O Congresso do PS a A a Z

08-05-2001
marcar artigo

O Congresso do PS a A a Z

Sexta-feira, 4 de Maio de 2001 Alegre, Manuel - Não vai ao Congresso, porque está desencantado com o partido. Acha que, no actual momento do PS, não iria lá fazer nada. No último Congresso, apresentou uma moção, subscrita em conjunto com Alberto Martins, Medeiros Ferreira e outros militantes chamada "Falar é preciso". Desta vez, preferiu auto-silenciar-se do palco partidário. Brotas, António - É o primeiro subscritor da primeira moção global a ter entrado no Largo do Rato. António Brotas é um velho militante do PS que não se resigna ao unanimismo guterrista. Ao contrário de outros influentes críticos do "status", Brotas teve a coragem de, sem tropas nem caciques, levar a sua moção a votos. É claro que foi esmagado - mas foi a votos, e nenhum outro crítico pode dizer o mesmo (com a óbvia excepção de Henrique Neto). A moção de Brotas é exclusivamente sobre o funcionamento do partido - e recorda, por exemplo, que uma determinação do último congresso criando um forum para se discutir esta matéria nunca foi levado à prática. Já dizia Natália Correia que o exercício da memória é um acto revolucionário. Críticos - Não há no PS quem não seja crítico do PS e da governação - a começar em Guterres. Mas há, obviamente, quem se destaque na vozearia. Manuel Maria Carrilho é um deles. Por força do prestígio que conquistou na Cultura, da qualidade dos seus argumentos e do facto de ter dominado em absoluto a agenda da sua demissão, o ex-ministro conquistou o primeiro lugar no pódio dos críticos. Apagou, com isto, o brilho de outros críticos de sempre, como Manuel Alegre ou Helena Roseta. Como um dia disse Jaime Gama, os críticos são a "válvula de escape" do PS. Num partido estruturado de forma "soviético-leninista" (expressão de Vitalino Canas), os críticos contribuem para dar ao povo a ideia de que o PS é aberto e democrático. Enfim: discussões democráticas mas decisões autocráticas. Debates - Os milhares de delegados ao XII Congresso do PS apenas vão ter cinco horas para falarem no palco nobre da reunião magna dos socialistas, o que vai impedir que muitos dos que, por certo, desejariam subir ao palanque o façam. Não vai, porém, faltar espaço para a conversa já este congresso tem a inovação de, na noite de hoje, promover quatro espaços de debate. São quatro temas com um painel de cinco convidados para cada um deles. A saber: Nova Economia, Competitividade e Coesão (Francisco Murteira Nabo, Maria João Rodrigues, João Pedroso, Cristina Azevedo e Rui Coimbra); Democracia e Novos Poderes (António Vitorino, Sérvulo Correia, Carlos Magno, Vicente Jorge Silva e João Nabais); A Cidade. As pessoas. O futuro (Isabel Alçada, António Mega Ferreira, António Figueiredo, Alberto Souto Miranda, Gonçalo Byrne); Justiça fiscal, equidade e eficiência (Silva Lopes, Saldanha Sanches, Fernando Castro Silva, Luís Máximo Santos e Mário Pereira). É escolher e debater. Entre-os-Rios - Jorge Coelho caiu com a ponte mas o incrível da situação é que logo a seguir foi alcandorado à condição de santo - e por isso continuou politicamente hiper-activo (aliás, mais), como se nada se tivesse passado. Com a sua demissão, Coelho concentrou em si todo o sentimento de culpa do partido, e evitou que a assunção de responsabilidades fosse mais longe. Tanto que parece uma heresia dizer que 61 mortos naquelas circunstâncias não deviam ter apenas causado a demissão de um ministro, mas sim do Governo todo. O que se passou na ponte não foi só uma tragédia. Este Governo podia ter evitado o que aconteceu, não o fez, e não é desculpa nenhuma dizer que os governos anteriores também não fizeram nada. Não estranha (mas indigna) que a maioria "rosa" tenha continuado praticamente intocável nas sondagens. Francisco Assis - É um "free-lancer" do PS. Tem pensamento próprio e um enorme futuro à sua frente (não parece, mas tem apenas 36 anos). Já tem algumas tropas - mas a sua relação de distância com o partido e as bases faz lembrar muito a de Jaime Gama. Já recusou ser candidato autárquico no Porto, parece estar de saída da liderança do grupo parlamentar - e portanto está em trânsito. Guterres, António - O esforço que António Guterres faz para garantir ao seu partido que está mais empenhado do que nunca na governação revela, pelo menos, que tem sobretudo necessidade de se convencer a si mesmo. O primeiro-ministro na verdade já não gosta de governar, resignou-se à ideia de que o poder é uma "ilusão" e isso significa que não o quer exercer, por se sentir impotente. O sinal do seu desgosto é o facto (impensável, há meses atrás) de já perder debates parlamentares com Durão Barroso. Guterres já só navega à vista. Parece mesmo que quer perder as próximas eleições legislativas. Para eventuais ambições presidenciais, e tendo em conta os seus calendários, se calhar era o que lhe dava mais jeito. Sampaio também foi Presidente depois de esmagado nas legislativas. Helena - Helena Roseta aparece neste Congresso como a grande contestatária do "modus vivendi" interno socialista. Para além de ter posto em causa a legitimidade da eleição de delegados, por causa da diminuta afluência de militantes, foi a dinamizadora da moção que mais vai incomodar a direcção - a que pede ao Congresso para mandatar o grupo parlamentar para apoiar a legislação que venha a ser apresentada sobre despenalização do aborto. Independentes - Ausentes naturalmente do Pavilhão Atlântico, a não ser no estatuto de observadores e convidados. Muitos dos governantes que ainda o eram aproveitaram a proximidade do congresso para se filiarem. Jorge - É assim que os socialistas tratam o número dois do PS. Simplesmente Jorge. Jorge Coelho. Nem necessitava de falar para ser uma das figuras do congresso. Mas, claro, vai falar e nem os socialistas lhe perdoariam se não o fizesse. Diga o que disser será um dos discursos escutados com mais atenção. Até porque já disse que no congresso vai "reportar sobre a situação do país e sobre o que o PS deve fazer". Tudo em "on"... Listas - É praticamente impossível, pela forma como o regimento do congresso foi feito, que surja outra que não a de António Guterres. Vitalino Canas diz que não é disto que fala quando considera a organização do PS "soviético-leninista". Moções - Surgiram três moções globais (de António Guterres, Henrique Neto e António Brotas) e 53 moções sectoriais. No sábado serão todas "discutidas". As globais à tarde, as sectoriais à noite, sempre de braço no ar. É possível que o voto dos críticos de Guterres se concentre na moção de Henrique Neto. Neto, Henrique - Em tempos Henrique Neto foi uma estrela na constelação guterrista. Foi quando o PS ainda estava na oposição. Depois, como não gostou da forma como Guterres governava - e sobretudo da sua relação com os poderes económicos - começou a partir a loiça. Daqui até ser corrido do grupo parlamentar foi um passo. E agora vai ser expulso dos órgãos dirigentes do PS. Em que partido é que isto já se viu? É bom que se diga: a moção global de Henrique Neto é o mais estimulante texto em discussão no Congresso. Devia, pelo menos, pôr a cúpula do partido a pensar. Mas alguém estará para essa canseira? Orçamento do Estado - Entre discussões sobre com quem deve o PS negociar, já começou na governação a lenga-lenga do costume face ao próximo Orçamento do Estado (OE): a oposição que assuma as suas responsabilidades, se a proposta for chumbada a culpa não é nossa. Este ano há, porém, uma diferença: eleições autárquicas semanas depois da votação final da proposta. A oposição pode ser tentada a chumbá-la, na expectativa de uma derrota do PS nas eleições locais. Nessa altura Daniel Campelo (ou outro Campelo qualquer) deverá voltar ao "prime-time" televisivo, exactamente pelas mesmas razões de há um ano. Purga - É verdade que o Congresso foi marcado em plena onda emocional contra Fernando Gomes, sob o lema de que era preciso separar "águas" e de que quem não estivesse com o chefe era contra o chefe. A purga não atingirá Fernando Gomes, entretanto recuperado, mas estão pedidas as cabeças de Helena Roseta, Manuel Maria Carrilho, Henrique Neto. Pelo menos. Quotas - Os estatutos dizem que um em quatro dirigentes tem que ser mulher. No congresso de há dois anos esta regra impôs que todos os órgãos fossem alargados - porque os homens que lá estavam não queriam sair e era preciso entrarem mulheres. Se Guterres quiser, depois do congresso, voltar a reduzir os órgãos do PS, o problema voltará a acontecer. É um teste à força do líder. Renovação - "Devo dizer-vos que assumo isto [a renovação] muito a sério." A frase é de António Guterres e já se sabe que vai usar parte da quota de secretário-geral de indicações para a Comissão Nacional do partido (um terço dos 271 efectivos) para dar o exemplo. O problema é que para entrarem novos vão ter de sair alguns menos jovens que há muitos anos estão nos órgãos dirigentes do partido. As federações não estão para aí viradas e quando se pergunta a alguns dirigentes por nomes para a renovação quase ninguém sabe. Ontem a agência Lusa revelava que Guterres vai indicar 30 jovens na sua quota avançava com alguns nomes: Miguel Seabra, vereador da Câmara Municipal de Matosinhos, os deputados Afonso Candal e Ricardo Castanheira, o candidato à presidência da autarquia do Cartaxo, Paulo Caldas, e os juristas Tiago Silveira e Fernando Rocha Andrade. Resta saber quem são os outros e, principalmente quem são os "Marretas" que vão sair. Um assunto que poderá aquecer o congresso. Sucessores - António Guterres (ainda) é o seguro de vida do PS e o mais certo é que o partido vá para a oposição quando o actual líder se decidir por outras vidas. Sendo assim pergunta-se: quem estará disposto a liderar o PS na travessia do deserto? Jorge Coelho dá claros sinais de o desejar (embora oficialmente diga que não). Ferro Rodrigues guarda a resposta para mais tarde, António Costa logo se vê, uns e outros olham para António Vitorino. Do Palácio das Necessidades a guerra é observada por Jaime Gama, que espera que o governo lhe caia na mão sem fazer nada por isso. É neste jogo de sombras que o PS se irá desgastar nos próximos anos. Traidores - "Roma não paga aos assassinos dos seus generais." Roma talvez não, no PS não é bem assim, pelo menos para alguns. Basta haver uma eleição complicada, para que "um assassino de generais" possa ser esquecido. É assim, com Fernando Gomes, chamado de traidor à boca cheia no partido depois do "caso" da Fundação de Prevenção e Segurança. Não é assim com Manuel Maria Carrilho, um dos maiores críticos desde que saiu do Governo e também considerado um "traidor". Carrilho continuará, por certo, a "assassinar generais", mas sai dos órgãos dirigentes do partido. Unanimidade - Aconteça o que acontecer, domingo à tarde, quando terminar o congresso, todos vão falar em unanimidade. Na unanimidade em volta do líder, do projecto, do partido (que todos vão dizer que saiu reforçado), do Governo (reforçadíssimo...), nas batalhas que se adivinham difíceis, nas decisões, nas listas, numa eventual remodelação do executivo que possa surgir, nas críticas, sejam elas à oposição ao PS, na renovação, nos "Marretas". Como afirma António José Seguro, "os socialistas são assim". Gostam de se reunir para no fim dizerem que estão todos de acordo. Mesmo que não estejam. Como todos sabem, o PS sempre foi um partido de pessoal muito unânime. Vitorino, António - O comissário europeu vem ao Congresso moderar um debate sobre os novos poderes emergentes. Já se manifestou contra a aprovação da moção do aborto, já fez muitos elogios a Jorge Coelho, já defendeu que se deveria avançar com a reforma eleitoral e criação de círculos uninominais, já disse não ter gostado do negócio do "queijo". Resta ver que sinais emite sobre a sua futura disponibilidade para o partido. Xadrez - É um jogo de inteligência máxima, sem a mínima intervenção do acaso ou da sorte, em que ganha o que concilia arrojo, inteligência, experiência e visão de longo prazo. É o jogo que já está a ser jogado na cúpula socialista - só que não é a dois, é a cinco, a dez ou a vinte. Dará xeque-mate o primeiro que conseguir suceder a Guterres como primeiro-ministro socialista eleito pelo povo. Zorrinho, Carlos - Protagoniza, com Vitalino Canas, uma interessante moção com propostas visando abrir o PS à sociedade civil - ou "internalizar os Estados Gerais", como Zorrinho gosta de dizer. Católico, jovem, academicamente bem estruturado, Zorrinho só não é um rostos da renovação que Guterres diz pretender imprimir ao PS porque já está há alguns anos da direcção. Subiu a secretário de Estado da Administração Interna com a demissão da equipa Fernando Gomes-Luís Patrão-Manuel Diogo. A.N.S, J.P.H., L.A. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Alegre não vai ao conclave

O Congresso do PS a A a Z

Programa

EDITORIAL Parte do problema ou parte da solução?

Roseta admite alterar texto da moção sobre aborto

Um partido envelhecido

OPINIÃO Nunca é oportuno discutir temas que incomodam...

OPINIÃO Despenalização da IVG não pode sair enfraquecida

PS-Açores vai ao congresso mais para ensinar do que para exigir

O Congresso do PS a A a Z

Sexta-feira, 4 de Maio de 2001 Alegre, Manuel - Não vai ao Congresso, porque está desencantado com o partido. Acha que, no actual momento do PS, não iria lá fazer nada. No último Congresso, apresentou uma moção, subscrita em conjunto com Alberto Martins, Medeiros Ferreira e outros militantes chamada "Falar é preciso". Desta vez, preferiu auto-silenciar-se do palco partidário. Brotas, António - É o primeiro subscritor da primeira moção global a ter entrado no Largo do Rato. António Brotas é um velho militante do PS que não se resigna ao unanimismo guterrista. Ao contrário de outros influentes críticos do "status", Brotas teve a coragem de, sem tropas nem caciques, levar a sua moção a votos. É claro que foi esmagado - mas foi a votos, e nenhum outro crítico pode dizer o mesmo (com a óbvia excepção de Henrique Neto). A moção de Brotas é exclusivamente sobre o funcionamento do partido - e recorda, por exemplo, que uma determinação do último congresso criando um forum para se discutir esta matéria nunca foi levado à prática. Já dizia Natália Correia que o exercício da memória é um acto revolucionário. Críticos - Não há no PS quem não seja crítico do PS e da governação - a começar em Guterres. Mas há, obviamente, quem se destaque na vozearia. Manuel Maria Carrilho é um deles. Por força do prestígio que conquistou na Cultura, da qualidade dos seus argumentos e do facto de ter dominado em absoluto a agenda da sua demissão, o ex-ministro conquistou o primeiro lugar no pódio dos críticos. Apagou, com isto, o brilho de outros críticos de sempre, como Manuel Alegre ou Helena Roseta. Como um dia disse Jaime Gama, os críticos são a "válvula de escape" do PS. Num partido estruturado de forma "soviético-leninista" (expressão de Vitalino Canas), os críticos contribuem para dar ao povo a ideia de que o PS é aberto e democrático. Enfim: discussões democráticas mas decisões autocráticas. Debates - Os milhares de delegados ao XII Congresso do PS apenas vão ter cinco horas para falarem no palco nobre da reunião magna dos socialistas, o que vai impedir que muitos dos que, por certo, desejariam subir ao palanque o façam. Não vai, porém, faltar espaço para a conversa já este congresso tem a inovação de, na noite de hoje, promover quatro espaços de debate. São quatro temas com um painel de cinco convidados para cada um deles. A saber: Nova Economia, Competitividade e Coesão (Francisco Murteira Nabo, Maria João Rodrigues, João Pedroso, Cristina Azevedo e Rui Coimbra); Democracia e Novos Poderes (António Vitorino, Sérvulo Correia, Carlos Magno, Vicente Jorge Silva e João Nabais); A Cidade. As pessoas. O futuro (Isabel Alçada, António Mega Ferreira, António Figueiredo, Alberto Souto Miranda, Gonçalo Byrne); Justiça fiscal, equidade e eficiência (Silva Lopes, Saldanha Sanches, Fernando Castro Silva, Luís Máximo Santos e Mário Pereira). É escolher e debater. Entre-os-Rios - Jorge Coelho caiu com a ponte mas o incrível da situação é que logo a seguir foi alcandorado à condição de santo - e por isso continuou politicamente hiper-activo (aliás, mais), como se nada se tivesse passado. Com a sua demissão, Coelho concentrou em si todo o sentimento de culpa do partido, e evitou que a assunção de responsabilidades fosse mais longe. Tanto que parece uma heresia dizer que 61 mortos naquelas circunstâncias não deviam ter apenas causado a demissão de um ministro, mas sim do Governo todo. O que se passou na ponte não foi só uma tragédia. Este Governo podia ter evitado o que aconteceu, não o fez, e não é desculpa nenhuma dizer que os governos anteriores também não fizeram nada. Não estranha (mas indigna) que a maioria "rosa" tenha continuado praticamente intocável nas sondagens. Francisco Assis - É um "free-lancer" do PS. Tem pensamento próprio e um enorme futuro à sua frente (não parece, mas tem apenas 36 anos). Já tem algumas tropas - mas a sua relação de distância com o partido e as bases faz lembrar muito a de Jaime Gama. Já recusou ser candidato autárquico no Porto, parece estar de saída da liderança do grupo parlamentar - e portanto está em trânsito. Guterres, António - O esforço que António Guterres faz para garantir ao seu partido que está mais empenhado do que nunca na governação revela, pelo menos, que tem sobretudo necessidade de se convencer a si mesmo. O primeiro-ministro na verdade já não gosta de governar, resignou-se à ideia de que o poder é uma "ilusão" e isso significa que não o quer exercer, por se sentir impotente. O sinal do seu desgosto é o facto (impensável, há meses atrás) de já perder debates parlamentares com Durão Barroso. Guterres já só navega à vista. Parece mesmo que quer perder as próximas eleições legislativas. Para eventuais ambições presidenciais, e tendo em conta os seus calendários, se calhar era o que lhe dava mais jeito. Sampaio também foi Presidente depois de esmagado nas legislativas. Helena - Helena Roseta aparece neste Congresso como a grande contestatária do "modus vivendi" interno socialista. Para além de ter posto em causa a legitimidade da eleição de delegados, por causa da diminuta afluência de militantes, foi a dinamizadora da moção que mais vai incomodar a direcção - a que pede ao Congresso para mandatar o grupo parlamentar para apoiar a legislação que venha a ser apresentada sobre despenalização do aborto. Independentes - Ausentes naturalmente do Pavilhão Atlântico, a não ser no estatuto de observadores e convidados. Muitos dos governantes que ainda o eram aproveitaram a proximidade do congresso para se filiarem. Jorge - É assim que os socialistas tratam o número dois do PS. Simplesmente Jorge. Jorge Coelho. Nem necessitava de falar para ser uma das figuras do congresso. Mas, claro, vai falar e nem os socialistas lhe perdoariam se não o fizesse. Diga o que disser será um dos discursos escutados com mais atenção. Até porque já disse que no congresso vai "reportar sobre a situação do país e sobre o que o PS deve fazer". Tudo em "on"... Listas - É praticamente impossível, pela forma como o regimento do congresso foi feito, que surja outra que não a de António Guterres. Vitalino Canas diz que não é disto que fala quando considera a organização do PS "soviético-leninista". Moções - Surgiram três moções globais (de António Guterres, Henrique Neto e António Brotas) e 53 moções sectoriais. No sábado serão todas "discutidas". As globais à tarde, as sectoriais à noite, sempre de braço no ar. É possível que o voto dos críticos de Guterres se concentre na moção de Henrique Neto. Neto, Henrique - Em tempos Henrique Neto foi uma estrela na constelação guterrista. Foi quando o PS ainda estava na oposição. Depois, como não gostou da forma como Guterres governava - e sobretudo da sua relação com os poderes económicos - começou a partir a loiça. Daqui até ser corrido do grupo parlamentar foi um passo. E agora vai ser expulso dos órgãos dirigentes do PS. Em que partido é que isto já se viu? É bom que se diga: a moção global de Henrique Neto é o mais estimulante texto em discussão no Congresso. Devia, pelo menos, pôr a cúpula do partido a pensar. Mas alguém estará para essa canseira? Orçamento do Estado - Entre discussões sobre com quem deve o PS negociar, já começou na governação a lenga-lenga do costume face ao próximo Orçamento do Estado (OE): a oposição que assuma as suas responsabilidades, se a proposta for chumbada a culpa não é nossa. Este ano há, porém, uma diferença: eleições autárquicas semanas depois da votação final da proposta. A oposição pode ser tentada a chumbá-la, na expectativa de uma derrota do PS nas eleições locais. Nessa altura Daniel Campelo (ou outro Campelo qualquer) deverá voltar ao "prime-time" televisivo, exactamente pelas mesmas razões de há um ano. Purga - É verdade que o Congresso foi marcado em plena onda emocional contra Fernando Gomes, sob o lema de que era preciso separar "águas" e de que quem não estivesse com o chefe era contra o chefe. A purga não atingirá Fernando Gomes, entretanto recuperado, mas estão pedidas as cabeças de Helena Roseta, Manuel Maria Carrilho, Henrique Neto. Pelo menos. Quotas - Os estatutos dizem que um em quatro dirigentes tem que ser mulher. No congresso de há dois anos esta regra impôs que todos os órgãos fossem alargados - porque os homens que lá estavam não queriam sair e era preciso entrarem mulheres. Se Guterres quiser, depois do congresso, voltar a reduzir os órgãos do PS, o problema voltará a acontecer. É um teste à força do líder. Renovação - "Devo dizer-vos que assumo isto [a renovação] muito a sério." A frase é de António Guterres e já se sabe que vai usar parte da quota de secretário-geral de indicações para a Comissão Nacional do partido (um terço dos 271 efectivos) para dar o exemplo. O problema é que para entrarem novos vão ter de sair alguns menos jovens que há muitos anos estão nos órgãos dirigentes do partido. As federações não estão para aí viradas e quando se pergunta a alguns dirigentes por nomes para a renovação quase ninguém sabe. Ontem a agência Lusa revelava que Guterres vai indicar 30 jovens na sua quota avançava com alguns nomes: Miguel Seabra, vereador da Câmara Municipal de Matosinhos, os deputados Afonso Candal e Ricardo Castanheira, o candidato à presidência da autarquia do Cartaxo, Paulo Caldas, e os juristas Tiago Silveira e Fernando Rocha Andrade. Resta saber quem são os outros e, principalmente quem são os "Marretas" que vão sair. Um assunto que poderá aquecer o congresso. Sucessores - António Guterres (ainda) é o seguro de vida do PS e o mais certo é que o partido vá para a oposição quando o actual líder se decidir por outras vidas. Sendo assim pergunta-se: quem estará disposto a liderar o PS na travessia do deserto? Jorge Coelho dá claros sinais de o desejar (embora oficialmente diga que não). Ferro Rodrigues guarda a resposta para mais tarde, António Costa logo se vê, uns e outros olham para António Vitorino. Do Palácio das Necessidades a guerra é observada por Jaime Gama, que espera que o governo lhe caia na mão sem fazer nada por isso. É neste jogo de sombras que o PS se irá desgastar nos próximos anos. Traidores - "Roma não paga aos assassinos dos seus generais." Roma talvez não, no PS não é bem assim, pelo menos para alguns. Basta haver uma eleição complicada, para que "um assassino de generais" possa ser esquecido. É assim, com Fernando Gomes, chamado de traidor à boca cheia no partido depois do "caso" da Fundação de Prevenção e Segurança. Não é assim com Manuel Maria Carrilho, um dos maiores críticos desde que saiu do Governo e também considerado um "traidor". Carrilho continuará, por certo, a "assassinar generais", mas sai dos órgãos dirigentes do partido. Unanimidade - Aconteça o que acontecer, domingo à tarde, quando terminar o congresso, todos vão falar em unanimidade. Na unanimidade em volta do líder, do projecto, do partido (que todos vão dizer que saiu reforçado), do Governo (reforçadíssimo...), nas batalhas que se adivinham difíceis, nas decisões, nas listas, numa eventual remodelação do executivo que possa surgir, nas críticas, sejam elas à oposição ao PS, na renovação, nos "Marretas". Como afirma António José Seguro, "os socialistas são assim". Gostam de se reunir para no fim dizerem que estão todos de acordo. Mesmo que não estejam. Como todos sabem, o PS sempre foi um partido de pessoal muito unânime. Vitorino, António - O comissário europeu vem ao Congresso moderar um debate sobre os novos poderes emergentes. Já se manifestou contra a aprovação da moção do aborto, já fez muitos elogios a Jorge Coelho, já defendeu que se deveria avançar com a reforma eleitoral e criação de círculos uninominais, já disse não ter gostado do negócio do "queijo". Resta ver que sinais emite sobre a sua futura disponibilidade para o partido. Xadrez - É um jogo de inteligência máxima, sem a mínima intervenção do acaso ou da sorte, em que ganha o que concilia arrojo, inteligência, experiência e visão de longo prazo. É o jogo que já está a ser jogado na cúpula socialista - só que não é a dois, é a cinco, a dez ou a vinte. Dará xeque-mate o primeiro que conseguir suceder a Guterres como primeiro-ministro socialista eleito pelo povo. Zorrinho, Carlos - Protagoniza, com Vitalino Canas, uma interessante moção com propostas visando abrir o PS à sociedade civil - ou "internalizar os Estados Gerais", como Zorrinho gosta de dizer. Católico, jovem, academicamente bem estruturado, Zorrinho só não é um rostos da renovação que Guterres diz pretender imprimir ao PS porque já está há alguns anos da direcção. Subiu a secretário de Estado da Administração Interna com a demissão da equipa Fernando Gomes-Luís Patrão-Manuel Diogo. A.N.S, J.P.H., L.A. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Alegre não vai ao conclave

O Congresso do PS a A a Z

Programa

EDITORIAL Parte do problema ou parte da solução?

Roseta admite alterar texto da moção sobre aborto

Um partido envelhecido

OPINIÃO Nunca é oportuno discutir temas que incomodam...

OPINIÃO Despenalização da IVG não pode sair enfraquecida

PS-Açores vai ao congresso mais para ensinar do que para exigir

marcar artigo