Magnífica viagem ao Portugal de oitocentos

09-05-2001
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Porto Editora lançou CD-ROM dedicado a Eça de Queirós

Magnífica Viagem ao Portugal de Oitocentos

Por ISABEL GORJÃO SANTOS

Segunda-feira, 19 de Março de 2001

A família senta-se em redor do rádio e o momento é solene. A Emissora Nacional vai transmitir mais um episódio de "O Primo Basílio" ou "A Ilustre Casa de Ramires", e não há quem não queira acompanhar tais romances, venturas e desventuras, amores e desamores que o talento e a genialidade de Eça de Queirós criaram. Façamos, então, de conta que voltámos aos tempos da Emissora Nacional, na década de 60, e recuemos depois mais cem anos, até ao final do século XIX. Até à Geração de 70 e aos dias em que Eça, romântico, vagueava por "O Mistério da Estrada de Sintra" ou desvendava os segredos dos Maias.

Imaginemos também que não existe televisão e que o computador se transforma, de repente, numa máquina do tempo, capaz de nos transportar para uma deliciosa aventura queirosiana. Os "sites" na Internet dão lugar à imagem de um rádio de outros tempos, quando este ocupava o lugar central da sala, era do tamanho de uma televisão - um gigantesco e pesado caixote de madeira com dois botões - e toda a gente parava para o olhar, como se daquela caixa saísse mais do que som. Apetece ficar a olhar para o monitor do computador, ainda que aquela imagem de um rádio antigo não tenha o mesmo encanto que um aparelho verdadeiro.

"Vida e Obra de Eça de Queirós", um novo título multimédia que a Porto Editora lançou na passada semana, é uma viagem bastante interessante pelos trajectos, discursos e imagens de um dos mais brilhantes autores portugueses. Mais do que interessante, é uma viagem indispensável para estudantes, professores e todos os que se interessam pela obra de Eça de Queirós. É também uma travessia divertida, que permite "navegar" pelas mais diversas facetas da vida de Eça, do jornalimo às Conferências do Casino, da sua ligação a outros nomes da Geração de Setenta, como Alexandre Herculano, à sua vida de cônsul em vários países, passando pela vasta obra literária. As adaptações que a Emissora Nacional fez de algumas obras de Eça de Queirós, as fotografias com a família e entre amigos, e as caricaturas são alguns dos ingredientes que acompanham as 22 obras literárias presentes neste novo título da Porto Editora.

A coordenação científica deste CD-ROM foi de Carlos Reis, professor catedrático na Universidade de Coimbra e director da Biblioteca Nacional. Com seis livros e diversos ensaios publicados sobre Eça de Queirós, Carlos Reis teve, com este CD-ROM, a sua primeira experiência na área das aplicações multimédia. Aliás, este foi um projecto que "começou por ser um vago desafio e acabou por se transformar numa grande tarefa conjunta".

"Isto não tem nada a ver com escrever um livro, em que o autor trabalha numa espécie de ilha deserta e entrega, no final, o seu trabalho", adianta Carlos Reis - para quem Eça de Queirós é "um autor de palavras, de imagens, que apetece convocar para uma aventura multimédia".

Para o autor de "Vida e Obra de Eça de Queirós", existem inúmeras componentes que se articulam com a palavra que o autor escreveu, elementos esses que são fundamentais para a valorização da obra do autor e podem ser introduzidos num título multimédia. Carlos Reis considera que, hoje, é bastante fácil trabalhar num ambiente hipertextual - em que se utilizam ligações a outras informações ou imagens ao longo do texto, para quem quiser pormenorizar determinados aspectos da obra - ao que se acrescenta o som e a imagem.

Ao "navegar" em "Vida e Obra de Eça de Queirós" o utilizador pode ser pragmático e ir direito à informação que lhe interessa - ou deixar-se levar pelas diversas ligações, textos, sons e imagens com que se vai deparando ao longo da viagem. De início, são dadas diversas alternativas e, em cada uma delas, é possível encontrar referências a outros aspectos relacionados com o que se está a consultar. Em "Contextos e Trajectos", é feita uma alusão à época em que Eça de Queirós viveu, é relatado o percurso pessoal do escritor e a sua evolução literária, e são também dadas uma bibliografia e uma cronologia, com toda a obra queirosiana. A secção dos dicionários divide-se em personagens e temas, onde são caracterizadas todas as personagens criadas por Eça de Queirós, em todas as obras, e dada uma lista dos temas mais frequentemente abordados em cada romance, como o amor, o adultério, o incesto ou o romantismo.

"Bibliografias" é a maior secção deste título multimédia e nela estão incluídas 22 obras, de "O Mistério da Estrada de Sintra", inicialmente publicado pelo "Diário de Notícias" em 1870, passando por "O Crime do Padre Amaro" (1876), "O Primo Basílio", "A Cidade e as Serras" e "Os Maias". Cada uma das obras pode ser copiada para outro ficheiro ou impressa, para que o leitor a leve para qualquer parte e não tenha de a ler em frente ao computador.

Em "Imagens e Representações", entra-se numa espécie de teatro e galeria, onde se podem ver fotografias de Eça - uma das quais com o chamado "Grupo dos Cinco", que o junta a Antero de Quental, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins e Guerra Junqueiro -, dos locais por onde passou e caricaturas (inclusive autocaricaturas).

"Vida e Obra de Eça de Queirós" já está disponível e o seu preço ronda os oito contos. Depois de vaguear por este CD-ROM, nada como tentar acertar nas palavras cruzadas e alguns testes propostos pelo autor para testar a cultura queirosiana. Se os resultados não forem muito bons, pode-se sempre voltar a "ligar" a Emissora Nacional e ouvir mais um capítulo de "O Primo Basílio".

Isabel Gorjão Santos

Porto Editora lançou CD-ROM dedicado a Eça de Queirós

Magnífica Viagem ao Portugal de Oitocentos

Por ISABEL GORJÃO SANTOS

Segunda-feira, 19 de Março de 2001

A família senta-se em redor do rádio e o momento é solene. A Emissora Nacional vai transmitir mais um episódio de "O Primo Basílio" ou "A Ilustre Casa de Ramires", e não há quem não queira acompanhar tais romances, venturas e desventuras, amores e desamores que o talento e a genialidade de Eça de Queirós criaram. Façamos, então, de conta que voltámos aos tempos da Emissora Nacional, na década de 60, e recuemos depois mais cem anos, até ao final do século XIX. Até à Geração de 70 e aos dias em que Eça, romântico, vagueava por "O Mistério da Estrada de Sintra" ou desvendava os segredos dos Maias.

Imaginemos também que não existe televisão e que o computador se transforma, de repente, numa máquina do tempo, capaz de nos transportar para uma deliciosa aventura queirosiana. Os "sites" na Internet dão lugar à imagem de um rádio de outros tempos, quando este ocupava o lugar central da sala, era do tamanho de uma televisão - um gigantesco e pesado caixote de madeira com dois botões - e toda a gente parava para o olhar, como se daquela caixa saísse mais do que som. Apetece ficar a olhar para o monitor do computador, ainda que aquela imagem de um rádio antigo não tenha o mesmo encanto que um aparelho verdadeiro.

"Vida e Obra de Eça de Queirós", um novo título multimédia que a Porto Editora lançou na passada semana, é uma viagem bastante interessante pelos trajectos, discursos e imagens de um dos mais brilhantes autores portugueses. Mais do que interessante, é uma viagem indispensável para estudantes, professores e todos os que se interessam pela obra de Eça de Queirós. É também uma travessia divertida, que permite "navegar" pelas mais diversas facetas da vida de Eça, do jornalimo às Conferências do Casino, da sua ligação a outros nomes da Geração de Setenta, como Alexandre Herculano, à sua vida de cônsul em vários países, passando pela vasta obra literária. As adaptações que a Emissora Nacional fez de algumas obras de Eça de Queirós, as fotografias com a família e entre amigos, e as caricaturas são alguns dos ingredientes que acompanham as 22 obras literárias presentes neste novo título da Porto Editora.

A coordenação científica deste CD-ROM foi de Carlos Reis, professor catedrático na Universidade de Coimbra e director da Biblioteca Nacional. Com seis livros e diversos ensaios publicados sobre Eça de Queirós, Carlos Reis teve, com este CD-ROM, a sua primeira experiência na área das aplicações multimédia. Aliás, este foi um projecto que "começou por ser um vago desafio e acabou por se transformar numa grande tarefa conjunta".

"Isto não tem nada a ver com escrever um livro, em que o autor trabalha numa espécie de ilha deserta e entrega, no final, o seu trabalho", adianta Carlos Reis - para quem Eça de Queirós é "um autor de palavras, de imagens, que apetece convocar para uma aventura multimédia".

Para o autor de "Vida e Obra de Eça de Queirós", existem inúmeras componentes que se articulam com a palavra que o autor escreveu, elementos esses que são fundamentais para a valorização da obra do autor e podem ser introduzidos num título multimédia. Carlos Reis considera que, hoje, é bastante fácil trabalhar num ambiente hipertextual - em que se utilizam ligações a outras informações ou imagens ao longo do texto, para quem quiser pormenorizar determinados aspectos da obra - ao que se acrescenta o som e a imagem.

Ao "navegar" em "Vida e Obra de Eça de Queirós" o utilizador pode ser pragmático e ir direito à informação que lhe interessa - ou deixar-se levar pelas diversas ligações, textos, sons e imagens com que se vai deparando ao longo da viagem. De início, são dadas diversas alternativas e, em cada uma delas, é possível encontrar referências a outros aspectos relacionados com o que se está a consultar. Em "Contextos e Trajectos", é feita uma alusão à época em que Eça de Queirós viveu, é relatado o percurso pessoal do escritor e a sua evolução literária, e são também dadas uma bibliografia e uma cronologia, com toda a obra queirosiana. A secção dos dicionários divide-se em personagens e temas, onde são caracterizadas todas as personagens criadas por Eça de Queirós, em todas as obras, e dada uma lista dos temas mais frequentemente abordados em cada romance, como o amor, o adultério, o incesto ou o romantismo.

"Bibliografias" é a maior secção deste título multimédia e nela estão incluídas 22 obras, de "O Mistério da Estrada de Sintra", inicialmente publicado pelo "Diário de Notícias" em 1870, passando por "O Crime do Padre Amaro" (1876), "O Primo Basílio", "A Cidade e as Serras" e "Os Maias". Cada uma das obras pode ser copiada para outro ficheiro ou impressa, para que o leitor a leve para qualquer parte e não tenha de a ler em frente ao computador.

Em "Imagens e Representações", entra-se numa espécie de teatro e galeria, onde se podem ver fotografias de Eça - uma das quais com o chamado "Grupo dos Cinco", que o junta a Antero de Quental, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins e Guerra Junqueiro -, dos locais por onde passou e caricaturas (inclusive autocaricaturas).

"Vida e Obra de Eça de Queirós" já está disponível e o seu preço ronda os oito contos. Depois de vaguear por este CD-ROM, nada como tentar acertar nas palavras cruzadas e alguns testes propostos pelo autor para testar a cultura queirosiana. Se os resultados não forem muito bons, pode-se sempre voltar a "ligar" a Emissora Nacional e ouvir mais um capítulo de "O Primo Basílio".

Isabel Gorjão Santos

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