JORNAL PUBLICO: O momento zero

13-10-1999
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18/08/95

PSD vai "abrir a torneira" no Pontal enquanto PS assume que o seu comício é "um desafio"

O momento zero

O secretismo tem marcado a preparação dos discursos. Tanto de Nogueira, como de Guterres. Mas o PSD assume que guardou tudo, discurso e marketing eleitoral, para o Pontal. O PS não esconde que a ideia de fazer a "rentrée" em Faro é um desafio.

O PS assume que a marcação do comício de sábado para Faro é "um desafio", ao passo que o PSD encara a sua festa do Pontal como o "momento zero" da campanha. Os líderes dos dois partidos, no entanto, guardam no segredo dos deuses as ideias de força dos respectivos segredos. É que nisto da política, o segredo é cada vez mais a alma do negócio.

Fernando Nogueira viaja sábado para Faro e o mesmo fará António Guterres, que aproveitará a tarde deste dia para trocar impressões sobre a sua intervenção com alguns dos dirigentes do PS que já estão no Algarve, como é o caso de Fernando Gomes. Quem também já estará em Faro, por parte dos socialistas, é o responsável pela campanha, Jorge Coelho, a quem cabe ultimar todos os pormenores.

Durante a semana as estruturas do PS no Algarve têm-se empenhado na mobilização de pessoas para o comício e uma avioneta tem percorrido as praias a anunciar a festa, que terá música dos Delfins e dos Gang. "Assumimos que não recusamos desafios e comparações para que as pessoas vejam como somos alternativa", frisou Alberto Arons de Carvalho, explicando a lógica de desafio da marcação do comício para Faro. E é esse desafio que estará também nas palavras dos oradores, que começam a falar ás 22.00 e que serão, por ordem cronológica, Luis Filipe Madeira, Jaime Gama e António Guterres. E a confiança dos socialistas parece ir ao ponto de pensarem que, para ganhar o desafio, bastarão os militantes e simpatizantes algarvios mais aqueles que lá estão de férias, dispensando a tradicional mobilização de apoiantes de outros distritos. Quem não vai faltar à chamada são os apoiantes de João Soares, que têm um almoço marcado para Quarteira.

Abrir a torneira

Por parte do PSD, a especial importância do comício advém, desde logo, do facto de ser a partir de sábado que a sua campanha arranca verdadeiramente. Os seus dirigentes assumem que não fizeram nada, em termos de marketing eleitoral, depois de terem lançado o primeiro cartaz de Fernando Nogueira já na condição de líder, mas sublinham que amanhã vão "abrir a torneira". Por isso, marcaram uma reunião para a tarde de sábado, na Universidade do Algarve, com todas as distritais, a quem vão divulgar e distribuir todos os materiais de campanha. "É o pontapé de saída...", adverte Vitor António, um dos responsáveis da imagem do PSD.

Mas antes de sábado, os dirigentes nacionais dos dois partidos vão aterrar no meio de uma verdadeira guerra entre o PS e o PSD algarvios. Desde logo, por causa da segurança. As preocupações manifestadas pelo líder do PSD/Algarve, Cabrita Neto sobre a questão da segurança, amanhã, em Faro, são desdramatizadas pelas próprias autoridades policiais. A PSP diz estar preparada para garantir a ordem pública sem que seja preciso recorrer a reforços.

Os argumentos invocados pelo ex-governador civil era de que entre o Pontal, onde se realiza o comício do PSD e a Pontinha, do PS, a distância era de cerca de duas centenas de metros, pelo que a proximidade poderia levar a eventuais confrontos entre apoiantes entre cada um dos lados.

O comissário Simões da PSP de Faro, em declarações ao PÚBLICO, disse achar "estranho" tanta preocupação em relação à segurança. De acordo com os estudos que já foram efectuados, o comissário disse que "nem será preciso virem agentes de fora".

O governador civil de Faro, José Cavaco, perante as declarações do seu antecessor, Cabrita Neto, declinou no presidente da câmara de Faro, Luís Coelho a tarefa de reunir com os comandos policiais e assumir a resolução deste caso. Luís Coelho disse que o largo da feira, que leva mais de mil automóveis, será reservado para estacionamento dos dois comícios e a PSP está destacada para zelar pela segurança das viaturas. Por outro lado, serão também cortadas ao trânsito as ruas que dão acesso directo aos comícios.

Entretanto, os líderes regionais dos dois partidos, Cabrita Neto e José Apolinário radicalizaram posições. Cabrita Neto voltou a chamar "macacos de imitação" aos socialistas e estes responderam: o PS não entra no estilo de linguagem deste PSD, a grosseria, má educação e boçalidade do Sr. Cabrita Neto". Além disso, acrescenta num comunicado distribuído ao fim do dia, que o líder do PSD/Algarve "deixa envergonhados a maioria dos militantes do próprio PSD e corados os algarvios".

Entre os palcos dos dois comícios a distância é de cerca de 500 metros, António Guterres e Fernando Nogueira não se chegarão a avistar. Mesmo que as aparelhagens sonoras sejam muito potentes também não se chegarão a ouvir. A separá-los está a Rua de Santo António, a principal artéria da cidade. Os seus frequentadores habituais, quase todos se conhecem e o tema política, nestas ocasiões de campanha eleitoral é obrigatório.

Os comerciantes desta rua, a maioria proprietários de lojas de roupa e calçado, não manifestam grande expectativa comercial em relação às avalanches que os partidos estão a contar. Os cafés e restaurantes próximos dos palcos é que esperam ver aumentada a sua clientela. O proprietário do Restaurante Pontinha, Rui Inácio onde se realiza o comício do PS tinha ontem como maior preocupação o facto de não saber como é que vai manter a esplanada que dá para o recinto do comício. "Ainda não me disseram nada, mas só tiro as mesas e cadeiras se me pagarem e se for preciso até alugo a varanda do restaurante. É tudo uma questão de números".

O gerente do restaurante "Green", Fernando Fonseca, diz que estas iniciativas politicas ainda são é capaz de lhe fazerem afastar clientes por causa do barulho. Os dois comícios, na sua opinião, nada vão mexer com a cidade, porque as pessoas vêm da praia já jantadas e não fazem despesa.

Eduardo Dâmaso e Idálio Revez , com Filomena Fontes e João Manuel Rocha

18/08/95

PSD vai "abrir a torneira" no Pontal enquanto PS assume que o seu comício é "um desafio"

O momento zero

O secretismo tem marcado a preparação dos discursos. Tanto de Nogueira, como de Guterres. Mas o PSD assume que guardou tudo, discurso e marketing eleitoral, para o Pontal. O PS não esconde que a ideia de fazer a "rentrée" em Faro é um desafio.

O PS assume que a marcação do comício de sábado para Faro é "um desafio", ao passo que o PSD encara a sua festa do Pontal como o "momento zero" da campanha. Os líderes dos dois partidos, no entanto, guardam no segredo dos deuses as ideias de força dos respectivos segredos. É que nisto da política, o segredo é cada vez mais a alma do negócio.

Fernando Nogueira viaja sábado para Faro e o mesmo fará António Guterres, que aproveitará a tarde deste dia para trocar impressões sobre a sua intervenção com alguns dos dirigentes do PS que já estão no Algarve, como é o caso de Fernando Gomes. Quem também já estará em Faro, por parte dos socialistas, é o responsável pela campanha, Jorge Coelho, a quem cabe ultimar todos os pormenores.

Durante a semana as estruturas do PS no Algarve têm-se empenhado na mobilização de pessoas para o comício e uma avioneta tem percorrido as praias a anunciar a festa, que terá música dos Delfins e dos Gang. "Assumimos que não recusamos desafios e comparações para que as pessoas vejam como somos alternativa", frisou Alberto Arons de Carvalho, explicando a lógica de desafio da marcação do comício para Faro. E é esse desafio que estará também nas palavras dos oradores, que começam a falar ás 22.00 e que serão, por ordem cronológica, Luis Filipe Madeira, Jaime Gama e António Guterres. E a confiança dos socialistas parece ir ao ponto de pensarem que, para ganhar o desafio, bastarão os militantes e simpatizantes algarvios mais aqueles que lá estão de férias, dispensando a tradicional mobilização de apoiantes de outros distritos. Quem não vai faltar à chamada são os apoiantes de João Soares, que têm um almoço marcado para Quarteira.

Abrir a torneira

Por parte do PSD, a especial importância do comício advém, desde logo, do facto de ser a partir de sábado que a sua campanha arranca verdadeiramente. Os seus dirigentes assumem que não fizeram nada, em termos de marketing eleitoral, depois de terem lançado o primeiro cartaz de Fernando Nogueira já na condição de líder, mas sublinham que amanhã vão "abrir a torneira". Por isso, marcaram uma reunião para a tarde de sábado, na Universidade do Algarve, com todas as distritais, a quem vão divulgar e distribuir todos os materiais de campanha. "É o pontapé de saída...", adverte Vitor António, um dos responsáveis da imagem do PSD.

Mas antes de sábado, os dirigentes nacionais dos dois partidos vão aterrar no meio de uma verdadeira guerra entre o PS e o PSD algarvios. Desde logo, por causa da segurança. As preocupações manifestadas pelo líder do PSD/Algarve, Cabrita Neto sobre a questão da segurança, amanhã, em Faro, são desdramatizadas pelas próprias autoridades policiais. A PSP diz estar preparada para garantir a ordem pública sem que seja preciso recorrer a reforços.

Os argumentos invocados pelo ex-governador civil era de que entre o Pontal, onde se realiza o comício do PSD e a Pontinha, do PS, a distância era de cerca de duas centenas de metros, pelo que a proximidade poderia levar a eventuais confrontos entre apoiantes entre cada um dos lados.

O comissário Simões da PSP de Faro, em declarações ao PÚBLICO, disse achar "estranho" tanta preocupação em relação à segurança. De acordo com os estudos que já foram efectuados, o comissário disse que "nem será preciso virem agentes de fora".

O governador civil de Faro, José Cavaco, perante as declarações do seu antecessor, Cabrita Neto, declinou no presidente da câmara de Faro, Luís Coelho a tarefa de reunir com os comandos policiais e assumir a resolução deste caso. Luís Coelho disse que o largo da feira, que leva mais de mil automóveis, será reservado para estacionamento dos dois comícios e a PSP está destacada para zelar pela segurança das viaturas. Por outro lado, serão também cortadas ao trânsito as ruas que dão acesso directo aos comícios.

Entretanto, os líderes regionais dos dois partidos, Cabrita Neto e José Apolinário radicalizaram posições. Cabrita Neto voltou a chamar "macacos de imitação" aos socialistas e estes responderam: o PS não entra no estilo de linguagem deste PSD, a grosseria, má educação e boçalidade do Sr. Cabrita Neto". Além disso, acrescenta num comunicado distribuído ao fim do dia, que o líder do PSD/Algarve "deixa envergonhados a maioria dos militantes do próprio PSD e corados os algarvios".

Entre os palcos dos dois comícios a distância é de cerca de 500 metros, António Guterres e Fernando Nogueira não se chegarão a avistar. Mesmo que as aparelhagens sonoras sejam muito potentes também não se chegarão a ouvir. A separá-los está a Rua de Santo António, a principal artéria da cidade. Os seus frequentadores habituais, quase todos se conhecem e o tema política, nestas ocasiões de campanha eleitoral é obrigatório.

Os comerciantes desta rua, a maioria proprietários de lojas de roupa e calçado, não manifestam grande expectativa comercial em relação às avalanches que os partidos estão a contar. Os cafés e restaurantes próximos dos palcos é que esperam ver aumentada a sua clientela. O proprietário do Restaurante Pontinha, Rui Inácio onde se realiza o comício do PS tinha ontem como maior preocupação o facto de não saber como é que vai manter a esplanada que dá para o recinto do comício. "Ainda não me disseram nada, mas só tiro as mesas e cadeiras se me pagarem e se for preciso até alugo a varanda do restaurante. É tudo uma questão de números".

O gerente do restaurante "Green", Fernando Fonseca, diz que estas iniciativas politicas ainda são é capaz de lhe fazerem afastar clientes por causa do barulho. Os dois comícios, na sua opinião, nada vão mexer com a cidade, porque as pessoas vêm da praia já jantadas e não fazem despesa.

Eduardo Dâmaso e Idálio Revez , com Filomena Fontes e João Manuel Rocha

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