Os perfis dos novos ministros

06-07-2001
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Os Perfis dos Novos Ministros

Sábado, 30 de Junho de 2001 Guilherme d'Oliveira Martins Idade: 49 anos Profissão: Jurista e funcionário do Ministério das Finanças Ministro das Finanças, da Presidência e dos Assuntos Parlamentares Conhecido como o independente mais militante que o PS tem, Guilherme d'Oliveira Martins navega nas águas socialistas desde o tempo de Mário Soares, se bem que se tenha sempre recusado a pagar quota. O seu estatuto peculiar no PS levou mesmo a que no último congresso tivesse direito a estar no Pavilhão Atlântico não com cartão de delegado, mas com um cartão onde se lia "organização". Foi o primeiro presidente da JSD, mas rompeu com Sá Carneiro e integrou a ASDI, seguindo Sousa Franco, de quem é uma espécie de discípulo, até na especialização em questões do direito financeiro. Oliveira Martins foi, aliás, chefe de gabinete de Sousa Franco, quando este foi ministro das Finanças de Maria de Lurdes Pintasilgo. A aproximação ao PS surge com Mário Soares e quando o líder fundador dos socialistas é eleito Presidente da República, Oliveira Martins instala-se no Palácio de Belém como assessor para os assuntos políticos e jurídicos. Quando a Nova Maioria sobe ao poder, Guilherme d'Oliveira Martins ingressa no Ministério da Educação como secretário de Estado de Marçal Grilo, subindo depois a ministro. Na actual legislatura, transitou para a Presidência Assuntos Parlamentares, onde manteve um desempenho discreto e eficaz. Agora, o funcionário de carreira do Ministério das Finanças, onde suspendeu a sua actividade em 1986, quando era director de serviço, para abraçar a política, regressa ao Terreiro do Paço, como ministro. S.J.A. António Correia de Campos O ministro da Saúde do governo-sombra de Jorge Sampaio assume finalmente a pasta no pôr-do-sol do guterrismo. António Correia de Campos, 59 anos, actual presidente do Instituto Nacional da Administração, já assumiu algumas posições críticas dos governos de António Guterres. Presidente da Comissão responsável pelo Livro Branco da Segurança Social, Correia de Campos acabaria a lamentar que a reforma feita por Ferro Rodrigues tivesse sido pouco ambiciosa. Apesar de considerar "Ferro Rodrigues um dos melhores ministros do anterior Governo, que também o está a ser no actual", Correia de Campos aponta, em entrevista ao Expresso, os "reducionismos" que a lei sofreu, afirmando não ser "uma lei para durar 20 anos". A sua proposta apontava para teses menos estatizantes. Recentemente defendeu, também no "Expresso", que deveria ser recuperada a figura do vice-primeiro-ministro (o que, de resto, não aconteceu agora), afirmando de caminho faltar "coordenação no Governo". António Guterres convidou-o para ministro da Saúde, mas Correia de Campos só deu a resposta depois de conhecer o nome do titular das Finanças. Trabalharia com Vasco Vieira de Almeida, Rui Vilar, Sousa Gomes (actual presidente da Cimpor) ou Guilherme d'Oliveira Martins, mas não com qualquer um. Disse um dia ter gerido o seu percurso profissional "de forma intuitiva". A "intuição" levou-o de Coimbra (onde se licenciou em Direito em 1966) a França (diplomado em Administração de Hospitais pela École National de la Santé Publique de Rennes) e a Baltimore (onde se tornou mestre em saúde pública em 1978). Em 89, torna-se professor catedrático da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa. Foi director de programas de ciência e tecnologia da Fundação Luso-Americana entre 86 e 89, especialista sénior do Banco Mundial de 1991 a 1995. Foi deputado quatro anos (1991-1995). A.S.L. Rui Pena Ministro da Defesa Nacional Idade: 62 anos Profissão: Advogado Quando no encerramento do congresso do PS, há menos de dois meses, António Guterres desceu do palco do Pavilhão Atlântico para cumprimentar Rui Pena, ninguém terá imaginado que o presidente do Movimento Democracia e Humanismo viria em breve a integrar o Governo socialista. Mas Rui Pena é, desde os Estados Gerais, um próximo de Guterres e a sua aproximação ao PS levou-o mesmo a apoiar Jorge Sampaio como candidato à Presidência da República, tendo discursado no comício da Aula Magna, no encerramento da última campanha eleitoral. Isto depois de se ter candidatado contra Sampaio e perdido uma outra presidência - a da Associação Académica, em 1962. É a segunda participação no Governo deste advogado que é sócio de escritório de Rui Machete. E, curiosamente, da primeira vez que o fez, como ministro da Reforma Administrativa há 23 anos, tratava-se de um Executivo liderado pelo então secretário-geral do PS, Mário Soares, que governou em coligação com o CDS, onde Pena nessa época militava e de que é fundador. Cortando definitivamente com o CDS nos anos 80, sob a presidência de Adriano Moreira, regressou brevemente ao CDS com Freitas do Amaral e deixou definitivamente este partido a seguir. Nos anos 90, Rui Pena fundou o Movimento Humanismo e Democracia com outros ex-centristas como Maria do Rosário Carneiro, Cláudio Monteiro e Jorge Góis. Três nomes que foram eleitos como independentes para a Assembleia da República nas listas do PS, com a Nova Maioria, logo em 1995, tendo na actual legislatura Jorge Góis sido substituído na bancada como deputado por Teresa Venda. Ou seja, Rui Pena faz parte da mais-valia política que o moderado e centrista Guterres conquistou quando subiu ao poder. Com a particularidade de se estar perante um político e não perante um tecnocrata. S.J.A. Augusto Santos Silva Se a entrada de Augusto Santos Silva na equipa governativa do segundo mandato de António Guterres - primeiro como secretário de Estado da Administração Educativa e, um ano depois, como ministro da Educação - foi recebida sem surpresa, a sua passagem, agora, para a pasta da Cultura também não causará espanto. No seu percurso político e académico, Santos Silva sempre elegeu também a realidade cultural como objecto de estudo e campo de intervenção. Em paralelo com a actividade docente na Faculdade de Economia do Porto - onde ensinava Ciência Política no curso de Gestão, sendo ainda pró-reitor da Universidade do Porto -, Santos Silva presidiu ao conselho geral da Culturporto. Colaborou na definição dos princípios que enformaram a candidatura do Porto a Capital Europeia da Cultura, e integrou o primeiro Conselho de Administração da Sociedade Porto 2001, quando esta era ainda presidida pelo seu homónimo - mas não familiar - Artur Santos Silva. Como sociólogo, publicou vários trabalhos sobre as relações dos públicos com a Cultura e dirigiu a equipa que elaborou um importante estudo sobre as "Práticas e Representações das Culturas" em algumas das principais cidades do país, nomeadamente na Área Metropolitana do Porto. Este percurso biográfico tornou, assim, Augusto Santos Silva uma hipótese recorrente para ocupar a pasta da Cultura, sempre que se falava em mexidas no Governo. A hora da verdade surge agora. Depois de ter passado, não sem alguma contestação, pelo difícil Ministério da Educação, este licenciado em História pela Faculdade de Letras do Porto e doutorado em Sociologia pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), de 44 anos, militante socialista de longa data (foi um dos nomes dos Estados Gerais), e uma figura discreta mas reconhecida pela sua capacidade de trabalho, vai enfrentar uma pasta com um razoável números de "dossiers" por resolver: a questão dos subsídios ao teatro, o futuro do D. Maria II e da Casa da Música do Porto... Tudo perante um cenário de obrigatória contenção orçamental. S.C.A. Luís Braga da Cruz Idade- 59 anos Formação-Engenharia Civil Cargos anteriores- Investigador na Faculdade de Engenharia do Porto, administrador da EDP, presidente da Assembleia das Regiões Europeias Vitícolas, administrador da Fundação de Serralves A actividade política nunca foi algo impensável para Luís Braga da Cruz, mas a decisão de integrar o Governo de Guterres não terá sido fácil de tomar. Quem conhece este engenheiro civil cujas qualidades técnicas são geralmente reconhecidas sabe que a sua personalidade introvertida não se coaduna muito bem com desejo de ribaltas e holofotes. Discreto, estudioso, amante das artes plásticas e da música erudita, produtor de vinho verde, cauteloso e extremamente polido, Luís Braga da Cruz é um homem de convicções mas não é uma personagem exuberante. Há mesmo quem o considere demasiado "cinzento" e até excessivamente burocrata. A notoriedade de Braga da Cruz deve-se, sobretudo, à sua actividade como presidente da Comissão de Coordenação Regional do Norte (CCRN), para onde foi indigitado por governos sociais-democratas e socialistas. Primeiro pela mão de Valente de Oliveira, em Março de 1986, dez anos depois a convite de João Cravinho. Acérrimo defensor da regionalização e principal instigador do estreitamento das relações entre o Norte e a Galiza, Luis Braga da Cruz nasceu em Coimbra, em 1942. Na juventude esteve ligado a grupos católicos, chegando à presidência da direcção da Juventude Universitária Católica. Terminou a sua licenciatura em Engenharia Civil na Universidade do Porto e manteve-se ligado à instituição como professor e investigador até 1969. Entre 1972 e 1974 pertenceu ao núcleo do Porto da SEDES - Associação para o Desenvolvimento Económico e Social. Rita Siza Júlio Pedrosa Idade: 56 anos Cargo: reitor da Universidade de Aveiro Filhos: dois Discreto, reservado e de poucas palavras, mas muito atento, metódico e empenhado, Júlio Pedrosa associa-se inevitavelmente o dinamismo e a afirmação da Universidade de Aveiro (UA) no panorama nacional. Figura consensual e querida no meio académico, o homem que assumiu um papel carismático na presidência do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) protagonizou sempre uma visão crítica e exigente do ensino superior. Natural do concelho de Cantanhede, Júlio Pedrosa nasceu em Cadima no ano de 1945, mas terminada a instrução primária continuou os estudos em Coimbra, onde se licenciou em Química. Cumpriu serviço militar em Angola durante três anos e seguiu para o Reino Unido, de onde voltou já doutorado em Química Inorgânica pela Universidade de Cardiff. De regresso a Portugal, Júlio Pedrosa reassumiu as suas funções de docente na UA - já tinha leccionado antes em Coimbra, em 1967/68 e entre 1971 e 1974 - e fixou residência em Aveiro, no ano de 1976. A reitoria da universidade foi assumida em 1994 e a presidência do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas em Julho de 1998, cargo que deixou em Janeiro deste ano. Claramente identificado com as questões ligadas ao ensino superior, o novo ministro da Educação criticou recentemente a política de ensino. Em declarações ao PÚBLICO - em que não encarou a lei do financiamento como tema prioritário -, Pedrosa colocou a tónica em três pontos fundamentais: exigência em matéria de avaliação; colocação de novos desafios às universidades; e criação de condições para um melhor governo e gestão das mesmas. Patrícia Coelho Moreira António José Seguro Idade: 39 anos Profissão: Político Ficou célebre uma entrevista de António José Seguro ao "Expresso" em 1999 onde este explicava a sua transferência do Governo para o Parlamento Europeu com o facto de ter no Executivo uma vida muito cansativa. Agora podem-lhe dizer por brincadeira - que o próprio acha de mau gosto - que estando mais descansado, depois de dois anos em Bruxelas, que nada poderia obstar ao seu regresso. Regressa, e regressa num posto acima do que tinha antes de rumar a Bruxelas. Antes era secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro; agora é ministro-Adjunto do mesmo primeiro-ministro. Parece (mas ainda não está oficialmente confirmado) que vai ficar com a tutela da Comunicação Social, ou seja, com a RTP. António José Seguro, 39 anos, natural de Penamacor, é guterrista desde o tempo em que o guterrismo se reduzia a meia dúzia de pessoas. Desde muito jovem que a política é a sua principal ocupação. Presidiu ao Conselho Nacional da Juventude e à JS, quando o PS estava na oposição. A política fez com que descurasse os estudos, e agora estava a ver se resolvia esse "handicap" frequentando Relações Internacionais numa universidade privada. Muito provavelmente, a licenciatura vai ter (mais uma vez) que esperar. Em 1995, foi um dos artifícies da campanha da "Nova Maioria". Guterres premiou-o nomeando-o secretário de Estado da Juventude. Depois foi promovido a secretário de Estado adjunto de Guterres. Em Junho de 1999 foi o número dois da lista dos socialistas ao Parlamento Europeu, encabeçada por Mário Soares. De então para cá dava sinais de desilusão com a forma como o Governo era conduzido. Deu sinais de que estava prestes a regressar no último congresso do partido, quando aceitou dirigir o "Acção Socialista". Confirma-se. Vem mais poderoso - e descansado. J.P.H. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Novos ministros de Guterres são mais à direita

Críticas na hora da saída

De ministro a deputado

Os perfis dos novos ministros

Um debate surrealista

PSD recuou nas condições

Opiniões

Bastidores

EDITORIAL Imperdoável

Jugoslávia vai receber 300 milhões de contos

Acordo sobre a partilha da herança de Tito

O acto final

Primeiro-ministro da Jugoslávia anuncia demissão

O desgosto de Kostunica

Reacções do mundo

A nova casa de "Slobo"

TPI em Haia tem um juiz português

Os senhores que se seguem

Os Perfis dos Novos Ministros

Sábado, 30 de Junho de 2001 Guilherme d'Oliveira Martins Idade: 49 anos Profissão: Jurista e funcionário do Ministério das Finanças Ministro das Finanças, da Presidência e dos Assuntos Parlamentares Conhecido como o independente mais militante que o PS tem, Guilherme d'Oliveira Martins navega nas águas socialistas desde o tempo de Mário Soares, se bem que se tenha sempre recusado a pagar quota. O seu estatuto peculiar no PS levou mesmo a que no último congresso tivesse direito a estar no Pavilhão Atlântico não com cartão de delegado, mas com um cartão onde se lia "organização". Foi o primeiro presidente da JSD, mas rompeu com Sá Carneiro e integrou a ASDI, seguindo Sousa Franco, de quem é uma espécie de discípulo, até na especialização em questões do direito financeiro. Oliveira Martins foi, aliás, chefe de gabinete de Sousa Franco, quando este foi ministro das Finanças de Maria de Lurdes Pintasilgo. A aproximação ao PS surge com Mário Soares e quando o líder fundador dos socialistas é eleito Presidente da República, Oliveira Martins instala-se no Palácio de Belém como assessor para os assuntos políticos e jurídicos. Quando a Nova Maioria sobe ao poder, Guilherme d'Oliveira Martins ingressa no Ministério da Educação como secretário de Estado de Marçal Grilo, subindo depois a ministro. Na actual legislatura, transitou para a Presidência Assuntos Parlamentares, onde manteve um desempenho discreto e eficaz. Agora, o funcionário de carreira do Ministério das Finanças, onde suspendeu a sua actividade em 1986, quando era director de serviço, para abraçar a política, regressa ao Terreiro do Paço, como ministro. S.J.A. António Correia de Campos O ministro da Saúde do governo-sombra de Jorge Sampaio assume finalmente a pasta no pôr-do-sol do guterrismo. António Correia de Campos, 59 anos, actual presidente do Instituto Nacional da Administração, já assumiu algumas posições críticas dos governos de António Guterres. Presidente da Comissão responsável pelo Livro Branco da Segurança Social, Correia de Campos acabaria a lamentar que a reforma feita por Ferro Rodrigues tivesse sido pouco ambiciosa. Apesar de considerar "Ferro Rodrigues um dos melhores ministros do anterior Governo, que também o está a ser no actual", Correia de Campos aponta, em entrevista ao Expresso, os "reducionismos" que a lei sofreu, afirmando não ser "uma lei para durar 20 anos". A sua proposta apontava para teses menos estatizantes. Recentemente defendeu, também no "Expresso", que deveria ser recuperada a figura do vice-primeiro-ministro (o que, de resto, não aconteceu agora), afirmando de caminho faltar "coordenação no Governo". António Guterres convidou-o para ministro da Saúde, mas Correia de Campos só deu a resposta depois de conhecer o nome do titular das Finanças. Trabalharia com Vasco Vieira de Almeida, Rui Vilar, Sousa Gomes (actual presidente da Cimpor) ou Guilherme d'Oliveira Martins, mas não com qualquer um. Disse um dia ter gerido o seu percurso profissional "de forma intuitiva". A "intuição" levou-o de Coimbra (onde se licenciou em Direito em 1966) a França (diplomado em Administração de Hospitais pela École National de la Santé Publique de Rennes) e a Baltimore (onde se tornou mestre em saúde pública em 1978). Em 89, torna-se professor catedrático da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa. Foi director de programas de ciência e tecnologia da Fundação Luso-Americana entre 86 e 89, especialista sénior do Banco Mundial de 1991 a 1995. Foi deputado quatro anos (1991-1995). A.S.L. Rui Pena Ministro da Defesa Nacional Idade: 62 anos Profissão: Advogado Quando no encerramento do congresso do PS, há menos de dois meses, António Guterres desceu do palco do Pavilhão Atlântico para cumprimentar Rui Pena, ninguém terá imaginado que o presidente do Movimento Democracia e Humanismo viria em breve a integrar o Governo socialista. Mas Rui Pena é, desde os Estados Gerais, um próximo de Guterres e a sua aproximação ao PS levou-o mesmo a apoiar Jorge Sampaio como candidato à Presidência da República, tendo discursado no comício da Aula Magna, no encerramento da última campanha eleitoral. Isto depois de se ter candidatado contra Sampaio e perdido uma outra presidência - a da Associação Académica, em 1962. É a segunda participação no Governo deste advogado que é sócio de escritório de Rui Machete. E, curiosamente, da primeira vez que o fez, como ministro da Reforma Administrativa há 23 anos, tratava-se de um Executivo liderado pelo então secretário-geral do PS, Mário Soares, que governou em coligação com o CDS, onde Pena nessa época militava e de que é fundador. Cortando definitivamente com o CDS nos anos 80, sob a presidência de Adriano Moreira, regressou brevemente ao CDS com Freitas do Amaral e deixou definitivamente este partido a seguir. Nos anos 90, Rui Pena fundou o Movimento Humanismo e Democracia com outros ex-centristas como Maria do Rosário Carneiro, Cláudio Monteiro e Jorge Góis. Três nomes que foram eleitos como independentes para a Assembleia da República nas listas do PS, com a Nova Maioria, logo em 1995, tendo na actual legislatura Jorge Góis sido substituído na bancada como deputado por Teresa Venda. Ou seja, Rui Pena faz parte da mais-valia política que o moderado e centrista Guterres conquistou quando subiu ao poder. Com a particularidade de se estar perante um político e não perante um tecnocrata. S.J.A. Augusto Santos Silva Se a entrada de Augusto Santos Silva na equipa governativa do segundo mandato de António Guterres - primeiro como secretário de Estado da Administração Educativa e, um ano depois, como ministro da Educação - foi recebida sem surpresa, a sua passagem, agora, para a pasta da Cultura também não causará espanto. No seu percurso político e académico, Santos Silva sempre elegeu também a realidade cultural como objecto de estudo e campo de intervenção. Em paralelo com a actividade docente na Faculdade de Economia do Porto - onde ensinava Ciência Política no curso de Gestão, sendo ainda pró-reitor da Universidade do Porto -, Santos Silva presidiu ao conselho geral da Culturporto. Colaborou na definição dos princípios que enformaram a candidatura do Porto a Capital Europeia da Cultura, e integrou o primeiro Conselho de Administração da Sociedade Porto 2001, quando esta era ainda presidida pelo seu homónimo - mas não familiar - Artur Santos Silva. Como sociólogo, publicou vários trabalhos sobre as relações dos públicos com a Cultura e dirigiu a equipa que elaborou um importante estudo sobre as "Práticas e Representações das Culturas" em algumas das principais cidades do país, nomeadamente na Área Metropolitana do Porto. Este percurso biográfico tornou, assim, Augusto Santos Silva uma hipótese recorrente para ocupar a pasta da Cultura, sempre que se falava em mexidas no Governo. A hora da verdade surge agora. Depois de ter passado, não sem alguma contestação, pelo difícil Ministério da Educação, este licenciado em História pela Faculdade de Letras do Porto e doutorado em Sociologia pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), de 44 anos, militante socialista de longa data (foi um dos nomes dos Estados Gerais), e uma figura discreta mas reconhecida pela sua capacidade de trabalho, vai enfrentar uma pasta com um razoável números de "dossiers" por resolver: a questão dos subsídios ao teatro, o futuro do D. Maria II e da Casa da Música do Porto... Tudo perante um cenário de obrigatória contenção orçamental. S.C.A. Luís Braga da Cruz Idade- 59 anos Formação-Engenharia Civil Cargos anteriores- Investigador na Faculdade de Engenharia do Porto, administrador da EDP, presidente da Assembleia das Regiões Europeias Vitícolas, administrador da Fundação de Serralves A actividade política nunca foi algo impensável para Luís Braga da Cruz, mas a decisão de integrar o Governo de Guterres não terá sido fácil de tomar. Quem conhece este engenheiro civil cujas qualidades técnicas são geralmente reconhecidas sabe que a sua personalidade introvertida não se coaduna muito bem com desejo de ribaltas e holofotes. Discreto, estudioso, amante das artes plásticas e da música erudita, produtor de vinho verde, cauteloso e extremamente polido, Luís Braga da Cruz é um homem de convicções mas não é uma personagem exuberante. Há mesmo quem o considere demasiado "cinzento" e até excessivamente burocrata. A notoriedade de Braga da Cruz deve-se, sobretudo, à sua actividade como presidente da Comissão de Coordenação Regional do Norte (CCRN), para onde foi indigitado por governos sociais-democratas e socialistas. Primeiro pela mão de Valente de Oliveira, em Março de 1986, dez anos depois a convite de João Cravinho. Acérrimo defensor da regionalização e principal instigador do estreitamento das relações entre o Norte e a Galiza, Luis Braga da Cruz nasceu em Coimbra, em 1942. Na juventude esteve ligado a grupos católicos, chegando à presidência da direcção da Juventude Universitária Católica. Terminou a sua licenciatura em Engenharia Civil na Universidade do Porto e manteve-se ligado à instituição como professor e investigador até 1969. Entre 1972 e 1974 pertenceu ao núcleo do Porto da SEDES - Associação para o Desenvolvimento Económico e Social. Rita Siza Júlio Pedrosa Idade: 56 anos Cargo: reitor da Universidade de Aveiro Filhos: dois Discreto, reservado e de poucas palavras, mas muito atento, metódico e empenhado, Júlio Pedrosa associa-se inevitavelmente o dinamismo e a afirmação da Universidade de Aveiro (UA) no panorama nacional. Figura consensual e querida no meio académico, o homem que assumiu um papel carismático na presidência do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) protagonizou sempre uma visão crítica e exigente do ensino superior. Natural do concelho de Cantanhede, Júlio Pedrosa nasceu em Cadima no ano de 1945, mas terminada a instrução primária continuou os estudos em Coimbra, onde se licenciou em Química. Cumpriu serviço militar em Angola durante três anos e seguiu para o Reino Unido, de onde voltou já doutorado em Química Inorgânica pela Universidade de Cardiff. De regresso a Portugal, Júlio Pedrosa reassumiu as suas funções de docente na UA - já tinha leccionado antes em Coimbra, em 1967/68 e entre 1971 e 1974 - e fixou residência em Aveiro, no ano de 1976. A reitoria da universidade foi assumida em 1994 e a presidência do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas em Julho de 1998, cargo que deixou em Janeiro deste ano. Claramente identificado com as questões ligadas ao ensino superior, o novo ministro da Educação criticou recentemente a política de ensino. Em declarações ao PÚBLICO - em que não encarou a lei do financiamento como tema prioritário -, Pedrosa colocou a tónica em três pontos fundamentais: exigência em matéria de avaliação; colocação de novos desafios às universidades; e criação de condições para um melhor governo e gestão das mesmas. Patrícia Coelho Moreira António José Seguro Idade: 39 anos Profissão: Político Ficou célebre uma entrevista de António José Seguro ao "Expresso" em 1999 onde este explicava a sua transferência do Governo para o Parlamento Europeu com o facto de ter no Executivo uma vida muito cansativa. Agora podem-lhe dizer por brincadeira - que o próprio acha de mau gosto - que estando mais descansado, depois de dois anos em Bruxelas, que nada poderia obstar ao seu regresso. Regressa, e regressa num posto acima do que tinha antes de rumar a Bruxelas. Antes era secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro; agora é ministro-Adjunto do mesmo primeiro-ministro. Parece (mas ainda não está oficialmente confirmado) que vai ficar com a tutela da Comunicação Social, ou seja, com a RTP. António José Seguro, 39 anos, natural de Penamacor, é guterrista desde o tempo em que o guterrismo se reduzia a meia dúzia de pessoas. Desde muito jovem que a política é a sua principal ocupação. Presidiu ao Conselho Nacional da Juventude e à JS, quando o PS estava na oposição. A política fez com que descurasse os estudos, e agora estava a ver se resolvia esse "handicap" frequentando Relações Internacionais numa universidade privada. Muito provavelmente, a licenciatura vai ter (mais uma vez) que esperar. Em 1995, foi um dos artifícies da campanha da "Nova Maioria". Guterres premiou-o nomeando-o secretário de Estado da Juventude. Depois foi promovido a secretário de Estado adjunto de Guterres. Em Junho de 1999 foi o número dois da lista dos socialistas ao Parlamento Europeu, encabeçada por Mário Soares. De então para cá dava sinais de desilusão com a forma como o Governo era conduzido. Deu sinais de que estava prestes a regressar no último congresso do partido, quando aceitou dirigir o "Acção Socialista". Confirma-se. Vem mais poderoso - e descansado. J.P.H. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Novos ministros de Guterres são mais à direita

Críticas na hora da saída

De ministro a deputado

Os perfis dos novos ministros

Um debate surrealista

PSD recuou nas condições

Opiniões

Bastidores

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Acordo sobre a partilha da herança de Tito

O acto final

Primeiro-ministro da Jugoslávia anuncia demissão

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TPI em Haia tem um juiz português

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