Adeus e até sábado!

19-05-2001
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Adeus e Até Sábado!

Por LAURINDA ALVES

Segunda-feira, 30 de Abril de 2001

É num misto de nostalgia (tristeza também não seria excessivo) e exaltação que escrevo a última crónica para a PÚBLICA.

Nostalgia porque ainda aqui estou e já tenho saudades dos três anos de escrita semanal nesta revista, deste jornal, cujos leitores, directores, editores, redactores e colaboradores admiro profundamente. Mesmo quando não subscrevo as suas opções, partilho as mesmas opiniões ou entramos por algum atalho mais polémico.

Nostalgia porque, tal como aqueles que amamos e ainda sentimos ao nosso lado, mas sabemos que vão partir ou seguir um caminho distante do nosso, dói a constatação inevitável da separação. Da despedida. De ter que dizer adeus. Seja até sempre, ou até depois.

Confesso que sempre me custaram as despedidas, o fim das coisas. De cada coisa, aliás. Tudo e todos me custa deixar e sei agora, com toda a segurança, que esta dor é inelutável. Faz parte do meu carácter. É, porventura, um dos traços mais vincados e fundos.

Por isso digo que tristeza não seria uma palavra excessiva para esta despedida, pois é com imensa tristeza que me despeço dos leitores de domingo a quem agradeço todas e cada uma das cartas, sugestões e críticas recebidas.

Ao mesmo tempo, é com exaltação, com uma enorme alegria interior, que escrevo. E explico porquê.

A partir da próxima semana, a revista XIS, que eu e a minha irmã Catarina criámos apaixonadamente há dois anos e construímos dia após dia, semana após semana, com a ajuda de uma equipa extraordinária, divertida e incansável, passa a sair com o jornal PÚBLICO. Todos os sábados, nós e o nosso jornal e leitores de eleição! E, ainda, os do coração, que nos acompanharam fielmente ao longo dos dois anos em que a XIS cresceu, se construiu e enraizou, a partir do conceito inicial em que eu e a Catarina apostámos, e se resume àquilo em que as duas acreditamos: "Melhor é sempre possível!".

Não será por acaso que eu e a Catarina, que nunca tínhamos trabalhado juntas (apesar de termos coincidido, durante alguns tempos, no jornal Independente e, mais tarde, fisicamente no mesmo edifício onde ela trabalhava directamente com o Raul Vaz, no Semanário, e eu dirigia a revista Pais & Filhos) nos unimos neste projecto. Julgo que aquilo que nos aproximou e sintonizou foi a herança de alegria, optimismo, esperança e espírito construtivo que ambas herdámos dos nossos pais e avós. Um optimismo incorrigível mas, perdoem-me e presunção, não o optimismo dos "contentinhos da vida" para quem tudo é maravilhoso e motivo de festa. A nossa herança (e a melhor que alguém como nós pode herdar) foi a de um optimismo realista de quem acredita que está nas nossas mãos fazer sempre mais e melhor. De quem sabe, porque aprendeu em casa e com a vida, que jamais poderemos mudar o mundo se não começarmos, nós próprios, por mudar a maneira como olhamos para ele e nos deixamos tocar por ele. É deste optimismo que falo, mais de um espírito construtivo que parte da realidade, tantas vezes dura e difícil de viver, do que daquele optimismo cego e teimoso dos que insistem em ver (e viver) como se tudo fosse fácil e cor de rosa.

Um dia o José Eduardo Agualusa escreveu qualquer coisa como "o pessimismo militante é um luxo moderno" e estou completamente de acordo com ele, na medida em que a minha convicção mais que profunda é a de que do pior podemos sempre tirar alguma coisa melhor. Nem que seja uma lição de vida, nem que seja a certeza de que não existe alegria sem sofrimento, ou, como diria o poeta Khalil Gibran "alguns de entre vós dizem: 'a alegria é maior que a tristeza', e outros dizem: 'não, a tristeza é maior.' Mas eu vos digo que elas são inseparáveis. Juntas elas surgem e, quando uma se senta sozinha à vossa mesa, recordai-vos de que a outra está a dormir na vossa cama. Na verdade, quais pratos de uma balança, estais suspensos entre a vossa tristeza e a vossa alegria".

É nisto que eu acredito e foi assente no patamar desta certeza que criámos a XIS, uma revista construtiva, prática e muito interactiva, que pretende dar respostas, sugestões e ideias aos leitores com dúvidas, expectativas, alegrias e tristezas reais.

Sei que, de alguma forma, a revista XIS contraria a lógica jornalística ainda muito em moda que dita que "good news are no news!". Na XIS as boas notícias são realmente boas notícias e as boas ideias (sejam as que partem dos leitores ou da equipa) são ideias boas para pensar.

Nesta linha, a XIS é a revista da transformação, do balanço interior, da mudança de imagem mas, também de atitude. Tudo sem que nada seja imposto mas, apenas e só, pensado e feito com os leitores.

Mas agora não é da XIS que me apetece falar mas sim destes anos que ficaram para trás e me trouxeram até aqui. Volto à nostalgia, portanto.

Gostava de dizer que o privilégio de criar uma revista nova, com um conceito muito próprio na qual tantos acreditaram que "acabámos" por vir parar ao PÚBLICO, para mim e para muitos o melhor jornal português, se deve a esses anos que ficaram para trás em que pessoas como o José Manuel Marques, o José Manuel Barata-Feyo, o Joaquim Furtado, o Miguel Esteves Cardoso, o Paulo Portas, a Constança Cunha e Sá, o Emídio Rangel, o Nelson de Matos, o Gonçalo Bulhosa, o João Carlos Silva, o José Manuel Fernandes, os leitores e tantos outros, acreditaram em mim e me deram sempre o maior e melhor estímulo para continuar. É a eles que devo, também, aquilo que sou. É a eles que quero agradecer tudo e tanto e é, também deles e dos "meus" queridos leitores de domingo que hoje me despeço. Até sábado!

Adeus e Até Sábado!

Por LAURINDA ALVES

Segunda-feira, 30 de Abril de 2001

É num misto de nostalgia (tristeza também não seria excessivo) e exaltação que escrevo a última crónica para a PÚBLICA.

Nostalgia porque ainda aqui estou e já tenho saudades dos três anos de escrita semanal nesta revista, deste jornal, cujos leitores, directores, editores, redactores e colaboradores admiro profundamente. Mesmo quando não subscrevo as suas opções, partilho as mesmas opiniões ou entramos por algum atalho mais polémico.

Nostalgia porque, tal como aqueles que amamos e ainda sentimos ao nosso lado, mas sabemos que vão partir ou seguir um caminho distante do nosso, dói a constatação inevitável da separação. Da despedida. De ter que dizer adeus. Seja até sempre, ou até depois.

Confesso que sempre me custaram as despedidas, o fim das coisas. De cada coisa, aliás. Tudo e todos me custa deixar e sei agora, com toda a segurança, que esta dor é inelutável. Faz parte do meu carácter. É, porventura, um dos traços mais vincados e fundos.

Por isso digo que tristeza não seria uma palavra excessiva para esta despedida, pois é com imensa tristeza que me despeço dos leitores de domingo a quem agradeço todas e cada uma das cartas, sugestões e críticas recebidas.

Ao mesmo tempo, é com exaltação, com uma enorme alegria interior, que escrevo. E explico porquê.

A partir da próxima semana, a revista XIS, que eu e a minha irmã Catarina criámos apaixonadamente há dois anos e construímos dia após dia, semana após semana, com a ajuda de uma equipa extraordinária, divertida e incansável, passa a sair com o jornal PÚBLICO. Todos os sábados, nós e o nosso jornal e leitores de eleição! E, ainda, os do coração, que nos acompanharam fielmente ao longo dos dois anos em que a XIS cresceu, se construiu e enraizou, a partir do conceito inicial em que eu e a Catarina apostámos, e se resume àquilo em que as duas acreditamos: "Melhor é sempre possível!".

Não será por acaso que eu e a Catarina, que nunca tínhamos trabalhado juntas (apesar de termos coincidido, durante alguns tempos, no jornal Independente e, mais tarde, fisicamente no mesmo edifício onde ela trabalhava directamente com o Raul Vaz, no Semanário, e eu dirigia a revista Pais & Filhos) nos unimos neste projecto. Julgo que aquilo que nos aproximou e sintonizou foi a herança de alegria, optimismo, esperança e espírito construtivo que ambas herdámos dos nossos pais e avós. Um optimismo incorrigível mas, perdoem-me e presunção, não o optimismo dos "contentinhos da vida" para quem tudo é maravilhoso e motivo de festa. A nossa herança (e a melhor que alguém como nós pode herdar) foi a de um optimismo realista de quem acredita que está nas nossas mãos fazer sempre mais e melhor. De quem sabe, porque aprendeu em casa e com a vida, que jamais poderemos mudar o mundo se não começarmos, nós próprios, por mudar a maneira como olhamos para ele e nos deixamos tocar por ele. É deste optimismo que falo, mais de um espírito construtivo que parte da realidade, tantas vezes dura e difícil de viver, do que daquele optimismo cego e teimoso dos que insistem em ver (e viver) como se tudo fosse fácil e cor de rosa.

Um dia o José Eduardo Agualusa escreveu qualquer coisa como "o pessimismo militante é um luxo moderno" e estou completamente de acordo com ele, na medida em que a minha convicção mais que profunda é a de que do pior podemos sempre tirar alguma coisa melhor. Nem que seja uma lição de vida, nem que seja a certeza de que não existe alegria sem sofrimento, ou, como diria o poeta Khalil Gibran "alguns de entre vós dizem: 'a alegria é maior que a tristeza', e outros dizem: 'não, a tristeza é maior.' Mas eu vos digo que elas são inseparáveis. Juntas elas surgem e, quando uma se senta sozinha à vossa mesa, recordai-vos de que a outra está a dormir na vossa cama. Na verdade, quais pratos de uma balança, estais suspensos entre a vossa tristeza e a vossa alegria".

É nisto que eu acredito e foi assente no patamar desta certeza que criámos a XIS, uma revista construtiva, prática e muito interactiva, que pretende dar respostas, sugestões e ideias aos leitores com dúvidas, expectativas, alegrias e tristezas reais.

Sei que, de alguma forma, a revista XIS contraria a lógica jornalística ainda muito em moda que dita que "good news are no news!". Na XIS as boas notícias são realmente boas notícias e as boas ideias (sejam as que partem dos leitores ou da equipa) são ideias boas para pensar.

Nesta linha, a XIS é a revista da transformação, do balanço interior, da mudança de imagem mas, também de atitude. Tudo sem que nada seja imposto mas, apenas e só, pensado e feito com os leitores.

Mas agora não é da XIS que me apetece falar mas sim destes anos que ficaram para trás e me trouxeram até aqui. Volto à nostalgia, portanto.

Gostava de dizer que o privilégio de criar uma revista nova, com um conceito muito próprio na qual tantos acreditaram que "acabámos" por vir parar ao PÚBLICO, para mim e para muitos o melhor jornal português, se deve a esses anos que ficaram para trás em que pessoas como o José Manuel Marques, o José Manuel Barata-Feyo, o Joaquim Furtado, o Miguel Esteves Cardoso, o Paulo Portas, a Constança Cunha e Sá, o Emídio Rangel, o Nelson de Matos, o Gonçalo Bulhosa, o João Carlos Silva, o José Manuel Fernandes, os leitores e tantos outros, acreditaram em mim e me deram sempre o maior e melhor estímulo para continuar. É a eles que devo, também, aquilo que sou. É a eles que quero agradecer tudo e tanto e é, também deles e dos "meus" queridos leitores de domingo que hoje me despeço. Até sábado!

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