Sampaio condecora menos que Soares

01-09-1999
marcar artigo

Alberto Martins: o condecorado mais aplaudido em Aveiro

O núcleo constituído por Alberto Martins, Celso Cruzeiro, Maria Fernanda Bernarda e Osvaldo Castro (actual secretário de Estado do Comércio) foi o mais aplaudido. O mais destacado foi o deputado Alberto Martins, que presidia à Associação Académica de Coimbra (AAC) em 1969.

Todos eles, aliás, teriam um papel determinante no dia 17 de Abril desse ano, quando Américo Thomaz se deslocou à cidade do Mondego para inaugurar o novo edifício das Matemáticas. Essa data marcou o início da luta estudantil, que culminou na greve aos exames e na forçada incorporação (militar) de dezenas de alunos.

Negada na véspera (16 de Abril) pelo reitor da Universidade a possibilidade de os alunos falarem durante a cerimónia, ficou decidido que Alberto Martins pediria autorização ao Presidente da República.

É curioso o parágrafo do livro de Celso Cruzeiro editado há já 10 anos e que se revela premonitório relativamente às condecorações deste 10 de Junho:

«A cada um dos dirigentes da AAC tinham sido distribuídas diferentes tarefas no desenrolar dos acontecimentos. A Alberto Martins, que se dirigira já para o edifício a inaugurar, tinha sido atribuída a de, face à negativa das autoridades académicas, pedir directamente a palavra ao Presidente da República e, usando dela, tecer no seu discurso várias considerações sobre a situação do ensino em Portugal e sobre a situação da Universidade de Coimbra, tudo numa perspectiva crítica e reivindicativa, de acordo com a linha programática que a lista CR (Conselho das Repúblicas) apresentara e que a Academia havia tornado sua. A mim coubera o apoio mais directo e imediato à acção daquele, encontrando-me em ligação permanente em primeira linha com a Fernanda Bernarda e em segunda linha com o Osvaldo Castro», escreveu Celso Cruzeiro.

Alberto Martins foi preso pela PIDE às duas horas da madrugada do dia 18, tendo sido libertado nessa manhã. Celso Cruzeiro e Osvaldo Castro tiveram como destino a incorporação forçada no serviço militar.

Lágrimas discretas de Jorge Sampaio

Também com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade foi distinguido a título póstumo César de Oliveira, tendo a condecoração sido recebida por seu filho. O Presidente da República, amigo do historiador, deixou fugir uma lágrima discreta quando entregava a medalha.

Igualmente a título póstumo, Sampaio homenageou Nuno Kruz Abecasis pelos relevantes serviços prestados como deputado e autarca, tendo sido salientada a sua defesa empenhada dos direitos do povo de Timor-Leste. A Abecasis foi atribuída a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.

Mas ontem, em Aveiro, cidade escolhida este ano para o 10 de Junho pelo simbolismo de que se reveste na luta contra a ditadura, nomeadamente pela organização dos congressos da Oposição Democrática de 1969 e 1973, era hora de homenagear os que sofreram com Salazar e Caetano.

O investigador e docente de História António Borges Coelho, hoje com 74 anos, recebeu a Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago de Espada, sendo realçado o facto de ter sido impedido pela ditadura de seguir normalmente a sua carreira docente.

Jorge Sampaio destacou ainda João Marques Pinto, presidente da Fundação de Serralves, «pelos notáveis serviços prestados à Cultura», e o organista Antoine Sibertine-Blanc.

Distinguidos pelo Presidente da República foram também o almirante António Manuel de Andrade e Silva, Maria José Rau e Neiva de Oliveira. O primeiro pelo trabalho desenvolvido na área da história marítima, a segunda pela carreira em prol da qualidade do ensino, e o último pela capacidade evidenciada enquanto empresário.

Particularmente aplaudido foi o primeiro-sargento Mário Teixeira pelo «espírito de sacrifício e invulgar coragem» com que em 11 de Janeiro passado fez uma operação de salvamento, resgatando três pessoas do mar em Porto Santo.

J.M.

Alberto Martins: o condecorado mais aplaudido em Aveiro

O núcleo constituído por Alberto Martins, Celso Cruzeiro, Maria Fernanda Bernarda e Osvaldo Castro (actual secretário de Estado do Comércio) foi o mais aplaudido. O mais destacado foi o deputado Alberto Martins, que presidia à Associação Académica de Coimbra (AAC) em 1969.

Todos eles, aliás, teriam um papel determinante no dia 17 de Abril desse ano, quando Américo Thomaz se deslocou à cidade do Mondego para inaugurar o novo edifício das Matemáticas. Essa data marcou o início da luta estudantil, que culminou na greve aos exames e na forçada incorporação (militar) de dezenas de alunos.

Negada na véspera (16 de Abril) pelo reitor da Universidade a possibilidade de os alunos falarem durante a cerimónia, ficou decidido que Alberto Martins pediria autorização ao Presidente da República.

É curioso o parágrafo do livro de Celso Cruzeiro editado há já 10 anos e que se revela premonitório relativamente às condecorações deste 10 de Junho:

«A cada um dos dirigentes da AAC tinham sido distribuídas diferentes tarefas no desenrolar dos acontecimentos. A Alberto Martins, que se dirigira já para o edifício a inaugurar, tinha sido atribuída a de, face à negativa das autoridades académicas, pedir directamente a palavra ao Presidente da República e, usando dela, tecer no seu discurso várias considerações sobre a situação do ensino em Portugal e sobre a situação da Universidade de Coimbra, tudo numa perspectiva crítica e reivindicativa, de acordo com a linha programática que a lista CR (Conselho das Repúblicas) apresentara e que a Academia havia tornado sua. A mim coubera o apoio mais directo e imediato à acção daquele, encontrando-me em ligação permanente em primeira linha com a Fernanda Bernarda e em segunda linha com o Osvaldo Castro», escreveu Celso Cruzeiro.

Alberto Martins foi preso pela PIDE às duas horas da madrugada do dia 18, tendo sido libertado nessa manhã. Celso Cruzeiro e Osvaldo Castro tiveram como destino a incorporação forçada no serviço militar.

Lágrimas discretas de Jorge Sampaio

Também com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade foi distinguido a título póstumo César de Oliveira, tendo a condecoração sido recebida por seu filho. O Presidente da República, amigo do historiador, deixou fugir uma lágrima discreta quando entregava a medalha.

Igualmente a título póstumo, Sampaio homenageou Nuno Kruz Abecasis pelos relevantes serviços prestados como deputado e autarca, tendo sido salientada a sua defesa empenhada dos direitos do povo de Timor-Leste. A Abecasis foi atribuída a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.

Mas ontem, em Aveiro, cidade escolhida este ano para o 10 de Junho pelo simbolismo de que se reveste na luta contra a ditadura, nomeadamente pela organização dos congressos da Oposição Democrática de 1969 e 1973, era hora de homenagear os que sofreram com Salazar e Caetano.

O investigador e docente de História António Borges Coelho, hoje com 74 anos, recebeu a Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago de Espada, sendo realçado o facto de ter sido impedido pela ditadura de seguir normalmente a sua carreira docente.

Jorge Sampaio destacou ainda João Marques Pinto, presidente da Fundação de Serralves, «pelos notáveis serviços prestados à Cultura», e o organista Antoine Sibertine-Blanc.

Distinguidos pelo Presidente da República foram também o almirante António Manuel de Andrade e Silva, Maria José Rau e Neiva de Oliveira. O primeiro pelo trabalho desenvolvido na área da história marítima, a segunda pela carreira em prol da qualidade do ensino, e o último pela capacidade evidenciada enquanto empresário.

Particularmente aplaudido foi o primeiro-sargento Mário Teixeira pelo «espírito de sacrifício e invulgar coragem» com que em 11 de Janeiro passado fez uma operação de salvamento, resgatando três pessoas do mar em Porto Santo.

J.M.

marcar artigo