EXPRESSO: Opinião

27-05-2001
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28/4/2001

OPINIÃO

Revolução: por uma ruptura geracional Pedro Duarte*

«Estranhamente, a sociedade portuguesa, perante o descalabro das políticas socialistas, a ausência de reformas estruturais, a degradação da situação económico-financeira, e até perante o seu próprio descontentamento, tem optado pela resignação. Na verdade, vivemos um impasse típico das épocas pré-revolucionárias, onde os perigos se agigantam e, paradoxalmente, as oportunidades florescem. Este é, pois, o momento certo para a afirmação de rupturas.» O PAÍS atravessa um momento difícil, bem perceptível nas conversas quotidianas, nos índices de confiança dos consumidores e nos resultados, previsões e opiniões especializadas sobre a nossa situação económica. De forma abrupta, o país apercebeu-se de que, ao contrário da ilusão que o euro criou, não estamos no «pelotão da frente» mas na «cauda da Europa». Temos o pior índice de produtividade do espaço europeu (calcula-se 44% da média europeia), a inflação e o custo de vida a disparar em flecha, a despesa pública completamente descontrolada (já vai em metade do PIB), o endividamento das famílias a níveis inacreditáveis (90% do rendimento disponível), o investimento estrangeiro produtivo cada vez mais distante, o défice externo a bater recordes, uma reforma fiscal inibitiva do investimento e da poupança. E estamos, desde 2000, com uma taxa de crescimento inferior à média europeia. Ou seja, no lugar da propalada convergência, estamos cada vez mais longe da Europa. Contudo, estranhamente, a sociedade portuguesa, perante o descalabro das políticas socialistas, a ausência de reformas estruturais, a degradação da situação económico-financeira, e até perante o seu próprio descontentamento, tem optado pela resignação. Na verdade, vivemos um impasse típico das épocas pré-revolucionárias, onde os perigos se agigantam e, paradoxalmente, as oportunidades florescem. Este é, pois, o momento certo para a afirmação de rupturas que, na minha óptica, deverão assentar, essencialmente, em três grandes pilares. Em primeiro lugar, numa corajosa (provavelmente impopular) reforma do Estado e da administração pública. Jamais este país será «moderno» enquanto não «aliviar» o Estado, tornando-o menos interveniente (caso TAP) e mais eficaz e independente no seu papel regulador, e enquanto tiver na administração pública uma máquina retrógrada e ineficiente. Portugal é o país da Europa (com excepção da Finlândia) que mais gasta em salários da função pública (cerca de 15% do PIB), sendo o que piores serviços oferece (na Saúde, na Educação, na Justiça, etc.). Enquanto a nossa administração pública não for exemplo de operacionalidade e eficiência, não poderemos esperar «milagres» da sociedade. Como tal, impõe-se um corte radical nas despesas públicas (racionalizando os encargos estatais) e a promoção de uma cultura de serviço público, alicerçada na eficácia, na velocidade, no mérito e na ambição. Em segundo lugar, num arrojado impulso ao espírito empreendedor, à iniciativa empresarial, à inovação e a novos «clusters» e novos mercados. E isso faz-se com reformas estruturais, com incentivos à internacionalização (nomeadamente com um plano de acção para o mundo lusófono), com a «democratização» das novas tecnologias, com estímulos à nova economia e com uma política fiscal atractiva para o investimento estrangeiro e incentivadora do investimento e do risco em sectores produtivos nacionais (i. e., o oposto da reforma de Pina Moura). Por último, numa autêntica revolução no sistema educativo. Nenhum país pode ambicionar ser competitivo neste mundo globalizado, permanecendo nos últimos lugares em todos os «rankings» educativos de entidades internacionais. É o que actualmente se passa com Portugal, na opinião da OCDE, do FMI ou da Comissão Europeia. A promoção da qualidade, da excelência e do mérito, a classificação (publicitada) e a gestão profissional das instituições, o alargamento da escolaridade obrigatória, a avaliação pedagógica anual dos docentes, a reorganização curricular em ordem às novas realidades e aos meios socioeconómicos, a aposta no ensino a distância (pela Internet) e a alteração da lógica de financiamento do ensino (centrando-o nos alunos e não nas instituições) são vectores essenciais de um ensino moderno. Acredito que estas reformas não serão atingidas sem verdadeira revolução nas atitudes e nos comportamentos. E esta revolução só é alcançável com o arrojo e a irreverência da juventude, devidamente acompanhada de outras gerações movidas pelo desejo de mudança (por «change angels», como lhes chamou António Carrapatoso há algumas semanas, no EXPRESSO). É de facto indispensável ao futuro do país, a assunção, da parte das suas novas gerações, de um papel mais activo na afirmação de rupturas e na busca de profundas mudanças. É urgente a transposição para o plano público da crescente relevância que as novas mentalidades vêm assumindo no sector privado. As novas gerações, que herdaram o 25 de Abril dos que hoje estão no poder, têm igualmente uma revolução para erguer. Por isso nasce este apelo à revolta geracional. Portugal carece de uma alternativa e o nosso futuro precisa de uma saída. * Presidente da JSD

COMENTÁRIOS AO ARTIGO

6 comentários 1 a 6

30 Abril 2001 às 1:05

"Franco-atirador"

O país necessita de facto de uma nova revolução, que instaure finalmente um sistema democrático, que meta os partidos políticos na ordem, que liberte os cidadãos da tirania partidária, que nos desligue duma União Europeia que está a destruir a nossa economia, a nossa soberania e a nossa liberdade. Mas alguém acredita que sejam os filhotes do PSD - ou do PS, ou do PP, ou do PCP - a fazerem a revolução que lhes iria destruir os tachos? O sistema oligárquico tem de ser destruído, mas não o será certamente por aqueles a quem esse sistema beneficia.

28 Abril 2001 às 23:15

O Trombone ( www.geocities.com/sssantiagooo )

Venham ao Trombone ver como é!

www.geocities.com/sssantiagooo

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28 Abril 2001 às 14:36

As novas gerações já estão senis!

nasceram acomodadas ao sistema e nunca serão capazes de ser jovens.

28 Abril 2001 às 14:34

Qual o espanto?

Não existem alternativas: entre iguais mais vale evitar custos dispensáveis.

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«Estranhamente, a sociedade portuguesa, perante o descalabro das políticas socialistas, a ausência de reformas estruturais, a degradação da situação económico-financeira, e até perante o seu próprio descontentamento, tem optado pela resignação. Na verdade, vivemos um impasse típico das épocas pré-revolucionárias, onde os perigos se agigantam e, paradoxalmente, as oportunidades florescem. Este é, pois, o momento certo para a afirmação de rupturas.» O PAÍS atravessa um momento difícil, bem perceptível nas conversas quotidianas, nos índices de confiança dos consumidores e nos resultados, previsões e opiniões especializadas sobre a nossa situação económica. De forma abrupta, o país apercebeu-se de que, ao contrário da ilusão que o euro criou, não estamos no «pelotão da frente» mas na «cauda da Europa». Temos o pior índice de produtividade do espaço europeu (calcula-se 44% da média europeia), a inflação e o custo de vida a disparar em flecha, a despesa pública completamente descontrolada (já vai em metade do PIB), o endividamento das famílias a níveis inacreditáveis (90% do rendimento disponível), o investimento estrangeiro produtivo cada vez mais distante, o défice externo a bater recordes, uma reforma fiscal inibitiva do investimento e da poupança. E estamos, desde 2000, com uma taxa de crescimento inferior à média europeia. Ou seja, no lugar da propalada convergência, estamos cada vez mais longe da Europa. Contudo, estranhamente, a sociedade portuguesa, perante o descalabro das políticas socialistas, a ausência de reformas estruturais, a degradação da situação económico-financeira, e até perante o seu próprio descontentamento, tem optado pela resignação. Na verdade, vivemos um impasse típico das épocas pré-revolucionárias, onde os perigos se agigantam e, paradoxalmente, as oportunidades florescem. Este é, pois, o momento certo para a afirmação de rupturas que, na minha óptica, deverão assentar, essencialmente, em três grandes pilares. Em primeiro lugar, numa corajosa (provavelmente impopular) reforma do Estado e da administração pública. Jamais este país será «moderno» enquanto não «aliviar» o Estado, tornando-o menos interveniente (caso TAP) e mais eficaz e independente no seu papel regulador, e enquanto tiver na administração pública uma máquina retrógrada e ineficiente. Portugal é o país da Europa (com excepção da Finlândia) que mais gasta em salários da função pública (cerca de 15% do PIB), sendo o que piores serviços oferece (na Saúde, na Educação, na Justiça, etc.). Enquanto a nossa administração pública não for exemplo de operacionalidade e eficiência, não poderemos esperar «milagres» da sociedade. Como tal, impõe-se um corte radical nas despesas públicas (racionalizando os encargos estatais) e a promoção de uma cultura de serviço público, alicerçada na eficácia, na velocidade, no mérito e na ambição. Em segundo lugar, num arrojado impulso ao espírito empreendedor, à iniciativa empresarial, à inovação e a novos «clusters» e novos mercados. E isso faz-se com reformas estruturais, com incentivos à internacionalização (nomeadamente com um plano de acção para o mundo lusófono), com a «democratização» das novas tecnologias, com estímulos à nova economia e com uma política fiscal atractiva para o investimento estrangeiro e incentivadora do investimento e do risco em sectores produtivos nacionais (i. e., o oposto da reforma de Pina Moura). Por último, numa autêntica revolução no sistema educativo. Nenhum país pode ambicionar ser competitivo neste mundo globalizado, permanecendo nos últimos lugares em todos os «rankings» educativos de entidades internacionais. 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É de facto indispensável ao futuro do país, a assunção, da parte das suas novas gerações, de um papel mais activo na afirmação de rupturas e na busca de profundas mudanças. É urgente a transposição para o plano público da crescente relevância que as novas mentalidades vêm assumindo no sector privado. As novas gerações, que herdaram o 25 de Abril dos que hoje estão no poder, têm igualmente uma revolução para erguer. Por isso nasce este apelo à revolta geracional. Portugal carece de uma alternativa e o nosso futuro precisa de uma saída. * Presidente da JSD

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30 Abril 2001 às 1:05

"Franco-atirador"

O país necessita de facto de uma nova revolução, que instaure finalmente um sistema democrático, que meta os partidos políticos na ordem, que liberte os cidadãos da tirania partidária, que nos desligue duma União Europeia que está a destruir a nossa economia, a nossa soberania e a nossa liberdade. Mas alguém acredita que sejam os filhotes do PSD - ou do PS, ou do PP, ou do PCP - a fazerem a revolução que lhes iria destruir os tachos? O sistema oligárquico tem de ser destruído, mas não o será certamente por aqueles a quem esse sistema beneficia.

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Qual o espanto?

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