Televisões privadas fabricaram novos "pivots"

18-02-2001
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Televisões Privadas Fabricaram Novos "Pivots"

Por CATARINA CARDOSO MATOS

Domingo, 18 de Fevereiro de 2001 Mais jovens que no estrangeiro Em Portugal, a média de idade dos "pivots" que apresentam os espaços informativos do horário nobre não ultrapassa os 35 anos. O PÚBLICO falou com alguns - uns novos, outros já veteranos -, para perceber o porquê desta tendência. Em 1980, Henrique Garcia, actual director de informação da TVI, era jornalista da RTP e foi convidado a apresentar a emissão especial das eleições legislativas ganhas por Sá Carneiro. Aceitou, mas sentiu que "não tinha, aos 31 anos, maturidade suficiente para dar essa notícia". "Nessa altura, envelheci. Pintei uns cabelos brancos para ter uma imagem mais pesada, madura." Vinte anos depois, o panorama televisivo está muito diferente. O aparecimento de novos "pivots" nos principais blocos informativos televisivos deve-se, em grande parte, ao fim do monopólio da RTP e ao aparecimento da SIC e da TVI. As estações privadas sentiram necessidade de procurar novas caras que fossem a sua imagem de marca. Mas não foi só o surgimento das privadas que obrigou ao aparecimento de novos rostos nas televisões. Já antes, no post- 25 de Abril, tinha acontecido o mesmo. Joaquim Furtado, 52 anos, jornalista e ex-director de informação da estação pública, explica que "o ''pivot''- jornalista é um conceito recente. Antes da revolução, os ''pivots'' da RTP não eram jornalistas. Eram apresentadores, comunicadores que também apresentavam programas de outra natureza e não participavam no que a redacção fazia." Henrique Garcia lembra que "a revolução trouxe uma renovação imediata dos rostos que faziam informação". "Havia caras conotadas com o estado das coisas e era necessário que aparecessem outras." No entanto, a profissão de "pivot" é muito desgastante e as pessoas que apareceram, na altura, também "foram envelhecendo e foram sendo substituídas". "Muitas delas foram chamadas a outros cargos, como os de direcção", diz Joaquim Furtado. No princípio dos anos 90, os operadores privados tentaram fidelizar o lugar de "pivot". Henrique Garcia sublinha que "a SIC e a TVI ''fabricaram'' novos apresentadores". Para o antigo "pivot" do Jornal 2, "não é o ideal, mas é um mal necessário". Aos 51 anos, Henrique Garcia pensa "que a idade não retira nada e dá uma maior maturidade e ponderação". Joaquim Furtado também partilha da mesma opinião, afirmando: "Não há uma cultura de exclusão dos mais velhos. Há uma tendência para os apresentadores passarem a ter programas próprios. Um espaço de informação personalizado. É uma escolha." Em relação à geração pós-privadas, o jornalista da RTP sente que é "nova mas está mais preparada tecnicamente": "Cresceu, formou-se e vem mais bem apetrechada do que muitos que já lá estão." Caras novas e novas caras José Rodrigues dos Santos, 36 anos, "pivot" do Telejornal e director de informação da RTP, começou muito novo a sua carreira na televisão. Apresenta, com regularidade, o espaço nobre da informação há 11 anos. Rodrigues dos Santos acredita que "os apresentadores ganharam mais força com a concorrência." Nos EUA e na Grã-Bretanha, Rodrigues dos Santos refere que "existe concorrência há muito mais tempo e é por isso que os apresentadores são mais velhos." Mas, para Rodrigues dos Santos "o critério de juventude e beleza não é importante". Esta opinião é partilhada pela maioria dos "pivots" da sua geração. José Alberto Carvalho, de 33 anos, "pivot" do Jornal da Noite, afirma que "não há uma corrida aos rostos mais jovens" e acrescenta que "a idade não tem nada a ver com o profissionalismo". Rodrigo Guedes de Carvalho, 37 anos - a par de José Alberto Carvalho, a face do Jornal da Noite da SIC - não crê "que se opte por escolher os ''pivots'' pela idade". "É um bocadinho um mito, tirando os Rathers e os Jennings. Podia-se ter observado uma lógica estritamente estética no panorama televisivo. Acredito que há uma escolha da direcção, uma escolha de qualidade", acrescenta. Regularmente no ar há 14 anos - começou a carreira na RTP - e confessa que lhe agrada a ideia de "envelhecer em directo". Ana Sofia Vinhas, 28 anos, "pivot" de fim-de-semana do Jornal Nacional da TVI, chegou mais recentemente aos ecrãs e mantém-se, durante a semana, como repórter. Entende que a idade não é um factor importante para o bom desempenho da sua função. "Desde que o ''pivot'' transmita segurança, saiba comunicar e acredite no que está a dizer, a idade não me incomoda." Esta opinião também é partilhada por João Maia Abreu, 28 anos, que, em alternância com Ana Sofia Vinhas, apresenta o espaço informativo de fim-de-semana da TVI. "Desde que se seja bom profissional o problema da idade acaba por não contar". Mas, sublinha, "o ideal é o equilíbrio de gerações, dá mais vida à estação." A formação dos "pivots" A RTP é a única estação a fazer, com regularidade, cursos de formação de "pivot". Para Henrique Garcia a explicação para este facto é simples: "Uma empresa em elaboração [como é o caso das televisões privadas] não tem tempo, nem vocação, para fazer formação." Grande parte dos jornalistas das estações privadas começou na RTP e foi lá que aprendeu a ser "pivot". Esta é, aliás, uma das grandes glórias da televisão pública. "O José Alberto Carvalho, o Rodrigo Guedes de Carvalho, o Carlos Daniel, a Ana Sofia Vinhas e o Pedro Pinto fizeram escola na RTP", recorda Rodrigues dos Santos. A SIC, quando iniciou a sua actividade, realizou cursos de formação de vários meses com profissionais estrangeiros. Ana Sofia Vinhas e Pedro Pinto aprenderam com Henrique Garcia quando ainda estavam na RTP e prosseguiram essa aprendizagem na TVI. João Maia Abreu foi orientado por Manuela Moura Guedes. O novos "pivots" começam a fazer escola na televisões portuguesas. Mas Joaquim Furtado afirma que "é preciso tempo para perceber se esta tendência se confirma a longo prazo e se há, de facto, uma cultura do ''pivot'' jovem nos ecrãs nacionais". Já José Alberto Carvalho acredita que "esta geração vai ajudar a aumentar o prazo" de validade dos jornalistas-apresentadores. OUTROS TÍTULOS EM MEDIA Televisões privadas fabricaram novos "pivots"

Qualidades de um bom "pivot"

Retratos de jovens "pivots" portugueses

Os homens da âncora

TV Hoje

Cinema em casa

"Grande Amadora" fecha devido ao porte pago

Gorbachov imita Soares

TELECORREIO

Com todo o respeito

As críticas de Marcello Rebelo de Sousa

Televisões Privadas Fabricaram Novos "Pivots"

Por CATARINA CARDOSO MATOS

Domingo, 18 de Fevereiro de 2001 Mais jovens que no estrangeiro Em Portugal, a média de idade dos "pivots" que apresentam os espaços informativos do horário nobre não ultrapassa os 35 anos. O PÚBLICO falou com alguns - uns novos, outros já veteranos -, para perceber o porquê desta tendência. Em 1980, Henrique Garcia, actual director de informação da TVI, era jornalista da RTP e foi convidado a apresentar a emissão especial das eleições legislativas ganhas por Sá Carneiro. Aceitou, mas sentiu que "não tinha, aos 31 anos, maturidade suficiente para dar essa notícia". "Nessa altura, envelheci. Pintei uns cabelos brancos para ter uma imagem mais pesada, madura." Vinte anos depois, o panorama televisivo está muito diferente. O aparecimento de novos "pivots" nos principais blocos informativos televisivos deve-se, em grande parte, ao fim do monopólio da RTP e ao aparecimento da SIC e da TVI. As estações privadas sentiram necessidade de procurar novas caras que fossem a sua imagem de marca. Mas não foi só o surgimento das privadas que obrigou ao aparecimento de novos rostos nas televisões. Já antes, no post- 25 de Abril, tinha acontecido o mesmo. Joaquim Furtado, 52 anos, jornalista e ex-director de informação da estação pública, explica que "o ''pivot''- jornalista é um conceito recente. Antes da revolução, os ''pivots'' da RTP não eram jornalistas. Eram apresentadores, comunicadores que também apresentavam programas de outra natureza e não participavam no que a redacção fazia." Henrique Garcia lembra que "a revolução trouxe uma renovação imediata dos rostos que faziam informação". "Havia caras conotadas com o estado das coisas e era necessário que aparecessem outras." No entanto, a profissão de "pivot" é muito desgastante e as pessoas que apareceram, na altura, também "foram envelhecendo e foram sendo substituídas". "Muitas delas foram chamadas a outros cargos, como os de direcção", diz Joaquim Furtado. No princípio dos anos 90, os operadores privados tentaram fidelizar o lugar de "pivot". Henrique Garcia sublinha que "a SIC e a TVI ''fabricaram'' novos apresentadores". Para o antigo "pivot" do Jornal 2, "não é o ideal, mas é um mal necessário". Aos 51 anos, Henrique Garcia pensa "que a idade não retira nada e dá uma maior maturidade e ponderação". Joaquim Furtado também partilha da mesma opinião, afirmando: "Não há uma cultura de exclusão dos mais velhos. Há uma tendência para os apresentadores passarem a ter programas próprios. Um espaço de informação personalizado. É uma escolha." Em relação à geração pós-privadas, o jornalista da RTP sente que é "nova mas está mais preparada tecnicamente": "Cresceu, formou-se e vem mais bem apetrechada do que muitos que já lá estão." Caras novas e novas caras José Rodrigues dos Santos, 36 anos, "pivot" do Telejornal e director de informação da RTP, começou muito novo a sua carreira na televisão. Apresenta, com regularidade, o espaço nobre da informação há 11 anos. Rodrigues dos Santos acredita que "os apresentadores ganharam mais força com a concorrência." Nos EUA e na Grã-Bretanha, Rodrigues dos Santos refere que "existe concorrência há muito mais tempo e é por isso que os apresentadores são mais velhos." Mas, para Rodrigues dos Santos "o critério de juventude e beleza não é importante". Esta opinião é partilhada pela maioria dos "pivots" da sua geração. José Alberto Carvalho, de 33 anos, "pivot" do Jornal da Noite, afirma que "não há uma corrida aos rostos mais jovens" e acrescenta que "a idade não tem nada a ver com o profissionalismo". Rodrigo Guedes de Carvalho, 37 anos - a par de José Alberto Carvalho, a face do Jornal da Noite da SIC - não crê "que se opte por escolher os ''pivots'' pela idade". "É um bocadinho um mito, tirando os Rathers e os Jennings. Podia-se ter observado uma lógica estritamente estética no panorama televisivo. Acredito que há uma escolha da direcção, uma escolha de qualidade", acrescenta. Regularmente no ar há 14 anos - começou a carreira na RTP - e confessa que lhe agrada a ideia de "envelhecer em directo". Ana Sofia Vinhas, 28 anos, "pivot" de fim-de-semana do Jornal Nacional da TVI, chegou mais recentemente aos ecrãs e mantém-se, durante a semana, como repórter. Entende que a idade não é um factor importante para o bom desempenho da sua função. "Desde que o ''pivot'' transmita segurança, saiba comunicar e acredite no que está a dizer, a idade não me incomoda." Esta opinião também é partilhada por João Maia Abreu, 28 anos, que, em alternância com Ana Sofia Vinhas, apresenta o espaço informativo de fim-de-semana da TVI. "Desde que se seja bom profissional o problema da idade acaba por não contar". Mas, sublinha, "o ideal é o equilíbrio de gerações, dá mais vida à estação." A formação dos "pivots" A RTP é a única estação a fazer, com regularidade, cursos de formação de "pivot". Para Henrique Garcia a explicação para este facto é simples: "Uma empresa em elaboração [como é o caso das televisões privadas] não tem tempo, nem vocação, para fazer formação." Grande parte dos jornalistas das estações privadas começou na RTP e foi lá que aprendeu a ser "pivot". Esta é, aliás, uma das grandes glórias da televisão pública. "O José Alberto Carvalho, o Rodrigo Guedes de Carvalho, o Carlos Daniel, a Ana Sofia Vinhas e o Pedro Pinto fizeram escola na RTP", recorda Rodrigues dos Santos. A SIC, quando iniciou a sua actividade, realizou cursos de formação de vários meses com profissionais estrangeiros. Ana Sofia Vinhas e Pedro Pinto aprenderam com Henrique Garcia quando ainda estavam na RTP e prosseguiram essa aprendizagem na TVI. João Maia Abreu foi orientado por Manuela Moura Guedes. O novos "pivots" começam a fazer escola na televisões portuguesas. Mas Joaquim Furtado afirma que "é preciso tempo para perceber se esta tendência se confirma a longo prazo e se há, de facto, uma cultura do ''pivot'' jovem nos ecrãs nacionais". Já José Alberto Carvalho acredita que "esta geração vai ajudar a aumentar o prazo" de validade dos jornalistas-apresentadores. OUTROS TÍTULOS EM MEDIA Televisões privadas fabricaram novos "pivots"

Qualidades de um bom "pivot"

Retratos de jovens "pivots" portugueses

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