«Queremos um quadro zoófilo progressista»

25-10-2000
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Em complemento destas disposições, um despacho nacional, de 1933, estabelece que «a utilização de canídeos por pessoal de segurança privada não pode exceder 8 horas diárias, nem ultrapassar 48 horas semanais»; e outro diploma português, a Lei 92/95, adianta novas bases de protecção dos animais, protegendo as suas «capacidades fisiológicas e psicológicas» - e ilegalizando práticas tão agressivas como o tiro aos pombos. Perante isto, seria mais normal ver um movimento reivindicativo de camponeses, empregados domésticos ou outra classe mais desprotegida de trabalhadores por conta de outrem - do que a insaciável luta dos amigos dos animais! Esta dúvida, sempre relembrada por alturas das festas de Barrancos, levou-me a entrevistar a deputada socialista Rosa Maria Albernaz, insistente proponente de mais proteccionismo animal.

EXPRESSO - É ou não verdade que os animais estão já mais protegidas que camponeses, domésticos e algumas outras classes de trabalhadores - sujeitos a horários de trabalho mais intensivos, com menores garantias de descanso e sem iguais preocupações de carácter fisiológico e psicológico?

EXP. - Mas como?!

R.M.A. - Veja o caso das galinhas: se estão com o estatuto de poedeiras têm direito a descanso e a assentarem convenientemente os dedos das patas no chão. Mas, mal largam o estatuto de poedeiras, podem ser selvaticamente degoladas pela primeira doméstica que as apanhe e devoradas pelo primeiro que as tenha no prato!

EXP. - E isso é assim tão grave?!

R.M.A. - Claro que é gravíssimo! As galinhas têm o seu destino natural - que não é certamente o serem degoladas e devoradas por insensíveis humanos!

EXP. - Qual é então esse destino?

R.M.A. - O papel das galinhas é essencialmente darem ovos, na protegida situação de poedeiras, de preferência em capoeiras, com chãos em que possam assentar convenientemente os dedos das patas - e onde possam também servir de pasto natural das raposas.

EXP. - E não é desumano uma raposa abocanhar e devorar uma galinha?

R.M.A. - Claro que não é desumano! Podia, quando muito, ser desraposano. Mas nem isso. As galinhas existem para porem ovos e alimentarem as raposas. Essa sua insinuação é a mesma que leva alguns - isso sim, desumanamente - a quererem justificar a caça à raposa, ou o corricão.

EXP. - Eu pensava que as raposas existiam para serem caçadas e assim cederem as peles para casacos.

R.M.A. - Mas pensou mal! Pensou desumana e reaccionariamente! E o que nós queremos é um quadro zoófilo progressista! As raposas não servem para ser caçadas! Servem para comer as galinhas e dessa forma garantirem o equilíbrio da natureza. Os casacos, sendo um instrumento artificial, devem ser confeccionados com fibras artificiais.

EXP. - O que a levou a dedicar-se de alma e coração à protecção dos animais? Foi só a procura do quadro zoófilo progressista?

R.M.A. - Essa é uma razão. Mas reconheço que também fui movida pelas humilhações a que muitas vezes sujeitaram o meu bobi.

EXP. - Que género de humilhações?

R.M.A. - Os taxistas recusavam-se a deixá-lo entrar nos seus carros... e mesmo nos transportes públicos, os passageiros levantavam sempre problemas... só porque ele era nervoso e rosnava um bocadinho...

EXP. - E de que raça era o seu bobi.

R.M.A. - Um rotweiller! Coitadinho, morreu envenenado, e ainda hoje desconfio que foi assassinado pela vizinha do gato...

EXP. - Que gato?

R.M.A. - Um dos gatos que o bobi abocanhou... Mas a finalidade natural dos gatos não é serem abocanhados pelos cães?!

EXP. - E a que se deve a sua obstinação contra as corridas de touros?

R.M.A. - Ao «stress» desumano a que sujeitam os pobres animais! Até a carne fica duríssima! Só os selvagens que apreciam esses tristes espectáculos têm dentes para a trincar!

EXP. - Mas para que servem os touros, a não ser para as corridas, ou touradas?

R.M.A. - Os touros servem fundamentalmente para os anúncios do Osborne: que deviam ser feitos com animais verdadeiros, soltos em prados verdejantes, junto das auto-estradas - e nunca com aquelas enormes e poluentes réplicas artificiais!

PEDRO BRAGANÇA

Em complemento destas disposições, um despacho nacional, de 1933, estabelece que «a utilização de canídeos por pessoal de segurança privada não pode exceder 8 horas diárias, nem ultrapassar 48 horas semanais»; e outro diploma português, a Lei 92/95, adianta novas bases de protecção dos animais, protegendo as suas «capacidades fisiológicas e psicológicas» - e ilegalizando práticas tão agressivas como o tiro aos pombos. Perante isto, seria mais normal ver um movimento reivindicativo de camponeses, empregados domésticos ou outra classe mais desprotegida de trabalhadores por conta de outrem - do que a insaciável luta dos amigos dos animais! Esta dúvida, sempre relembrada por alturas das festas de Barrancos, levou-me a entrevistar a deputada socialista Rosa Maria Albernaz, insistente proponente de mais proteccionismo animal.

EXPRESSO - É ou não verdade que os animais estão já mais protegidas que camponeses, domésticos e algumas outras classes de trabalhadores - sujeitos a horários de trabalho mais intensivos, com menores garantias de descanso e sem iguais preocupações de carácter fisiológico e psicológico?

EXP. - Mas como?!

R.M.A. - Veja o caso das galinhas: se estão com o estatuto de poedeiras têm direito a descanso e a assentarem convenientemente os dedos das patas no chão. Mas, mal largam o estatuto de poedeiras, podem ser selvaticamente degoladas pela primeira doméstica que as apanhe e devoradas pelo primeiro que as tenha no prato!

EXP. - E isso é assim tão grave?!

R.M.A. - Claro que é gravíssimo! As galinhas têm o seu destino natural - que não é certamente o serem degoladas e devoradas por insensíveis humanos!

EXP. - Qual é então esse destino?

R.M.A. - O papel das galinhas é essencialmente darem ovos, na protegida situação de poedeiras, de preferência em capoeiras, com chãos em que possam assentar convenientemente os dedos das patas - e onde possam também servir de pasto natural das raposas.

EXP. - E não é desumano uma raposa abocanhar e devorar uma galinha?

R.M.A. - Claro que não é desumano! Podia, quando muito, ser desraposano. Mas nem isso. As galinhas existem para porem ovos e alimentarem as raposas. Essa sua insinuação é a mesma que leva alguns - isso sim, desumanamente - a quererem justificar a caça à raposa, ou o corricão.

EXP. - Eu pensava que as raposas existiam para serem caçadas e assim cederem as peles para casacos.

R.M.A. - Mas pensou mal! Pensou desumana e reaccionariamente! E o que nós queremos é um quadro zoófilo progressista! As raposas não servem para ser caçadas! Servem para comer as galinhas e dessa forma garantirem o equilíbrio da natureza. Os casacos, sendo um instrumento artificial, devem ser confeccionados com fibras artificiais.

EXP. - O que a levou a dedicar-se de alma e coração à protecção dos animais? Foi só a procura do quadro zoófilo progressista?

R.M.A. - Essa é uma razão. Mas reconheço que também fui movida pelas humilhações a que muitas vezes sujeitaram o meu bobi.

EXP. - Que género de humilhações?

R.M.A. - Os taxistas recusavam-se a deixá-lo entrar nos seus carros... e mesmo nos transportes públicos, os passageiros levantavam sempre problemas... só porque ele era nervoso e rosnava um bocadinho...

EXP. - E de que raça era o seu bobi.

R.M.A. - Um rotweiller! Coitadinho, morreu envenenado, e ainda hoje desconfio que foi assassinado pela vizinha do gato...

EXP. - Que gato?

R.M.A. - Um dos gatos que o bobi abocanhou... Mas a finalidade natural dos gatos não é serem abocanhados pelos cães?!

EXP. - E a que se deve a sua obstinação contra as corridas de touros?

R.M.A. - Ao «stress» desumano a que sujeitam os pobres animais! Até a carne fica duríssima! Só os selvagens que apreciam esses tristes espectáculos têm dentes para a trincar!

EXP. - Mas para que servem os touros, a não ser para as corridas, ou touradas?

R.M.A. - Os touros servem fundamentalmente para os anúncios do Osborne: que deviam ser feitos com animais verdadeiros, soltos em prados verdejantes, junto das auto-estradas - e nunca com aquelas enormes e poluentes réplicas artificiais!

PEDRO BRAGANÇA

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