Primeiras composições do Metro Mondego começam a circular em 2004

15-06-2001
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Primeiras Composições do Metro Mondego Começam a Circular em 2004

Por ÁLVARO VIEIRA

Quinta-feira, 17 de Maio de 2001

Anunciado ontem por secretário de Estado

Administração congratula-se com entrada do Estado no capital da empresa e acredita que, desta vez, o Metro Mondego "entrará nos carris". Utentes cépticos

O secretário de Estado dos Transportes, Rui Cunha, anunciou ontem, em Coimbra, que as primeiras composições do metro de superfície começam a circular no ramal da Lousã em 2004, mesmo que as obras implicadas pelo novo meio de transporte não estejam concluídas na altura.

Acompanhado pelo secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, Rui Cunha participou em Coimbra na conferência de imprensa de apresentação dos novos accionistas da Metro Mondego, SA (MM), entre eles o Estado, que, com o aumento de capital da empresa de 100 mil para 215.500 contos, ficou com 53 por acções das acções.

Esta era, aliás, uma reivindicação das autarquias envolvidas - Coimbra, Lousã e Miranda do Corvo -, que há muito defendiam que o aumento do capital social da MM deveria coincidir com a entrada do Estado na empresa encarregada de substituir as automotoras do ramal da Lousã, entre Serpins e Coimbra, pelo metro de superfície. A participação accionista do poder central foi reiteradamente apontada como condição indispensável para viabilizar política e financeiramente um empreendimento que o ex-ministro das Obras Públicas, Jorge Coelho, chegou a apontar como exemplo de projecto fadado a não sair do papel.

Ontem, contudo, o secretário de Estado dos Transportes foi categórico ao estabelecer que o Governo reconhece que o metro se "reveste de enorme importância estratégica para a região". "Não é, de todo, um projecto megalómano, desajustado, fora do contexto, para satisfação de qualquer capricho", proclamou Rui Cunha sobre a criação daquele novo meio de transporte, com um custo previsível de 37 milhões de contos a suportar pelo Orçamento de Estado, pelo Feder e por via de outros financiamentos comunitários.

O secretário de Estado dos Transportes disse ainda que o Governo quer dar "um novo impulso" e "celeridade" ao metro, por forma a que as obras possam já começar antes do final de 2002. Nesse sentido, anunciou, vai ser lançado, ainda este ano, um único concurso público para o projecto e concretização da obra.

CP sempre fica, Refer acaba por entrar

Além da entrada do Estado, a recomposição do corpo de accionistas da MM implicou uma redução sensível da participação dos municípios (ver quadros). O Metropolitano de Lisboa saiu da empresa e foi substituído pela Refer, detentora de 2,5 por cento das acções, à semelhança da CP, que, na anterior assembleia de accionistas, era o sócio maioritário, com 29 por cento dos títulos da Metro Mondego.

A participação da CP e Refer foi, aliás, outro problema a resolver pelo secretário de Estado dos Transportes: a CP havia manifestado vontade de abandonar o projecto - ou, pelo menos, de não aprovar o aumento de capital da MM; e a Refer mostrava relutância em entrar. Ontem, Rui Cunha comentou que aquelas duas empresas públicas do sector ferroviário se confrontavam com as suas próprias dificuldades e que, em qualquer caso, estava assegurado o empenhamento de ambas na concretização do metro de superfície entre Lousã e Coimbra.

Manuel Machado, o autarca de Coimbra que preside ao Conselho de Administração da MM, interveio para assegurar que, desta vez, o metro "entrará nos carris". "A participação do Estado corresponde ao que sempre ambicionámos", "o projecto está a tornar-se uma realidade", concluiu. Machado agradeceu o constributo dado pelo Metropolitano de Lisboa à primeira fase do Metro Mondego, disse contar com a experiência da recém-chegada Refer no sector dos transportes e gestão dos equipamentos ferroviários e prometeu que o metro entre Serpins e Coimbra terá preços acessíveis.

Muito mais céptica estava a Comissão de Utentes do Ramal da Lousã (CURL), que, por sinal, nunca foi grande entusiasta do metro de superfície. A comissão reivindica a melhoria do material circulante e o aumento da cadência do serviço prestado pela CP. Elementos da CURL que acompanharam a visita do secretário de Estado concederam que a entrada do Estado no capital da MM era um "facto positivo", a "única saída para um projecto desacreditado". Mas ressalvaram que as promessas de que a CP continuaria a introduzir melhorias quantitativas e qualitativas no serviço do ramal da Lousã não os descansavam. "Foram as sucessivas garantias que conduziram o ramal a este estado de profundo abandono", justificaram.

A CURL também protestou pelo facto de Rui Cunha ter ontem viajado no ramal da Lousã num comboio especial, e não a horas de ponta, "como se impunha". Num comunicado distribuído na véspera, a CURL considerava que a visita do governante não passava de uma "encenação" para a comunicação social "ao ritmo do calendário eleitoral" ou de "um passeio turístico".

Instado pelos jornalistas, Rui Cunha comentou que "passeio seria se viesse folcloricamente à frente da CURL percorrer o ramal".

Nova composição do capital social da Metro Mondego, SA, a aprovar pela assembleia geral da empresa marcada para 4 de Junho

Estado: 53 por cento - 114.225 contos

Municípios: 42 por cento - 90.518 contos

CP: 2,5 por cento - 5388 contos

Refer: 2,5 por cento - 5388 contos

Capital social: 100 por cento - 215.500 contos

Anterior composição da Metro Mondego, SA

Municípios: 66 por cento - 66.000 contos

CP: 29 por cento - 29.000 contos

Metropolitano de Lisboa: 5 por cento - 5000 contos

Capital social: 100 por cento - 100.000 contos

Frases da nota de imprensa anteontem divulgada pela Comissão de Utentes do Ramal da Lousã

"É preciso que o Governo, de uma vez por todas, ponha fim a este folhetim terceiro-mundista."

"Rui Cunha (...) pode, com uma cajadada, reabilitar politicamente o projecto do metropolitano, mergulhado que está nas ruas da amargura (o PS está vai para seis anos no Governo e os três municípios envolvidos são presididos por autarcas socialistas) e apresentar uma solução global, definitiva e concreta para o abandono em que a linha se encontra."

"Exigimos para a nossa região investimentos públicos em infra-estruturas ao mesmo nível dos que beneficiam os principais centros urbanos do país, em especial Lisboa e Porto. A electrificação da ferrovia Serpins-Coimbra, o seu apetrechamento com material circulante moderno, e o prolongamento da linha até Góis e Arganil, como esteve projectado há um século, são determinantes para o desenvolvimento da região."

"Uma oferta de transporte ferroviário de qualidade na ligação a Coimbra permitiria, por outro lado, uma redução significativa das viaturas que, todos os dias, se lançam, a horas de ponta, na estrada da Beira, também ela muito degradada."

Primeiras Composições do Metro Mondego Começam a Circular em 2004

Por ÁLVARO VIEIRA

Quinta-feira, 17 de Maio de 2001

Anunciado ontem por secretário de Estado

Administração congratula-se com entrada do Estado no capital da empresa e acredita que, desta vez, o Metro Mondego "entrará nos carris". Utentes cépticos

O secretário de Estado dos Transportes, Rui Cunha, anunciou ontem, em Coimbra, que as primeiras composições do metro de superfície começam a circular no ramal da Lousã em 2004, mesmo que as obras implicadas pelo novo meio de transporte não estejam concluídas na altura.

Acompanhado pelo secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, Rui Cunha participou em Coimbra na conferência de imprensa de apresentação dos novos accionistas da Metro Mondego, SA (MM), entre eles o Estado, que, com o aumento de capital da empresa de 100 mil para 215.500 contos, ficou com 53 por acções das acções.

Esta era, aliás, uma reivindicação das autarquias envolvidas - Coimbra, Lousã e Miranda do Corvo -, que há muito defendiam que o aumento do capital social da MM deveria coincidir com a entrada do Estado na empresa encarregada de substituir as automotoras do ramal da Lousã, entre Serpins e Coimbra, pelo metro de superfície. A participação accionista do poder central foi reiteradamente apontada como condição indispensável para viabilizar política e financeiramente um empreendimento que o ex-ministro das Obras Públicas, Jorge Coelho, chegou a apontar como exemplo de projecto fadado a não sair do papel.

Ontem, contudo, o secretário de Estado dos Transportes foi categórico ao estabelecer que o Governo reconhece que o metro se "reveste de enorme importância estratégica para a região". "Não é, de todo, um projecto megalómano, desajustado, fora do contexto, para satisfação de qualquer capricho", proclamou Rui Cunha sobre a criação daquele novo meio de transporte, com um custo previsível de 37 milhões de contos a suportar pelo Orçamento de Estado, pelo Feder e por via de outros financiamentos comunitários.

O secretário de Estado dos Transportes disse ainda que o Governo quer dar "um novo impulso" e "celeridade" ao metro, por forma a que as obras possam já começar antes do final de 2002. Nesse sentido, anunciou, vai ser lançado, ainda este ano, um único concurso público para o projecto e concretização da obra.

CP sempre fica, Refer acaba por entrar

Além da entrada do Estado, a recomposição do corpo de accionistas da MM implicou uma redução sensível da participação dos municípios (ver quadros). O Metropolitano de Lisboa saiu da empresa e foi substituído pela Refer, detentora de 2,5 por cento das acções, à semelhança da CP, que, na anterior assembleia de accionistas, era o sócio maioritário, com 29 por cento dos títulos da Metro Mondego.

A participação da CP e Refer foi, aliás, outro problema a resolver pelo secretário de Estado dos Transportes: a CP havia manifestado vontade de abandonar o projecto - ou, pelo menos, de não aprovar o aumento de capital da MM; e a Refer mostrava relutância em entrar. Ontem, Rui Cunha comentou que aquelas duas empresas públicas do sector ferroviário se confrontavam com as suas próprias dificuldades e que, em qualquer caso, estava assegurado o empenhamento de ambas na concretização do metro de superfície entre Lousã e Coimbra.

Manuel Machado, o autarca de Coimbra que preside ao Conselho de Administração da MM, interveio para assegurar que, desta vez, o metro "entrará nos carris". "A participação do Estado corresponde ao que sempre ambicionámos", "o projecto está a tornar-se uma realidade", concluiu. Machado agradeceu o constributo dado pelo Metropolitano de Lisboa à primeira fase do Metro Mondego, disse contar com a experiência da recém-chegada Refer no sector dos transportes e gestão dos equipamentos ferroviários e prometeu que o metro entre Serpins e Coimbra terá preços acessíveis.

Muito mais céptica estava a Comissão de Utentes do Ramal da Lousã (CURL), que, por sinal, nunca foi grande entusiasta do metro de superfície. A comissão reivindica a melhoria do material circulante e o aumento da cadência do serviço prestado pela CP. Elementos da CURL que acompanharam a visita do secretário de Estado concederam que a entrada do Estado no capital da MM era um "facto positivo", a "única saída para um projecto desacreditado". Mas ressalvaram que as promessas de que a CP continuaria a introduzir melhorias quantitativas e qualitativas no serviço do ramal da Lousã não os descansavam. "Foram as sucessivas garantias que conduziram o ramal a este estado de profundo abandono", justificaram.

A CURL também protestou pelo facto de Rui Cunha ter ontem viajado no ramal da Lousã num comboio especial, e não a horas de ponta, "como se impunha". Num comunicado distribuído na véspera, a CURL considerava que a visita do governante não passava de uma "encenação" para a comunicação social "ao ritmo do calendário eleitoral" ou de "um passeio turístico".

Instado pelos jornalistas, Rui Cunha comentou que "passeio seria se viesse folcloricamente à frente da CURL percorrer o ramal".

Nova composição do capital social da Metro Mondego, SA, a aprovar pela assembleia geral da empresa marcada para 4 de Junho

Estado: 53 por cento - 114.225 contos

Municípios: 42 por cento - 90.518 contos

CP: 2,5 por cento - 5388 contos

Refer: 2,5 por cento - 5388 contos

Capital social: 100 por cento - 215.500 contos

Anterior composição da Metro Mondego, SA

Municípios: 66 por cento - 66.000 contos

CP: 29 por cento - 29.000 contos

Metropolitano de Lisboa: 5 por cento - 5000 contos

Capital social: 100 por cento - 100.000 contos

Frases da nota de imprensa anteontem divulgada pela Comissão de Utentes do Ramal da Lousã

"É preciso que o Governo, de uma vez por todas, ponha fim a este folhetim terceiro-mundista."

"Rui Cunha (...) pode, com uma cajadada, reabilitar politicamente o projecto do metropolitano, mergulhado que está nas ruas da amargura (o PS está vai para seis anos no Governo e os três municípios envolvidos são presididos por autarcas socialistas) e apresentar uma solução global, definitiva e concreta para o abandono em que a linha se encontra."

"Exigimos para a nossa região investimentos públicos em infra-estruturas ao mesmo nível dos que beneficiam os principais centros urbanos do país, em especial Lisboa e Porto. A electrificação da ferrovia Serpins-Coimbra, o seu apetrechamento com material circulante moderno, e o prolongamento da linha até Góis e Arganil, como esteve projectado há um século, são determinantes para o desenvolvimento da região."

"Uma oferta de transporte ferroviário de qualidade na ligação a Coimbra permitiria, por outro lado, uma redução significativa das viaturas que, todos os dias, se lançam, a horas de ponta, na estrada da Beira, também ela muito degradada."

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