Inquiridores fora de São Bento

03-03-2001
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Deputados que integraram comissão da JAE não são candidatos

Inquiridores Fora de São Bento

Por SÃO JOSÉ ALMEIDA

Domingo, 8 de Agosto de 1999 A imagem dos deputados está de rastos, cresce a ideia feita de que os deputados não trabalham. Mas na elaboração das novas candidaturas a São Bento alguns dos mais activos inquiridores da JAE ficaram de fora ou viram-se relegados para posições secundárias nas listas. Os deputados que mais se destacaram na comissão de inquérito às denúncias de corrupção na Junta Autónoma de Estradas (JAE) não voltarão à Assembleia da República depois de 10 de Outubro. Num momento em que na opinião pública a imagem da Assembleia e de quem a constitui anda pelas ruas da amargura e em que muitos se interrogam sobre o que de facto fazem os deputados e para que servem, os dois principais partidos, PS e PSD, optaram por não voltar a candidatar ou por colocar em lugares de difícil ou impossível eleição os seus deputados que mais se empenharam nas averiguações de irregularidades na gestão da JAE e da responsabilidade política das tutelas ministeriais, quer do anterior, quer do actual Governo. Como excepção a esta situação aparece o presidente da comissão, José Junqueiro, que encabeça a lista socialista em Viseu. Assim, Paulo Neves e Júlio Faria, do PS, nem sequer aparecem nas listas, enquanto Martinho Gonçalves foi relegado para um lugar não elegível. Já no PSD, Francisco Martins e Barradas Leitão não foram incluídos no lote de candidatos, enquanto José Luís Moreira da Silva aparece num distante vigésimo quinto lugar por Lisboa, círculo que elegeu 16 deputados há quatro anos, pelo que a sua entrada em São Bento está comprometida, mesmo descontando hipotéticas substituições e um eventual crescimento eleitoral. Por sua vez, no PP, Francisco Peixoto e António Pedras - o autor do relatório final que apontou as conclusões de seis meses de investigações - também não voltarão a São Bento. Apenas o PCP mantém como candidatos em lugar elegível os seus dois representantes: Rodeia Machado é cabeça de lista por Beja e Bernardino Soares é o terceiro candidato da CDU no círculo eleitoral de Lisboa. No PS, Paulo Neves, deputado que se destacou na procura de provas sobre a existência de favorecimento à Tecnovia na adjudicação do lanço da CRIL entre Olival de Basto e Sacavém por parte do ex-secretário de Estado Álvaro de Magalhães, do ex-ministro Ferreira do Amaral e do ex-presidente da JAE Rangel de Lima, nem sequer terminou o mandato. Paulo Neves batalhou também para provar que houve um outro tipo de favorecimento, este político-partidário, empenhando-se em conseguir documentação sobre a publicação em 1995 de anúncio falsos de lançamento de obras sem que estivessem abertos os respectivos processos na Junta. Mas nem teve tempo de terminar esta tarefa que se tinha proposto. Antes do fim dos trabalhos da comissão foi destacado para presidente da Comissão de Turismo do Algarve. Nas listas às legislativas o seu nome não consta. Também Júlio Faria, que coordenou a actuação dos socialistas neste inquérito parlamentar, foi erradicado da lista do Porto. Martinho Gonçalves, deputado por Braga, que há quatro anos foi o último eleito como oitavo candidato do PS bracarense, destacou-se na comissão, no âmbito do dossier dos "sete magníficos" e agora desceu na lista para o décimo primeiro lugar. A limpeza das listas dos inquiridores da JAE atacou igualmente o PSD. E o caso mais gritante neste partido é o nome de José Luís Moreira da Silva, relegado para a zona mais que cinzenta da lista de Lisboa, quando, ao longo desta legislatura, esteve presente em quase todas as comissões de inquérito parlamentar e se salientou na da JAE pela veemência com que procurou imputar ao actual ministro João Cravinho responsabilidade por má gestão da Junta. Barradas Leitão, que foi, ao lado de Moreira da Silva, uma figura central na estratégia social-democrata de desgaste do actual ministro, foi excluído das listas de candidatos. Foi a Barradas Leitão que coube colocar em cima da mesa da comissão o recurso de João Cravinho ao pagamento de prémios para antecipar de obras, obrigando assim a que esta situação fosse vertida para o relatório. OUTROS TÍTULOS Inquiridores fora de São Bento

O desafio de mudar as regras

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