EXPRESSO: País

18-09-2001
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Fretilin ameaça não formar governo

Sérgio Vieira de Mello vetou nomes indicados por Alkatiri

A PRIMEIRA crise política institucional está instalada em Timor-Leste. A Fretilin, partido que ganhou por larga margem (57,37%) as eleições para a Assembleia Constituinte - que hoje toma posse -, ameaça o administrador da ONU, Sérgio Vieira de Mello, de não integrar o próximo Governo de Transição das Nações Unidas, por discordar da escolha dos nomes que deverão fazer parte daquele Executivo. A tomada de posse do 2º Governo da ONU (que deverá manter-se em funções até à proclamação do Governo Legislativo pela Constituinte) esteve, até ontem, anunciada para hoje.

O secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, insistia em que Vieira de Mello aceitasse os nomes por si indicados, mas o administrador manteve o veto a alguns.

Braço-de-ferro com a ONU

Hoje de manhã, os 88 deputados dos 12 partidos com assento parlamentar farão o seu juramento. Porém, pelas 16 horas, ao contrário do que chegou a ser oficialmente anunciado, Vieira de Mello e Xanana Gusmão já não precisam de voltar ao antigo Palácio da Administração colonial, no centro de Díli, para testemunhar a tomada de posse do primeiro Executivo timorense. Tanto o gabinete do administrador da ONU como a Fretilin não fizeram qualquer comunicado sobre a situação. Alkatiri, contactado ontem à noite pelo EXPRESSO, limitou-se a informar que «não desejava comentar o assunto».

O adiamento da entrada em funções do Governo de Transição esteve em dúvida até a meio do dia de ontem. Mas o braço-de-ferro entre Vieira de Mello e Alkatiri manteve-se, levando ao rompimento das conversações. O secretário-geral da Fretilin sempre insistiu em que a chefia do Executivo deveria pertencer ao partido vencedor das eleições para a Constituinte e que os membros do gabinete deveriam ser escolhidos não de acordo com as percentagens de votos recebidas por cada um dos outros partidos, mas segundo as competências técnicas e profissionais. Ou seja, Alkatiri deseja «um Governo de inclusão pela competência e não de unidade nacional», como chegou a afirmar ao EXPRESSO nesta semana, admitindo mesmo que «preferia ficar na Assembleia do que aceitar os nomes impostos por Vieira de Mello».

Mas Alkatiri também não possui no seu partido um grande leque de quadros capazes de preencher todas as áreas de governação. E a perturbar ainda mais a situação fica a atitude irredutível do Partido Democrático e do Partido Social Democrata, os dois mais votados a seguir à Fretilin, de recusarem que os seus membros sejam consultados em nome individual. A falta de gente capaz para formar Governo já levou Alkatiri a aceitar a nomeação de um «independente» para a Saúde. O médico Rui Araújo, apesar de não filiado, é conhecido como próximo e simpatizante do PD.

Por outro lado, Vieira de Mello chegou mesmo a recusar nomes propostos por Alkatiri. Por exemplo, para a pasta das Finanças. José Teixeira, um timorense que viveu na Austrália, onde foi militante do Partido Trabalhista, viu o seu nome recusado por Vieira de Mello. E, depois de José Luís Guterres, figura moderada do partido e conhecedora do dossiê de Timor na ONU durante a clandestinidade, ter recusado ser o vice do gabinete de Negócios Estrangeiros, de Ramos-Horta, Alkatiri sondou Fernando Araújo, um jovem quadro do PD, que ontem ainda não tinha dado resposta à Fretilin.

Vieira de Mello retoma o contacto com a Fretilin na segunda-feira. Mas o administrador da ONU já fez saber que não tolera «arrogâncias» por parte da Fretilin. Afinal, ele ainda é o representante do secretário-geral das Nações Unidas, e este Governo ainda é da responsabilidade daquela instituição. Se o desejo da ONU é a timorização do futuro Governo de Transição, a verdade é que, além da Educação, onde se mantém o padre Filomeno Jacob, e dos Negócios Estrangeiros, entregue de novo a Ramos-Horta, a Fretilin não possui quadros para ocuparem pastas como as Finanças, as Obras Públicas, a Administração Interna e mesmo a Agricultura e Pescas.

A juíza Ana Pessoa, que tutelou a Justiça no anterior Governo da ONU, tem de estar presente na Constituinte para apoiar na feitura da Constituição. Por seu lado, as duas economistas formadas em Moçambique, Fernanda Borges e Madalena Boavida, também colaboradoras da UNTAET (a administração da ONU em Timor) não foram bem aceites por Vieira de Mello, por falta de preparação académica.

E se Alkatiri, além da chefia do Governo, garante a pasta da Economia, resta agora à Fretilin recorrer aos chamados quadros independentes, que também não abundam. Recorde-se que o próprio Mário Carrascalão, líder do PSD, inviabilizou a possibilidade de ficar com a Administração Interna. Ao convite de Vieira de Mello, respondeu ser impossível aceitar as condições de Alkatiri.

Fretilin ameaça não formar governo

Sérgio Vieira de Mello vetou nomes indicados por Alkatiri

A PRIMEIRA crise política institucional está instalada em Timor-Leste. A Fretilin, partido que ganhou por larga margem (57,37%) as eleições para a Assembleia Constituinte - que hoje toma posse -, ameaça o administrador da ONU, Sérgio Vieira de Mello, de não integrar o próximo Governo de Transição das Nações Unidas, por discordar da escolha dos nomes que deverão fazer parte daquele Executivo. A tomada de posse do 2º Governo da ONU (que deverá manter-se em funções até à proclamação do Governo Legislativo pela Constituinte) esteve, até ontem, anunciada para hoje.

O secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, insistia em que Vieira de Mello aceitasse os nomes por si indicados, mas o administrador manteve o veto a alguns.

Braço-de-ferro com a ONU

Hoje de manhã, os 88 deputados dos 12 partidos com assento parlamentar farão o seu juramento. Porém, pelas 16 horas, ao contrário do que chegou a ser oficialmente anunciado, Vieira de Mello e Xanana Gusmão já não precisam de voltar ao antigo Palácio da Administração colonial, no centro de Díli, para testemunhar a tomada de posse do primeiro Executivo timorense. Tanto o gabinete do administrador da ONU como a Fretilin não fizeram qualquer comunicado sobre a situação. Alkatiri, contactado ontem à noite pelo EXPRESSO, limitou-se a informar que «não desejava comentar o assunto».

O adiamento da entrada em funções do Governo de Transição esteve em dúvida até a meio do dia de ontem. Mas o braço-de-ferro entre Vieira de Mello e Alkatiri manteve-se, levando ao rompimento das conversações. O secretário-geral da Fretilin sempre insistiu em que a chefia do Executivo deveria pertencer ao partido vencedor das eleições para a Constituinte e que os membros do gabinete deveriam ser escolhidos não de acordo com as percentagens de votos recebidas por cada um dos outros partidos, mas segundo as competências técnicas e profissionais. Ou seja, Alkatiri deseja «um Governo de inclusão pela competência e não de unidade nacional», como chegou a afirmar ao EXPRESSO nesta semana, admitindo mesmo que «preferia ficar na Assembleia do que aceitar os nomes impostos por Vieira de Mello».

Mas Alkatiri também não possui no seu partido um grande leque de quadros capazes de preencher todas as áreas de governação. E a perturbar ainda mais a situação fica a atitude irredutível do Partido Democrático e do Partido Social Democrata, os dois mais votados a seguir à Fretilin, de recusarem que os seus membros sejam consultados em nome individual. A falta de gente capaz para formar Governo já levou Alkatiri a aceitar a nomeação de um «independente» para a Saúde. O médico Rui Araújo, apesar de não filiado, é conhecido como próximo e simpatizante do PD.

Por outro lado, Vieira de Mello chegou mesmo a recusar nomes propostos por Alkatiri. Por exemplo, para a pasta das Finanças. José Teixeira, um timorense que viveu na Austrália, onde foi militante do Partido Trabalhista, viu o seu nome recusado por Vieira de Mello. E, depois de José Luís Guterres, figura moderada do partido e conhecedora do dossiê de Timor na ONU durante a clandestinidade, ter recusado ser o vice do gabinete de Negócios Estrangeiros, de Ramos-Horta, Alkatiri sondou Fernando Araújo, um jovem quadro do PD, que ontem ainda não tinha dado resposta à Fretilin.

Vieira de Mello retoma o contacto com a Fretilin na segunda-feira. Mas o administrador da ONU já fez saber que não tolera «arrogâncias» por parte da Fretilin. Afinal, ele ainda é o representante do secretário-geral das Nações Unidas, e este Governo ainda é da responsabilidade daquela instituição. Se o desejo da ONU é a timorização do futuro Governo de Transição, a verdade é que, além da Educação, onde se mantém o padre Filomeno Jacob, e dos Negócios Estrangeiros, entregue de novo a Ramos-Horta, a Fretilin não possui quadros para ocuparem pastas como as Finanças, as Obras Públicas, a Administração Interna e mesmo a Agricultura e Pescas.

A juíza Ana Pessoa, que tutelou a Justiça no anterior Governo da ONU, tem de estar presente na Constituinte para apoiar na feitura da Constituição. Por seu lado, as duas economistas formadas em Moçambique, Fernanda Borges e Madalena Boavida, também colaboradoras da UNTAET (a administração da ONU em Timor) não foram bem aceites por Vieira de Mello, por falta de preparação académica.

E se Alkatiri, além da chefia do Governo, garante a pasta da Economia, resta agora à Fretilin recorrer aos chamados quadros independentes, que também não abundam. Recorde-se que o próprio Mário Carrascalão, líder do PSD, inviabilizou a possibilidade de ficar com a Administração Interna. Ao convite de Vieira de Mello, respondeu ser impossível aceitar as condições de Alkatiri.

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