O Linux implanta-se na Índia

09-05-2001
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A importância de um sistema operativo aberto e gratuito num país de fracos recursos

O Linux Implanta-se na Índia

Por FREDERICK NORONHA EM BANGALORE (ÍNDIA)

Segunda-feira, 19 de Março de 2001

Numerosas empresas, instituições e até escolas na Índia, ricas em talentos mas com falta de recursos, estão a descobrir diferentes modelos para criar e utilizar o potencial do "software". E os "voluntários" do inovador sistema operativo Linux vêm a demonstrar como esta maravilha da informática, já com uma década de existência, encerra inúmeras promessas para o mundo empresarial e para outros sectores.

A Índia é considerada uma futura superpotência na produção de "software" para computadores. Todavia, devido aos elevados custos das aplicações, os utilizadores deste país não podem comprá-lo e, na sua maioria, não usam cópias legais. Mas, de repente, parece estar a surgir uma nova solução, uma outra opção: o sistema operativo alternativo Linux, vindo da longínqua Finlândia, está a atrair muitos adeptos e a suscitar um interesse sem precedentes nesta distante região do Sul da Ásia.

O Linux, como os utilizadores de computadores aqui estão a descobrir, poderá potenciar o desenvolvimento de "software". E poderá também ajudar à expansão de planos de comércio electrónico e desempenhar um importante papel no desenvolvimento da Web. E, o que é melhor: tudo isto a um preço a que qualquer um pode chegar. O Linux integra-se no movimento do chamado Open Source Software - o "software" cujo código-fonte está no domínio público. Existem, organizados, grupos voluntários de utilizadores, denominados Linux Users Groups (Grupos de Utilizadores de Linux) em muitas partes da Índia e uma rede crescente de jovens profissionais está neste momento a estudar e desenvolver o potencial deste sistema operativo.

"O Linux é o paraíso dos programadores", diz G. Sagar, um engenheiro de "software" e desenhador de páginas da Web de vinte e tal anos, de Nova Bombaim. Ele salienta que este "software" não é vendido a um preço excessivamente alto, podendo comprar-se por algumas rupias (pouco mais de 2 dólares ou 400 escudos) ou até menos. Mas muitos utilizadores que estão a optar por ele não o fazem pelos seus baixos custosmas porque o Linux é considerado um produto de altíssima qualidade, que permite que se penetre no seu interior e se trabalhe nele.

O movimento do Free Software, como também é conhecido, foi fundado em 1985 por Richard M.Stallman. Os princípios básicos do "software" gratuito são a liberdade para estudar, a liberdade para alterar, a liberdade para partilhar ou distribuir, o direito de vender as suas versões e o princípio de que o código-fonte do "software" tem sempre de acompanhar os executáveis.

Uma vez que algumas pessoas vêem um enorme potencial para a aplicação aqui, na Índia, destes princípios, o que é que tudo isto significa para este país?

Diz V. Vinay, do IISc de Bangalore [no Sul da Índia e considerado o Silicon Valley indiano]: "As crianças gostam de brincar com as coisas, de as desmontar e - se tivermos sorte - de as montar de novo. O "software" gratuito estimula este tipo de exploração, permite a interacção com outras crianças e permite aprender a perceber programas complexos. E sem que se fique com a culpa de "piratear"! A destreza na criação, não na utilização, é crucial quando um país em vias de desenvolvimento como a Índia tem de criar o seu próprio nicho. Caso contrário, não passaremos de meros seguidores." Um outro impacto importante que o V. Vinay aponta ao "software" gratuito é na segurança do país: "O 'software' livre é um 'software' em que se pode confiar, pois temos o código-fonte."

Mas o Linux não é só importante por ser gratuito: ele é poderoso e robusto e também flexível, permitindo que se proceda a alterações e melhoramentos. Isso, para algumas pessoas, é importante, uma vez que a maior parte das aplicações comerciais são norte-americanas: "Precisamos de algo que possa ser personalizado, adaptado ao nosso gosto e exigências", diz Prakash Advani, de 28 anos de idade, CEO de um "site" na Web ( FreeOS.com ), que pretende promover os sistemas operativos gratuitos. Além disso, o Linux é barato, salienta Advani: não se paga licença por cliente, não se paga por cada actualização, suplementos ou características. Uma vez instalado, requer muito pouca manutenção e é quase grátis. "As pessoas associam grátis a baixa qualidade. Isso tem de mudar."

Até aqui, os computadores na Índia têm alargado o fosso entre os que têm e os que não têm, diz Sudhakar Chandrashekharan, um indiano residente em Silicon Valley, nos EUA, mas que tem promovido muito o Linux na Índia. "Uma coisa como o Linux pode fazer com que as coisas mudem. Porque pode trazer nova vida ao velho 'hardware' e ajudar a ultrapassar aquele fosso."

Thaths, de 28 anos, é engenheiro na Netscape, nos EUA, mas admite: "Os direitos de 'software' são injustos para nações de poucos recursos como a Índia." Está desejoso de ver uma distribuição do Linux específica para o Sul da Ásia: "Uma distribuição localizada do Linux contribuirá grandemente para tornar o Linux popular nos vários departamentos da administração pública."

Ramakrishnan M., de 23 anos, declara que o Linux é "muito relevante" para a Índia, devido ao baixo poder de compra, que fica abaixo da média: "Imaginem ter de comprar um sofisticado compilador de C, C++ ou Perl para qualquer outra plataforma. E não é só isso: o sistema de detecção de 'bugs' é óptimo." "Já não é preciso trabalhar com 'software' pirateado: o suporte para Linux está disponível na Internet através de listas de 'mailing'", diz ainda Ramakrishnan.

É um facto que a rede Linux-India tem o seu próprio "site" em http://www.linux-india.org , ligado a três listas de "mailing" muito úteis, incluindo a rede Linux-India-Help. Muitas vezes obtém-se as respostas às perguntas específicas num período de horas. Além disso, existem interessantes listas de "mailing" que se sabe serem muito úteis.

E muitas experiências estão já a ganhar forma por toda a Índia. Os utilizadores do Linux têm vindo já a promover este sistema operativo a partir de várias faculdades de engenharia e instituições de todo o país. Em Novembro de 2000, na exposição da IT.Com - que se realiza todos os anos em Bangalore -, jovens estudantes de engenharia explicaram exaustiva e pacientemente aos visitantes o poder do Linux. Além dos utilizadores individuais, existe um número cada vez maior de empresas - nacionais e estrangeiras - que vêm uma oportunidade de negócio na expansão do Linux (ou do GNU/Linux, como é por vezes chamado).

Entre as que fizeram sentir a sua presença contam-se a SuSE - uma empresa da Alemanha que oferece a sua própria distribuição do Linux a um custo muito inferior ao dos preços do "software" comercial - e também a Caldera, uma outra distribuidora de Linux.

A concorrer pelas atenções do público estava também uma empresa local de Bangalore, a Peacock Solutions, que oferece a vantagem do Linux em idiomas da Índia. Esta promessa tem grandes implicações para as empresas e para os utilizadores num país onde apenas uma pequena minoria utiliza a língua inglesa.

Pois a Peacock Solutions Private Limited ( http://www.peacocksys.com ) - que se intitula "The Bangalore Linux Company" - adaptou o StarOffice para o indiano e para dialectos regionais, como o hindi. O Star Office é um pacote de aplicações idêntico ao Office, da Microsoft, distribuído pela Sun Microsystems, mas cujo código-fonte está disponível para utilizadores individuais. No próximo ano, a empresa espera apresentar soluções em mais de 11 dialectos indianos, que resultarão em enormes desenvolvimentos da informática na Índia.

A importância de um sistema operativo aberto e gratuito num país de fracos recursos

O Linux Implanta-se na Índia

Por FREDERICK NORONHA EM BANGALORE (ÍNDIA)

Segunda-feira, 19 de Março de 2001

Numerosas empresas, instituições e até escolas na Índia, ricas em talentos mas com falta de recursos, estão a descobrir diferentes modelos para criar e utilizar o potencial do "software". E os "voluntários" do inovador sistema operativo Linux vêm a demonstrar como esta maravilha da informática, já com uma década de existência, encerra inúmeras promessas para o mundo empresarial e para outros sectores.

A Índia é considerada uma futura superpotência na produção de "software" para computadores. Todavia, devido aos elevados custos das aplicações, os utilizadores deste país não podem comprá-lo e, na sua maioria, não usam cópias legais. Mas, de repente, parece estar a surgir uma nova solução, uma outra opção: o sistema operativo alternativo Linux, vindo da longínqua Finlândia, está a atrair muitos adeptos e a suscitar um interesse sem precedentes nesta distante região do Sul da Ásia.

O Linux, como os utilizadores de computadores aqui estão a descobrir, poderá potenciar o desenvolvimento de "software". E poderá também ajudar à expansão de planos de comércio electrónico e desempenhar um importante papel no desenvolvimento da Web. E, o que é melhor: tudo isto a um preço a que qualquer um pode chegar. O Linux integra-se no movimento do chamado Open Source Software - o "software" cujo código-fonte está no domínio público. Existem, organizados, grupos voluntários de utilizadores, denominados Linux Users Groups (Grupos de Utilizadores de Linux) em muitas partes da Índia e uma rede crescente de jovens profissionais está neste momento a estudar e desenvolver o potencial deste sistema operativo.

"O Linux é o paraíso dos programadores", diz G. Sagar, um engenheiro de "software" e desenhador de páginas da Web de vinte e tal anos, de Nova Bombaim. Ele salienta que este "software" não é vendido a um preço excessivamente alto, podendo comprar-se por algumas rupias (pouco mais de 2 dólares ou 400 escudos) ou até menos. Mas muitos utilizadores que estão a optar por ele não o fazem pelos seus baixos custosmas porque o Linux é considerado um produto de altíssima qualidade, que permite que se penetre no seu interior e se trabalhe nele.

O movimento do Free Software, como também é conhecido, foi fundado em 1985 por Richard M.Stallman. Os princípios básicos do "software" gratuito são a liberdade para estudar, a liberdade para alterar, a liberdade para partilhar ou distribuir, o direito de vender as suas versões e o princípio de que o código-fonte do "software" tem sempre de acompanhar os executáveis.

Uma vez que algumas pessoas vêem um enorme potencial para a aplicação aqui, na Índia, destes princípios, o que é que tudo isto significa para este país?

Diz V. Vinay, do IISc de Bangalore [no Sul da Índia e considerado o Silicon Valley indiano]: "As crianças gostam de brincar com as coisas, de as desmontar e - se tivermos sorte - de as montar de novo. O "software" gratuito estimula este tipo de exploração, permite a interacção com outras crianças e permite aprender a perceber programas complexos. E sem que se fique com a culpa de "piratear"! A destreza na criação, não na utilização, é crucial quando um país em vias de desenvolvimento como a Índia tem de criar o seu próprio nicho. Caso contrário, não passaremos de meros seguidores." Um outro impacto importante que o V. Vinay aponta ao "software" gratuito é na segurança do país: "O 'software' livre é um 'software' em que se pode confiar, pois temos o código-fonte."

Mas o Linux não é só importante por ser gratuito: ele é poderoso e robusto e também flexível, permitindo que se proceda a alterações e melhoramentos. Isso, para algumas pessoas, é importante, uma vez que a maior parte das aplicações comerciais são norte-americanas: "Precisamos de algo que possa ser personalizado, adaptado ao nosso gosto e exigências", diz Prakash Advani, de 28 anos de idade, CEO de um "site" na Web ( FreeOS.com ), que pretende promover os sistemas operativos gratuitos. Além disso, o Linux é barato, salienta Advani: não se paga licença por cliente, não se paga por cada actualização, suplementos ou características. Uma vez instalado, requer muito pouca manutenção e é quase grátis. "As pessoas associam grátis a baixa qualidade. Isso tem de mudar."

Até aqui, os computadores na Índia têm alargado o fosso entre os que têm e os que não têm, diz Sudhakar Chandrashekharan, um indiano residente em Silicon Valley, nos EUA, mas que tem promovido muito o Linux na Índia. "Uma coisa como o Linux pode fazer com que as coisas mudem. Porque pode trazer nova vida ao velho 'hardware' e ajudar a ultrapassar aquele fosso."

Thaths, de 28 anos, é engenheiro na Netscape, nos EUA, mas admite: "Os direitos de 'software' são injustos para nações de poucos recursos como a Índia." Está desejoso de ver uma distribuição do Linux específica para o Sul da Ásia: "Uma distribuição localizada do Linux contribuirá grandemente para tornar o Linux popular nos vários departamentos da administração pública."

Ramakrishnan M., de 23 anos, declara que o Linux é "muito relevante" para a Índia, devido ao baixo poder de compra, que fica abaixo da média: "Imaginem ter de comprar um sofisticado compilador de C, C++ ou Perl para qualquer outra plataforma. E não é só isso: o sistema de detecção de 'bugs' é óptimo." "Já não é preciso trabalhar com 'software' pirateado: o suporte para Linux está disponível na Internet através de listas de 'mailing'", diz ainda Ramakrishnan.

É um facto que a rede Linux-India tem o seu próprio "site" em http://www.linux-india.org , ligado a três listas de "mailing" muito úteis, incluindo a rede Linux-India-Help. Muitas vezes obtém-se as respostas às perguntas específicas num período de horas. Além disso, existem interessantes listas de "mailing" que se sabe serem muito úteis.

E muitas experiências estão já a ganhar forma por toda a Índia. Os utilizadores do Linux têm vindo já a promover este sistema operativo a partir de várias faculdades de engenharia e instituições de todo o país. Em Novembro de 2000, na exposição da IT.Com - que se realiza todos os anos em Bangalore -, jovens estudantes de engenharia explicaram exaustiva e pacientemente aos visitantes o poder do Linux. Além dos utilizadores individuais, existe um número cada vez maior de empresas - nacionais e estrangeiras - que vêm uma oportunidade de negócio na expansão do Linux (ou do GNU/Linux, como é por vezes chamado).

Entre as que fizeram sentir a sua presença contam-se a SuSE - uma empresa da Alemanha que oferece a sua própria distribuição do Linux a um custo muito inferior ao dos preços do "software" comercial - e também a Caldera, uma outra distribuidora de Linux.

A concorrer pelas atenções do público estava também uma empresa local de Bangalore, a Peacock Solutions, que oferece a vantagem do Linux em idiomas da Índia. Esta promessa tem grandes implicações para as empresas e para os utilizadores num país onde apenas uma pequena minoria utiliza a língua inglesa.

Pois a Peacock Solutions Private Limited ( http://www.peacocksys.com ) - que se intitula "The Bangalore Linux Company" - adaptou o StarOffice para o indiano e para dialectos regionais, como o hindi. O Star Office é um pacote de aplicações idêntico ao Office, da Microsoft, distribuído pela Sun Microsystems, mas cujo código-fonte está disponível para utilizadores individuais. No próximo ano, a empresa espera apresentar soluções em mais de 11 dialectos indianos, que resultarão em enormes desenvolvimentos da informática na Índia.

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