizmente, isso não está a acontecer. O Ministro da Cultura só viu as gravuras rupestres, esqueceu-se do resto, e estranho que não levante um dedo para pressionar os seus colegas do Governo. Era a ele que cabia liderar a capacidade reivindicativa.

EXP. - Mas o programa estende-se até 1999.

A.G. - Duvido que o Governo seja capaz de recuperar num ano aquilo que não se fez em três.

EXP. - Sempre foi um defensor da compatibilização entre as gravuras e a barragem. Dizia que queria «ganhar o totoloto e o jackpot»...

A.G. - Agora digo que não fomos capazes de acertar nos números certos e que a roleta nos traiu. Alguém fez batota e os números que saíram foram todos zero. Apelo ao senhor primeiro-ministro para que tente salvar a honra do Governo. A população de Foz Côa não merecia ser enganada desta maneira.

Valentina Marcelino

marcar artigo