«Augusto Mateus atrasou desenvolvimento da empresa»

04-09-1999
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A Soporcel pode vir a fazer uma fusão com uma papeleira espanhola mas só para o ano 2000, admite Álvaro Barreto

Álvaro Barreto, que continua à frente da papeleira, diz que o acordo era o único possível. Não poupa críticas ao ex-ministro da Economia Augusto Mateus, que anunciou, há mais de um ano, uma fusão entre empresas privadas e públicas do sector dando origem «a um problema político».

EXPRESSO - Há pouco mais de uma semana a Arjo Wiggins e a Partest celebraram um novo acordo parassocial e a tão falada fusão foi posta de parte. Este contrato agrada-lhe?

ÁLVARO BARRETO - Sim, porque é o único possível tendo em atenção as restrições impostas no acordo de accionistas de 1992 entre a Arjo, a Caixa Geral de Depósitos e o Banco de Fomento Exterior. Por isso, lamento que se tenham perdido quase dois anos a fazer a reestruturação que eu propus ao ministro Augusto Mateus em Outubro de 96.

EXP. - O ex-ministro da Economia via vantagens na fusão entre a Soporcel e a Portucel Industrial porque defendia a verticalização do negócio.

Á.B. - É óbvio que se não houvesse quaisquer constrangimentos no acordo parassocial o Governo, com os 51 % que tinha na Soporcel e os 56 % na PI, podia avançar com a fusão, embora essa fusão não tivesse o efeito que muita gente pensava ter. O aumento da massa crítica defendida por Augusto Mateus para mim pode não significar nada. Aquilo que iria acontecer numa fusão não eram economias substanciais. E agora a tendência a nível mundial é a concentração especializada, e não a reunião de diversos negócios numa única empresa. Por isso é que, mais uma vez, digo que o acordo agora celebrado é o melhor. A Arjo vinha desde 85 a anunciar como estratégia abandonar a área de pasta e concentrar-se no papel. Augusto Mateus esteve a lutar por algo que foi sempre uma impossibilidade.

EXP. - O ministro Pina Moura apresentou um projecto para o sector em que as águas ficam completamente separadas: de um lado a produção de pasta e do outro a de papel.

Á.B. - Exactamente. Ficam dois pólos de desenvolvimento que se mantêm autónomos e com gestão totalmente separada. A «holding», em vias de constituição, fica com as participações do Estado na Papéis Inapa, PI e Soporcel e terá por objecto incentivar sinergias possíveis entre o produtor de pasta e o de papel.

EXP. - E que sinergias são essas?

Á.B. - Ainda terça-feira escrevi ao presidente da Portucel SGPS, Jorge Armindo, a sugerir a criação de grupo de trabalho para estudar sinergias na área da floresta. Outra área possível é a colaboração na comercialização de pasta.

EXP. - A «holding», que será maioritariamente controlada pelo Estado, fica com poderes que antes não estavam previstos no primeiro acordo?

Á.B. - Não, porque a sua posição é de 40%. Para pôr em curso qualquer estratégia de desenvolvimento na Soporcel é necessária uma maioria qualificada de dois terços, o que limita a intervenção da «holding». Está também definido que o acordo é rompido se qualquer uma das empresas entrar no negócio da outra sem sua autorização.

EXP. - A Soporcel vai arrancar com o investimento na segunda máquina de papel, um projecto apresentado há dois anos. Tem contabilizados os prejuízos provocados pelo atraso na indefinição da política para o sector da pasta e do papel?

Á.B. - Não fosse o problema político criado por Augusto Mateus, quando anunciou, em finais de 1996, uma fusão entre as quatro empresas da área, a segunda papeleira da Soporcel estaria agora a iniciar a produção. Como só agora é que as coisas ficaram arrumadas temos de contar com 18 a 20 meses até ter a máquina em laboração, o que se traduz num prejuízo de 20 milhões de contos.

EXP. - O acordo obriga o Estado a reduzir a sua posição na Soporcel de 51 para 40 %. Os seus poderes ficam limitados?

Á.B. - O Estado não perdeu nada porque a Soporcel é uma empresa paritária. O exemplo é que o Governo pretendeu, com os 51%, introduzir mudanças sem a aprovação do sócio francês e não conseguiu. Os 11 % que terá de alienar não lhe serviram de nada. A redução para 40 % vai permitir ao Estado encaixar receitas das privatizações e dar à Soporcel um «free float» decente no mercado de capitais. Ou seja, ninguém sai beneficiado nem prejudicado.

EXP. - Quais são as alterações a nível do conselho de administração da Soporcel?

Á.B. - Antes, o Estado tinha quatro elementos e a Arjo três. No novo modelo, cada accionista tem quatro representantes e elegem um nono por mútuo acordo. A empresa passa a ser paritária em todos os níveis. O poder de decisão que o Estado tem com 40% é igual ao que tinha com 51%. E se pretender descer a sua quota para 25%, os direito são exactamente idênticos.

EXP. - Mas o prazo do acordo é Dezembro de 2000. E depois?

Á.B. - A partir daí serão as regras do mercado a funcionar. O Governo pode fazer o que quiser com as acções que tem na Soporcel mas prevejo que o acordo será prorrogado depois de 2000.

EXP. - Está em estudo o casamento entre PI e a sua congénere espanhola ENCE. Que pensa desta fusão?

Á.B. - Penso que, a acontecer, vai racionalizar-se a indústria de pasta a nível ibérico e equilibrar a oferta e procura, reduzindo a dependência da Península da importação de madeira; consegue-se a tal concentração especializada e uma das maiores empresas mundiais de pasta.

EXP. - E a Soporcel tem planos de fusão com um fabricante de papel?

Á.B. - A partir de 2000 é possível que se ligue a papeleiras ibéricas.

Mónica Contreras

Pontos fortes de um acordo

A Soporcel pode vir a fazer uma fusão com uma papeleira espanhola mas só para o ano 2000, admite Álvaro Barreto

Álvaro Barreto, que continua à frente da papeleira, diz que o acordo era o único possível. Não poupa críticas ao ex-ministro da Economia Augusto Mateus, que anunciou, há mais de um ano, uma fusão entre empresas privadas e públicas do sector dando origem «a um problema político».

EXPRESSO - Há pouco mais de uma semana a Arjo Wiggins e a Partest celebraram um novo acordo parassocial e a tão falada fusão foi posta de parte. Este contrato agrada-lhe?

ÁLVARO BARRETO - Sim, porque é o único possível tendo em atenção as restrições impostas no acordo de accionistas de 1992 entre a Arjo, a Caixa Geral de Depósitos e o Banco de Fomento Exterior. Por isso, lamento que se tenham perdido quase dois anos a fazer a reestruturação que eu propus ao ministro Augusto Mateus em Outubro de 96.

EXP. - O ex-ministro da Economia via vantagens na fusão entre a Soporcel e a Portucel Industrial porque defendia a verticalização do negócio.

Á.B. - É óbvio que se não houvesse quaisquer constrangimentos no acordo parassocial o Governo, com os 51 % que tinha na Soporcel e os 56 % na PI, podia avançar com a fusão, embora essa fusão não tivesse o efeito que muita gente pensava ter. O aumento da massa crítica defendida por Augusto Mateus para mim pode não significar nada. Aquilo que iria acontecer numa fusão não eram economias substanciais. E agora a tendência a nível mundial é a concentração especializada, e não a reunião de diversos negócios numa única empresa. Por isso é que, mais uma vez, digo que o acordo agora celebrado é o melhor. A Arjo vinha desde 85 a anunciar como estratégia abandonar a área de pasta e concentrar-se no papel. Augusto Mateus esteve a lutar por algo que foi sempre uma impossibilidade.

EXP. - O ministro Pina Moura apresentou um projecto para o sector em que as águas ficam completamente separadas: de um lado a produção de pasta e do outro a de papel.

Á.B. - Exactamente. Ficam dois pólos de desenvolvimento que se mantêm autónomos e com gestão totalmente separada. A «holding», em vias de constituição, fica com as participações do Estado na Papéis Inapa, PI e Soporcel e terá por objecto incentivar sinergias possíveis entre o produtor de pasta e o de papel.

EXP. - E que sinergias são essas?

Á.B. - Ainda terça-feira escrevi ao presidente da Portucel SGPS, Jorge Armindo, a sugerir a criação de grupo de trabalho para estudar sinergias na área da floresta. Outra área possível é a colaboração na comercialização de pasta.

EXP. - A «holding», que será maioritariamente controlada pelo Estado, fica com poderes que antes não estavam previstos no primeiro acordo?

Á.B. - Não, porque a sua posição é de 40%. Para pôr em curso qualquer estratégia de desenvolvimento na Soporcel é necessária uma maioria qualificada de dois terços, o que limita a intervenção da «holding». Está também definido que o acordo é rompido se qualquer uma das empresas entrar no negócio da outra sem sua autorização.

EXP. - A Soporcel vai arrancar com o investimento na segunda máquina de papel, um projecto apresentado há dois anos. Tem contabilizados os prejuízos provocados pelo atraso na indefinição da política para o sector da pasta e do papel?

Á.B. - Não fosse o problema político criado por Augusto Mateus, quando anunciou, em finais de 1996, uma fusão entre as quatro empresas da área, a segunda papeleira da Soporcel estaria agora a iniciar a produção. Como só agora é que as coisas ficaram arrumadas temos de contar com 18 a 20 meses até ter a máquina em laboração, o que se traduz num prejuízo de 20 milhões de contos.

EXP. - O acordo obriga o Estado a reduzir a sua posição na Soporcel de 51 para 40 %. Os seus poderes ficam limitados?

Á.B. - O Estado não perdeu nada porque a Soporcel é uma empresa paritária. O exemplo é que o Governo pretendeu, com os 51%, introduzir mudanças sem a aprovação do sócio francês e não conseguiu. Os 11 % que terá de alienar não lhe serviram de nada. A redução para 40 % vai permitir ao Estado encaixar receitas das privatizações e dar à Soporcel um «free float» decente no mercado de capitais. Ou seja, ninguém sai beneficiado nem prejudicado.

EXP. - Quais são as alterações a nível do conselho de administração da Soporcel?

Á.B. - Antes, o Estado tinha quatro elementos e a Arjo três. No novo modelo, cada accionista tem quatro representantes e elegem um nono por mútuo acordo. A empresa passa a ser paritária em todos os níveis. O poder de decisão que o Estado tem com 40% é igual ao que tinha com 51%. E se pretender descer a sua quota para 25%, os direito são exactamente idênticos.

EXP. - Mas o prazo do acordo é Dezembro de 2000. E depois?

Á.B. - A partir daí serão as regras do mercado a funcionar. O Governo pode fazer o que quiser com as acções que tem na Soporcel mas prevejo que o acordo será prorrogado depois de 2000.

EXP. - Está em estudo o casamento entre PI e a sua congénere espanhola ENCE. Que pensa desta fusão?

Á.B. - Penso que, a acontecer, vai racionalizar-se a indústria de pasta a nível ibérico e equilibrar a oferta e procura, reduzindo a dependência da Península da importação de madeira; consegue-se a tal concentração especializada e uma das maiores empresas mundiais de pasta.

EXP. - E a Soporcel tem planos de fusão com um fabricante de papel?

Á.B. - A partir de 2000 é possível que se ligue a papeleiras ibéricas.

Mónica Contreras

Pontos fortes de um acordo

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