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06-10-1999
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O fim da equipa de Cardoso e Cunha Miguel Madeira O Governo quer uma "reestruturação rápida e profunda", porque

não interresa que o "caso Expo" se arraste indefinidamente Eduardo Dâmaso e Fernanda Ribeiro A fraude de 1,5 milhões de contos detectada nas contas da Expo e da cooperativa de habitação Mar da Palha fez ontem uma importante vítima. António Pinto, administrador da Parque Expo, apresentou a demissão deste cargo ao ministro da tutela, António Costa, que de imediato o substituiu por Luís Barbosa, actualmente a exercer as funções de supervisor da fiscalização das contas da Expo-98. António Pinto é cunhado de Armando Ruano, director dos serviços de informática suspenso, e, por isso, decidiu avançar com o pedido de demissão. "Resolvi fazer isto porque estando um cunhado meu envolvido numa situação que ainda não está esclarecida, mas que é profundamente preocupante, não tinha condições para exercer as minhas funções com dignidade. Já tinha participado ao ministro António Costa que não estava disponível para continuar a partir de 1 de Outubro, porque cheguei ao fim de um ciclo, mas... não esperava sair desta forma. Quanto ao resto, mantenho que estou de consciência perfeitamente tranquila", declarou António Pinto ao PÚBLICO ontem à tarde, depois de ter entregue a carta de demissão ao ministro dos Assuntos Parlamentares. Este gestor vai ainda ser substituído nos conselhos de administração da Expo Urbe e da Gare Intermodal de Lisboa. Na verdade, António Pinto já havia comunicado a António Costa a sua vontade de sair a partir de Outubro. Mas desde o fim-de-semana que a sua saída a curto prazo da Parque Expo era encarada como uma quase inevitabilidade no Governo. Ele foi o responsável pela contratação de João Caldeira, chefe da contabilidade detido pela Polícia Judiciária, bem como pelos restantes quadros suspensos, Armando José Lopes Ruano, director dos serviços informáticos e familiar de António Pinto, António Januário Rodrigues, responsável pela Expo Urbe e Pedro Almeida Figueiredo, do controlo financeiro. O secretário-geral João Martins que se auto-suspendeu até ao esclarecimento do caso da cooperativa Mar da Palha foi também uma das aquisições de António Pinto que o foi buscar ao Ministério da Justiça, onde desempenhava também as funções de secretário-geral com o pelouro das obras e adjudicações. A nota seca do gabinete de António Costa deixa claro que para a tutela a demissão do vogal do conselho de administração da Parque Expo não só não foi uma surpresa como parecia desejada. Ao contrário da Parque Expo, que no comunicado emitido a propósito da demissão enaltece a " dedicação, empenho e entusiasmo" de António Pinto na Expo-98, o gabinete do ministro limita-se a anunciar a saída e a informar que o seu substituto será Luís Barbosa. O nome de Barbosa será proposto hoje à tarde numa reunião da assembleia geral da Parque Expo. O famoso "controller", supervisor da fiscalização das contas da Expo nomeado por Torres Campos que descobriu a fraude, sobe à administração e da equipa inicial, liderada pelo ex-comissário Cardoso e Cunha, apenas resta António Mega Ferreira. A saída de António Pinto consuma o desmantelamento da estrutura operacional e logística montada por Cardoso e Cunha. A "máquina" logística que montou o projecto chegou ao fim da linha. Apenas fica António Mega Ferreira, o "pai da Expo". Na prática, este resultado obtido pela descoberta de uma fraude, já tinha sido desejado no Governo por altura da demissão do ex-comissário. O PÚBLICO apurou que, na época, ainda com António Vitorino na tutela do projecto, a demissão de todos os funcionários que agora saem da Parque Expo foi ponderada ao mais alto nível. Todavia, os prazos apertados para a conclusão das obras afastaram o cenário mais drástico. Um membro do Governo recordou ontem ao PÚBLICO que " já nessa altura havia muitas especulações sobre os negócios que se estavam a fazer mas os prazos eram de facto muito apertados e uma substituição muito ampla de pessoas do coração operacional do projecto poderia ter causado danos irreparáveis". O actual comissário-geral da Expo-98, Torres Campos, levou para a sua equipa os administradores António Pina Pereira e Manuel Basto Saragoça, transitando da equipa anterior António Mega Ferreira e António Pinto. Para administradores não executivos foram nomeados Raul Capela, pela câmara de Lisboa, e Adão Barata, pelo município de Loures. Agora, tanto na Parque Expo como no Governo se admite que a reestruturação será " rápida e profunda", até porque, utilizando as palavras de um governante, " há muitos interesses contraditórios instalados, que lutaram entre si dentro do projecto, que têm de ser combatidos". De resto, também não interessa ao Governo deixar que o "caso Expo" se arraste indefinidamente pelas manchetes da imprensa. É que se a história atinge sobretudo os homens de Cardoso e Cunha parece claro para os estrategas socialistas que a transformação da Expo num escândalo nacional também não será bom para o Governo de António Guterres. (c) Copyright PÚBLICO Comunicação Social, SA Email: publico@publico.pt

O fim da equipa de Cardoso e Cunha Miguel Madeira O Governo quer uma "reestruturação rápida e profunda", porque

não interresa que o "caso Expo" se arraste indefinidamente Eduardo Dâmaso e Fernanda Ribeiro A fraude de 1,5 milhões de contos detectada nas contas da Expo e da cooperativa de habitação Mar da Palha fez ontem uma importante vítima. António Pinto, administrador da Parque Expo, apresentou a demissão deste cargo ao ministro da tutela, António Costa, que de imediato o substituiu por Luís Barbosa, actualmente a exercer as funções de supervisor da fiscalização das contas da Expo-98. António Pinto é cunhado de Armando Ruano, director dos serviços de informática suspenso, e, por isso, decidiu avançar com o pedido de demissão. "Resolvi fazer isto porque estando um cunhado meu envolvido numa situação que ainda não está esclarecida, mas que é profundamente preocupante, não tinha condições para exercer as minhas funções com dignidade. Já tinha participado ao ministro António Costa que não estava disponível para continuar a partir de 1 de Outubro, porque cheguei ao fim de um ciclo, mas... não esperava sair desta forma. Quanto ao resto, mantenho que estou de consciência perfeitamente tranquila", declarou António Pinto ao PÚBLICO ontem à tarde, depois de ter entregue a carta de demissão ao ministro dos Assuntos Parlamentares. Este gestor vai ainda ser substituído nos conselhos de administração da Expo Urbe e da Gare Intermodal de Lisboa. Na verdade, António Pinto já havia comunicado a António Costa a sua vontade de sair a partir de Outubro. Mas desde o fim-de-semana que a sua saída a curto prazo da Parque Expo era encarada como uma quase inevitabilidade no Governo. Ele foi o responsável pela contratação de João Caldeira, chefe da contabilidade detido pela Polícia Judiciária, bem como pelos restantes quadros suspensos, Armando José Lopes Ruano, director dos serviços informáticos e familiar de António Pinto, António Januário Rodrigues, responsável pela Expo Urbe e Pedro Almeida Figueiredo, do controlo financeiro. O secretário-geral João Martins que se auto-suspendeu até ao esclarecimento do caso da cooperativa Mar da Palha foi também uma das aquisições de António Pinto que o foi buscar ao Ministério da Justiça, onde desempenhava também as funções de secretário-geral com o pelouro das obras e adjudicações. A nota seca do gabinete de António Costa deixa claro que para a tutela a demissão do vogal do conselho de administração da Parque Expo não só não foi uma surpresa como parecia desejada. Ao contrário da Parque Expo, que no comunicado emitido a propósito da demissão enaltece a " dedicação, empenho e entusiasmo" de António Pinto na Expo-98, o gabinete do ministro limita-se a anunciar a saída e a informar que o seu substituto será Luís Barbosa. O nome de Barbosa será proposto hoje à tarde numa reunião da assembleia geral da Parque Expo. O famoso "controller", supervisor da fiscalização das contas da Expo nomeado por Torres Campos que descobriu a fraude, sobe à administração e da equipa inicial, liderada pelo ex-comissário Cardoso e Cunha, apenas resta António Mega Ferreira. A saída de António Pinto consuma o desmantelamento da estrutura operacional e logística montada por Cardoso e Cunha. A "máquina" logística que montou o projecto chegou ao fim da linha. Apenas fica António Mega Ferreira, o "pai da Expo". Na prática, este resultado obtido pela descoberta de uma fraude, já tinha sido desejado no Governo por altura da demissão do ex-comissário. O PÚBLICO apurou que, na época, ainda com António Vitorino na tutela do projecto, a demissão de todos os funcionários que agora saem da Parque Expo foi ponderada ao mais alto nível. Todavia, os prazos apertados para a conclusão das obras afastaram o cenário mais drástico. Um membro do Governo recordou ontem ao PÚBLICO que " já nessa altura havia muitas especulações sobre os negócios que se estavam a fazer mas os prazos eram de facto muito apertados e uma substituição muito ampla de pessoas do coração operacional do projecto poderia ter causado danos irreparáveis". O actual comissário-geral da Expo-98, Torres Campos, levou para a sua equipa os administradores António Pina Pereira e Manuel Basto Saragoça, transitando da equipa anterior António Mega Ferreira e António Pinto. Para administradores não executivos foram nomeados Raul Capela, pela câmara de Lisboa, e Adão Barata, pelo município de Loures. Agora, tanto na Parque Expo como no Governo se admite que a reestruturação será " rápida e profunda", até porque, utilizando as palavras de um governante, " há muitos interesses contraditórios instalados, que lutaram entre si dentro do projecto, que têm de ser combatidos". De resto, também não interessa ao Governo deixar que o "caso Expo" se arraste indefinidamente pelas manchetes da imprensa. É que se a história atinge sobretudo os homens de Cardoso e Cunha parece claro para os estrategas socialistas que a transformação da Expo num escândalo nacional também não será bom para o Governo de António Guterres. (c) Copyright PÚBLICO Comunicação Social, SA Email: publico@publico.pt

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