EXPRESSO: Opinião

01-04-2002
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25/8/2001

OPINIÃO

Uma repugnante metamorfose Pedro Passos Coelho

«Não é excepção os membros do governo criarem, na sua esfera de confiança ao nível de gabinete, autênticas administrações paralelas de que resulta um clima de tensão e de recíproca vigilância, mais vulgares entre adversários do que entre instituições que estão obrigadas à solidariedade e à cooperação. Os lugares de carreira foram sendo substituídos, em nome da necessidade de sintonia com a política dos governos, e dentro destes de sintonia com a política de cada ministro que vai passando, por lugares de nomeação. Nomeiam-se, às largas centenas, directores e administradores para tudo, tanto na Saúde como na Educação, na Segurança Social, na Agricultura e por aí fora. Toda essa gente que é nomeada pelas informes massas partidárias - já que ninguém acredita que verdadeiramente os ministros saibam ao certo quem nomeiam - supostamente assegura a execução das políticas dos governos.» QUANDO, seis anos atrás, António Guterres se comprometeu em introduzir a regra do concurso público para o preenchimento dos lugares de topo da função pública, nomeadamente os de director-geral, a ideia foi bem acolhida por quase toda a gente. Porquê? Sem dúvida porque vinha ao encontro do sentimento generalizado de que a administração havia perdido, ao longo de vários anos, a independência e a imparcialidade perante a intervenção do poder político instituído, ficando assim beliscada na sua credibilidade. Ora, recorde-se que nos primeiros anos após a mudança de regime político a intervenção dos governos na administração não foi mal tolerada, quer por não terem os governos força nem tempo para consolidar grandes mexidas na estrutura da administração, quer por haver a ideia de que esta necessitava de se adaptar aos novos ventos e de se «democratizar» ao nível das chefias. O novo poder democrático precisava de gente da sua confiança para construir a nova sociedade. Com o passar dos anos, porém, e à medida que os novos governos trocavam os recentes democratas por outros mais da sua confiança, foi-se avolumando a crença de que a administração pública perdia agilidade e competência. A sua estrutura orgânica foi-se moldando mais por força da necessidade de acomodar as diversas camadas de «gerações» de democratas sucessivamente herdadas do que em resultado de qualquer objectivo estratégico ditado pelos fins a prosseguir ou pela natureza da administração. De tal modo que, já em 1979, Sá Carneiro prometia, em sinal de equilíbrio e imparcialidade, não repetir a «dança das cadeiras» usual até aí, abstendo-se de mudar de director-geral por razão de simpatia partidária. Como era de esperar, cumpriu honradamente a promessa. Mas é sabido que o prestígio que angariou com esta maneira de estar na política não fez exactamente escola por S. Bento. De então para cá o problema agravou-se. Por boas ou más razões, com as melhores ou as piores intenções, já que as houve para todos os gostos, a verdade é que se tornou usual cada governo transportar a «sua» classe dirigente e os amigos para a administração. Apesar disto, não é excepção os membros do governo criarem, na sua esfera de confiança ao nível de gabinete, autênticas administrações paralelas de que resulta um clima de tensão e de recíproca vigilância, mais vulgares entre adversários do que entre instituições que estão obrigadas à solidariedade e à cooperação. Os lugares de carreira foram sendo substituídos, em nome da necessidade de sintonia com a política dos governos, e dentro destes de sintonia com a política de cada ministro que vai passando, por lugares de nomeação. Nomeiam-se, às largas centenas, directores e administradores para tudo, tanto na Saúde como na Educação, na Segurança Social, na Agricultura e por aí fora. Toda essa gente que é nomeada pelas informes massas partidárias - já que ninguém acredita que verdadeiramente os ministros saibam ao certo quem nomeiam - supostamente assegura a execução das políticas dos governos. Mas mesmo assim os governantes têm dificuldade em assumir responsabilidades, sobretudo pelo que não fazem e deviam fazer. Bem entendido, seis anos depois, a promessa de Guterres continua caída por terra, amarfanhada pela gigantesca metamorfose do «estado rosa» que sucedeu ao «estado laranja» e envergonhada pela hipócrita lei dos concursos públicos que até hoje parece não ter dado provimento a ninguém. A administração está, pois, mais do que nunca, necessitada de uma existência própria que lhe confira dignidade, imparcialidade e competência. E que nos previna a todos contra futuros - e mais que certos - novos cambiantes cromáticos da repugnante metamorfose que nos tem condenado ao aqui malquisto lema «todos diferentes, todos iguais». E-mial: ppassos@netc.pt

COMENTÁRIOS AO ARTIGO

6 comentários 1 a 6

29 de Agosto de 2001 às 05:21

Luís Manuel T. G. Santos

De facto, as sucessivas nomeações dos boys para a administração pública, invenções de jobs e outras coisas mais ao sabor das clientelas partidárias dos partidos que vão passando por este poder sem força não é mais que um dos vícios e enormes defeitos do sistema que deveria ser radicalmente alterado.

É uma vergonha nacional sem qualquer ética e que só descredibiliza a própria democracia. As nomeações deveriam banidas e substituidas por concursos públicos honestos por forma a darem-se tais lugares a gestores competentes, independentemente das cores partidárias.

26 de Agosto de 2001 às 00:38

António Alvim

Deveria ser repecado o debate (na Sic?) entre o Eng.Gueterres e o Dr.Fernando Nogueira nas legislativas de 95. Fernando Nogueira afirmou que os lugares de nomeação política seríam cerca de 5000. Tiro-lhe o chapéu pela honestidade.Com isso perdeu as eleições. Guterres escandalizado afirmou que não seríam mais de 500...Com isso ganhou as eleições e foi o que se viu.

25 de Agosto de 2001 às 23:36

Anonymous

Tens que trabalhar mais Pedrito para te enquadrares melhor, pois esse é o teu próprio meio. Luta, luta que lá chegarás, és um rapaz novo.

25 de Agosto de 2001 às 17:55

Anonymous

Nao percebo a razao poruqe

nao sao publicitados os

tachos entregues aos socialistas

no caderno EMPREGO do EXPRESSO.

Pelo menos assim, ficávamos informados

sobre as vagas....

25 de Agosto de 2001 às 16:41

Filipe Vieira de Castro

Eu acho que, por muito repugnante que tenha sido a arrogancia da bimbalhada do PSD (pelo menos para o fim), a bandalheira nunca chegou a este nivel.

Mesmo considerando o poder que tinha a escumalha mais pimba do PSD (os jooes baioes da extrema direita: santana lopes, gomes da silva, alberto joao jardim, etc.) a incompetencia e o cinismo nunca atingiram o nivel criminoso deste governo.

Eu tenho culpa porque votei PS (e, vergonha das vergonhas, Joao Soares para a CML!!!).

Mas os meus amigos que continuaram a trabalhar ai em Portugal dizem-me que a corrupcao nunca tinha atingido este nivel. E eu proprio, cada vez que vou ai, vejo com os meus olhos o cinismo crimonoso dos quadros do PS.

E certo que houve expeccoes, que nunca mais vamos ter um ministro da cultura tao bom como o Carrilho, mas para mim, PS nunca mais!

O governo PSD estava cheio de bimbos, ignorantes e iletrados, mas cheios de vontadade de melhorar as coisas (no simples entender deles, claro esta...). O governo do PS esta cheio de ladroes, oportunistas e pior, catolicos da extrema-direita, reverentes, silenciosos, jesuitas, subservientes, e sinistros.

E o PSD nunca se assumiu como um partido dos pobres, dos fracos, dos necessitados, das minorias, do ambiente, etc., todas as mentiras do guterres! Acho que esse lado da questao (andarem-se a vender como uma esquerda inteligente) faz este guterres mil vezes mais perverso que o Duarte Lima, o Valentim Loureiro, o Cadilhe, o outro (de Gaia?) que roubava dinheiro das viagens na AR, etc.

Desculpe-me que discorde sr. anonimo: o tempo do Cavaco nao o paraiso, mas nao era "a mesma *****".

Filipe Castro

Texas, USA

25 de Agosto de 2001 às 08:35

E NO TEMPO DO CAVACO ó pedrinho

tens memória curta !!!!!!

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OPINIÃO

Uma repugnante metamorfose Pedro Passos Coelho

«Não é excepção os membros do governo criarem, na sua esfera de confiança ao nível de gabinete, autênticas administrações paralelas de que resulta um clima de tensão e de recíproca vigilância, mais vulgares entre adversários do que entre instituições que estão obrigadas à solidariedade e à cooperação. Os lugares de carreira foram sendo substituídos, em nome da necessidade de sintonia com a política dos governos, e dentro destes de sintonia com a política de cada ministro que vai passando, por lugares de nomeação. Nomeiam-se, às largas centenas, directores e administradores para tudo, tanto na Saúde como na Educação, na Segurança Social, na Agricultura e por aí fora. Toda essa gente que é nomeada pelas informes massas partidárias - já que ninguém acredita que verdadeiramente os ministros saibam ao certo quem nomeiam - supostamente assegura a execução das políticas dos governos.» QUANDO, seis anos atrás, António Guterres se comprometeu em introduzir a regra do concurso público para o preenchimento dos lugares de topo da função pública, nomeadamente os de director-geral, a ideia foi bem acolhida por quase toda a gente. Porquê? Sem dúvida porque vinha ao encontro do sentimento generalizado de que a administração havia perdido, ao longo de vários anos, a independência e a imparcialidade perante a intervenção do poder político instituído, ficando assim beliscada na sua credibilidade. Ora, recorde-se que nos primeiros anos após a mudança de regime político a intervenção dos governos na administração não foi mal tolerada, quer por não terem os governos força nem tempo para consolidar grandes mexidas na estrutura da administração, quer por haver a ideia de que esta necessitava de se adaptar aos novos ventos e de se «democratizar» ao nível das chefias. O novo poder democrático precisava de gente da sua confiança para construir a nova sociedade. Com o passar dos anos, porém, e à medida que os novos governos trocavam os recentes democratas por outros mais da sua confiança, foi-se avolumando a crença de que a administração pública perdia agilidade e competência. A sua estrutura orgânica foi-se moldando mais por força da necessidade de acomodar as diversas camadas de «gerações» de democratas sucessivamente herdadas do que em resultado de qualquer objectivo estratégico ditado pelos fins a prosseguir ou pela natureza da administração. De tal modo que, já em 1979, Sá Carneiro prometia, em sinal de equilíbrio e imparcialidade, não repetir a «dança das cadeiras» usual até aí, abstendo-se de mudar de director-geral por razão de simpatia partidária. Como era de esperar, cumpriu honradamente a promessa. Mas é sabido que o prestígio que angariou com esta maneira de estar na política não fez exactamente escola por S. Bento. De então para cá o problema agravou-se. Por boas ou más razões, com as melhores ou as piores intenções, já que as houve para todos os gostos, a verdade é que se tornou usual cada governo transportar a «sua» classe dirigente e os amigos para a administração. Apesar disto, não é excepção os membros do governo criarem, na sua esfera de confiança ao nível de gabinete, autênticas administrações paralelas de que resulta um clima de tensão e de recíproca vigilância, mais vulgares entre adversários do que entre instituições que estão obrigadas à solidariedade e à cooperação. Os lugares de carreira foram sendo substituídos, em nome da necessidade de sintonia com a política dos governos, e dentro destes de sintonia com a política de cada ministro que vai passando, por lugares de nomeação. Nomeiam-se, às largas centenas, directores e administradores para tudo, tanto na Saúde como na Educação, na Segurança Social, na Agricultura e por aí fora. Toda essa gente que é nomeada pelas informes massas partidárias - já que ninguém acredita que verdadeiramente os ministros saibam ao certo quem nomeiam - supostamente assegura a execução das políticas dos governos. Mas mesmo assim os governantes têm dificuldade em assumir responsabilidades, sobretudo pelo que não fazem e deviam fazer. Bem entendido, seis anos depois, a promessa de Guterres continua caída por terra, amarfanhada pela gigantesca metamorfose do «estado rosa» que sucedeu ao «estado laranja» e envergonhada pela hipócrita lei dos concursos públicos que até hoje parece não ter dado provimento a ninguém. A administração está, pois, mais do que nunca, necessitada de uma existência própria que lhe confira dignidade, imparcialidade e competência. E que nos previna a todos contra futuros - e mais que certos - novos cambiantes cromáticos da repugnante metamorfose que nos tem condenado ao aqui malquisto lema «todos diferentes, todos iguais». E-mial: ppassos@netc.pt

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29 de Agosto de 2001 às 05:21

Luís Manuel T. G. Santos

De facto, as sucessivas nomeações dos boys para a administração pública, invenções de jobs e outras coisas mais ao sabor das clientelas partidárias dos partidos que vão passando por este poder sem força não é mais que um dos vícios e enormes defeitos do sistema que deveria ser radicalmente alterado.

É uma vergonha nacional sem qualquer ética e que só descredibiliza a própria democracia. As nomeações deveriam banidas e substituidas por concursos públicos honestos por forma a darem-se tais lugares a gestores competentes, independentemente das cores partidárias.

26 de Agosto de 2001 às 00:38

António Alvim

Deveria ser repecado o debate (na Sic?) entre o Eng.Gueterres e o Dr.Fernando Nogueira nas legislativas de 95. Fernando Nogueira afirmou que os lugares de nomeação política seríam cerca de 5000. Tiro-lhe o chapéu pela honestidade.Com isso perdeu as eleições. Guterres escandalizado afirmou que não seríam mais de 500...Com isso ganhou as eleições e foi o que se viu.

25 de Agosto de 2001 às 23:36

Anonymous

Tens que trabalhar mais Pedrito para te enquadrares melhor, pois esse é o teu próprio meio. Luta, luta que lá chegarás, és um rapaz novo.

25 de Agosto de 2001 às 17:55

Anonymous

Nao percebo a razao poruqe

nao sao publicitados os

tachos entregues aos socialistas

no caderno EMPREGO do EXPRESSO.

Pelo menos assim, ficávamos informados

sobre as vagas....

25 de Agosto de 2001 às 16:41

Filipe Vieira de Castro

Eu acho que, por muito repugnante que tenha sido a arrogancia da bimbalhada do PSD (pelo menos para o fim), a bandalheira nunca chegou a este nivel.

Mesmo considerando o poder que tinha a escumalha mais pimba do PSD (os jooes baioes da extrema direita: santana lopes, gomes da silva, alberto joao jardim, etc.) a incompetencia e o cinismo nunca atingiram o nivel criminoso deste governo.

Eu tenho culpa porque votei PS (e, vergonha das vergonhas, Joao Soares para a CML!!!).

Mas os meus amigos que continuaram a trabalhar ai em Portugal dizem-me que a corrupcao nunca tinha atingido este nivel. E eu proprio, cada vez que vou ai, vejo com os meus olhos o cinismo crimonoso dos quadros do PS.

E certo que houve expeccoes, que nunca mais vamos ter um ministro da cultura tao bom como o Carrilho, mas para mim, PS nunca mais!

O governo PSD estava cheio de bimbos, ignorantes e iletrados, mas cheios de vontadade de melhorar as coisas (no simples entender deles, claro esta...). O governo do PS esta cheio de ladroes, oportunistas e pior, catolicos da extrema-direita, reverentes, silenciosos, jesuitas, subservientes, e sinistros.

E o PSD nunca se assumiu como um partido dos pobres, dos fracos, dos necessitados, das minorias, do ambiente, etc., todas as mentiras do guterres! Acho que esse lado da questao (andarem-se a vender como uma esquerda inteligente) faz este guterres mil vezes mais perverso que o Duarte Lima, o Valentim Loureiro, o Cadilhe, o outro (de Gaia?) que roubava dinheiro das viagens na AR, etc.

Desculpe-me que discorde sr. anonimo: o tempo do Cavaco nao o paraiso, mas nao era "a mesma *****".

Filipe Castro

Texas, USA

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E NO TEMPO DO CAVACO ó pedrinho

tens memória curta !!!!!!

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