Sábado, 19 de Maio de 2001
O Homem que Sabia a Mar
Ficção
Autor: Armando Silva Carvalho
Editor: Dom Quixote
240 págs., 2200$00
Armando Silva Carvalho será sobretudo um poeta (no ano passado publicou "Lisboas"). Mas também escreve e publica prosa há quase 30 anos. Com título de trocar as voltas ao ouvido, este é o seu mais recente romance. É sobre amores, mortes e outros comércios do mundo, à roda de uma casa de turismo cor-de-rosa. Mas nem tudo é o que parece, como sempre acontece na vida e nos romances: "É bom haver a lua, para alumiar os desastres." Quem diz a lua diz a ficção.
Rostos
Ficção
Autor: Rui Nunes
Editor: Relógio D'Água
120 págs., 1900$00
"Treme, / e há o calor da tremura: o conforto da febre,/ as mãos aconchegam-se debaixo dos braços, nessa casa terminal." Isto pode ser uma descrição do alcance e dos limites da escrita febril de Rui Nunes: o conforto da febre. Uma escrita que não aconchega, senão como experiência "terminal" de leitura. Árdua. Como "a sílica de um sol de ruínas".
Amor e Outras Histórias
Ficção
Autor: André Sant'Anna
Editor: Cotovia
152 págs., 2200$00
Contos para ler como quem ouve música. Tem uma "nota de abertura" bem gostosa. Nela, o autor de "Sexo" (um tema sobre o qual escreve "com uma naturalidade moderníssima") resume sua trajectória. Decepcionado pelo facto de os Rolling Stones não irem convidá-lo para entrar na banda, tornou-se escritor, que é "um negócio muito chato de fazer". Então: "Decidi escrever como se fizesse música, sem esquentar demais a cabeça, procurando me divertir ao máximo, trabalhando o mínimo."
A Expressão dos Afectos
Ficção
Autor: António Mega Ferreira
Editor: Assírio & Alvim
208 págs., 2500$00
Ficções, imaginações, invenções, citações, recriações e outras digressões instáveis nas suas fronteiras. São onze textos, pelos quais e através dos quais algumas coisas parecem ficar mais nítidas: "Apenas porque a escrita funciona como uma lente que apura os contornos e permite compreender os finíssimos laços que os afectos entretecem entre as pessoas."
Trilogia Suja de Havana
Ficção
Autor: Pedro Juan Gutiérrez
Tradutor: Magda Bigotte de Figueiredo
Editor: Dom Quixote
360 págs., 3500$00
Sobre este livro já foi escrita muita coisa elogiosa em Espanha e arredores. Talvez o melhor resumo seja o de Felipe Benitez Reyes: "Uma espécie de Bukowski das Caraíbas ou de Henry Miller de Havana." Isso já vem inscrito naquela "sujidade" que qualifica a trilogia e que começa a tresandar a cliché para exportação. Claro que também já compararam Gutiérrez a Arenas (sem a homossexualidade). Em resumo: os homens são "touros de cobrição" e as mulheres puras fêmeas com cio.
Pêssegos Gelados
Ficção
Autor: Espido Freire
Tradutor: Maria do Carmo Abreu
Editor: Dom Quixote
256 págs., 2800$00
Com este romance a muito jovem Espido Freire (que nasceu em 1974, em Bilbau) arrebatou (é caso para dizê-lo assim) o Prémio Planeta 1999. E, como este prémio é mesmo importante no espaço da língua castelhana, eis o resultado previsível: "Pêssegos Gelados" soma em Espanha cerca de 300 mil exemplares vendidos! É sobre os nomes do esquecimento, com três mulheres que partilham o mesmo nome, e diferentes esquecimentos.
O Ilimitável Oceano
Poesia
Autor: Eugénio Lisboa
Editor: Quasi
76 págs., 1365$00
"Algumas Observações", diz-se em subtítulo neste livro, que contém prólogo, epílogo e "algumas conclusões". No meio, o poeta dispara a sua "máquina de assombros" sobre "os argonautas". Demócrito, por exemplo: "Prefiro entender o que sei/ a poder ser, na Pérsia, rei." Quanto a conclusões: "A vida é o caminho mais curto entre o caos e a noite." Em 70 anos de vida, é o segundo livro de poesia que Eugénio Lisboa publica (coisa mui rara e pouco vista).
O Livro do Anjo
Poesia
Autor: Pompeu Miguel Martins
Editor: Quasi
60 págs., 1365$00
Dois versos iluminam este livro de poemas (e os outros): "Uma frase que reza como se deus estivesse morto/ como se fosse então possível amá-lo para sempre." Pompeu Miguel Martins nasceu em 1969, é sociólogo e professor da Escola Superior de Educação de Fafe. Publica poemas desde 1987, em colectâneas e periódicos vários.
Mulher: Uma Geografia Íntima
Ensaio
Autor: Natalie Angier
Tradutor: Cláudia Müller-Porto
Editor: Gradiva
408 págs., 3500$00
"Este livro é uma celebração do corpo feminino - da sua anatomia, da sua química, da sua evolução e do seu riso", promete Natalie Angier (que escreve no "New York Times" sobre biologia e já ganhou um Prémio Pulitzer). A promessa é cumprida de forma apaixonante e brilhante, não dando descanso a nenhuma das ideias feitas que aparecem sempre que se fala de mulheres e de feminismo. "Como é que pudemos viver sem este livro?", perguntou Fay Weldon. Um livro "para todos aqueles que vivem em ou perto de um corpo feminino".
Sobreviver à Ciência - Uma Certa Ideia do Futuro
Ensaio
Autor: Jean-Jacques Salomon
Tradutor: António Viegas
Editor: Instituto Piaget
364 págs., 4935$00
Apesar do título, o autor sossega-nos dizendo que o seu livro não é um exercício de futurologia. É um exercício de resistência teórica à "tirania do progresso" científico e tecnológico do último século e do presente, em nome do regresso a uma certa ideia de humanismo. Sem a tirania das utopias: "O pessimismo da reflexão, como diziam Valéry e Gramsci, não impede nada o optimismo da acção." Apesar de tudo.
Revista Crítica de Ciências Sociais
Revista
Director: Boaventura de Sousa Santos
Editor: Centro de Estudos Sociais
220 págs., 2500$00
Número 59. Rui Cunha Martins ensaia "uma reinvenção crítica da ideia de fronteira" em "O paradoxo da demarcação emancipatória: a fronteira na era da sua reprodutibilidade icónica"; Sérgio Costa escreve sobre três propostas recentes (Habermas, Beck e os estudos pós-coloniais) de superação do vínculo geográfico e nacional nas ciências sociais; Ana Cristina Santos e Fernando Fontes analisam o modo como o Estado português tem respondido aos "desafios da (homos)sexualidade".
aguasfurtadas
Revista
Director: Rui Lage
Editor: Núcleo de Jornalismo Académico do Porto/Jornal Universitário
128 págs., 2000$00
Terceiro número desta que é "a única revista literária do país editada por uma associação de estudantes do ensino superior". O facto é só curioso: a "aguasfurtadas" vale pelo seu conteúdo, e é o que importa. Assume-se como "espaço de diálogo literário, estético e geracional" (especialmente vocacionado para os não consagrados). Além de inúmeros autores novos, como sejam valter hugo mãe e Pompeu Miguel Martins, publica um pequeno ensaio de Manuel António Pina sobre "Ler e escrever" e outro de Arnaldo Saraiva sobre "O riso português".
Categorias
Entidades
Sábado, 19 de Maio de 2001
O Homem que Sabia a Mar
Ficção
Autor: Armando Silva Carvalho
Editor: Dom Quixote
240 págs., 2200$00
Armando Silva Carvalho será sobretudo um poeta (no ano passado publicou "Lisboas"). Mas também escreve e publica prosa há quase 30 anos. Com título de trocar as voltas ao ouvido, este é o seu mais recente romance. É sobre amores, mortes e outros comércios do mundo, à roda de uma casa de turismo cor-de-rosa. Mas nem tudo é o que parece, como sempre acontece na vida e nos romances: "É bom haver a lua, para alumiar os desastres." Quem diz a lua diz a ficção.
Rostos
Ficção
Autor: Rui Nunes
Editor: Relógio D'Água
120 págs., 1900$00
"Treme, / e há o calor da tremura: o conforto da febre,/ as mãos aconchegam-se debaixo dos braços, nessa casa terminal." Isto pode ser uma descrição do alcance e dos limites da escrita febril de Rui Nunes: o conforto da febre. Uma escrita que não aconchega, senão como experiência "terminal" de leitura. Árdua. Como "a sílica de um sol de ruínas".
Amor e Outras Histórias
Ficção
Autor: André Sant'Anna
Editor: Cotovia
152 págs., 2200$00
Contos para ler como quem ouve música. Tem uma "nota de abertura" bem gostosa. Nela, o autor de "Sexo" (um tema sobre o qual escreve "com uma naturalidade moderníssima") resume sua trajectória. Decepcionado pelo facto de os Rolling Stones não irem convidá-lo para entrar na banda, tornou-se escritor, que é "um negócio muito chato de fazer". Então: "Decidi escrever como se fizesse música, sem esquentar demais a cabeça, procurando me divertir ao máximo, trabalhando o mínimo."
A Expressão dos Afectos
Ficção
Autor: António Mega Ferreira
Editor: Assírio & Alvim
208 págs., 2500$00
Ficções, imaginações, invenções, citações, recriações e outras digressões instáveis nas suas fronteiras. São onze textos, pelos quais e através dos quais algumas coisas parecem ficar mais nítidas: "Apenas porque a escrita funciona como uma lente que apura os contornos e permite compreender os finíssimos laços que os afectos entretecem entre as pessoas."
Trilogia Suja de Havana
Ficção
Autor: Pedro Juan Gutiérrez
Tradutor: Magda Bigotte de Figueiredo
Editor: Dom Quixote
360 págs., 3500$00
Sobre este livro já foi escrita muita coisa elogiosa em Espanha e arredores. Talvez o melhor resumo seja o de Felipe Benitez Reyes: "Uma espécie de Bukowski das Caraíbas ou de Henry Miller de Havana." Isso já vem inscrito naquela "sujidade" que qualifica a trilogia e que começa a tresandar a cliché para exportação. Claro que também já compararam Gutiérrez a Arenas (sem a homossexualidade). Em resumo: os homens são "touros de cobrição" e as mulheres puras fêmeas com cio.
Pêssegos Gelados
Ficção
Autor: Espido Freire
Tradutor: Maria do Carmo Abreu
Editor: Dom Quixote
256 págs., 2800$00
Com este romance a muito jovem Espido Freire (que nasceu em 1974, em Bilbau) arrebatou (é caso para dizê-lo assim) o Prémio Planeta 1999. E, como este prémio é mesmo importante no espaço da língua castelhana, eis o resultado previsível: "Pêssegos Gelados" soma em Espanha cerca de 300 mil exemplares vendidos! É sobre os nomes do esquecimento, com três mulheres que partilham o mesmo nome, e diferentes esquecimentos.
O Ilimitável Oceano
Poesia
Autor: Eugénio Lisboa
Editor: Quasi
76 págs., 1365$00
"Algumas Observações", diz-se em subtítulo neste livro, que contém prólogo, epílogo e "algumas conclusões". No meio, o poeta dispara a sua "máquina de assombros" sobre "os argonautas". Demócrito, por exemplo: "Prefiro entender o que sei/ a poder ser, na Pérsia, rei." Quanto a conclusões: "A vida é o caminho mais curto entre o caos e a noite." Em 70 anos de vida, é o segundo livro de poesia que Eugénio Lisboa publica (coisa mui rara e pouco vista).
O Livro do Anjo
Poesia
Autor: Pompeu Miguel Martins
Editor: Quasi
60 págs., 1365$00
Dois versos iluminam este livro de poemas (e os outros): "Uma frase que reza como se deus estivesse morto/ como se fosse então possível amá-lo para sempre." Pompeu Miguel Martins nasceu em 1969, é sociólogo e professor da Escola Superior de Educação de Fafe. Publica poemas desde 1987, em colectâneas e periódicos vários.
Mulher: Uma Geografia Íntima
Ensaio
Autor: Natalie Angier
Tradutor: Cláudia Müller-Porto
Editor: Gradiva
408 págs., 3500$00
"Este livro é uma celebração do corpo feminino - da sua anatomia, da sua química, da sua evolução e do seu riso", promete Natalie Angier (que escreve no "New York Times" sobre biologia e já ganhou um Prémio Pulitzer). A promessa é cumprida de forma apaixonante e brilhante, não dando descanso a nenhuma das ideias feitas que aparecem sempre que se fala de mulheres e de feminismo. "Como é que pudemos viver sem este livro?", perguntou Fay Weldon. Um livro "para todos aqueles que vivem em ou perto de um corpo feminino".
Sobreviver à Ciência - Uma Certa Ideia do Futuro
Ensaio
Autor: Jean-Jacques Salomon
Tradutor: António Viegas
Editor: Instituto Piaget
364 págs., 4935$00
Apesar do título, o autor sossega-nos dizendo que o seu livro não é um exercício de futurologia. É um exercício de resistência teórica à "tirania do progresso" científico e tecnológico do último século e do presente, em nome do regresso a uma certa ideia de humanismo. Sem a tirania das utopias: "O pessimismo da reflexão, como diziam Valéry e Gramsci, não impede nada o optimismo da acção." Apesar de tudo.
Revista Crítica de Ciências Sociais
Revista
Director: Boaventura de Sousa Santos
Editor: Centro de Estudos Sociais
220 págs., 2500$00
Número 59. Rui Cunha Martins ensaia "uma reinvenção crítica da ideia de fronteira" em "O paradoxo da demarcação emancipatória: a fronteira na era da sua reprodutibilidade icónica"; Sérgio Costa escreve sobre três propostas recentes (Habermas, Beck e os estudos pós-coloniais) de superação do vínculo geográfico e nacional nas ciências sociais; Ana Cristina Santos e Fernando Fontes analisam o modo como o Estado português tem respondido aos "desafios da (homos)sexualidade".
aguasfurtadas
Revista
Director: Rui Lage
Editor: Núcleo de Jornalismo Académico do Porto/Jornal Universitário
128 págs., 2000$00
Terceiro número desta que é "a única revista literária do país editada por uma associação de estudantes do ensino superior". O facto é só curioso: a "aguasfurtadas" vale pelo seu conteúdo, e é o que importa. Assume-se como "espaço de diálogo literário, estético e geracional" (especialmente vocacionado para os não consagrados). Além de inúmeros autores novos, como sejam valter hugo mãe e Pompeu Miguel Martins, publica um pequeno ensaio de Manuel António Pina sobre "Ler e escrever" e outro de Arnaldo Saraiva sobre "O riso português".