EXPRESSO: País

19-02-2002
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Nova zaragata no PSD

A questão da liderança volta à agenda do partido e a distrital do Porto entra em «crise»

João Carlos Santos Luís Filipe Menezes com Guilherme Silva: o líder do PSD/Porto ficou isolado nos ataques a Durão

DURÃO Barroso ée Luís Filipe Menezes devia fazere atacar mais o PS no Porto. As frases (a primeira proferida por Menezes e a segunda por Pedro Santana Lopes) sintetizam o que se passou no Conselho Nacional do PSD, na quinta-feira: Durão Barroso viu a sua liderança novamente questionada na praça pública, enquanto o PSD-Porto reabriu a crise interna, com forte contestação a Luís Filipe Menezes, a quem se condena a forma desastrada como geriu o processo de candidatura à Câmara do Porto.

O Conselho Nacional tinha agendada a análise do processo de candidaturas às autárquicas. E há muito que membros da direcção nacional se queixavam de que «só o Porto» estava a criar «problemas», inclusivamente com «insultos» públicos ao secretário-geral, José Luís Arnaut, e que o partido tinha de saber que a responsabilidade é do presidente da distrital portuense, Luís Filipe Menezes. Por seu turno, este realizara uma votação na distrital, na véspera do Conselho Nacional, sobre a candidatura de Rui Rio à Câmara do Porto - e os resultados (13 a favor, quatro contra, oito abstenções e um voto branco), bem como a sua divulgação aos jornalistas, irritaram a direcção nacional, que considerou que tal acontecera de propósito para afectar a candidatura de Rio.

Imediatamente antes do Conselho Nacional, Barroso reuniu a Comissão Política nacional, cujos membros foram confrontados com um pedido de «solidariedade» para com José Luís Arnaut, por ter sido «insultado» por Bernardino Vasconcelos (o actual presidente da comissão instaladora do concelho da Trofa, que Menezes defende para candidato à presidência da Câmara, mas que a direcção nacional preteriu, escolhendo antes João Sá, membro da Comissão Política nacional). E os membros da Comissão Política acederam ao pedido de solidariedade - à excepção de António Capucho, que se escusou a pronunciar-se, alegando estar naquele órgão apenas por inerência, enquanto líder parlamentar.

Trofa, o concelho da discórdia

Na intervenção de abertura do Conselho Nacional, Barroso fez um balanço positivo do processo de escolha dos candidatos às autárquicas. O líder do PSD considerou ainda haver uma onda de «entusiasmo» no partido, que aliás tem subido progressivamente nas sondagens, enquanto o PS está em crise. No entanto, salientou que persistem dois problemas: o Porto e a Trofa (uma das maiores secções do PSD e de maior peso na eleição de delegados ao Congresso, e em que as eleições que atribuíram a liderança a João Sá foram impugnadas por Bernardino Vasconcelos, estando o caso a ser analisado pelo Conselho de Jurisdição Nacional). Em relação ao Porto, Barroso colocou a questão em termos de autoridade: referiu não poder tolerar que tivesse sido feita e divulgada uma votação, apenas para «prejudicar» a candidatura de Rui Rio, apoiada pela sua direcção.

Menezes respondeu de imediato: disse que em matéria de eleições só ele podia «falar com autoridade»; que «o único entusiasmo que se vê no PSD é com a candidatura de Santana Lopes em Lisboa». Quanto a Rui Rio, lembrou que se limitou a cumprir os estatutos do PSD e que não tinha culpa, pois o voto fora secreto. Em relação à Trofa, considerou «lamentável», pois, acusou, o próprio Durão Barroso tinha agendada já uma reunião com João Sá e Bernardino Vasconcelos, na tentativa de pacificar as respectivas posições e chegar a um entendimento.

Neste ponto, Menezes rematou: «Não acho que a situação do PSD seja assim tão boa. Se subimos nas sondagens é mais porque o PS está em desgraça. O senhor é um líder frouxo e sem carisma: até pode chegar a primeiro-ministro, mas será por demérito do adversário». Numa intervenção igualmente violenta, Barroso lançou então o repto a Menezes para que lhe disputasse a liderança num próximo congresso.

Entretanto, Menezes saiu do Conselho Nacional e, aos jornalistas, contou as acusações que fizera e disse que só avançaria para a disputa da liderança se outras figuras (como Santana Lopes, Marcelo Rebelo de Sousa e Marques Mendes) não o fizessem.

Lá dentro, nenhum membro do Conselho Nacional apoiou Menezes. No fundo, as críticas à liderança até são admitidas, mas o partido não tem visto com bons olhos a forma como Menezes gere os problemas na sua distrital, acusando-o, em particular, de «boicotar» a escolha de um bom candidato à Câmara do Porto. Valentim Loureiro, adversário de Menezes, disse isso mesmo: afirmou que Menezes quer ser ele o presidente da Câmara do Porto, mas tem medo de se candidatar, e que, não sendo ele, não quer que mais ninguém dispute a câmara a Fernando Gomes. Por seu turno, Santana, frisando mais uma vez a necessidade de união no partido durante as autárquicas e o apoio a Barroso, afirmou que Menezes devia preocupar-se mais em desmontar a acção do PS e «fazer menos almoços com Fernando Gomes».

Já ontem, Alberto João Jardim, presidente do PSD-Madeira, veio considerar as declarações de Menezes «absolutamente inoportunas e totalmente imprudentes». «Não é altura de discutir o líder do partido e muito menos de discutir na praça pública», salientou. Entretanto, Valentim Loureiro anunciou que vai convocar na próxima semana um assembleia distrital do PSD-Porto, para discutir a actuação de Menezes. Em resposta, 15 das 18 concelhias da distrital anunciaram a realização de um jantar de apoio político a Menezes.

Nova zaragata no PSD

A questão da liderança volta à agenda do partido e a distrital do Porto entra em «crise»

João Carlos Santos Luís Filipe Menezes com Guilherme Silva: o líder do PSD/Porto ficou isolado nos ataques a Durão

DURÃO Barroso ée Luís Filipe Menezes devia fazere atacar mais o PS no Porto. As frases (a primeira proferida por Menezes e a segunda por Pedro Santana Lopes) sintetizam o que se passou no Conselho Nacional do PSD, na quinta-feira: Durão Barroso viu a sua liderança novamente questionada na praça pública, enquanto o PSD-Porto reabriu a crise interna, com forte contestação a Luís Filipe Menezes, a quem se condena a forma desastrada como geriu o processo de candidatura à Câmara do Porto.

O Conselho Nacional tinha agendada a análise do processo de candidaturas às autárquicas. E há muito que membros da direcção nacional se queixavam de que «só o Porto» estava a criar «problemas», inclusivamente com «insultos» públicos ao secretário-geral, José Luís Arnaut, e que o partido tinha de saber que a responsabilidade é do presidente da distrital portuense, Luís Filipe Menezes. Por seu turno, este realizara uma votação na distrital, na véspera do Conselho Nacional, sobre a candidatura de Rui Rio à Câmara do Porto - e os resultados (13 a favor, quatro contra, oito abstenções e um voto branco), bem como a sua divulgação aos jornalistas, irritaram a direcção nacional, que considerou que tal acontecera de propósito para afectar a candidatura de Rio.

Imediatamente antes do Conselho Nacional, Barroso reuniu a Comissão Política nacional, cujos membros foram confrontados com um pedido de «solidariedade» para com José Luís Arnaut, por ter sido «insultado» por Bernardino Vasconcelos (o actual presidente da comissão instaladora do concelho da Trofa, que Menezes defende para candidato à presidência da Câmara, mas que a direcção nacional preteriu, escolhendo antes João Sá, membro da Comissão Política nacional). E os membros da Comissão Política acederam ao pedido de solidariedade - à excepção de António Capucho, que se escusou a pronunciar-se, alegando estar naquele órgão apenas por inerência, enquanto líder parlamentar.

Trofa, o concelho da discórdia

Na intervenção de abertura do Conselho Nacional, Barroso fez um balanço positivo do processo de escolha dos candidatos às autárquicas. O líder do PSD considerou ainda haver uma onda de «entusiasmo» no partido, que aliás tem subido progressivamente nas sondagens, enquanto o PS está em crise. No entanto, salientou que persistem dois problemas: o Porto e a Trofa (uma das maiores secções do PSD e de maior peso na eleição de delegados ao Congresso, e em que as eleições que atribuíram a liderança a João Sá foram impugnadas por Bernardino Vasconcelos, estando o caso a ser analisado pelo Conselho de Jurisdição Nacional). Em relação ao Porto, Barroso colocou a questão em termos de autoridade: referiu não poder tolerar que tivesse sido feita e divulgada uma votação, apenas para «prejudicar» a candidatura de Rui Rio, apoiada pela sua direcção.

Menezes respondeu de imediato: disse que em matéria de eleições só ele podia «falar com autoridade»; que «o único entusiasmo que se vê no PSD é com a candidatura de Santana Lopes em Lisboa». Quanto a Rui Rio, lembrou que se limitou a cumprir os estatutos do PSD e que não tinha culpa, pois o voto fora secreto. Em relação à Trofa, considerou «lamentável», pois, acusou, o próprio Durão Barroso tinha agendada já uma reunião com João Sá e Bernardino Vasconcelos, na tentativa de pacificar as respectivas posições e chegar a um entendimento.

Neste ponto, Menezes rematou: «Não acho que a situação do PSD seja assim tão boa. Se subimos nas sondagens é mais porque o PS está em desgraça. O senhor é um líder frouxo e sem carisma: até pode chegar a primeiro-ministro, mas será por demérito do adversário». Numa intervenção igualmente violenta, Barroso lançou então o repto a Menezes para que lhe disputasse a liderança num próximo congresso.

Entretanto, Menezes saiu do Conselho Nacional e, aos jornalistas, contou as acusações que fizera e disse que só avançaria para a disputa da liderança se outras figuras (como Santana Lopes, Marcelo Rebelo de Sousa e Marques Mendes) não o fizessem.

Lá dentro, nenhum membro do Conselho Nacional apoiou Menezes. No fundo, as críticas à liderança até são admitidas, mas o partido não tem visto com bons olhos a forma como Menezes gere os problemas na sua distrital, acusando-o, em particular, de «boicotar» a escolha de um bom candidato à Câmara do Porto. Valentim Loureiro, adversário de Menezes, disse isso mesmo: afirmou que Menezes quer ser ele o presidente da Câmara do Porto, mas tem medo de se candidatar, e que, não sendo ele, não quer que mais ninguém dispute a câmara a Fernando Gomes. Por seu turno, Santana, frisando mais uma vez a necessidade de união no partido durante as autárquicas e o apoio a Barroso, afirmou que Menezes devia preocupar-se mais em desmontar a acção do PS e «fazer menos almoços com Fernando Gomes».

Já ontem, Alberto João Jardim, presidente do PSD-Madeira, veio considerar as declarações de Menezes «absolutamente inoportunas e totalmente imprudentes». «Não é altura de discutir o líder do partido e muito menos de discutir na praça pública», salientou. Entretanto, Valentim Loureiro anunciou que vai convocar na próxima semana um assembleia distrital do PSD-Porto, para discutir a actuação de Menezes. Em resposta, 15 das 18 concelhias da distrital anunciaram a realização de um jantar de apoio político a Menezes.

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