As recentes chuvadas provocaram graves danos agrícolas. Qual a situação no Douro?
Os dados coligidos durante a visita de um conjunto de deputados à região do Douro apontam para danos graves em cerca de 500 hectares. Muitas vinhas, principalmente as de plantação mais recente, ficaram destruídas e uma extensão entre 50 e 70 quilómetros de muros de pedra posta (uma técnica muito antiga que na Irlanda tem apoios especiais) caíram.
Existem estimativas do montante dos prejuízos?
Para já, pensa-se que os danos se situem entre três e cinco milhões de contos. Maior rigor nas contas, só quanto for possível ter os relatórios finais.
Sendo uma zona de minifúndio, que tipo de apoio deve ser dado aos agricultores?
A reconstrução das chamadas infra-estruturas deve ser feita a fundo perdido. O recurso a linhas de crédito bonificado é incomportável para a maioria dos pequenos proprietários. Ao nível do rendimento, já que para muitos dos pequenos agricultores o rendimento do vinho é indispensável, penso que se devia assegurar, e rapidamente, uma ajuda aos agricultores.
De que tipo?
Uma ajuda social ao rendimento, já que para muitos a perda do rendimento da vinha representa não existir dinheiro para sustentar a família.
Essa ajuda deve ser assegurada por qual instituição?
O Ministério da Agricultura deve propor ao Ministério da Solidariedade esta ajuda social ao rendimento. Mas pouco importa discutir que estrutura estatal deve assegurar o processo. Face à situação que se vê no terreno, muitos lembram o velho ditado que diz que em Portugal "a fome vem a nado".
Que medidas defende para que estas situações não venham a ser recorrentes sempre que o Inverno seja mais chuvoso?
Tem que se fazer, de forma activa, experimentação agrícola na zona. Em termos de mecanização, por exemplo, o Douro é um caso óbvio de que se terá de adaptar a maquinaria às condições únicas de terrenos de uma região que é património mundial e que produz o vinho do Porto. A drenagem dos terrenos é, igualmente, uma área a exigir investigação.
Quem pode assegurar essa investigação?
Creio que a UTAD, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, deve ser financeiramente ajudada para poder estudar, no terreno, todas as implicações. A drenagem dos terrenos é essencial. Regiões como a do Reno, com muitas vinhas, encontraram boas soluções ao nível das técnicas de drenagem das águas pluviais.
A região do Mondego também foi afectada. Em termos agrícolas, quais as principais perdas?
É uma bacia riquíssima do ponto de vista agrícola, e as principais perdas são ao nível do arroz, mas também do milho, onde se é competitivo. Lembro que face ao apodrecimento das raízes, não existe recuperação possível das culturas.
Quais as causas detectadas para este desastre?
A falta de limpeza da rede hidrológica é a principal causa. Basta verificar a quantidade de árvores, arbustos e lixos variados que estão abandonados nos campos para se perceber que em caso de chuvas fortes, e quando as barragens não são suficientes para segurar as águas, o desastre é inevitável.
De quem são as culpas para essa situação de desleixo?
De toda agente. Os guarda-rios desapareceram, a Associação de Beneficiários não actuou, o Instituto da Água nada fez... É uma cadeia de incúrias.
Qual a solução?
Desde logo a criação de uma estrutura que quotidianamente cuide da bacia hidrográfica como um todo. Continuar com responsabilidades divididas entre a Direcção Regional de Agricultura e o Instituto da Água - entidades que muitas vezes perdem o tempo em guerras inúteis - é que não é, de todo, uma solução aceitável.
Face às chuvas, como se comportou o sistema hidrográfico do Mondego?
Como se percebeu durante estas últimas cheias, muitas das comportas não funcionaram e muitas das valas estavam entupidas. Chegou-se a uma situação de total desmazelo do sistema. Para além disso, existem peritos que confirmam que a gestão da própria Barragem da Aguieira foi mal feita. Quando se conseguir coligir todos os relatórios finais das autoridades locais, será possível ter uma noção mais global de todo o problema.
Para além do Mondego, falou-se da situação de dois afluentes, o Ega e o Arunca...
É obviamente necessário avançar-se claramente nos trabalhos de regularizaçção desses rios.
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As recentes chuvadas provocaram graves danos agrícolas. Qual a situação no Douro?
Os dados coligidos durante a visita de um conjunto de deputados à região do Douro apontam para danos graves em cerca de 500 hectares. Muitas vinhas, principalmente as de plantação mais recente, ficaram destruídas e uma extensão entre 50 e 70 quilómetros de muros de pedra posta (uma técnica muito antiga que na Irlanda tem apoios especiais) caíram.
Existem estimativas do montante dos prejuízos?
Para já, pensa-se que os danos se situem entre três e cinco milhões de contos. Maior rigor nas contas, só quanto for possível ter os relatórios finais.
Sendo uma zona de minifúndio, que tipo de apoio deve ser dado aos agricultores?
A reconstrução das chamadas infra-estruturas deve ser feita a fundo perdido. O recurso a linhas de crédito bonificado é incomportável para a maioria dos pequenos proprietários. Ao nível do rendimento, já que para muitos dos pequenos agricultores o rendimento do vinho é indispensável, penso que se devia assegurar, e rapidamente, uma ajuda aos agricultores.
De que tipo?
Uma ajuda social ao rendimento, já que para muitos a perda do rendimento da vinha representa não existir dinheiro para sustentar a família.
Essa ajuda deve ser assegurada por qual instituição?
O Ministério da Agricultura deve propor ao Ministério da Solidariedade esta ajuda social ao rendimento. Mas pouco importa discutir que estrutura estatal deve assegurar o processo. Face à situação que se vê no terreno, muitos lembram o velho ditado que diz que em Portugal "a fome vem a nado".
Que medidas defende para que estas situações não venham a ser recorrentes sempre que o Inverno seja mais chuvoso?
Tem que se fazer, de forma activa, experimentação agrícola na zona. Em termos de mecanização, por exemplo, o Douro é um caso óbvio de que se terá de adaptar a maquinaria às condições únicas de terrenos de uma região que é património mundial e que produz o vinho do Porto. A drenagem dos terrenos é, igualmente, uma área a exigir investigação.
Quem pode assegurar essa investigação?
Creio que a UTAD, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, deve ser financeiramente ajudada para poder estudar, no terreno, todas as implicações. A drenagem dos terrenos é essencial. Regiões como a do Reno, com muitas vinhas, encontraram boas soluções ao nível das técnicas de drenagem das águas pluviais.
A região do Mondego também foi afectada. Em termos agrícolas, quais as principais perdas?
É uma bacia riquíssima do ponto de vista agrícola, e as principais perdas são ao nível do arroz, mas também do milho, onde se é competitivo. Lembro que face ao apodrecimento das raízes, não existe recuperação possível das culturas.
Quais as causas detectadas para este desastre?
A falta de limpeza da rede hidrológica é a principal causa. Basta verificar a quantidade de árvores, arbustos e lixos variados que estão abandonados nos campos para se perceber que em caso de chuvas fortes, e quando as barragens não são suficientes para segurar as águas, o desastre é inevitável.
De quem são as culpas para essa situação de desleixo?
De toda agente. Os guarda-rios desapareceram, a Associação de Beneficiários não actuou, o Instituto da Água nada fez... É uma cadeia de incúrias.
Qual a solução?
Desde logo a criação de uma estrutura que quotidianamente cuide da bacia hidrográfica como um todo. Continuar com responsabilidades divididas entre a Direcção Regional de Agricultura e o Instituto da Água - entidades que muitas vezes perdem o tempo em guerras inúteis - é que não é, de todo, uma solução aceitável.
Face às chuvas, como se comportou o sistema hidrográfico do Mondego?
Como se percebeu durante estas últimas cheias, muitas das comportas não funcionaram e muitas das valas estavam entupidas. Chegou-se a uma situação de total desmazelo do sistema. Para além disso, existem peritos que confirmam que a gestão da própria Barragem da Aguieira foi mal feita. Quando se conseguir coligir todos os relatórios finais das autoridades locais, será possível ter uma noção mais global de todo o problema.
Para além do Mondego, falou-se da situação de dois afluentes, o Ega e o Arunca...
É obviamente necessário avançar-se claramente nos trabalhos de regularizaçção desses rios.