Notícias, notícias, notícias

11-02-2001
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Notícias, Notícias, Notícias

Por ISABEL COUTINHO

Segunda-feira, 8 de Janeiro de 2001 A partir das sete horas de amanhã nasce um novo canal em Portugal. Chama-se SIC notícias. Terá informação 24 horas por dia e estará disponível só para os assinantes da TV Cabo. Representa um investimento de cerca de dois milhões de contos e é o primeiro canal português integralmente digital, com câmaras robotizadas e direcção de TV. Será feito por uma equipa de veteranos e de caras novas, tendo Nuno Santos como director. É sempre entusiasmante assistir ao nascimento de alguma coisa. Seja ela qual for. Mas quando se assiste ao nascimento de um jornal ou de um canal de televisão que se sabe à partida que vai trazer algo que não existia antes, essa experiência é mais emocionante. Tem-se a noção clara de que se está a fazer História. Oito anos depois de ter surgido em Portugal o primeiro canal privado em Portugal, surgirá a partir de amanhã a SIC notícias, um canal de informação 24 horas por dia. Não é o primeiro. O CNL precedeu-o e correu mal. Mas a grande novidade é que este é o primeiro canal integralmente digital, utilizando técnicas inovadoras. São a coqueluche da SIC. Todos lá vão fazer uma visita. Emídio Rangel aparece para mostrar as instalações a convidados. Jorge Gabriel surge para dar dois dedos de conversa. Victor Moura Pinto escreve no seu i-book numa salinha. Rodrigo Guedes de Carvalho passa por lá. Ouve-se falar espanhol e inglês. Os técnicos da informática estão sempre a ser requisitados. Atendem-se telefonemas de telespectadores que já querem dar notícias, mesmo antes de já tudo ter começado. À porta, juntam-se de tempos a tempos os fumadores, pois o espaço da redacção é livre de fumo. Da redacção da SIC Notícias fazem parte 70 pessoas, incluindo jornalistas, secretárias, produtoras que se dividem entre a informação diária e os programas de fim-de-semana. Há o grupo dos jornalistas veteranos: pessoas com experiência significativa que transitaram da redacção da SIC generalista para ali. Outro grupo sem grande experiência de televisão mas, tal como afirma o director Nuno Santos, "muito sólidos do ponto de vista jornalístico, que vieram da rádio, habituados a gerir e a tratar a informação 24 horas por dia". E um terceiro grupo de 22 jornalistas formados para o CNL, que tinham "uma reduzida experiência de televisão, mas que possuem um potencial de crescimento grande e muitas qualidades". Existem ainda os coordenadores de turno Carlos Rodrigues (de manhã), Daniel Cruzeiro (à tarde) e António Cancela (à noite). Acima dessa cúpula de três pessoas existem os editores-chefes - Paula Santos e Luís Proença - e no topo está Nuno Santos, 32 anos. Um jornalista autodidacta, que começou a colaborar com a Rádio Comercial quando andava no 10º ano, trabalhou na Antena 1, na TSF e foi director da NRJ-Rádio Energia aos 23 anos. Integrou a equipa de desporto da RTP , passou para a SIC - onde arranjou a alcunha de "menino de ouro" . Apresentou o programa Praça Pública (com Júlia Pinheiro) e o programa desportivo Os Donos da Bola. Antes de estar à frente do projecto SIC notícias, coordenava a equipa dos Jornais de Fim-de-Semana. Estas pessoas vão trabalhar em conjunto com a equipa da SIC generalista, mas na sua redacção e no seu dia a dia vão utilizar na construção das notícias uma tecnologia diferente. Pois a SIC notícias tem um sistema de edição sem cassetes - "tapeless" -, em que uma boa parte do material é tratado e editado pelo próprio jornalista no seu computador. Acabou aquela imagem dos filmes de uma pessoa a correr pelos corredores de um canal de televisão com uma cassete na mão. Trabalham com servidores onde as imagens estão armazenadas, logo estas deixarão de existir em cassetes e passam a existir em computadores. Este conceito de edição é pioneiro a nível internacional, e mesmo estações de referência internacional como a CNN ainda não o têm. O jornalista monta a sua própria peça através de equipamentos digitais de montagem não-lineares, com programas como o Clip Edit e o DNE. "Isto revoluciona significativamente a forma de tratamento da informação, não só a velocidade com que ela pode ser tratada mas também a própria forma de tratamento. Nesse sentido é muito diferente de tudo o que se fazia em Portugal", explica Nuno Santos. A equipa da SIC notícias está "em simulador" há praticamente três semanas. Foram fazendo progressivamente 8 horas, 12 horas, 18 e finalmente simularam 24 sobre 24. A equipa da manhã entra na redacção às cinco horas da madrugada, ao longo do dia as pessoas vão rodando e passam a tarefa uns aos outros. O ritmo de trabalho é alucinante. É o ritmo da rádio com imagens em directo. "O complicado não é fazer noticiários de meia em meia hora, o complicado é fazer um programa de informação de três horas. Tenho dito às pessoas, propositadamente com algum exagero, mas enquanto alerta acho que a imagem faz sentido, que é como se fizéssemos três emissões eleitorais todos os dias. Porque temos três emissões de três horas em directo que são complexas de fazer", diz Nuno Santos. Neste momento estão a viver "uma fase particularmente difícil" porque têm a redacção da SIC generalista instalada ainda com o sistema clássico de cassetes e de edição de imagem e têm a nova redacção da SIC notícias instalada já com o novo sistema e há que fazer convergir notícias e materiais das duas redacções. Outra das novidades é a imagem do canal. A partir de amanhã, o espectador que veja a SIC notícias e depois a SIC "tradicional" poderá ficar com a impressão de que esta tem uma imagem antiquada, sem luminosidade. Contrataram uma equipa de cenografia americana, a Devlin Design Group."Têm um grande prestígio internacional, são uma equipa vocacionada para canais de televisão com uma vertente informativa forte", explica João Salvado, director da imagem do canal. A imagem da meteorologia também será nova. Uma equipa norueguesa conseguiu dar-nos a sensação de estar a planar de avião sobre o país e ao mesmo tempo apercebermo-nos das mudanças de clima. A SIC notícias tem ainda outras tecnologias revolucionárias, como a robótica de câmaras. É super- divertido ver a câmara robotizada a mexer-se sozinha no estúdio, a ler códigos de barras que estão escondidos no cenário e a interpretá-los. "Entre sexta-feira à meia-noite e segunda-feira às sete da manhã, o que representa 55 horas, fazemos jornais com movimentos de câmara e sem um único operador de câmara na casa", diz João Salvado. Na regie o ambiente também é diferente do habitual. Como utilizam a chamada direcção de TV, o número de pessoas necessário para fazer uma emissão é menor. Uma única pessoa faz o trabalho de duas: realiza e monta a emissão com a ajuda das máquinas. Em alguns programas vão utilizar também cenografia virtual, uma tecnologia que a SIC já utilizou em algumas edições especiais. "Os cenários virtuais estão a ser feitos nos Estados Unidos, mas acompanhamos a execução através da Internet por troca de ficheiros", conta. Outro pormenor interessante é que os vários cenários do estúdio foram desenhados na Califórnia, trabalhados no Michigan e executados em Sacavém. Mas quando se entra na SIC notícias a sensação que se tem é que o espaço é muito pouco. Entre as secretárias com computadores existem câmaras e recantos que servirão também de cenário e existe uma janela enorme que dá para o exterior. Na rua, colocaram um enorme painel com a fotografia de uma paisagem que será vista em fundo durante a emissão. Estão instalados no local onde antigamente funcionavam o bar e a cozinha. Para resolver este problema introduziram o conceito de espaço cénico, isto é: deixaram de ter um estúdio e uma redacção separados. "É possível o apresentador ter comunicação directa com a redacção e isso pode ser explorado em termos dramáticos na realização. Passamos do conceito de vidro que separa o estúdio da redacção para o conceito aberto em que pode haver circulação. A redacção deixou de ser um escritório, um local de trabalho para os jornalistas, e passou a ser um espaço cénico também." O que por outro lado levanta problemas, porque os jornalistas deixaram de poder ter "tralha" em cima das secretárias: têm que ter a preocupação de as ter sempre arrumadas. Outro dos inconvenientes é que na SIC notícias a mesma secretária é partilhada por vários jornalistas dos diferentes turnos. O director Nuno Santos não tem dúvidas de que ao entrar no ar amanhã vão entrar bem. "A menos que houvesse alguma coisa catastrófica que nos fugisse ao controlo." Mas também tem consciência de que há situações que vão resolver e melhorar em andamento. "Estar no ar é estar no ar, é uma espécie de 'frisson' que só o ar e o directo provocam". Mas quando se trabalha com computadores e com um sistema novo podem surgir imprevistos. Durante o período de simulação, houve um dia em que o sistema caíu e não havia explicação. "Levou 40 minutos a resolver-se o problema. Depois de resolvido fiz uma reunião com o director técnico e perguntei-lhe: 'Diga-me lá o que é que aconteceu' e ele respondeu-me-me 'Não sei nem o porquê, nem o quê'", conta. Nuno Santos acredita que Portugal, com o desenvolvimento que teve enquanto país nos últimos 15 anos, podia ter um canal com este perfil há pelo menos cinco anos."A Sky News inglesa tem 10 anos; a CNN tem 20, em muitos domínios Portugal já não está atrasado em relação aos EUA, mas neste está". O canal irá ter menos períodos de publicidade que os outros. O acordo entre a SIC e a PT deixa a exploração comercial para a PT."A SIC notícias tem potencial do ponto de vista comercial, evidentemente que tem infinitamente menos espectadores do que a SIC generalista, ou a TVI ou a RTP, mas este público tem poder de compra." E acrescenta que o acordo entre a SIC e a PT permite que a SIC receba mensalmente, enquanto produtor de conteúdos, uma espécie de verba por cada subscritor. "Há um número muito significativo de pessoas que não se revê quotidianamente na oferta televisiva que existe. São milhares e milhares de pessoas. O universo do Cabo tem quase 900 mil subscritores, o que significa que estamos a falar de um público potencial na casa dos dois milhões e oitocentos mil pessoas, se se imaginar que em cada lar existem três pessoas." "São mais homens que mulheres e vivem onde o Cabo chega (sobretudo no litoral). Muitas dessas pessoas não se revêem na oferta televisiva e vão gostar de ter um canal com este perfil: que lhes traga informação de meia em meia hora, que os ponha a par das coisas, que lhes forneça o enquadramento das situações, que permita o confronto de opiniões. É algo que se perdeu na televisão hoje em Portugal, o 'prime time' está de tal maneira blindado pelo entretenimento que a informação não entra." "Quando há um grande acontecimento que toca a vida das pessoas, todas elas são potenciais espectadoras de um canal destes. Subitamente, em acontecimentos como Timor, como a presença portuguesa no campeonato de futebol ou a visita do Papa, mesmo as pessoas que estão mais desligadas das notícias vão à procura delas". Quando se estiver perante um acontecimento de grande importância, como por exemplo, a noite das eleições presidenciais, a SIC generalista e a SIC notícias vão fazer uma única edição, com algumas nuances. "A emissão começa mais cedo na SIC notícias e só passa a ser a mesma em ambos os canais a partir de determinada hora. Acaba mais cedo na outra antena e segue nesta". Nos canais generalistas, grande parte dos acontecimentos são tratados em dois momentos do dia : às 13h00 e às 20h00."Aqui vamos tratar de muitas coisas de dimensão média durante a tarde. Ou seja, se o António Guterres dá uma conferência de imprensa às 17h00 para anunciar o aumento das pensões vamos fazer um directo com isso; a SIC generalista não o fará". Estabeleceram uma regra sabendo antecipadamente que a vão furar muitas vezes: não duplicar equipas, nem serviços. "Sei antecipadamente que vamos quebrar esta regra muitas vezes porque em muitas circunstâncias há um determinado acontecimento que tem que ser alvo de um directo durante a tarde na SIC notícias e depois vale uma peça no Jornal da Noite, da SIC. Uma única equipa, um único jornalista e um operador de imagem não chegam para fazer esse trabalho. Isso será avaliado caso a caso e aí duplicaremos as equipas." O canal vai viver muito do directo. Na SIC existiam duas unidades de "up-link" (carros com transmissão por satélite) e agora para a SIC Notícias compraram mais três. Tal como lembrou Alexandra Abreu Loureiro, quando estiveram a fazer um curso na Sky News disseram-lhes que estas estações existem porque existem "breaking news". "E nesse dia, tudo o resto, todo o carril sobre o qual o canal roda, desaparece e é uma corrida, um 'sprint' final. Se for preciso estar três horas seguidas com um assunto, como quando morreu a Diana ou como quando caiu o Concorde, vai todo o resto da programação ao ar." Certamente que amanhã, todos, mesmo os mais veteranos, estarão nervosos. Por lá pairará a responsabilidade de estar a fazer História. OUTROS TÍTULOS EM PÚBLICA

DO EDITOR

Informação, informação, informação

CORREIO

Costas e Azevedos

Notícias, notícias, notícias

Edição da manhã

Edição da tarde

Edição da Noite

Dia a dia

FIM-DE-SEMANA

As cem portas de Jerusalém

Emílio Rui Vilar

O homem que inventou o chip©

Ser chulo é fixe©

CRÓNICAS

O circo

VOZES EM PORTUGUÊS

O mapa do Natal

GURU

Guru

NO CALOR DA NET

Mais do que uma estrela no céu

MIRAGEM

O enviado dos novos tempos

HERÓIS DA BANDA DESENHADA

Krazy Kat

HISTÓRIAS DE AMOR

Em frente

O CORPO HUMANO

Uma pirâmide alimentar virada do avesso

MIÚDOS

Quando eles desatam aos palavrões

CARTAS DA MAYA

Cartas da Maya

IMPRESSÃO DIGITAL

14. Automóveis diversos

DESAFIOS

UMA SÉRIE PARA 2001

Notícias, Notícias, Notícias

Por ISABEL COUTINHO

Segunda-feira, 8 de Janeiro de 2001 A partir das sete horas de amanhã nasce um novo canal em Portugal. Chama-se SIC notícias. Terá informação 24 horas por dia e estará disponível só para os assinantes da TV Cabo. Representa um investimento de cerca de dois milhões de contos e é o primeiro canal português integralmente digital, com câmaras robotizadas e direcção de TV. Será feito por uma equipa de veteranos e de caras novas, tendo Nuno Santos como director. É sempre entusiasmante assistir ao nascimento de alguma coisa. Seja ela qual for. Mas quando se assiste ao nascimento de um jornal ou de um canal de televisão que se sabe à partida que vai trazer algo que não existia antes, essa experiência é mais emocionante. Tem-se a noção clara de que se está a fazer História. Oito anos depois de ter surgido em Portugal o primeiro canal privado em Portugal, surgirá a partir de amanhã a SIC notícias, um canal de informação 24 horas por dia. Não é o primeiro. O CNL precedeu-o e correu mal. Mas a grande novidade é que este é o primeiro canal integralmente digital, utilizando técnicas inovadoras. São a coqueluche da SIC. Todos lá vão fazer uma visita. Emídio Rangel aparece para mostrar as instalações a convidados. Jorge Gabriel surge para dar dois dedos de conversa. Victor Moura Pinto escreve no seu i-book numa salinha. Rodrigo Guedes de Carvalho passa por lá. Ouve-se falar espanhol e inglês. Os técnicos da informática estão sempre a ser requisitados. Atendem-se telefonemas de telespectadores que já querem dar notícias, mesmo antes de já tudo ter começado. À porta, juntam-se de tempos a tempos os fumadores, pois o espaço da redacção é livre de fumo. Da redacção da SIC Notícias fazem parte 70 pessoas, incluindo jornalistas, secretárias, produtoras que se dividem entre a informação diária e os programas de fim-de-semana. Há o grupo dos jornalistas veteranos: pessoas com experiência significativa que transitaram da redacção da SIC generalista para ali. Outro grupo sem grande experiência de televisão mas, tal como afirma o director Nuno Santos, "muito sólidos do ponto de vista jornalístico, que vieram da rádio, habituados a gerir e a tratar a informação 24 horas por dia". E um terceiro grupo de 22 jornalistas formados para o CNL, que tinham "uma reduzida experiência de televisão, mas que possuem um potencial de crescimento grande e muitas qualidades". Existem ainda os coordenadores de turno Carlos Rodrigues (de manhã), Daniel Cruzeiro (à tarde) e António Cancela (à noite). Acima dessa cúpula de três pessoas existem os editores-chefes - Paula Santos e Luís Proença - e no topo está Nuno Santos, 32 anos. Um jornalista autodidacta, que começou a colaborar com a Rádio Comercial quando andava no 10º ano, trabalhou na Antena 1, na TSF e foi director da NRJ-Rádio Energia aos 23 anos. Integrou a equipa de desporto da RTP , passou para a SIC - onde arranjou a alcunha de "menino de ouro" . Apresentou o programa Praça Pública (com Júlia Pinheiro) e o programa desportivo Os Donos da Bola. Antes de estar à frente do projecto SIC notícias, coordenava a equipa dos Jornais de Fim-de-Semana. Estas pessoas vão trabalhar em conjunto com a equipa da SIC generalista, mas na sua redacção e no seu dia a dia vão utilizar na construção das notícias uma tecnologia diferente. Pois a SIC notícias tem um sistema de edição sem cassetes - "tapeless" -, em que uma boa parte do material é tratado e editado pelo próprio jornalista no seu computador. Acabou aquela imagem dos filmes de uma pessoa a correr pelos corredores de um canal de televisão com uma cassete na mão. Trabalham com servidores onde as imagens estão armazenadas, logo estas deixarão de existir em cassetes e passam a existir em computadores. Este conceito de edição é pioneiro a nível internacional, e mesmo estações de referência internacional como a CNN ainda não o têm. O jornalista monta a sua própria peça através de equipamentos digitais de montagem não-lineares, com programas como o Clip Edit e o DNE. "Isto revoluciona significativamente a forma de tratamento da informação, não só a velocidade com que ela pode ser tratada mas também a própria forma de tratamento. Nesse sentido é muito diferente de tudo o que se fazia em Portugal", explica Nuno Santos. A equipa da SIC notícias está "em simulador" há praticamente três semanas. Foram fazendo progressivamente 8 horas, 12 horas, 18 e finalmente simularam 24 sobre 24. A equipa da manhã entra na redacção às cinco horas da madrugada, ao longo do dia as pessoas vão rodando e passam a tarefa uns aos outros. O ritmo de trabalho é alucinante. É o ritmo da rádio com imagens em directo. "O complicado não é fazer noticiários de meia em meia hora, o complicado é fazer um programa de informação de três horas. Tenho dito às pessoas, propositadamente com algum exagero, mas enquanto alerta acho que a imagem faz sentido, que é como se fizéssemos três emissões eleitorais todos os dias. Porque temos três emissões de três horas em directo que são complexas de fazer", diz Nuno Santos. Neste momento estão a viver "uma fase particularmente difícil" porque têm a redacção da SIC generalista instalada ainda com o sistema clássico de cassetes e de edição de imagem e têm a nova redacção da SIC notícias instalada já com o novo sistema e há que fazer convergir notícias e materiais das duas redacções. Outra das novidades é a imagem do canal. A partir de amanhã, o espectador que veja a SIC notícias e depois a SIC "tradicional" poderá ficar com a impressão de que esta tem uma imagem antiquada, sem luminosidade. Contrataram uma equipa de cenografia americana, a Devlin Design Group."Têm um grande prestígio internacional, são uma equipa vocacionada para canais de televisão com uma vertente informativa forte", explica João Salvado, director da imagem do canal. A imagem da meteorologia também será nova. Uma equipa norueguesa conseguiu dar-nos a sensação de estar a planar de avião sobre o país e ao mesmo tempo apercebermo-nos das mudanças de clima. A SIC notícias tem ainda outras tecnologias revolucionárias, como a robótica de câmaras. É super- divertido ver a câmara robotizada a mexer-se sozinha no estúdio, a ler códigos de barras que estão escondidos no cenário e a interpretá-los. "Entre sexta-feira à meia-noite e segunda-feira às sete da manhã, o que representa 55 horas, fazemos jornais com movimentos de câmara e sem um único operador de câmara na casa", diz João Salvado. Na regie o ambiente também é diferente do habitual. Como utilizam a chamada direcção de TV, o número de pessoas necessário para fazer uma emissão é menor. Uma única pessoa faz o trabalho de duas: realiza e monta a emissão com a ajuda das máquinas. Em alguns programas vão utilizar também cenografia virtual, uma tecnologia que a SIC já utilizou em algumas edições especiais. "Os cenários virtuais estão a ser feitos nos Estados Unidos, mas acompanhamos a execução através da Internet por troca de ficheiros", conta. Outro pormenor interessante é que os vários cenários do estúdio foram desenhados na Califórnia, trabalhados no Michigan e executados em Sacavém. Mas quando se entra na SIC notícias a sensação que se tem é que o espaço é muito pouco. Entre as secretárias com computadores existem câmaras e recantos que servirão também de cenário e existe uma janela enorme que dá para o exterior. Na rua, colocaram um enorme painel com a fotografia de uma paisagem que será vista em fundo durante a emissão. Estão instalados no local onde antigamente funcionavam o bar e a cozinha. Para resolver este problema introduziram o conceito de espaço cénico, isto é: deixaram de ter um estúdio e uma redacção separados. "É possível o apresentador ter comunicação directa com a redacção e isso pode ser explorado em termos dramáticos na realização. Passamos do conceito de vidro que separa o estúdio da redacção para o conceito aberto em que pode haver circulação. A redacção deixou de ser um escritório, um local de trabalho para os jornalistas, e passou a ser um espaço cénico também." O que por outro lado levanta problemas, porque os jornalistas deixaram de poder ter "tralha" em cima das secretárias: têm que ter a preocupação de as ter sempre arrumadas. Outro dos inconvenientes é que na SIC notícias a mesma secretária é partilhada por vários jornalistas dos diferentes turnos. O director Nuno Santos não tem dúvidas de que ao entrar no ar amanhã vão entrar bem. "A menos que houvesse alguma coisa catastrófica que nos fugisse ao controlo." Mas também tem consciência de que há situações que vão resolver e melhorar em andamento. "Estar no ar é estar no ar, é uma espécie de 'frisson' que só o ar e o directo provocam". Mas quando se trabalha com computadores e com um sistema novo podem surgir imprevistos. Durante o período de simulação, houve um dia em que o sistema caíu e não havia explicação. "Levou 40 minutos a resolver-se o problema. Depois de resolvido fiz uma reunião com o director técnico e perguntei-lhe: 'Diga-me lá o que é que aconteceu' e ele respondeu-me-me 'Não sei nem o porquê, nem o quê'", conta. Nuno Santos acredita que Portugal, com o desenvolvimento que teve enquanto país nos últimos 15 anos, podia ter um canal com este perfil há pelo menos cinco anos."A Sky News inglesa tem 10 anos; a CNN tem 20, em muitos domínios Portugal já não está atrasado em relação aos EUA, mas neste está". O canal irá ter menos períodos de publicidade que os outros. O acordo entre a SIC e a PT deixa a exploração comercial para a PT."A SIC notícias tem potencial do ponto de vista comercial, evidentemente que tem infinitamente menos espectadores do que a SIC generalista, ou a TVI ou a RTP, mas este público tem poder de compra." E acrescenta que o acordo entre a SIC e a PT permite que a SIC receba mensalmente, enquanto produtor de conteúdos, uma espécie de verba por cada subscritor. "Há um número muito significativo de pessoas que não se revê quotidianamente na oferta televisiva que existe. São milhares e milhares de pessoas. O universo do Cabo tem quase 900 mil subscritores, o que significa que estamos a falar de um público potencial na casa dos dois milhões e oitocentos mil pessoas, se se imaginar que em cada lar existem três pessoas." "São mais homens que mulheres e vivem onde o Cabo chega (sobretudo no litoral). Muitas dessas pessoas não se revêem na oferta televisiva e vão gostar de ter um canal com este perfil: que lhes traga informação de meia em meia hora, que os ponha a par das coisas, que lhes forneça o enquadramento das situações, que permita o confronto de opiniões. É algo que se perdeu na televisão hoje em Portugal, o 'prime time' está de tal maneira blindado pelo entretenimento que a informação não entra." "Quando há um grande acontecimento que toca a vida das pessoas, todas elas são potenciais espectadoras de um canal destes. Subitamente, em acontecimentos como Timor, como a presença portuguesa no campeonato de futebol ou a visita do Papa, mesmo as pessoas que estão mais desligadas das notícias vão à procura delas". Quando se estiver perante um acontecimento de grande importância, como por exemplo, a noite das eleições presidenciais, a SIC generalista e a SIC notícias vão fazer uma única edição, com algumas nuances. "A emissão começa mais cedo na SIC notícias e só passa a ser a mesma em ambos os canais a partir de determinada hora. Acaba mais cedo na outra antena e segue nesta". Nos canais generalistas, grande parte dos acontecimentos são tratados em dois momentos do dia : às 13h00 e às 20h00."Aqui vamos tratar de muitas coisas de dimensão média durante a tarde. Ou seja, se o António Guterres dá uma conferência de imprensa às 17h00 para anunciar o aumento das pensões vamos fazer um directo com isso; a SIC generalista não o fará". Estabeleceram uma regra sabendo antecipadamente que a vão furar muitas vezes: não duplicar equipas, nem serviços. "Sei antecipadamente que vamos quebrar esta regra muitas vezes porque em muitas circunstâncias há um determinado acontecimento que tem que ser alvo de um directo durante a tarde na SIC notícias e depois vale uma peça no Jornal da Noite, da SIC. Uma única equipa, um único jornalista e um operador de imagem não chegam para fazer esse trabalho. Isso será avaliado caso a caso e aí duplicaremos as equipas." O canal vai viver muito do directo. Na SIC existiam duas unidades de "up-link" (carros com transmissão por satélite) e agora para a SIC Notícias compraram mais três. Tal como lembrou Alexandra Abreu Loureiro, quando estiveram a fazer um curso na Sky News disseram-lhes que estas estações existem porque existem "breaking news". "E nesse dia, tudo o resto, todo o carril sobre o qual o canal roda, desaparece e é uma corrida, um 'sprint' final. Se for preciso estar três horas seguidas com um assunto, como quando morreu a Diana ou como quando caiu o Concorde, vai todo o resto da programação ao ar." Certamente que amanhã, todos, mesmo os mais veteranos, estarão nervosos. Por lá pairará a responsabilidade de estar a fazer História. OUTROS TÍTULOS EM PÚBLICA

DO EDITOR

Informação, informação, informação

CORREIO

Costas e Azevedos

Notícias, notícias, notícias

Edição da manhã

Edição da tarde

Edição da Noite

Dia a dia

FIM-DE-SEMANA

As cem portas de Jerusalém

Emílio Rui Vilar

O homem que inventou o chip©

Ser chulo é fixe©

CRÓNICAS

O circo

VOZES EM PORTUGUÊS

O mapa do Natal

GURU

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NO CALOR DA NET

Mais do que uma estrela no céu

MIRAGEM

O enviado dos novos tempos

HERÓIS DA BANDA DESENHADA

Krazy Kat

HISTÓRIAS DE AMOR

Em frente

O CORPO HUMANO

Uma pirâmide alimentar virada do avesso

MIÚDOS

Quando eles desatam aos palavrões

CARTAS DA MAYA

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