O povo contra as sondagens

22-12-2001
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Medialogias

O Povo Contra as Sondagens

Por MÁRIO MESQUITA

Sábado, 22 de Dezembro de 2001 Se o PS, o PCP, o PP e o Bloco de Esquerda foram vencidos, sem lugar para sofismas, nas eleições autárquicas, as sondagens de opinião (ou, pelo menos, certos inquéritos de empresas especializadas) encontram-se entre os principais derrotados. Estive a reler, com renovado espanto, a primeira página do "Expresso", com a data de 14 de Dezembro de 2001, antevéspera das eleições (provavelmente antedatado, com vista a contornar a legislação em vigor). A "manchete" era sensata e acertou no alvo: "PSD deve ganhar maioria"). Ao alto, acima do cabeçalho, os resultados de sondagens, atribuídas à Euroexpansão, em que avultava a de Lisboa, com a atribuição de 41 por cento das intenções de voto a João Soares e 31 por cento a Santana Lopes. A primeira página, aliás, bem concebida no plano gráfico, constava de um mapa de Portugal, onde o jornal registava diversas previsões que falharam rotundamente. No Porto, por exemplo, Fernando Gomes era dado como vencedor antecipado: "De regresso ao Porto, Gomes vai averbar uma vitória folgada. Ainda não é desta que o PSD recupera a capital do Norte". Em Sintra: "Apesar de ter passado por um susto, Edite mantém Sintra; mas pode perder a maioria absoluta". Em Évora: "...o enigma durou até ao fim mas Abílio resistiu". Em Faro: "Coelho começou a campanha folgado, perdeu terreno, mas ainda vai vencer". Os tempo verbais utilizados são sintomáticos e categóricos. Apresentam as previsões (quase) como factos consumados. Li com especial surpresa as previsões de Lisboa. Noutros casos não me considerava suficientemente informado para me abalizar a prognósticos, mas, no que se refere à capital, as informações que possuía eram bastante preocupantes para os apoiantes da coligação Amar Lisboa e os muito (empíricos) inquéritos de rua a que procedi pela cidade, em táxis, cafés e paragens de metropolitano, movido apenas pela curiosidade, não auguravam nada de bom para o meu amigo João Soares. A diferença de dez pontos na primeira página do "Expresso" parecia-me uma coisa do outro mundo. Interrogava-me sobre os seus possíveis efeitos. Beneficiaria a esquerda? Desmobilizaria a "onda laranja" que se pressentia em Lisboa? Deixaria mais à vontade o (potencial) eleitorado do Bloco de Esquerda para votar Miguel Portas? Não era fácil prever. Mas a primeira página do "Expresso" deixou-me muito intrigado, mesmo sem quaisquer elementos que me permitissem questionar a idoneidade da sondagem, cujo trabalho de campo foi efectuado, segundo a ficha técnica (página 4), entre 8 e 12 de Dezembro. Muito menos ousaria duvidar da seriedade do jornal. O editorial do director, José António Saraiva, constituía, aliás, uma previsão à "contre-coeur" da vitória de João Soares, subscrita por quem elogiava, em simultâneo a campanha do PSD na capital: "(...) Santana Lopes, pela primeira vez, transmitiu a impressão de que cresceu, amadureceu e pode finalmente ter uma carreira política nacional." O "Expresso" é aqui citado apenas a título exemplificativo (e não como "bode expiatório" do conjunto da comunicação social): muitos (se não quase todos) jornais, rádios e televisões embarcaram em previsões erróneas com base em sondagens que se reivindicam de metodologias científicas. Talvez todas esses inquéritos tenham sido efectuadas com a necessária competência e idoneidade, embora certas discrepâncias nos levem, por vezes, a suspeitar (Deus me perdoe...) se não estaremos, nalguns casos, perante ciência infusa. ou mesmo infusão por encomenda. A explicação dada é quase sempre a mesma: a sondagem é o "retrato" do momento em que foi efectuada. A situação pode evoluir com o decorrer do tempo. A própria divulgação dos resultados dos inquéritos de opinião pode causar mudanças de atitude do eleitorado. Outros dirão que o descrédito em que as sondagens progressivamente caíram nos últimos anos - e não só em Portugal - provoca um cepticismo profundo nas pessoas em relação a essa forma (imperfeita) de avaliação do estado da opinião. O que prejudicaria o famoso efeito de "band-wagon", ou seja, a tendência dos eleitores para se atrelarem ao "carro" do vencedor... Certos institutos de sondagens "perderam as autárquicas". Impõe-se que, nestas circunstâncias, se expliquem e se interroguem, o que não dispensa os jornalistas de se questionarem sobre a forma como se dedicam a cavalgar, sem reservas, a onda das sondagens. Rui Rio, Santana Lopes e Fernando Seara venceram as eleições contra os seus adversários políticos e, também, contra as previsões ditas "científicas". Mais importante: eleitorado mostrou que "está vivo". O "povão" não vai em conversa de sondagens quando sente vontade de mudar. OUTROS TÍTULOS EM MEDIA Investimento publicitário regressou ao nível de 1999

Alta Autoridade duvida da sustentabilidade de empresa da RTP para o multimédia

Restrições para jornais gratuitos em Madrid

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Cinema em casa

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CRÓNICA

O povo contra as sondagens

BREVES

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TELECORREIO

A NTV contra a "inveja" lisboeta

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