EXPRESSO: País

02-06-2001
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À vontade do chefe Guterres vetou as revoluções de Coelho no PS. A liderança, afinal, não é bem bicéfala Ana Baião Jorge Coelho: ao contrário do que o «número dois» de Guterres exigia, a Permanente do PS «engordou» ATESE da liderança bicéfala, segundo a qual António Guterres delegaria a condução do PS a Jorge Coelho reservando-se mais para a coordenação do Governo, foi esta semana claramente negada pelo secretário-geral do partido. Guterres opôs-se à reestruturação imediata dos órgãos directivos do partido - nomeadamente à redução do Secretariado e da Comissão Permanente -, que Coelho chegou a colocar como condição para assumir, depois de sair do Governo, o leme partidário. ATESE da liderança bicéfala, segundo a qual António Guterres delegaria a condução do PS a Jorge Coelho reservando-se mais para a coordenação do Governo, foi esta semana claramente negada pelo secretário-geral do partido. Guterres opôs-se à reestruturação imediata dos órgãos directivos do partido - nomeadamente à redução do Secretariado e da Comissão Permanente -, que Coelho chegou a colocar como condição para assumir, depois de sair do Governo, o leme partidário. E, embora as relações entre ambos continuem «à prova de bala», é indisfarçável o desconsolo nas hostes do número dois socialista pelo facto do «Jorge» não ter, afinal, conseguido fazer vingar a revolução anunciada. Bicéfalo, sim refém, não Fontes próximas de Guterres sublinham a falta de lucidez de quem alimentou falsas expectativas e garantem que não foi inocente a frase do secretário-geral no último Congresso, quando avisou ter recuperado «o bichinho da organização». Se conta com o regresso em força de Jorge Coelho ao partido, Guterres não está disposto a ficar refém nem dele nem de ninguém. E a prova disso é a forma como contrariou a pressa para alterar a orgânica do partido. A criação de um verdadeiro executivo partidário que permitisse, de forma eficaz e expedita, reanimar o PS profundo para o urgente combate de reconquista da popularidade perdida, era a principal aposta de Coelho. Que recusou o cargo de secretário-geral-adjunto, mas fez saber que só aceitaria assumir as rédeas do partido se o deixassem reunir condições para mobilizar os militantes, dando-lhes espaço para, nalguns casos, pressionarem mesmo os ministros. A exclusão dos membros do Governo da Comissão Permanente, onde, por óbvias razões de agenda, são pouco assíduos, foi uma das alterações que esteve em cima da mesa. Mas que acabou por cair. Ferro Rodrigues e Pina Moura contestaram-na, alertando que dela adviriam «leituras políticas fracturantes» contrárias à unidade interna. E Guterres aproveitou o barulho de fundo para travar a questão, agora adiada para a revisão estatutária decidida em Congresso. Resta saber se, até lá, Guterres e Coelho chegam ou não a acordo quanto à limpeza a operar, sendo certo que alguns dos dirigentes que o primeiro mais ouve consideram de alto risco restringir a Permanente a figuras do aparelho, argumentando que «a primeira vantagem da participação dos ministros, mesmo que escassa, é dar (à Permanente) maior densidade política e evitar que ela se transforme numa entidade meramente aparelhística». Para já, em vez de encolher, a Permanente ganhou mais dois elementos (Rui Solheiro e Ana Benavente). E, no final da reunião do Secretariado que tomou a decisão, José Lamego assumiu a impotência para mudar, lembrando que meio mundo passa a vida a prometer emagrecer... sem nunca o conseguir. Guterres, ele próprio, começa a ser apontado por alguns como o principal obstáculo à mudança. Mas o facto de todos o reconhecerem como único verdadeiro trunfo do Governo e do partido impede que daí advenham, para já, consequências de maior. Enquanto espera, Jorge Coelho aposta, para já, no Gabinete de Estudos que está a reanimar no partido. E para o qual está a convidar críticos da governação como Carrilho ou Vasco Vieira de Almeida. «Tudo isto é para ter consequências», promete.

ÂNGELA SILVA

O homem que não negociou com Campelo QUANDO levou o filho pela primeira vez à freguesia de Castro Laboreiro - no concelho de Melgaço, onde é presidente da Câmara -, Rui Solheiro disse-lhe que aquele local era maior que Lisboa. O filho achou estranho, mas repetiu a informação na escola. A professora desmentiu-o rapidamente e o filho de Rui Solheiro teve de esperar para, em casa, o pai lhe explicar que Lisboa tem uma área de 80 quilómetros quadrados, enquanto Castro Laboreiro ocupa 100 quilómetros quadrados. Esta lógica de relatividade é a mesma que Rui Solheiro invoca quando lhe perguntam se a sua vida de autarca ficou muito complicada desde que Jorge Coelho o convidou para o círculo mais íntimo do poder socialista - a Comissão Permanente - obrigando-o a deslocações frequentes entre Melgaço (no noroeste do país) e Lisboa. O convite de Jorge Coelho não apanhou de surpresa este militante de 47 anos, que em 1974 ingressou no PS, é líder da Distrital de Viana e já vai no seu quinto mandato à frente da Câmara de Melgaço. «Não podia recusar o convite de um militante que tem mostrado tanta disponibilidade para o partido», argumenta Rui Solheiro, que revela o mesmo entusiasmo a pronunciar o nome de Coelho como a dizer que Guterres foi o melhor secretário-geral que o PS alguma vez teve. Mas Rui Solheiro recusa que esta chamada para o Secretariado e para a Permanente tenha alguma coisa a ver com o caso Campelo: «Só tive conhecimento da decisão de Daniel Campelo pelos deputados socialistas de Viana». E acrescenta que não acredita que tenha havido um negócio por detrás do voto do deputado popular e presidente da Câmara de Ponte de Lima que permitiu a aprovação do Orçamento de 2001. Por essa mesma razão, Solheiro não admite a hipótese de Campelo ser candidato pelo PS nas próximas autárquicas, caso seja rejeitado pelo PP. Mas as preocupações de Solheiro estão agora dirigidas para o futuro do PS - que ele pensa estar a iniciar um novo ciclo - e para a sua reeleição na autarquia onde detém uma esmagadora maioria. A mesma maioria que adivinha para o PS em termos nacionais nas próximas autárquicas.

RICARDO JORGE PINTO

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À vontade do chefe

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À vontade do chefe Guterres vetou as revoluções de Coelho no PS. A liderança, afinal, não é bem bicéfala Ana Baião Jorge Coelho: ao contrário do que o «número dois» de Guterres exigia, a Permanente do PS «engordou» ATESE da liderança bicéfala, segundo a qual António Guterres delegaria a condução do PS a Jorge Coelho reservando-se mais para a coordenação do Governo, foi esta semana claramente negada pelo secretário-geral do partido. Guterres opôs-se à reestruturação imediata dos órgãos directivos do partido - nomeadamente à redução do Secretariado e da Comissão Permanente -, que Coelho chegou a colocar como condição para assumir, depois de sair do Governo, o leme partidário. ATESE da liderança bicéfala, segundo a qual António Guterres delegaria a condução do PS a Jorge Coelho reservando-se mais para a coordenação do Governo, foi esta semana claramente negada pelo secretário-geral do partido. Guterres opôs-se à reestruturação imediata dos órgãos directivos do partido - nomeadamente à redução do Secretariado e da Comissão Permanente -, que Coelho chegou a colocar como condição para assumir, depois de sair do Governo, o leme partidário. E, embora as relações entre ambos continuem «à prova de bala», é indisfarçável o desconsolo nas hostes do número dois socialista pelo facto do «Jorge» não ter, afinal, conseguido fazer vingar a revolução anunciada. Bicéfalo, sim refém, não Fontes próximas de Guterres sublinham a falta de lucidez de quem alimentou falsas expectativas e garantem que não foi inocente a frase do secretário-geral no último Congresso, quando avisou ter recuperado «o bichinho da organização». Se conta com o regresso em força de Jorge Coelho ao partido, Guterres não está disposto a ficar refém nem dele nem de ninguém. E a prova disso é a forma como contrariou a pressa para alterar a orgânica do partido. A criação de um verdadeiro executivo partidário que permitisse, de forma eficaz e expedita, reanimar o PS profundo para o urgente combate de reconquista da popularidade perdida, era a principal aposta de Coelho. Que recusou o cargo de secretário-geral-adjunto, mas fez saber que só aceitaria assumir as rédeas do partido se o deixassem reunir condições para mobilizar os militantes, dando-lhes espaço para, nalguns casos, pressionarem mesmo os ministros. A exclusão dos membros do Governo da Comissão Permanente, onde, por óbvias razões de agenda, são pouco assíduos, foi uma das alterações que esteve em cima da mesa. Mas que acabou por cair. Ferro Rodrigues e Pina Moura contestaram-na, alertando que dela adviriam «leituras políticas fracturantes» contrárias à unidade interna. E Guterres aproveitou o barulho de fundo para travar a questão, agora adiada para a revisão estatutária decidida em Congresso. Resta saber se, até lá, Guterres e Coelho chegam ou não a acordo quanto à limpeza a operar, sendo certo que alguns dos dirigentes que o primeiro mais ouve consideram de alto risco restringir a Permanente a figuras do aparelho, argumentando que «a primeira vantagem da participação dos ministros, mesmo que escassa, é dar (à Permanente) maior densidade política e evitar que ela se transforme numa entidade meramente aparelhística». Para já, em vez de encolher, a Permanente ganhou mais dois elementos (Rui Solheiro e Ana Benavente). E, no final da reunião do Secretariado que tomou a decisão, José Lamego assumiu a impotência para mudar, lembrando que meio mundo passa a vida a prometer emagrecer... sem nunca o conseguir. Guterres, ele próprio, começa a ser apontado por alguns como o principal obstáculo à mudança. Mas o facto de todos o reconhecerem como único verdadeiro trunfo do Governo e do partido impede que daí advenham, para já, consequências de maior. Enquanto espera, Jorge Coelho aposta, para já, no Gabinete de Estudos que está a reanimar no partido. E para o qual está a convidar críticos da governação como Carrilho ou Vasco Vieira de Almeida. «Tudo isto é para ter consequências», promete.

ÂNGELA SILVA

O homem que não negociou com Campelo QUANDO levou o filho pela primeira vez à freguesia de Castro Laboreiro - no concelho de Melgaço, onde é presidente da Câmara -, Rui Solheiro disse-lhe que aquele local era maior que Lisboa. O filho achou estranho, mas repetiu a informação na escola. A professora desmentiu-o rapidamente e o filho de Rui Solheiro teve de esperar para, em casa, o pai lhe explicar que Lisboa tem uma área de 80 quilómetros quadrados, enquanto Castro Laboreiro ocupa 100 quilómetros quadrados. Esta lógica de relatividade é a mesma que Rui Solheiro invoca quando lhe perguntam se a sua vida de autarca ficou muito complicada desde que Jorge Coelho o convidou para o círculo mais íntimo do poder socialista - a Comissão Permanente - obrigando-o a deslocações frequentes entre Melgaço (no noroeste do país) e Lisboa. O convite de Jorge Coelho não apanhou de surpresa este militante de 47 anos, que em 1974 ingressou no PS, é líder da Distrital de Viana e já vai no seu quinto mandato à frente da Câmara de Melgaço. «Não podia recusar o convite de um militante que tem mostrado tanta disponibilidade para o partido», argumenta Rui Solheiro, que revela o mesmo entusiasmo a pronunciar o nome de Coelho como a dizer que Guterres foi o melhor secretário-geral que o PS alguma vez teve. Mas Rui Solheiro recusa que esta chamada para o Secretariado e para a Permanente tenha alguma coisa a ver com o caso Campelo: «Só tive conhecimento da decisão de Daniel Campelo pelos deputados socialistas de Viana». E acrescenta que não acredita que tenha havido um negócio por detrás do voto do deputado popular e presidente da Câmara de Ponte de Lima que permitiu a aprovação do Orçamento de 2001. Por essa mesma razão, Solheiro não admite a hipótese de Campelo ser candidato pelo PS nas próximas autárquicas, caso seja rejeitado pelo PP. Mas as preocupações de Solheiro estão agora dirigidas para o futuro do PS - que ele pensa estar a iniciar um novo ciclo - e para a sua reeleição na autarquia onde detém uma esmagadora maioria. A mesma maioria que adivinha para o PS em termos nacionais nas próximas autárquicas.

RICARDO JORGE PINTO

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