DN-Suplementos Negócios

31-03-2001
marcar artigo

Há tempos, um amigo, que tem os pés bem assentes na terra, sabiamente agarrado às raízes do quinhão natal, dizia-me que, por ele, o futuro continua nas batatas, querendo com isso transmitir que por mais voltas que se dêem os seres humanos não deixarão nunca de se alimentar, na lógica com que sempre o fizeram. Este meu amigo esquece também as inquietações que, hoje, nos invadem no domínio da cadeia alimentar... A imagem que me transmitiu reflecte, porém - e é isso que importa sublinhar -, a perplexidade com que encara este novo mundo em gestação. Que, como dizia Victor Cunha Rego, numa conclusão feliz que fez escola, o mundo "está perigoso". É inquestionavelmente verdade, mas também não é menos verdade que seria dificilmente concebível que, neste período, os factos ocorressem de outra forma.

A dinâmica evolutiva é feita também de rupturas que emergem de contradições insanáveis. Estamos a viver sob os efeitos muito profundos de uma ruptura, à escala planetária, que é muito recente. Não nos podemos esquecer que desde que o muro que nos dividia ruiu passaram apenas onze anos, o que, temporalmente, nada significa no percurso da humanidade. Sucede é que vivemos neste tempo e sob os seus efeitos. Nele, é óbvio que a nossa responsabilidade não pode ser de conformismo, de resignação e de aceitação natural do que inquieta, do que afecta. Conciliando a inevitabilidade do progresso e a sua defesa, em solidariedade, parece evidente que a lógica do desenvolvimento tem de estar voltada para o homem e ao seu serviço ou, dito de outra forma, tem de estar no desenvolvimento humano e não meramente no material, para utilizar um conceito tão reiterado pelo PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Que é, genericamente, aplicável ao geral e ao particular.

Por todas estas razões, hoje, o cidadão, enquanto tal, não pode deixar de ser o centro das respostas às inquietações existentes. A súbita erupção de movimentos de cidadania a que assistimos, mesmo entre nós, é disso mesmo elucidativo. Tenho insistido neste ponto porque esta efectiva e real preocupação deve estar, hoje, na essência dos partidos políticos, instrumentos determinantes da organização colectiva dos Estados democráticos.

Tudo passa por aí, porque essa efectiva e real preocupação perante a legítima inquietação dos cidadãos, ao aprofundar a natureza das respostas que devem ser prestadas, auto-responsabiliza, individual e organicamente, e enquadra, por essa via, as exigências dos ideários que têm a ver com os desígnios a prosseguir. Com transparência e abertura perante a sociedade, aceitando-se a vigilância desta, sem temores nem receios da exigência, do rigor e da eficácia, tão necessários a serem estimuladores. Só assim se combaterá o facilitismo, o deixa-andar e o pragmatismo sem norte. Pela aceitação do respeito da cidadania e da participação dos cidadãos. Sem paternalismos. E combatendo tudo o que seja revelador da desresponsabilização.

Vítor Ramalho foi secretário de Estado e é deputado do PS. vitor-ramalho@email.com

Há tempos, um amigo, que tem os pés bem assentes na terra, sabiamente agarrado às raízes do quinhão natal, dizia-me que, por ele, o futuro continua nas batatas, querendo com isso transmitir que por mais voltas que se dêem os seres humanos não deixarão nunca de se alimentar, na lógica com que sempre o fizeram. Este meu amigo esquece também as inquietações que, hoje, nos invadem no domínio da cadeia alimentar... A imagem que me transmitiu reflecte, porém - e é isso que importa sublinhar -, a perplexidade com que encara este novo mundo em gestação. Que, como dizia Victor Cunha Rego, numa conclusão feliz que fez escola, o mundo "está perigoso". É inquestionavelmente verdade, mas também não é menos verdade que seria dificilmente concebível que, neste período, os factos ocorressem de outra forma.

A dinâmica evolutiva é feita também de rupturas que emergem de contradições insanáveis. Estamos a viver sob os efeitos muito profundos de uma ruptura, à escala planetária, que é muito recente. Não nos podemos esquecer que desde que o muro que nos dividia ruiu passaram apenas onze anos, o que, temporalmente, nada significa no percurso da humanidade. Sucede é que vivemos neste tempo e sob os seus efeitos. Nele, é óbvio que a nossa responsabilidade não pode ser de conformismo, de resignação e de aceitação natural do que inquieta, do que afecta. Conciliando a inevitabilidade do progresso e a sua defesa, em solidariedade, parece evidente que a lógica do desenvolvimento tem de estar voltada para o homem e ao seu serviço ou, dito de outra forma, tem de estar no desenvolvimento humano e não meramente no material, para utilizar um conceito tão reiterado pelo PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Que é, genericamente, aplicável ao geral e ao particular.

Por todas estas razões, hoje, o cidadão, enquanto tal, não pode deixar de ser o centro das respostas às inquietações existentes. A súbita erupção de movimentos de cidadania a que assistimos, mesmo entre nós, é disso mesmo elucidativo. Tenho insistido neste ponto porque esta efectiva e real preocupação deve estar, hoje, na essência dos partidos políticos, instrumentos determinantes da organização colectiva dos Estados democráticos.

Tudo passa por aí, porque essa efectiva e real preocupação perante a legítima inquietação dos cidadãos, ao aprofundar a natureza das respostas que devem ser prestadas, auto-responsabiliza, individual e organicamente, e enquadra, por essa via, as exigências dos ideários que têm a ver com os desígnios a prosseguir. Com transparência e abertura perante a sociedade, aceitando-se a vigilância desta, sem temores nem receios da exigência, do rigor e da eficácia, tão necessários a serem estimuladores. Só assim se combaterá o facilitismo, o deixa-andar e o pragmatismo sem norte. Pela aceitação do respeito da cidadania e da participação dos cidadãos. Sem paternalismos. E combatendo tudo o que seja revelador da desresponsabilização.

Vítor Ramalho foi secretário de Estado e é deputado do PS. vitor-ramalho@email.com

marcar artigo