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04-05-2001
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No meio de toda a tensão que se vivia em São Bento na noite e na manhã do cerco, ocorreram dramas pessoais e momentos caricatos. Foram horas em que, diz Basílio Horta, se revelaram "grandes homens e pequenos ditadores". Desde logo, pela falta de comida. O palácio não tinha as condições que tem hoje, com três bares e dois refeitórios, pelo que não havia muito a que recorrer. "Esgotámos os víveres em pouco tempo. Até os sacos de açúcar foram esgotados rapidamente", lembra Mota Amaral. Mas, a dada altura, "correu a voz de que um grupo parlamentar tinha recebido comida". Era o PCP. Vários deputados atravessam então os Passos Perdidos para reclamar víveres. À porta do grupo parlamentar comunista Helena Roseta cantou "Os Vampiros", com um coro que incluía diversos deputados e até dois polícias. Para cúmulo da ironia, recorda esta deputada, entre as pessoas que estavam nas galerias e que, portanto, também ficaram sequestradas, figurava o dono de um dos grandes restaurantes de Lisboa. Roseta chegou atrasada a São Bento no dia do cerco. Eram perto de 16h30 e viu uma multidão enorme, mas, como pensava que o marido, Pedro Roseta, estava lá dentro, entrou. Pedro Roseta, afinal, não estava. Tinha ido tratar de um assunto relativo ao partido e, quando chegou, já os manifestantes não o deixaram entrar: "Não me fizeram mal, mas não me deixaram entrar." Ficou do lado de fora, mas em contacto permanente com o interior. Lá dentro, segundo Mota Amaral, havia quem dormisse nos sofás dos Passos Perdidos. Porém, quando correu a notícia de que um grupo parlamentar tinha recebido comida, levantou-se uma onda de indignação. Raul Rego e Sophia de Mello Breyner eram dos mais indignados. "Entrámos lá dentro e confiscámos-lhes as vitualhas, que entregámos aos funcionários", conta o deputado social-democrata. Mas ocorreram outro tipo de situações, além das caricatas. Dramática era, por exemplo, a situação familiar de António Reis, que tinha dentro do palácio a mulher, grávida, que era funcionária da Assembleia: "Não era só eu - era a minha mulher, era a minha família, era o meu primeiro filho." Mais grave foi o drama familiar de Oliveira Dias, do CDS. A sua mulher, que já sofria de problemas de coração, na sequência do cerco teve um ataque cardíaco, do qual veio a morrer. Outro dos deputados que preocupava os seus colegas mais novos era Olívio França (PSD), que tinha uma saúde periclitante e que acabou por sair de ambulância. Oliveira Dias e Santos Silva (PSD) também tentaram sair, mas foram mandados recuar. Ao meio-dia do dia 13, os deputados puderam finalmente abandonar São Bento, por entre filas de manifestantes. Para uns, foi o alívio de ir finalmente para casa. Outros optaram por ir comer o mais rapidamente possível, ainda que muito perto da manifestação. Foi o caso de Mota Amaral, que, com outros deputado açorianos, subiu a Rua de São Bento e foi comer a um restaurante na zona do Rato "onde traziam logo para a mesa um pão com chouriço que foi comido enquanto o diabo esfrega os olhos". Comer e bem foi também a preocupação de António Reis, acompanhado de José Luís Nunes: "Perante a afronta e a humilhação que tínhamos tido, sentimos necessidade de restaurar a nossa dignidade num dos melhores restaurantes de Lisboa." Fome também tinham Helena Roseta e Cunha Leal, mas meteram-se no carro com Pedro Roseta e só pararam na Mealhada.

No meio de toda a tensão que se vivia em São Bento na noite e na manhã do cerco, ocorreram dramas pessoais e momentos caricatos. Foram horas em que, diz Basílio Horta, se revelaram "grandes homens e pequenos ditadores". Desde logo, pela falta de comida. O palácio não tinha as condições que tem hoje, com três bares e dois refeitórios, pelo que não havia muito a que recorrer. "Esgotámos os víveres em pouco tempo. Até os sacos de açúcar foram esgotados rapidamente", lembra Mota Amaral. Mas, a dada altura, "correu a voz de que um grupo parlamentar tinha recebido comida". Era o PCP. Vários deputados atravessam então os Passos Perdidos para reclamar víveres. À porta do grupo parlamentar comunista Helena Roseta cantou "Os Vampiros", com um coro que incluía diversos deputados e até dois polícias. Para cúmulo da ironia, recorda esta deputada, entre as pessoas que estavam nas galerias e que, portanto, também ficaram sequestradas, figurava o dono de um dos grandes restaurantes de Lisboa. Roseta chegou atrasada a São Bento no dia do cerco. Eram perto de 16h30 e viu uma multidão enorme, mas, como pensava que o marido, Pedro Roseta, estava lá dentro, entrou. Pedro Roseta, afinal, não estava. Tinha ido tratar de um assunto relativo ao partido e, quando chegou, já os manifestantes não o deixaram entrar: "Não me fizeram mal, mas não me deixaram entrar." Ficou do lado de fora, mas em contacto permanente com o interior. Lá dentro, segundo Mota Amaral, havia quem dormisse nos sofás dos Passos Perdidos. Porém, quando correu a notícia de que um grupo parlamentar tinha recebido comida, levantou-se uma onda de indignação. Raul Rego e Sophia de Mello Breyner eram dos mais indignados. "Entrámos lá dentro e confiscámos-lhes as vitualhas, que entregámos aos funcionários", conta o deputado social-democrata. Mas ocorreram outro tipo de situações, além das caricatas. Dramática era, por exemplo, a situação familiar de António Reis, que tinha dentro do palácio a mulher, grávida, que era funcionária da Assembleia: "Não era só eu - era a minha mulher, era a minha família, era o meu primeiro filho." Mais grave foi o drama familiar de Oliveira Dias, do CDS. A sua mulher, que já sofria de problemas de coração, na sequência do cerco teve um ataque cardíaco, do qual veio a morrer. Outro dos deputados que preocupava os seus colegas mais novos era Olívio França (PSD), que tinha uma saúde periclitante e que acabou por sair de ambulância. Oliveira Dias e Santos Silva (PSD) também tentaram sair, mas foram mandados recuar. Ao meio-dia do dia 13, os deputados puderam finalmente abandonar São Bento, por entre filas de manifestantes. Para uns, foi o alívio de ir finalmente para casa. Outros optaram por ir comer o mais rapidamente possível, ainda que muito perto da manifestação. Foi o caso de Mota Amaral, que, com outros deputado açorianos, subiu a Rua de São Bento e foi comer a um restaurante na zona do Rato "onde traziam logo para a mesa um pão com chouriço que foi comido enquanto o diabo esfrega os olhos". Comer e bem foi também a preocupação de António Reis, acompanhado de José Luís Nunes: "Perante a afronta e a humilhação que tínhamos tido, sentimos necessidade de restaurar a nossa dignidade num dos melhores restaurantes de Lisboa." Fome também tinham Helena Roseta e Cunha Leal, mas meteram-se no carro com Pedro Roseta e só pararam na Mealhada.

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