A última zanga de Santana

27-05-2000
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Pedro Santana Lopes com Torres Couto e Artur Albarran na «Cadeira do Poder»: no PSD há quem diga que «quem anda à chuva, molha-se»

A DECISÃO de Pedro Santana Lopes de abandonar a política poderá não ser irreversível. Para tanto, deverá bastar a ajuda indirecta do Presidente da República, que respondeu afirmativamente ao pedido do presidente da Câmara da Figueira da Foz para uma audiência. Fonte de Belém disse ao EXPRESSO que o encontro ainda não está marcado mas que, contrariamente ao que foi noticiado, não ocorrerá na próxima semana. Aliás, segundo a mesma fonte, Sampaio fez questão de deixar claro ao autarca que o receberia «quando a sua agenda o permitisse». O Presidente da República, que foi abordado telefonicamente por Santana Lopes antes de este dar a conferência de imprensa, na segunda-feira, «não teve como lhe dizer não» e, segundo soube o EXPRESSO, recebê-lo-á «por uma questão de boa educação, nada mais que isso». Ou seja, não tomará qualquer outra iniciativa no sentido de dar cobertura ao pedido do autarca para que sejam tomadas medidas que «impeçam qualquer cidadão de ser aviltado e enxovalhado». Uma atitude irreversível? Também não é preciso, de acordo com a interpretação de um fiel santanista, convicto de que só o facto de Sampaio se ter mostrado disponível para receber Santana Lopes já fez mais pelo «enfant terrible» do PSD do que qualquer lei propositadamente criada contra os «Big Shows SIC». E é quase certo que, mesmo que o Presidente nada diga, a audiência em Belém será a escapatória para Santana poder voltar atrás com uma atitude que, garantiu a pés juntos, «não se trata de uma jogada». Santana Lopes anunciou o abandono da vida política nacional na segunda-feira, em reacção a um «sketch» - que qualificou como «uma canalhice» - do último «Big Show Sic», que o caricaturava como «Santana Copos». O presidente da Figueira da Foz afirmou que o seu regresso à política ficaria dependente da tomada de «medidas legislativas e de deliberação política» que limite aquele género de programas. Algo que, acrescentou, acha que «não virá a acontecer». Apesar da descrença, Santana Lopes pediu a audiência ao PR e disse aguardar uma tomada de posição da Provedoria de Justiça e da Alta Autoridade da Comunicação Social (AACS). Sebastião Lima Rego, chefe de gabinete da AACS, disse ao EXPRESSO que «até agora» (quarta-feira, dia da última reunião plenária) não deu entrada nenhuma queixa naquele organismo, pelo que «nenhum processo foi aberto». Já a Provedoria de Justiça limitou-se a informar que o caso lhe foi exposto por um vereador da Câmara da Figueira da Foz, ao qual foi dito que não poderiam interferir na SIC dado tratar-se de uma empresa privada e que a única coisa que poderiam fazer seria examinar a legislação existente para apurar se houve ou não violação. O silêncio do PSD A atitude de Santana Lopes teve poucas repercussões políticas dentro do seu próprio partido. Da sede nacional do PSD não se ouviram palavras de solidariedade - apesar de Marcelo Rebelo de Sousa ter tornado público que vai encontrar-se hoje com o autarca - e o caso foi ignorado na reunião do grupo parlamentar (na quarta-feira). É que, apesar de a generalidade dos sociais-democratas ouvidos pelo EXPRESSO considerar que «o programa de João Baião foi uma vergonha», todos afirmam que houve um «excesso de reacção» do visado. E não acreditam que a sua tomada de posição seja irreversível - os seus adversários internos crêem, aliás, que ela é mais motivada pelo excelente resultado de Marcelo no referendo, e o pouco espaço de manobra daí resultante para os seus eventuais candidatos a sucessores, do que pela rábula de Baião - e atribuem-lhe uma quota-parte de responsabilidade no sucedido. A este respeito, lembram as inúmeras capas de imprensa cor-de-rosa que suscitou, as entrevistas intimistas que deu, o protagonismo que adquiriu ao participar em programas televisivos tão polémicos como «A Cadeira do Poder» ou «Os Donos da Bola». A conclusão é inevitável: «Quem anda à chuva, molha-se». Significativo é o facto de os próprios apoiantes de Santana Lopes não levarem a sério a sua declaração irada de segunda-feira. Um dos santanistas mais fiéis admite que, embora originada numa real e justificada indignação, a atitude de Santana Lopes traz subjacente uma estratégia que, se resultar bem, apagará da opinião pública a memória da campanha do referendo - com o que ela trouxe de mau a Santana Lopes (obrigado pelas circunstâncias a uma cambalhota na sua posição relativa à regionalização) e de bom a Durão Barroso (que viu reforçada a sua posição de «líder na reserva» do PSD, com as televisões a fazerem directos da sua casa, na noite das eleições). A mesma fonte acredita que «o que Santana agora tem de fazer é arranjar maneira de regressar» e pensa que, nesse particular, «o Presidente pode ajudá-lo: ao recebê-lo em Belém valoriza negativamente o 'sketch' e positivamente a sua atitude». Confrontado com o facto de todo este processo poder prejudicar a credibilidade do potencial candidato a sucessor de Marcelo Rebelo de Sousa, aquele santanista desvaloriza: «Quando for preciso, ele ganha credibilidade». O EXPRESSO tentou, ao longo de toda a semana, sem sucesso, falar com o presidente da Câmara da Figueira da Foz. Cristina Figueiredo

com Ana Serzedelo e Orlando Raimundo

O caso do automóvel que caiu ao rio O EPISÓDIO que agora levou Pedro Santana Lopes a decidir abandonar a política não é o primeiro a opor meios de comunicação social e políticos.

Um dos casos mais conhecidos é o de António José Seguro e do antigo programa da SIC, apresentado por Artur Albarran, a «Cadeira do Poder».

Em Fevereiro de 1997, no dia da primeira emissão daquele que viria a tornar-se um polémico programa, a telenovela da noite foi interrompida várias vezes com um bloco noticioso «extra».

E este bloco noticioso relatava que um carro, pertença da Secretaria de Estado da Juventude - pasta na altura ocupada por António José Seguro - tinha caído ao rio. Nos sucessivos «blocos», acompanhados de imagens reais, nomeadamente a de um carro a ser içado do rio, dava-se a informação de que o secretário de Estado estaria acompanhado por uma senhora, que depois viria a deixar no Hospital da CUF, tendo saído desta unidade hospitalar pelas traseiras para evitar prestar declarações à comunicação social.

Os «blocos noticiosos», afinal, destinavam-se a promover a «Cadeira do Poder», que, curiosamente, na sua primeira emissão, tinha a participação de Pedro Santana Lopes.

Apesar de os «blocos noticiosos» nunca terem referido o nome de Seguro, apenas nomeando o secretário de Estado da Juventude, o actual secretário de Estado-adjunto do primeiro-ministro interpôs uma acção cível contra a SIC por ter transmitido um episódio de ficção como se fosse realidade e, por outro lado, por atentado ao seu bom nome e honra. A primeira sessão deste julgamento está marcada para o próximo dia 26 de Janeiro, no Tribunal de Oeiras.

Ainda em 1997, mas em Agosto, durante a pré-campanha para as eleições autárquicas, deu-se outro destes episódios, desta vez envolvendo a presidente da Câmara de Sintra, Edite Estrela e o jornal «GrandAmadora».

A propósito dos cartazes para as autárquicas, o jornal publicava uma «rábula» que envolvia uma «loiraça», afinal Edite Estrela. À presidente da Câmara não agradou a brincadeira e um processo contra o «GrandAmadora» onde se pede uma indemnização de 20 mil contos está ainda a correr em tribunal.

Na década de 80, ainda não exercia cargos políticos, Estrela também teve de lidar com um programa de Herman José que a parodiava. C.F./T.O.

Pedro Santana Lopes com Torres Couto e Artur Albarran na «Cadeira do Poder»: no PSD há quem diga que «quem anda à chuva, molha-se»

A DECISÃO de Pedro Santana Lopes de abandonar a política poderá não ser irreversível. Para tanto, deverá bastar a ajuda indirecta do Presidente da República, que respondeu afirmativamente ao pedido do presidente da Câmara da Figueira da Foz para uma audiência. Fonte de Belém disse ao EXPRESSO que o encontro ainda não está marcado mas que, contrariamente ao que foi noticiado, não ocorrerá na próxima semana. Aliás, segundo a mesma fonte, Sampaio fez questão de deixar claro ao autarca que o receberia «quando a sua agenda o permitisse». O Presidente da República, que foi abordado telefonicamente por Santana Lopes antes de este dar a conferência de imprensa, na segunda-feira, «não teve como lhe dizer não» e, segundo soube o EXPRESSO, recebê-lo-á «por uma questão de boa educação, nada mais que isso». Ou seja, não tomará qualquer outra iniciativa no sentido de dar cobertura ao pedido do autarca para que sejam tomadas medidas que «impeçam qualquer cidadão de ser aviltado e enxovalhado». Uma atitude irreversível? Também não é preciso, de acordo com a interpretação de um fiel santanista, convicto de que só o facto de Sampaio se ter mostrado disponível para receber Santana Lopes já fez mais pelo «enfant terrible» do PSD do que qualquer lei propositadamente criada contra os «Big Shows SIC». E é quase certo que, mesmo que o Presidente nada diga, a audiência em Belém será a escapatória para Santana poder voltar atrás com uma atitude que, garantiu a pés juntos, «não se trata de uma jogada». Santana Lopes anunciou o abandono da vida política nacional na segunda-feira, em reacção a um «sketch» - que qualificou como «uma canalhice» - do último «Big Show Sic», que o caricaturava como «Santana Copos». O presidente da Figueira da Foz afirmou que o seu regresso à política ficaria dependente da tomada de «medidas legislativas e de deliberação política» que limite aquele género de programas. Algo que, acrescentou, acha que «não virá a acontecer». Apesar da descrença, Santana Lopes pediu a audiência ao PR e disse aguardar uma tomada de posição da Provedoria de Justiça e da Alta Autoridade da Comunicação Social (AACS). Sebastião Lima Rego, chefe de gabinete da AACS, disse ao EXPRESSO que «até agora» (quarta-feira, dia da última reunião plenária) não deu entrada nenhuma queixa naquele organismo, pelo que «nenhum processo foi aberto». Já a Provedoria de Justiça limitou-se a informar que o caso lhe foi exposto por um vereador da Câmara da Figueira da Foz, ao qual foi dito que não poderiam interferir na SIC dado tratar-se de uma empresa privada e que a única coisa que poderiam fazer seria examinar a legislação existente para apurar se houve ou não violação. O silêncio do PSD A atitude de Santana Lopes teve poucas repercussões políticas dentro do seu próprio partido. Da sede nacional do PSD não se ouviram palavras de solidariedade - apesar de Marcelo Rebelo de Sousa ter tornado público que vai encontrar-se hoje com o autarca - e o caso foi ignorado na reunião do grupo parlamentar (na quarta-feira). É que, apesar de a generalidade dos sociais-democratas ouvidos pelo EXPRESSO considerar que «o programa de João Baião foi uma vergonha», todos afirmam que houve um «excesso de reacção» do visado. E não acreditam que a sua tomada de posição seja irreversível - os seus adversários internos crêem, aliás, que ela é mais motivada pelo excelente resultado de Marcelo no referendo, e o pouco espaço de manobra daí resultante para os seus eventuais candidatos a sucessores, do que pela rábula de Baião - e atribuem-lhe uma quota-parte de responsabilidade no sucedido. A este respeito, lembram as inúmeras capas de imprensa cor-de-rosa que suscitou, as entrevistas intimistas que deu, o protagonismo que adquiriu ao participar em programas televisivos tão polémicos como «A Cadeira do Poder» ou «Os Donos da Bola». A conclusão é inevitável: «Quem anda à chuva, molha-se». Significativo é o facto de os próprios apoiantes de Santana Lopes não levarem a sério a sua declaração irada de segunda-feira. Um dos santanistas mais fiéis admite que, embora originada numa real e justificada indignação, a atitude de Santana Lopes traz subjacente uma estratégia que, se resultar bem, apagará da opinião pública a memória da campanha do referendo - com o que ela trouxe de mau a Santana Lopes (obrigado pelas circunstâncias a uma cambalhota na sua posição relativa à regionalização) e de bom a Durão Barroso (que viu reforçada a sua posição de «líder na reserva» do PSD, com as televisões a fazerem directos da sua casa, na noite das eleições). A mesma fonte acredita que «o que Santana agora tem de fazer é arranjar maneira de regressar» e pensa que, nesse particular, «o Presidente pode ajudá-lo: ao recebê-lo em Belém valoriza negativamente o 'sketch' e positivamente a sua atitude». Confrontado com o facto de todo este processo poder prejudicar a credibilidade do potencial candidato a sucessor de Marcelo Rebelo de Sousa, aquele santanista desvaloriza: «Quando for preciso, ele ganha credibilidade». O EXPRESSO tentou, ao longo de toda a semana, sem sucesso, falar com o presidente da Câmara da Figueira da Foz. Cristina Figueiredo

com Ana Serzedelo e Orlando Raimundo

O caso do automóvel que caiu ao rio O EPISÓDIO que agora levou Pedro Santana Lopes a decidir abandonar a política não é o primeiro a opor meios de comunicação social e políticos.

Um dos casos mais conhecidos é o de António José Seguro e do antigo programa da SIC, apresentado por Artur Albarran, a «Cadeira do Poder».

Em Fevereiro de 1997, no dia da primeira emissão daquele que viria a tornar-se um polémico programa, a telenovela da noite foi interrompida várias vezes com um bloco noticioso «extra».

E este bloco noticioso relatava que um carro, pertença da Secretaria de Estado da Juventude - pasta na altura ocupada por António José Seguro - tinha caído ao rio. Nos sucessivos «blocos», acompanhados de imagens reais, nomeadamente a de um carro a ser içado do rio, dava-se a informação de que o secretário de Estado estaria acompanhado por uma senhora, que depois viria a deixar no Hospital da CUF, tendo saído desta unidade hospitalar pelas traseiras para evitar prestar declarações à comunicação social.

Os «blocos noticiosos», afinal, destinavam-se a promover a «Cadeira do Poder», que, curiosamente, na sua primeira emissão, tinha a participação de Pedro Santana Lopes.

Apesar de os «blocos noticiosos» nunca terem referido o nome de Seguro, apenas nomeando o secretário de Estado da Juventude, o actual secretário de Estado-adjunto do primeiro-ministro interpôs uma acção cível contra a SIC por ter transmitido um episódio de ficção como se fosse realidade e, por outro lado, por atentado ao seu bom nome e honra. A primeira sessão deste julgamento está marcada para o próximo dia 26 de Janeiro, no Tribunal de Oeiras.

Ainda em 1997, mas em Agosto, durante a pré-campanha para as eleições autárquicas, deu-se outro destes episódios, desta vez envolvendo a presidente da Câmara de Sintra, Edite Estrela e o jornal «GrandAmadora».

A propósito dos cartazes para as autárquicas, o jornal publicava uma «rábula» que envolvia uma «loiraça», afinal Edite Estrela. À presidente da Câmara não agradou a brincadeira e um processo contra o «GrandAmadora» onde se pede uma indemnização de 20 mil contos está ainda a correr em tribunal.

Na década de 80, ainda não exercia cargos políticos, Estrela também teve de lidar com um programa de Herman José que a parodiava. C.F./T.O.

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