DN

10-07-2001
marcar artigo

Este é o retrato quase devastador do elemento central das escolas portuguesas que surge do trabalho de 12 investigadores, coordenado por Rui Vieira Castro, do Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho.

Os processos de adopção dos manuais pelas escolas não são lineares e envolvem uma série de "dispositivos paralelos", com vista a pressionar os professores. Os investigadores registaram uma "política comercial extremamente agressiva, que passa mesmo pela existência de uma espécie de representantes das editoras nas escolas, que podem fazer parte do seu corpo docente". Os manuais são ainda acompanhados por uma série de complementos, como acetatos, CD-ROM, cadernos de actividades e outros materiais, na tentativa de agradar aos docentes. Por outro lado, "há as chamadas contrapartidas: encontros que se fazem sob a capa de acções de formação de professores que não passam da apresentação do livro" e também "a oferta de almoços, jantares e chocolates".

Acções que vêm no seguimento de uma concorrência feroz, num mercado de cerca de 15 milhões de contos anuais, o que é "preocupante, na medida em que os profissionais não têm meios para afrontar de forma crítica essa agressividade".

A escolha acaba por "não ser suficientemente informada, porque os docentes não têm tempo e são bombardeados com inúmeros livros diferentes". Uma situação em que a autoridade do País não está isenta de culpas, dado que "há alguma desregulação e mesmo demissão do próprio Estado".

Por outro lado, o sistema implementado acaba por ter professores a usar um manual que não escolheram e que, por vezes, não gostam. Os livros são adoptados no final do ano lectivo pelo corpo docente presente, que não é o mesmo que, no ano lectivo seguinte, vai utilizar a lista seleccionada. "Por isso, há livros que não são usados e temos alunos bombardeados com fotocópias", diz Rui Vieira Castro. O que não agrada aos pais, que gastam uma verba significativa do orçamento familiar para a aquisição de livros.

Esta prática levou à indicação nas escolas para que os livros sejam utilizados ao máximo nas aulas. E, se é certo que "o manual tem que existir e que não podemos esperar que surja o exemplar perfeito", não é menos verdade que os professores têm uma palavra a dizer. O problema é que "não há uso crítico deste produto", afirma Rui Vieira de Castro. Usar o manual sim, "mas olhando criteriosamente, seleccionando, retirando ou acrescentando o que for necessário".

No entanto, os investigadores reconhecem que "as condições da escola não favorecem o uso crítico, pela própria natureza do manual". A este material pedagógico não faltam defeitos: "É de natureza repressiva, quase totalitária, pretendendo ter tudo." Por isso, passamos de livros quase só antologias de texto a produtos com extratos de literatura, questões, sugestões de actividades, resumos, etc. "Restringem os espaços de autonomia dos profissionais", limitando a sua acção.

"O manual acaba por querer substituir-se a todas as outras actividades", refere Vieira Castro. Uma situação quase caricata é o facto de os livros incluírem, para os anos em que o programa assim o determina, a exploração de notícias de jornais. Na ânsia de tudo facilitar ao professor e para que ele não tenha o trabalho de adquirir uma publicação do dia, colocam notícias nos manuais. O único problema é que a maior parte é de há dez anos e não tem qualquer ligação à realidade actual. Por isso, a solução apontada pelos investigadores é que seja contrariada a tendência para encarar o manual como "o mundo, a disciplina", incentivando e garantindo que sejam usadas várias fontes de informação na escola.

Este é o retrato quase devastador do elemento central das escolas portuguesas que surge do trabalho de 12 investigadores, coordenado por Rui Vieira Castro, do Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho.

Os processos de adopção dos manuais pelas escolas não são lineares e envolvem uma série de "dispositivos paralelos", com vista a pressionar os professores. Os investigadores registaram uma "política comercial extremamente agressiva, que passa mesmo pela existência de uma espécie de representantes das editoras nas escolas, que podem fazer parte do seu corpo docente". Os manuais são ainda acompanhados por uma série de complementos, como acetatos, CD-ROM, cadernos de actividades e outros materiais, na tentativa de agradar aos docentes. Por outro lado, "há as chamadas contrapartidas: encontros que se fazem sob a capa de acções de formação de professores que não passam da apresentação do livro" e também "a oferta de almoços, jantares e chocolates".

Acções que vêm no seguimento de uma concorrência feroz, num mercado de cerca de 15 milhões de contos anuais, o que é "preocupante, na medida em que os profissionais não têm meios para afrontar de forma crítica essa agressividade".

A escolha acaba por "não ser suficientemente informada, porque os docentes não têm tempo e são bombardeados com inúmeros livros diferentes". Uma situação em que a autoridade do País não está isenta de culpas, dado que "há alguma desregulação e mesmo demissão do próprio Estado".

Por outro lado, o sistema implementado acaba por ter professores a usar um manual que não escolheram e que, por vezes, não gostam. Os livros são adoptados no final do ano lectivo pelo corpo docente presente, que não é o mesmo que, no ano lectivo seguinte, vai utilizar a lista seleccionada. "Por isso, há livros que não são usados e temos alunos bombardeados com fotocópias", diz Rui Vieira Castro. O que não agrada aos pais, que gastam uma verba significativa do orçamento familiar para a aquisição de livros.

Esta prática levou à indicação nas escolas para que os livros sejam utilizados ao máximo nas aulas. E, se é certo que "o manual tem que existir e que não podemos esperar que surja o exemplar perfeito", não é menos verdade que os professores têm uma palavra a dizer. O problema é que "não há uso crítico deste produto", afirma Rui Vieira de Castro. Usar o manual sim, "mas olhando criteriosamente, seleccionando, retirando ou acrescentando o que for necessário".

No entanto, os investigadores reconhecem que "as condições da escola não favorecem o uso crítico, pela própria natureza do manual". A este material pedagógico não faltam defeitos: "É de natureza repressiva, quase totalitária, pretendendo ter tudo." Por isso, passamos de livros quase só antologias de texto a produtos com extratos de literatura, questões, sugestões de actividades, resumos, etc. "Restringem os espaços de autonomia dos profissionais", limitando a sua acção.

"O manual acaba por querer substituir-se a todas as outras actividades", refere Vieira Castro. Uma situação quase caricata é o facto de os livros incluírem, para os anos em que o programa assim o determina, a exploração de notícias de jornais. Na ânsia de tudo facilitar ao professor e para que ele não tenha o trabalho de adquirir uma publicação do dia, colocam notícias nos manuais. O único problema é que a maior parte é de há dez anos e não tem qualquer ligação à realidade actual. Por isso, a solução apontada pelos investigadores é que seja contrariada a tendência para encarar o manual como "o mundo, a disciplina", incentivando e garantindo que sejam usadas várias fontes de informação na escola.

marcar artigo