O Independente

09-05-2001
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A ‘rosa’ de A a Z

Rui Flores

rflores@oindependente.pt

A de Alegre, Manuel. “Neste momento, o PS é um partido muito governamentalizado, muito situacionista, muito de aparelho, muito sem causas, sem projectos e sem rumo”, foi o seu diagnóstico em entrevista a O Independente. Sintomático, um dos principais críticos do guterrismo não vai ao congresso. Não quis ser mais um na multidão que se prepara para ovacionar António Guterres. Mas a “tendência” de que faz parte vai estar representada no Pavilhão Atlântico. Helena Roseta recuperou a polémica sobre o aborto com uma moção sectorial. Vai a votos no domingo, momentos antes de Guterres ser entronizado.

B de brilho. Está tudo pensado. O 12.º Congresso do PS foi montado de forma a que António Guterres seja a única estrela a mostrar a intensidade do seu brilho. A divisão do debate das moções sectoriais por salas, longe dos trabalhos plenários, faz dispersar a atenção dos média e dos militantes. Mesmo que haja contestação, ela há-de ser localizada, sem o impacte de ecoar no pavilhão apinhado. Guterres discursa amanhã, pouco antes das 13; encerra o debate sobre a sua moção em cima da hora dos telejornais; e volta a dirigir-se aos congressistas no domingo, pelo almoço. Quem o quiser beliscar pode fazê-lo na tarde de sábado.

C de Coelho, Jorge. O número dois mais activo da política nacional tem um papel de destaque no congresso. O partido está-lhe credor da mobilização (alguma) que houve para a reunião. O “carinho” que as bases nutrem por ele torna-o num dos vencedores antecipados da reunião. Coelho há-de expressar o seu verdadeiro peso no PS na lista para a Comissão Nacional, que com António Galamba preparou para receber o aval de Guterres. Recusa ser secretário-geral adjunto, mas o que vai fazer agora? Manterá o papel de crítico do Governo e do grupo parlamentar? Ou assumirá a sua direcção política?

D de debates. É uma estratégia antiga. À chuva de críticas de que no PS não se discute, a direcção socialista respondeu com um típico gesto do género “querem debater, tomem lá!”. Hoje à noite realiza-se mais uma espécie de Estados Gerais, com convidados não encartados e outros menos propensos a darem a cara: Murteira Nabo, Maria João Rodrigues, João Pedroso, Cristina Azevedo e Rui Coimbra vão discutir “A nova economia”; António Vitorino, Sérvulo Correia, Carlos Magno, Vicente Jorge Silva e João Nabais, “A democracia e os novos poderes”; Isabel Alçada, António Mega Ferreira, António Figueiredo, Alberto Souto e Gonçalo Byrne, “As cidades, as pessoas e o futuro”; Silva Lopes, Saldanha Sanches, Fernando Castro Silva, Luís Máximo Santos e Mário Pereira, “A justiça fiscal”. Depois, no sábado, são os debates sectoriais das 52 moções que chegam ao congresso. Ora toma!

E de economia. O PS chega a este congresso com os indicadores económicos do país feitos num oito. Segundo as mais recentes previsões da União Europeia, Portugal deverá registar neste ano a menor taxa de crescimento (2,6 por cento) e a maior taxa de inflação (3,5 por cento) desde que Guterres chegou ao poder, em 1995. Por Pina Moura se ter enganado nas previsões feitas no início do ano, as duas centrais sindicais “exigem” – o termo é delas – que o Governo proceda a um aumento salarial extraordinário. Está de volta o clima de contestação.

F de federações. Guterres fala de renovação, mas nas suas estruturas distritais está algum do pessoal político há mais tempo em funções. José Mota, em Aveiro, Narciso Miranda, no Porto, Rui Solheiro, em Viana do Castelo, José Augusto Carvalho, no Oeste, estão nos cargos há mais de oito anos. E o peso das federações é notório. Na lista para a Comissão Nacional, dois terços dos nomes foram indicados pelos dirigentes distritais.

G de Guterres, António. Chega ao congresso com o objectivo de inaugurar o novo ciclo que prometeu no comício da “rentrée” do ano passado. Mas ninguém o descortinou. Está bem, ou, como diz Coelho: “Agora casou-se, isso é muito importante, cada um de nós deve sentir-se o melhor pessoalmente para dar tudo o que tem.” Na campanha para a sua reeleição, demonstrou algum enfado no contacto com os militantes. A sua moção recupera praticamente todos os temas da anterior. Que mais terá para lhes dizer em ano de eleições?

H de herdeiros. Com Guterres eleito para um novo biénio, a sucessão do secretário-geral ainda não se coloca. Mas a atenção concentra-se já em Ferro Rodrigues, José Sócrates, António Costa, António Vitorino, João Soares e Jorge Coelho – os nomes mais falados para o cargo quando Guterres sair. Tudo o que disserem e fizerem neste congresso não deixará de ser interpretado à luz do cenário da sucessão.

I de Igreja, a Católica. A última grande rebelião socialista aconteceu há pouco mais de uma semana: no Parlamento, 24 deputados recusaram alinhar pela direcção nacional na lei da liberdade religiosa. O caso, que nos últimos meses pôs a hierarquia católica a produzir ameaças mais ou menos veladas, começou no próprio PS quando Jorge Lacão e António Reis tentaram que a nova lei se aplicasse também à Igreja Católica. O PS mais jacobino nunca viveu bem com o católico Guterres. Agora, já expressa o seu descontentamento maciço na véspera do congresso.

J de JS. Ainda existe? “Procura-se organização de juventude vocacionada para discutir os problemas dos jovens e apresentar soluções, jovens, para o país”... O anúncio bem poderia sair assim no “Acção Socialista”. Jamila Madeira não conseguiu sarar as feridas do congresso em que foi eleita. E a sua adversária, Ana Catarina Mendes, tem tido maior protagonismo, ao garantir a aprovação parlamentar das uniões de facto homossexuais, do que a própria líder. Sinal do desconforto, Guterres ignorou os jovens “rosa” na preparação da famosa renovação.

L de Limiano. Até meados de Novembro há-de ser assim: o Governo a dramatizar a aprovação do Orçamento do Estado para 2002, reclamando que tem de ser a oposição a colaborar, e os outros partidos a assobiarem para o lado. Com as sondagens a darem o PS ainda confortavelmente à frente, muitos socialistas encaram com satisfação o cenário de eleições antecipadas. Vai ser o filme do costume. Mas com uma certeza: não há condições para outro produtor queijeiro voltar a abster-se, viabilizando o OE. Vem aí novo Orçamento com o PSD-Madeira?

M de “Marretas”. Foi um dos temas mais falados durante o pré-congresso. Guterres disse em Faro não querer que a política portuguesa “venha a transformar-se num diálogo dos ‘Marretas’”. Apostado na renovação, o secretário-geral quer pôr na direcção do partido as gerações que a Revolução “decapitou”. As expectativas são muitas. Tanto mais que um dos teóricos da renovação, Vitalino Canas, que propõe a realização de clubes de política, já admite a limitação dos mandatos.

N de novo, novo ciclo. Sob o lema “Uma aposta de futuro”, Guterres chega a este congresso apostado em anunciar que agora é que vai ser. Cinco anos e meio depois de ter ancorado em São Bento, as dúvidas sobre a sua concretização são muitas. O líder “rosa” promete reformas na área da Saúde e na administração pública. Além de querer diminuir a idade de voto para os 16 anos. O partido precisa também de um novo ânimo.

O de “Ó pá, António!” Ao tomar posse, Jorge Sampaio anunciou para este segundo mandato uma nova magistratura, a de iniciativa. Logo houve quem dissesse que seria o fim, que o verniz estalaria nas relações entre Belém e São Bento. Mas, até agora, as duas instituições têm convivido razoavelmente bem. E uma das últimas coisas que Sampaio deve querer é chamar Guterres a Belém e dizer-lhe: “Ó pá, António, não pode ser!” Ainda assim, Sampaio parece particularmente atento em matérias de Justiça, Saúde e Defesa.

P de penetras. Vicente Jorge Silva, ex-director do “Público”, e Carlos Magno, jornalista, director da futura NTV - canal televisivo do Porto -, são dois dos nomes mais mediáticos que vão participar nas “Conferências do Congresso”, que se realizam hoje à noite. Vicente está a ser falado para assumir a candidatura por toda a oposição à câmara do Funchal. Magno, entre comentários no “DN” e entrevistas na TSF, está a construir a sua TV, recorrendo até a Guterres para ir dar aulas aos seus futuros jornalistas. Vão falar sobre “Democracia e Novos Poderes”. Mas há outros.

Q de questões, fracturantes. A moção de Helena Roseta, ao lado de Sérgio Sousa Pinto, trá-las de novo para o debate. E de um modo muito simples: ao propor que o congresso mandate o grupo parlamentar para discutir, quando for caso disso, o alargamento das situações em que não é considerado crime a interrupção voluntária da gravidez. Pelas reacções de Coelho, Fausto Correia e companhia, percebeu-se que o tema é bastante incómodo para a direcção socialista. Pela forma como foi apresentada a moção, houve logo quem considerasse que era ali que estava a verdadeira oposição a Guterres neste congresso. Não deve deixar de se contabilizar os votos que obtiver no domingo...

R de remodelação. O primeiro-ministro tem sido pressionado, e muito, para mexer na sua equipa governamental. Pina Moura e Manuela Arcanjo têm sido os bombos da festa. Ao congresso chega até uma moção crítica sobre o estado da Saúde. Mas Guterres não tem por hábito remodelar sob pressão. Sobretudo quando se sucedem os apelos nesse sentido. A força do aparelho é, porém, como se sabe, muita. Até quando, o chefe do Executivo poderá mantê-los a seu lado?

S de Soares, Mário. No círculo que apoia o líder é apontado como um dos principais opositores a António Guterres. Que tem a sua rede de influência montada e activa. Publicamente, o eurodeputado socialista pouco ou nada diz. Mas os que são próximos do ex-chefe de Estado, volta, não volta, falam da necessidade de o velho fundador promover a realização de um congresso que discuta os verdadeiros problemas do futuro do país.

T de Tino, de Rans. “Marciano” assumido, vai representar o seu próprio papel durante três dias. As câmaras de televisão, e da própria SIC – que muito o tem insuflado –, vão querer saber o que pensa sobre o “Novo Ciclo” e as suas apostas para o futuro. Imperdível. Sobretudo para quem ficar em casa a ver pela TV. Para desgosto de alguns dirigentes nacionais, foi eleito delegado pela secção de Penafiel. Será um dos renovadores? O próprio promete um discurso de “arransar”, para “acordar quem muito dorme”.

U de umbigo. O PS tem perdido muito tempo a tratar de si mesmo. E de problemas que pouco dizem aos portugueses. A crítica é de Jorge Coelho: “Olhem para o que se está a discutir e vejam se são questões de fundo para o interesse dos portugueses: pílula do dia seguinte, uniões de facto, paridade.” Este congresso pretende ser o da mudança. Mas Roseta recuperou o aborto, Carlos Zorrinho e Vitalino Canas uma nova organização para o partido, e Guterres fez da renovação o grande tema prévio... O umbigo é grande, é!

V de vitória, nas autárquicas. O resultado nas eleições deste ano é determinante para o futuro dos socialistas. Nas duas principais cidades do país, os socialistas jogam combates muito fortes pela manutenção no poder. A vitória de Fernando Gomes sobre Rui Rio é fortemente admitida. Mas o embate na capital (entre Pedro Santana Lopes e João Soares) é imprevisível. E se, em Novembro, o Orçamento for chumbado pela oposição? Um mês depois, não serão os socialistas os grandes beneficiários com a dramatização?

X de xeque. António Guterres tem uma prova de fogo neste congresso. Precisa de mobilizar o partido para as autárquicas, induzir que vem aí um novo ciclo e mostrar que conseguiu fazer a renovação. Depois de ter falado contra os “marretas”, as expectativas estão muito altas. Se a renovação for apenas minimal, Guterres corre o risco de sair do Pavilhão Atlântico com uma “vitorinha” no bolso. Imagine-se as manchetes de segunda-feira...

Z de zurzir. É o que tem feito Manuel Maria Carrilho desde que saiu do Governo. O filósofo, agora também deputado, tem sido uma das vozes mais críticas à actuação de António Guterres. Tem a enorme virtude de ser quase sempre o primeiro: a exigir a remodelação governamental, a chamar a atenção para a inexistência de reformas, a sugerir novos rumos. Terá também os holofotes em cima.

A ‘rosa’ de A a Z

Rui Flores

rflores@oindependente.pt

A de Alegre, Manuel. “Neste momento, o PS é um partido muito governamentalizado, muito situacionista, muito de aparelho, muito sem causas, sem projectos e sem rumo”, foi o seu diagnóstico em entrevista a O Independente. Sintomático, um dos principais críticos do guterrismo não vai ao congresso. Não quis ser mais um na multidão que se prepara para ovacionar António Guterres. Mas a “tendência” de que faz parte vai estar representada no Pavilhão Atlântico. Helena Roseta recuperou a polémica sobre o aborto com uma moção sectorial. Vai a votos no domingo, momentos antes de Guterres ser entronizado.

B de brilho. Está tudo pensado. O 12.º Congresso do PS foi montado de forma a que António Guterres seja a única estrela a mostrar a intensidade do seu brilho. A divisão do debate das moções sectoriais por salas, longe dos trabalhos plenários, faz dispersar a atenção dos média e dos militantes. Mesmo que haja contestação, ela há-de ser localizada, sem o impacte de ecoar no pavilhão apinhado. Guterres discursa amanhã, pouco antes das 13; encerra o debate sobre a sua moção em cima da hora dos telejornais; e volta a dirigir-se aos congressistas no domingo, pelo almoço. Quem o quiser beliscar pode fazê-lo na tarde de sábado.

C de Coelho, Jorge. O número dois mais activo da política nacional tem um papel de destaque no congresso. O partido está-lhe credor da mobilização (alguma) que houve para a reunião. O “carinho” que as bases nutrem por ele torna-o num dos vencedores antecipados da reunião. Coelho há-de expressar o seu verdadeiro peso no PS na lista para a Comissão Nacional, que com António Galamba preparou para receber o aval de Guterres. Recusa ser secretário-geral adjunto, mas o que vai fazer agora? Manterá o papel de crítico do Governo e do grupo parlamentar? Ou assumirá a sua direcção política?

D de debates. É uma estratégia antiga. À chuva de críticas de que no PS não se discute, a direcção socialista respondeu com um típico gesto do género “querem debater, tomem lá!”. Hoje à noite realiza-se mais uma espécie de Estados Gerais, com convidados não encartados e outros menos propensos a darem a cara: Murteira Nabo, Maria João Rodrigues, João Pedroso, Cristina Azevedo e Rui Coimbra vão discutir “A nova economia”; António Vitorino, Sérvulo Correia, Carlos Magno, Vicente Jorge Silva e João Nabais, “A democracia e os novos poderes”; Isabel Alçada, António Mega Ferreira, António Figueiredo, Alberto Souto e Gonçalo Byrne, “As cidades, as pessoas e o futuro”; Silva Lopes, Saldanha Sanches, Fernando Castro Silva, Luís Máximo Santos e Mário Pereira, “A justiça fiscal”. Depois, no sábado, são os debates sectoriais das 52 moções que chegam ao congresso. Ora toma!

E de economia. O PS chega a este congresso com os indicadores económicos do país feitos num oito. Segundo as mais recentes previsões da União Europeia, Portugal deverá registar neste ano a menor taxa de crescimento (2,6 por cento) e a maior taxa de inflação (3,5 por cento) desde que Guterres chegou ao poder, em 1995. Por Pina Moura se ter enganado nas previsões feitas no início do ano, as duas centrais sindicais “exigem” – o termo é delas – que o Governo proceda a um aumento salarial extraordinário. Está de volta o clima de contestação.

F de federações. Guterres fala de renovação, mas nas suas estruturas distritais está algum do pessoal político há mais tempo em funções. José Mota, em Aveiro, Narciso Miranda, no Porto, Rui Solheiro, em Viana do Castelo, José Augusto Carvalho, no Oeste, estão nos cargos há mais de oito anos. E o peso das federações é notório. Na lista para a Comissão Nacional, dois terços dos nomes foram indicados pelos dirigentes distritais.

G de Guterres, António. Chega ao congresso com o objectivo de inaugurar o novo ciclo que prometeu no comício da “rentrée” do ano passado. Mas ninguém o descortinou. Está bem, ou, como diz Coelho: “Agora casou-se, isso é muito importante, cada um de nós deve sentir-se o melhor pessoalmente para dar tudo o que tem.” Na campanha para a sua reeleição, demonstrou algum enfado no contacto com os militantes. A sua moção recupera praticamente todos os temas da anterior. Que mais terá para lhes dizer em ano de eleições?

H de herdeiros. Com Guterres eleito para um novo biénio, a sucessão do secretário-geral ainda não se coloca. Mas a atenção concentra-se já em Ferro Rodrigues, José Sócrates, António Costa, António Vitorino, João Soares e Jorge Coelho – os nomes mais falados para o cargo quando Guterres sair. Tudo o que disserem e fizerem neste congresso não deixará de ser interpretado à luz do cenário da sucessão.

I de Igreja, a Católica. A última grande rebelião socialista aconteceu há pouco mais de uma semana: no Parlamento, 24 deputados recusaram alinhar pela direcção nacional na lei da liberdade religiosa. O caso, que nos últimos meses pôs a hierarquia católica a produzir ameaças mais ou menos veladas, começou no próprio PS quando Jorge Lacão e António Reis tentaram que a nova lei se aplicasse também à Igreja Católica. O PS mais jacobino nunca viveu bem com o católico Guterres. Agora, já expressa o seu descontentamento maciço na véspera do congresso.

J de JS. Ainda existe? “Procura-se organização de juventude vocacionada para discutir os problemas dos jovens e apresentar soluções, jovens, para o país”... O anúncio bem poderia sair assim no “Acção Socialista”. Jamila Madeira não conseguiu sarar as feridas do congresso em que foi eleita. E a sua adversária, Ana Catarina Mendes, tem tido maior protagonismo, ao garantir a aprovação parlamentar das uniões de facto homossexuais, do que a própria líder. Sinal do desconforto, Guterres ignorou os jovens “rosa” na preparação da famosa renovação.

L de Limiano. Até meados de Novembro há-de ser assim: o Governo a dramatizar a aprovação do Orçamento do Estado para 2002, reclamando que tem de ser a oposição a colaborar, e os outros partidos a assobiarem para o lado. Com as sondagens a darem o PS ainda confortavelmente à frente, muitos socialistas encaram com satisfação o cenário de eleições antecipadas. Vai ser o filme do costume. Mas com uma certeza: não há condições para outro produtor queijeiro voltar a abster-se, viabilizando o OE. Vem aí novo Orçamento com o PSD-Madeira?

M de “Marretas”. Foi um dos temas mais falados durante o pré-congresso. Guterres disse em Faro não querer que a política portuguesa “venha a transformar-se num diálogo dos ‘Marretas’”. Apostado na renovação, o secretário-geral quer pôr na direcção do partido as gerações que a Revolução “decapitou”. As expectativas são muitas. Tanto mais que um dos teóricos da renovação, Vitalino Canas, que propõe a realização de clubes de política, já admite a limitação dos mandatos.

N de novo, novo ciclo. Sob o lema “Uma aposta de futuro”, Guterres chega a este congresso apostado em anunciar que agora é que vai ser. Cinco anos e meio depois de ter ancorado em São Bento, as dúvidas sobre a sua concretização são muitas. O líder “rosa” promete reformas na área da Saúde e na administração pública. Além de querer diminuir a idade de voto para os 16 anos. O partido precisa também de um novo ânimo.

O de “Ó pá, António!” Ao tomar posse, Jorge Sampaio anunciou para este segundo mandato uma nova magistratura, a de iniciativa. Logo houve quem dissesse que seria o fim, que o verniz estalaria nas relações entre Belém e São Bento. Mas, até agora, as duas instituições têm convivido razoavelmente bem. E uma das últimas coisas que Sampaio deve querer é chamar Guterres a Belém e dizer-lhe: “Ó pá, António, não pode ser!” Ainda assim, Sampaio parece particularmente atento em matérias de Justiça, Saúde e Defesa.

P de penetras. Vicente Jorge Silva, ex-director do “Público”, e Carlos Magno, jornalista, director da futura NTV - canal televisivo do Porto -, são dois dos nomes mais mediáticos que vão participar nas “Conferências do Congresso”, que se realizam hoje à noite. Vicente está a ser falado para assumir a candidatura por toda a oposição à câmara do Funchal. Magno, entre comentários no “DN” e entrevistas na TSF, está a construir a sua TV, recorrendo até a Guterres para ir dar aulas aos seus futuros jornalistas. Vão falar sobre “Democracia e Novos Poderes”. Mas há outros.

Q de questões, fracturantes. A moção de Helena Roseta, ao lado de Sérgio Sousa Pinto, trá-las de novo para o debate. E de um modo muito simples: ao propor que o congresso mandate o grupo parlamentar para discutir, quando for caso disso, o alargamento das situações em que não é considerado crime a interrupção voluntária da gravidez. Pelas reacções de Coelho, Fausto Correia e companhia, percebeu-se que o tema é bastante incómodo para a direcção socialista. Pela forma como foi apresentada a moção, houve logo quem considerasse que era ali que estava a verdadeira oposição a Guterres neste congresso. Não deve deixar de se contabilizar os votos que obtiver no domingo...

R de remodelação. O primeiro-ministro tem sido pressionado, e muito, para mexer na sua equipa governamental. Pina Moura e Manuela Arcanjo têm sido os bombos da festa. Ao congresso chega até uma moção crítica sobre o estado da Saúde. Mas Guterres não tem por hábito remodelar sob pressão. Sobretudo quando se sucedem os apelos nesse sentido. A força do aparelho é, porém, como se sabe, muita. Até quando, o chefe do Executivo poderá mantê-los a seu lado?

S de Soares, Mário. No círculo que apoia o líder é apontado como um dos principais opositores a António Guterres. Que tem a sua rede de influência montada e activa. Publicamente, o eurodeputado socialista pouco ou nada diz. Mas os que são próximos do ex-chefe de Estado, volta, não volta, falam da necessidade de o velho fundador promover a realização de um congresso que discuta os verdadeiros problemas do futuro do país.

T de Tino, de Rans. “Marciano” assumido, vai representar o seu próprio papel durante três dias. As câmaras de televisão, e da própria SIC – que muito o tem insuflado –, vão querer saber o que pensa sobre o “Novo Ciclo” e as suas apostas para o futuro. Imperdível. Sobretudo para quem ficar em casa a ver pela TV. Para desgosto de alguns dirigentes nacionais, foi eleito delegado pela secção de Penafiel. Será um dos renovadores? O próprio promete um discurso de “arransar”, para “acordar quem muito dorme”.

U de umbigo. O PS tem perdido muito tempo a tratar de si mesmo. E de problemas que pouco dizem aos portugueses. A crítica é de Jorge Coelho: “Olhem para o que se está a discutir e vejam se são questões de fundo para o interesse dos portugueses: pílula do dia seguinte, uniões de facto, paridade.” Este congresso pretende ser o da mudança. Mas Roseta recuperou o aborto, Carlos Zorrinho e Vitalino Canas uma nova organização para o partido, e Guterres fez da renovação o grande tema prévio... O umbigo é grande, é!

V de vitória, nas autárquicas. O resultado nas eleições deste ano é determinante para o futuro dos socialistas. Nas duas principais cidades do país, os socialistas jogam combates muito fortes pela manutenção no poder. A vitória de Fernando Gomes sobre Rui Rio é fortemente admitida. Mas o embate na capital (entre Pedro Santana Lopes e João Soares) é imprevisível. E se, em Novembro, o Orçamento for chumbado pela oposição? Um mês depois, não serão os socialistas os grandes beneficiários com a dramatização?

X de xeque. António Guterres tem uma prova de fogo neste congresso. Precisa de mobilizar o partido para as autárquicas, induzir que vem aí um novo ciclo e mostrar que conseguiu fazer a renovação. Depois de ter falado contra os “marretas”, as expectativas estão muito altas. Se a renovação for apenas minimal, Guterres corre o risco de sair do Pavilhão Atlântico com uma “vitorinha” no bolso. Imagine-se as manchetes de segunda-feira...

Z de zurzir. É o que tem feito Manuel Maria Carrilho desde que saiu do Governo. O filósofo, agora também deputado, tem sido uma das vozes mais críticas à actuação de António Guterres. Tem a enorme virtude de ser quase sempre o primeiro: a exigir a remodelação governamental, a chamar a atenção para a inexistência de reformas, a sugerir novos rumos. Terá também os holofotes em cima.

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