Bastidores

11-12-2000
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Bastidores

Segunda-feira, 11 de Dezembro de 2000

Em nenhum outro partido deve ser possível assistir às cenas que se seguiram ao fim do congresso do PCP: dirigentes, delegados, funcionários, militantes, todos, sem distinção, arrumaram a sala do congresso em três tempos. Empilharam cadeiras, dobraram panos, enrolaram bandeiras, desmontaram mesas e carregaram plantas com uma eficiência tal que passados 15 minutos do congresso acabar já não havia uma mesa de pé no Pavilhão Atlântico.

Assim que acabaram os acordes do hino nacional, Rosa Rabiais avisou que cada delegado devia arrumar o seu lugar. E assim foi. Só os convidados estrangeiros escaparam a esta azáfama organizada. Um momento que foi também reflexo da organização do partido. De tal forma que o representante do PSD no encerramento do congresso, Vieira de Castro, embora tenha recusado comentar os resultados políticos do congresso do PCP, fez questão de destacar a elevada organização dos comunistas.

Reflexos pavlovianos

Há palavras que funcionaram como molas entre o povo comunista, bastando ser pronunciadas para que todo o congresso se levantasse em aplausos. Timor foi uma delas, mas essa podia acontecer em qualquer lado, dado o fervor timorense que tomou o país, desde o ano passado. Mas este congresso também aplaudia em bloco, quase que por reflexo pavloviano, sempre que ouvia palavras como Cuba, Avante, OLP ou povo palestiniano. Também sempre que se ouvia a expressão "marxismo-leninismo", o congresso aplaudia entusiasticamente. As criticas à comunicação social também tiveram sempre a reacção imediata dos delegados, que chegavam a levantar-se gritando "PCP, PCP". Mas nada é comparável à simples menção de Álvaro Cunhal, nome aplaudido como se o próprio lá estivesse. Mesmo quem não estivesse dentro da sala onde decorria o congresso e não tivesse ouvido o nome, só pelo volume das palmas sabia que alguém tinha falado do líder histórico dos comunistas.

Internacional rouca

Há momentos verdadeiramente impressionantes num congresso comunista. Ver e ouvir mais de dois mil comunistas (entre delegados e convidados) a cantar "A Internacional" de punho erguido ou a cantar o "Avante" de mãos nos ombros do camarada do lado, formando uma massa ondulante no Pavilhão Atlântico, chega a arrepiar. Contudo, enquanto o "Avante", hino do PCP, vibrava claro no sistema de som, na voz de Luísa Basto, "A Internacional" está a precisar de uma nova gravação. Depois dos versos iniciais -- "De pé ó vitimas da fome, de pé famélicos da terra" - pouco se percebe da letra até ao "bem unidos façamos/ desta luta final/ uma terra sem amos/ a Internacional".

Bastidores

Segunda-feira, 11 de Dezembro de 2000

Em nenhum outro partido deve ser possível assistir às cenas que se seguiram ao fim do congresso do PCP: dirigentes, delegados, funcionários, militantes, todos, sem distinção, arrumaram a sala do congresso em três tempos. Empilharam cadeiras, dobraram panos, enrolaram bandeiras, desmontaram mesas e carregaram plantas com uma eficiência tal que passados 15 minutos do congresso acabar já não havia uma mesa de pé no Pavilhão Atlântico.

Assim que acabaram os acordes do hino nacional, Rosa Rabiais avisou que cada delegado devia arrumar o seu lugar. E assim foi. Só os convidados estrangeiros escaparam a esta azáfama organizada. Um momento que foi também reflexo da organização do partido. De tal forma que o representante do PSD no encerramento do congresso, Vieira de Castro, embora tenha recusado comentar os resultados políticos do congresso do PCP, fez questão de destacar a elevada organização dos comunistas.

Reflexos pavlovianos

Há palavras que funcionaram como molas entre o povo comunista, bastando ser pronunciadas para que todo o congresso se levantasse em aplausos. Timor foi uma delas, mas essa podia acontecer em qualquer lado, dado o fervor timorense que tomou o país, desde o ano passado. Mas este congresso também aplaudia em bloco, quase que por reflexo pavloviano, sempre que ouvia palavras como Cuba, Avante, OLP ou povo palestiniano. Também sempre que se ouvia a expressão "marxismo-leninismo", o congresso aplaudia entusiasticamente. As criticas à comunicação social também tiveram sempre a reacção imediata dos delegados, que chegavam a levantar-se gritando "PCP, PCP". Mas nada é comparável à simples menção de Álvaro Cunhal, nome aplaudido como se o próprio lá estivesse. Mesmo quem não estivesse dentro da sala onde decorria o congresso e não tivesse ouvido o nome, só pelo volume das palmas sabia que alguém tinha falado do líder histórico dos comunistas.

Internacional rouca

Há momentos verdadeiramente impressionantes num congresso comunista. Ver e ouvir mais de dois mil comunistas (entre delegados e convidados) a cantar "A Internacional" de punho erguido ou a cantar o "Avante" de mãos nos ombros do camarada do lado, formando uma massa ondulante no Pavilhão Atlântico, chega a arrepiar. Contudo, enquanto o "Avante", hino do PCP, vibrava claro no sistema de som, na voz de Luísa Basto, "A Internacional" está a precisar de uma nova gravação. Depois dos versos iniciais -- "De pé ó vitimas da fome, de pé famélicos da terra" - pouco se percebe da letra até ao "bem unidos façamos/ desta luta final/ uma terra sem amos/ a Internacional".

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