JORNAL PUBLICO: Bases excluem notáveis

12-11-1999
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05/07/95

Secções de Lisboa do PSD escolhem candidatos a deputados

Bases excluem notáveis

Áurea Sampaio*

Já não há notáveis como antigamente. Agora, importante, importante é ser presidente ou número dois de uma secção. Todos querem ser deputados, nem que para isso seja necessário varrer os nomes sonantes do universo "laranja". A esta autêntica purga só escapou Manuela Ferreira Leite. De fora ficaram Leonor Beleza, Braga de Macedo ou Teresa Patrício Gouveia... entre muitos. É a escolha dos candidatos em Lisboa.

No PSD lisboeta desempenhar de um alto cargo político, ter história partidária e ser conhecido da opinião pública não garante qualquer lugar nas próximas listas de deputados. Que o digam a actual ministra do Ambiente, Teresa Patrício Gouveia, a recém-eleita presidente do Conselho de Jurisdição Nacional no congresso de Fevereiro e ex-titular da Saúde Leonor Beleza, ou o ex-ministro das Finanças Braga de Macedo, cujos nomes não foram indicados pelas respectivas secções como candidatos à Assembleia da República nas eleições de Outubro.

E não se pense que estes são exemplos únicos. Longe disso. Um pouco por toda a distrital repete-se o panorama de nomes bem sonantes serem preteridos em favor de ilustres desconhecidos, muitas das vezes com uma interessantíssima particularidade comum: os "eleitos" são presidentes ou vice-presidentes de secção. É assim nas secções A (Benfica), D (Rosa Araújo), F (Alcântara), I (Baixa), Oeiras, Algés, Vila Franca e Amadora. Na Penha de França não foi escolhido o líder da secção mas a filha, Carla Salsinha, por certo a fazer jus à veia política da família. Mas curiosidades é coisa que não falta no elenco de nomes, que já foram enviados à Comissão Política Distrital. Na secção de Benfica, por exemplo, não se pode negar a democracia exemplar. É que não só foi designado o número um da secção, como o chefe da oposição interna. E assim, António Preto e Armindo de Azevedo perfilam-se no horizonte de S. Bento. Nos Olivais, foi abençoada a penhora do Estádio das Antas que tantas dores de cabeça deu (e dá) ao PSD e ao Governo através da "eleição" do "autor do crime, de seu nome, Rodrigues Porto, o ex-director-geral das Contribuições e Impostos.

De fora das cogitações destas estruturas de base ficou a esmagadora maioria dos nomes sonantes de Lisboa. A este súbito ataque de esquecimento escapou Manuela Ferreira Leite, a dama-de-ferro da pasta da Educação, a fazer jus ao gosto dos sociais-democratas pelas figuras capazes de enfrentar a polémica e a contestação. A mesma sorte não tiveram Leonor Beleza, os deputados João Salgado e Fernandes Marques, bem como Virgínia Estorninho, a única presidente de Junta do PSD em Lisboa, cuja secção preferiu Moreira da Silva, um adjunto do ministro Falcão e Cunha também membro da direcção da distrital.

Jorge Braga de Macedo, Pedro Paes de Vasconcelos, ex-membro da Comissão Política Nacional, e o deputado Pedro Roseta foram preteridos a favor de Mota Veiga, enquanto, no Lumiar, o deputado Francisco Martins deitava por terra as aspirações do sá-carneirista José Luís Ramos, activíssimo advogado do processo de Camarate, e de Jorge Seabra, o ex-secretário de Estado do Emprego a braços com um processo ligado às fraudes com o Fundo Social Europeu.

Em Cascais foram "esquecidos" o vice-presidente da bancada parlamentar Rui Carp e os conhecidos deputados Rui Gomes da Silva e Sousa Lara, enquanto, na Baixa, Teresa Patrício Gouveia foi significativamente suplantada por Henrique de Freitas, número dois da secção.

Este tipo de fenómeno foi caso nunca visto no PSD... pelo menos com esta dimensão. "No tempo de Cavaco quem tinha ministros indicava-os. Primeiro porque sabiam que ele os ia buscar sempre, depois porque isso prestigiava as secções. Agora as pessoas acham que tudo pode acontecer e arriscam", diz um membro da distrital. Outra fonte faz leitura diversa: "Isto é uma absoluta falta de senso. Lisboa, que costuma apresentar nomes fortíssimos, só tem desconhecidos". Arlindo de Carvalho garante que "não vai haver problemas"... até porque "não há compromissos com as secções". Isto é, não se pense que os nomes indicados têm lugar assegurado nas listas. Em 1991, os sociais-democratas elegeram 25 deputados no distrito e as projecções dos responsáveis políticos não vão além dos 20 lugares. Como a CPN tem uma quota de cerca de doze, sobram oito lugares da responsabilidade directa da direcção política distrital. É nesta margem que podem entrar as escolhas das bases. "Há pessoas que, embora desconhecidas, têm potencial e é isso que temos de estimular. Não podemos pensar que os que lá estão, ficam eternamente, se não reproduziamos a papel químico a lista de 91", diz Arlindo de Carvalho.

Esta semana deverão ser conhecidos os cabeças de lista a nível nacional. Fernando Nogueira começou ontem a trabalhar no assunto. Para segunda e terça-feira da próxima semana estão já marcadas reuniões com os líderes das distritais para a elaboração das listas. Marques Mendes e Azevedo Soares são os negociadores. Nogueira só intervém para desempatar.

*com João Queirós

05/07/95

Secções de Lisboa do PSD escolhem candidatos a deputados

Bases excluem notáveis

Áurea Sampaio*

Já não há notáveis como antigamente. Agora, importante, importante é ser presidente ou número dois de uma secção. Todos querem ser deputados, nem que para isso seja necessário varrer os nomes sonantes do universo "laranja". A esta autêntica purga só escapou Manuela Ferreira Leite. De fora ficaram Leonor Beleza, Braga de Macedo ou Teresa Patrício Gouveia... entre muitos. É a escolha dos candidatos em Lisboa.

No PSD lisboeta desempenhar de um alto cargo político, ter história partidária e ser conhecido da opinião pública não garante qualquer lugar nas próximas listas de deputados. Que o digam a actual ministra do Ambiente, Teresa Patrício Gouveia, a recém-eleita presidente do Conselho de Jurisdição Nacional no congresso de Fevereiro e ex-titular da Saúde Leonor Beleza, ou o ex-ministro das Finanças Braga de Macedo, cujos nomes não foram indicados pelas respectivas secções como candidatos à Assembleia da República nas eleições de Outubro.

E não se pense que estes são exemplos únicos. Longe disso. Um pouco por toda a distrital repete-se o panorama de nomes bem sonantes serem preteridos em favor de ilustres desconhecidos, muitas das vezes com uma interessantíssima particularidade comum: os "eleitos" são presidentes ou vice-presidentes de secção. É assim nas secções A (Benfica), D (Rosa Araújo), F (Alcântara), I (Baixa), Oeiras, Algés, Vila Franca e Amadora. Na Penha de França não foi escolhido o líder da secção mas a filha, Carla Salsinha, por certo a fazer jus à veia política da família. Mas curiosidades é coisa que não falta no elenco de nomes, que já foram enviados à Comissão Política Distrital. Na secção de Benfica, por exemplo, não se pode negar a democracia exemplar. É que não só foi designado o número um da secção, como o chefe da oposição interna. E assim, António Preto e Armindo de Azevedo perfilam-se no horizonte de S. Bento. Nos Olivais, foi abençoada a penhora do Estádio das Antas que tantas dores de cabeça deu (e dá) ao PSD e ao Governo através da "eleição" do "autor do crime, de seu nome, Rodrigues Porto, o ex-director-geral das Contribuições e Impostos.

De fora das cogitações destas estruturas de base ficou a esmagadora maioria dos nomes sonantes de Lisboa. A este súbito ataque de esquecimento escapou Manuela Ferreira Leite, a dama-de-ferro da pasta da Educação, a fazer jus ao gosto dos sociais-democratas pelas figuras capazes de enfrentar a polémica e a contestação. A mesma sorte não tiveram Leonor Beleza, os deputados João Salgado e Fernandes Marques, bem como Virgínia Estorninho, a única presidente de Junta do PSD em Lisboa, cuja secção preferiu Moreira da Silva, um adjunto do ministro Falcão e Cunha também membro da direcção da distrital.

Jorge Braga de Macedo, Pedro Paes de Vasconcelos, ex-membro da Comissão Política Nacional, e o deputado Pedro Roseta foram preteridos a favor de Mota Veiga, enquanto, no Lumiar, o deputado Francisco Martins deitava por terra as aspirações do sá-carneirista José Luís Ramos, activíssimo advogado do processo de Camarate, e de Jorge Seabra, o ex-secretário de Estado do Emprego a braços com um processo ligado às fraudes com o Fundo Social Europeu.

Em Cascais foram "esquecidos" o vice-presidente da bancada parlamentar Rui Carp e os conhecidos deputados Rui Gomes da Silva e Sousa Lara, enquanto, na Baixa, Teresa Patrício Gouveia foi significativamente suplantada por Henrique de Freitas, número dois da secção.

Este tipo de fenómeno foi caso nunca visto no PSD... pelo menos com esta dimensão. "No tempo de Cavaco quem tinha ministros indicava-os. Primeiro porque sabiam que ele os ia buscar sempre, depois porque isso prestigiava as secções. Agora as pessoas acham que tudo pode acontecer e arriscam", diz um membro da distrital. Outra fonte faz leitura diversa: "Isto é uma absoluta falta de senso. Lisboa, que costuma apresentar nomes fortíssimos, só tem desconhecidos". Arlindo de Carvalho garante que "não vai haver problemas"... até porque "não há compromissos com as secções". Isto é, não se pense que os nomes indicados têm lugar assegurado nas listas. Em 1991, os sociais-democratas elegeram 25 deputados no distrito e as projecções dos responsáveis políticos não vão além dos 20 lugares. Como a CPN tem uma quota de cerca de doze, sobram oito lugares da responsabilidade directa da direcção política distrital. É nesta margem que podem entrar as escolhas das bases. "Há pessoas que, embora desconhecidas, têm potencial e é isso que temos de estimular. Não podemos pensar que os que lá estão, ficam eternamente, se não reproduziamos a papel químico a lista de 91", diz Arlindo de Carvalho.

Esta semana deverão ser conhecidos os cabeças de lista a nível nacional. Fernando Nogueira começou ontem a trabalhar no assunto. Para segunda e terça-feira da próxima semana estão já marcadas reuniões com os líderes das distritais para a elaboração das listas. Marques Mendes e Azevedo Soares são os negociadores. Nogueira só intervém para desempatar.

*com João Queirós

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