Gestores de topo mais pessimistas com a economia e descrentes no Governo

08-09-2001
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Gestores de Topo Mais Pessimistas com a Economia e Descrentes no Governo

Por ARTUR NEVES

Segunda, 16 de Julho de 2001

Nos últimos três meses deterioraram-se significativamente as opiniões dos membros do Observatório Forum de Administradores de Empresas (FAE)-PÚBLICO sobre o Governo e as perspectivas económicas. A acreditar nos 98 gestores de topo que responderam ao último inquérito FAE/PÚBLICO, o terceiro trimestre deste ano será pior que o precedente quanto ao volume de negócios, à situação financeira e ao investimento. Tempos difíceis que exigiriam uma liderança forte, que na opinião da elite empresarial Portugal não tem. Quase 90 por cento dos associados da FAE consideram o governo e o primeiro-ministro fracos ou muito fracos. A oposição não está muito melhor com 71 por cento de apreciações negativas. Até o Presidente da República, tradicionalmente poupado nas sondagens, é "reprovado" por um em cada três inquiridos.

Mas vamos por partes. Quanto à conjuntura económica, a percentagem de inquiridos que no final de Junho previa um aumento do volume de negócios das empresas no trimestre seguinte ao inquérito caiu de 37 no início de Abril para 25 por cento em Julho. Em matéria de situação financeira, baixou de 21 para 14 por cento o número dos que acham que ela evoluirá favoravelmente. O investimento também deverá cair no curto prazo. A percentagem dos que prevêem uma quebra desta variável aumentou de 16 para 28 por cento.

Quanto ao mercado de capitais, apenas 35 por cento dos administradores atribuem a queda da bolsa portuguesa à situação vivida pelos mercados financeiros internacionais, o que não deixa de ser surpreendente, uma vez que a deriva da bolsa nova-iorquina e a instabilidade que se instalou recentemente nos mercados da América Latina são normalmente as causas mais comuns apresentadas pelos analistas financeiros. Na opinião dos inquiridos, também não é a alteração da tributação das mais-valias com acções introduzida pela reforma fiscal, o principal motivo do mau momento que a bolsa atravessa, apesar de a sua previsível revogação ir ter, para 70 por cento dos membros do painel, efeitos fortes ou razoáveis no mercado de capitais. Quase um em cada dois gestores consultados atribui a parte de leão das culpas às expectativas quanto à evolução da economia portuguesa.

Défice público de 1,1 por cento do PIB é miragem

No que se refere às taxas de juro do Banco Central Europeu, quase quatro em cada cinco gestores portugueses discordam que a instituição monetária considere apenas a inflação da zona euro quando equaciona a sua política monetária, conforme determinado pelo Tratado de Maastricht.

Na frente interna, o cepticismo grassa quanto à capacidade do Governo melhorar a saúde das finanças públicas do país. 79 por cento dos inquiridos não acreditam que o défice público de 2001 fique de acordo com os compromissos assumidos por Lisboa junto de Bruxelas. Tão pouco antevêem que o Governo leve a bom termo a recentemente anunciada reforma da despesa pública.

Guterres e Sampaio pioram, oposição menos má

Aliás, o Governo continua em estado de desgraça junto dos membros do Observatório FAE-PÚBLICO . Há três meses era considerado fraco ou mau por 78 por cento dos sondados. Essa percentagem é agora de 89 por cento. E António Guterres já não é uma mais-valia para o Executivo: a percentagem dos que o acham fraco ou mau (86 por cento) é praticamente a mesma dos que assim qualificam a actuação da sua equipa. O trambolhão de Guterres é superior ao do Governo: há três meses atrás era considerado fraco ou mau por "apenas" 69 por cento do painel. António Costa foi, dos três ministros avaliados este mês, aquele que mais opiniões favoráveis juntou.

A oposição recupera mas a sua classificação ainda é também francamente negativa. Em Abril cerca de 83 por cento dos inquiridos consideravam-na fraca ou má, percentagem que agora baixou para 71 por cento. Paulo Portas (em alta) continua a ser o líder da oposição preferido pelos inquiridos. Carlos Carvalhas (em forte ascensão) mantém o segundo lugar e Durão Barroso (em alta) o último.

Finalmente, o Presidente da República também sai um pouco amachucado da última auscultação à elite empresarial. A percentagem que considera excelente ou boa a actuação de Jorge Sampaio, baixou de 50 por cento para apenas 29 por cento. Concomitantemente a taxa de reprovação subiu de 19 por cento para 35 por cento.

Gestores de Topo Mais Pessimistas com a Economia e Descrentes no Governo

Por ARTUR NEVES

Segunda, 16 de Julho de 2001

Nos últimos três meses deterioraram-se significativamente as opiniões dos membros do Observatório Forum de Administradores de Empresas (FAE)-PÚBLICO sobre o Governo e as perspectivas económicas. A acreditar nos 98 gestores de topo que responderam ao último inquérito FAE/PÚBLICO, o terceiro trimestre deste ano será pior que o precedente quanto ao volume de negócios, à situação financeira e ao investimento. Tempos difíceis que exigiriam uma liderança forte, que na opinião da elite empresarial Portugal não tem. Quase 90 por cento dos associados da FAE consideram o governo e o primeiro-ministro fracos ou muito fracos. A oposição não está muito melhor com 71 por cento de apreciações negativas. Até o Presidente da República, tradicionalmente poupado nas sondagens, é "reprovado" por um em cada três inquiridos.

Mas vamos por partes. Quanto à conjuntura económica, a percentagem de inquiridos que no final de Junho previa um aumento do volume de negócios das empresas no trimestre seguinte ao inquérito caiu de 37 no início de Abril para 25 por cento em Julho. Em matéria de situação financeira, baixou de 21 para 14 por cento o número dos que acham que ela evoluirá favoravelmente. O investimento também deverá cair no curto prazo. A percentagem dos que prevêem uma quebra desta variável aumentou de 16 para 28 por cento.

Quanto ao mercado de capitais, apenas 35 por cento dos administradores atribuem a queda da bolsa portuguesa à situação vivida pelos mercados financeiros internacionais, o que não deixa de ser surpreendente, uma vez que a deriva da bolsa nova-iorquina e a instabilidade que se instalou recentemente nos mercados da América Latina são normalmente as causas mais comuns apresentadas pelos analistas financeiros. Na opinião dos inquiridos, também não é a alteração da tributação das mais-valias com acções introduzida pela reforma fiscal, o principal motivo do mau momento que a bolsa atravessa, apesar de a sua previsível revogação ir ter, para 70 por cento dos membros do painel, efeitos fortes ou razoáveis no mercado de capitais. Quase um em cada dois gestores consultados atribui a parte de leão das culpas às expectativas quanto à evolução da economia portuguesa.

Défice público de 1,1 por cento do PIB é miragem

No que se refere às taxas de juro do Banco Central Europeu, quase quatro em cada cinco gestores portugueses discordam que a instituição monetária considere apenas a inflação da zona euro quando equaciona a sua política monetária, conforme determinado pelo Tratado de Maastricht.

Na frente interna, o cepticismo grassa quanto à capacidade do Governo melhorar a saúde das finanças públicas do país. 79 por cento dos inquiridos não acreditam que o défice público de 2001 fique de acordo com os compromissos assumidos por Lisboa junto de Bruxelas. Tão pouco antevêem que o Governo leve a bom termo a recentemente anunciada reforma da despesa pública.

Guterres e Sampaio pioram, oposição menos má

Aliás, o Governo continua em estado de desgraça junto dos membros do Observatório FAE-PÚBLICO . Há três meses era considerado fraco ou mau por 78 por cento dos sondados. Essa percentagem é agora de 89 por cento. E António Guterres já não é uma mais-valia para o Executivo: a percentagem dos que o acham fraco ou mau (86 por cento) é praticamente a mesma dos que assim qualificam a actuação da sua equipa. O trambolhão de Guterres é superior ao do Governo: há três meses atrás era considerado fraco ou mau por "apenas" 69 por cento do painel. António Costa foi, dos três ministros avaliados este mês, aquele que mais opiniões favoráveis juntou.

A oposição recupera mas a sua classificação ainda é também francamente negativa. Em Abril cerca de 83 por cento dos inquiridos consideravam-na fraca ou má, percentagem que agora baixou para 71 por cento. Paulo Portas (em alta) continua a ser o líder da oposição preferido pelos inquiridos. Carlos Carvalhas (em forte ascensão) mantém o segundo lugar e Durão Barroso (em alta) o último.

Finalmente, o Presidente da República também sai um pouco amachucado da última auscultação à elite empresarial. A percentagem que considera excelente ou boa a actuação de Jorge Sampaio, baixou de 50 por cento para apenas 29 por cento. Concomitantemente a taxa de reprovação subiu de 19 por cento para 35 por cento.

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