JORNAL PUBLICO: Houve escândalo, diz o PSD

21-06-2000
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26/05/95

Houve escândalo, diz o PSD

O PSD devolveu ontem ao PS as acusações quanto a nomeações de quadros do partido para cargos do Estado com uma filosofia simples: se há nomeados do partido do Governo, também os há de militantes e simpatizantes socialistas. E, para credibilizar o contra-ataque e o pluralismo das suas escolhas, os sociais-democratas contrapõem, à tarde, 13 casos de militantes e simpatizantes do PS recentemente empossados em cargos públicos à lista de 15 nomes do seu partido que, de manhã, fora apresentada pelos socialistas.

Mas o PSD vai mais longe: num longo texto lido por Pedro Pinto, vice-presidente da Comissão Política Nacional, recua 11 anos e desenterra uma história do tempo do bloco central, para concluir que o PS, "que se arroga em defensor da ética e dos princípios (...), protagonizou os mais escandalosos casos de clientelismo e compadrio". Foi um caso passado em Abril de 1984, que serve ao partido do Governo para pedir a cabeça de Jorge Coelho, braço-direito de António Guterres.

A história é por si só elucidativa e tem, além disso, o picante de ter como actor principal Jorge Coelho, justamente o homem que, ao meio-dia de ontem, dava a cara na conferência de imprensa em que foram denunciadas as "irregularidades" dos sociais-democratas.

Eis a história na versão "laranja": nos idos de 1984, a Carris, uma empresa pública de transportes, alterou, "por instrução superior", a sua orgânica, criando pela primeira vez o cargo de secretário-geral "com assento no conselho de administração e com direito às mordomias e estatuto de um administrador". Acontece que, dias depois, foi nomeado para este cargo um militante socialista "que, à época, ocupava as funções de chefe de gabinete do membro do Governo que tutelava essa empresa". Ainda de acordo com o texto do PSD, o "citado militante", ou seja, Jorge Coelho, que "nunca até então tivera qualquer vínculo ou ligação à empresa em causa, limitou-se a ocupar o lugar por algumas semanas, regressando de novo, como requisitado, às funções de chefe de gabinete". "Contudo, no entretanto, tinha garantido uma colocação vitalícia, estável e principescamente remunerada."

Ora, sendo Coelho o rosto que Guterres tem utilizado para "veicular as suas ideias ao país", o PSD encontra aqui um cheirinho a "escândalo". E vai daí quer saber o que pensa o secretário-geral do PS. Conhece a situação e pactua com ela ou desconhece-a e demite Jorge Coelho, interrogam os sociais-democratas.

Inquirido pelo PÚBLICO sobre se este caso não seria semelhante ao do assessor do ministro das Finanças, Pedro Pinto não lhe encontrou parecenças. "Paulo Padrão não é porta-voz do PSD, não tem o mesmo tipo de responsabilidades." Fica-se, portanto, a saber que o que conta não é a atitude política, mas a sua gradação.

Quanto às nomeações propriamente ditas, o texto lido por Pedro Pinto considera as acusações do PS uma "distorção da realidade" e a prova de que está "aflito e desorientado". E adianta que parte dos casos referidos "é falsa" e outra se refere a "cidadãos sem filiação partidária que circunstancialmente colaboravam com o Governo". Um caso apontado é o de Conceição Frutuso de Melo, chefe de gabinete do ministro Marques Mendes, que Pinto garante não ter sido nomeada para a administração do Teatro São Carlos.

Para os sociais-democratas, isto é como que o retomar de um tema já anteriormente glosado pelos seus principais opositores, uma tese que "o país não absorveu". Tanto mais que o seu poder foi "exercido com equidade e justiça, em que os critérios de competência específica para o exercício de funções se sobrepunham a quaisquer lógicas partidárias." E, como prova, voltam a enumerar as bandeiras "cor-de-rosa" em terras maioritariamente "laranja". Rui Vilar, na Caixa Geral de Depósitos; Sousa Gomes, na Cimpor; Consiglieri Pedroso, no Metro...

Quanto às propostas que, sobre esta matéria, foram também ontem apresentadas pelo Partido Popular (ver texto nesta página), Pedro Pinto achou "estranho" o facto de virem a público "em véspera de eleições". Mas ainda assim não as enjeitou.

Áurea Sampaio

26/05/95

Houve escândalo, diz o PSD

O PSD devolveu ontem ao PS as acusações quanto a nomeações de quadros do partido para cargos do Estado com uma filosofia simples: se há nomeados do partido do Governo, também os há de militantes e simpatizantes socialistas. E, para credibilizar o contra-ataque e o pluralismo das suas escolhas, os sociais-democratas contrapõem, à tarde, 13 casos de militantes e simpatizantes do PS recentemente empossados em cargos públicos à lista de 15 nomes do seu partido que, de manhã, fora apresentada pelos socialistas.

Mas o PSD vai mais longe: num longo texto lido por Pedro Pinto, vice-presidente da Comissão Política Nacional, recua 11 anos e desenterra uma história do tempo do bloco central, para concluir que o PS, "que se arroga em defensor da ética e dos princípios (...), protagonizou os mais escandalosos casos de clientelismo e compadrio". Foi um caso passado em Abril de 1984, que serve ao partido do Governo para pedir a cabeça de Jorge Coelho, braço-direito de António Guterres.

A história é por si só elucidativa e tem, além disso, o picante de ter como actor principal Jorge Coelho, justamente o homem que, ao meio-dia de ontem, dava a cara na conferência de imprensa em que foram denunciadas as "irregularidades" dos sociais-democratas.

Eis a história na versão "laranja": nos idos de 1984, a Carris, uma empresa pública de transportes, alterou, "por instrução superior", a sua orgânica, criando pela primeira vez o cargo de secretário-geral "com assento no conselho de administração e com direito às mordomias e estatuto de um administrador". Acontece que, dias depois, foi nomeado para este cargo um militante socialista "que, à época, ocupava as funções de chefe de gabinete do membro do Governo que tutelava essa empresa". Ainda de acordo com o texto do PSD, o "citado militante", ou seja, Jorge Coelho, que "nunca até então tivera qualquer vínculo ou ligação à empresa em causa, limitou-se a ocupar o lugar por algumas semanas, regressando de novo, como requisitado, às funções de chefe de gabinete". "Contudo, no entretanto, tinha garantido uma colocação vitalícia, estável e principescamente remunerada."

Ora, sendo Coelho o rosto que Guterres tem utilizado para "veicular as suas ideias ao país", o PSD encontra aqui um cheirinho a "escândalo". E vai daí quer saber o que pensa o secretário-geral do PS. Conhece a situação e pactua com ela ou desconhece-a e demite Jorge Coelho, interrogam os sociais-democratas.

Inquirido pelo PÚBLICO sobre se este caso não seria semelhante ao do assessor do ministro das Finanças, Pedro Pinto não lhe encontrou parecenças. "Paulo Padrão não é porta-voz do PSD, não tem o mesmo tipo de responsabilidades." Fica-se, portanto, a saber que o que conta não é a atitude política, mas a sua gradação.

Quanto às nomeações propriamente ditas, o texto lido por Pedro Pinto considera as acusações do PS uma "distorção da realidade" e a prova de que está "aflito e desorientado". E adianta que parte dos casos referidos "é falsa" e outra se refere a "cidadãos sem filiação partidária que circunstancialmente colaboravam com o Governo". Um caso apontado é o de Conceição Frutuso de Melo, chefe de gabinete do ministro Marques Mendes, que Pinto garante não ter sido nomeada para a administração do Teatro São Carlos.

Para os sociais-democratas, isto é como que o retomar de um tema já anteriormente glosado pelos seus principais opositores, uma tese que "o país não absorveu". Tanto mais que o seu poder foi "exercido com equidade e justiça, em que os critérios de competência específica para o exercício de funções se sobrepunham a quaisquer lógicas partidárias." E, como prova, voltam a enumerar as bandeiras "cor-de-rosa" em terras maioritariamente "laranja". Rui Vilar, na Caixa Geral de Depósitos; Sousa Gomes, na Cimpor; Consiglieri Pedroso, no Metro...

Quanto às propostas que, sobre esta matéria, foram também ontem apresentadas pelo Partido Popular (ver texto nesta página), Pedro Pinto achou "estranho" o facto de virem a público "em véspera de eleições". Mas ainda assim não as enjeitou.

Áurea Sampaio

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