Alegria na derrota

07-03-2001
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Ferreira do Amaral e direcção do PSD respiram de alívio com o resultado de 34,5 por cento

Alegria na Derrota

Por ANA SÁ LOPES

Segunda-feira, 15 de Janeiro de 2001

Ferreira do Amaral, Durão Barroso e o estado-maior do PSD perderam as eleições, como se esperava, mas aguentaram o embate das presidenciais. E sendo o contexto este, Ferreira e Durão não disfarçavam o prazer, ao assumirem uma derrota que sem saber a vitória, suscita um enorme suspiro de alívio.

Para Ferreira do Amaral, a noite eleitoral acabou às 21h40m, hora a que abandonou a sede da candidatura, ao Saldanha (Lisboa), acompanhado pela mulher, depois de ter recebido mais uma salva de palmas dos membros do "staff" do PSD, que se acotovelavam na exígua entrada do palacete que o abrigou nos últimos meses.

Ao fim e ao cabo, tudo acabou em bem. Como não era esperado que um candidato de direita alternativo a Sampaio viesse a ganhar as eleições - o que, de resto, levou os pesos-pesados Cavaco Silva, Freitas do Amaral e até o próprio Marcelo Rebelo de Sousa a não avançarem para uma candidatura, descontada a de Balsemão, trucidada em seu devido tempo pela hesitação de Barroso "acorrentado" aos tabus de Cavaco - a derrota acabou por se transformar em coisa menos má, ao ultrapassar a barreira dos 34 por cento.

Foi, pois, visível a alegria do candidato "Black and Decker", que apareceu a fazer a declaração de derrota com o prazer de quem inaugura uma auto-estrada: "A minha candidatura foi útil a Portugal", sintetizou, depois de ter felicitado Sampaio e agradecido a todos quantos com ele estiveram. "Os princípios e valores que defendi na minha carreira política são os que defendi na minha candidatura (...) Sinto a sensação do dever cumprido", disse, dedicando uma parte ao PSD ali personificado em Durão Barroso "pela generosidade e extraordinário apoio" e outra aos "militantes do CDS-PP que participaram com convicção na campanha", como Manuel Monteiro e Jorge Ferreira, que apareceram no Saldanha para festejar.

Depois de Ferreira do Amaral, falou Durão Barroso, exibindo uma satisfação de quem, apesar de não se saber quando, vê começarem a ser reunidas as condições para vir a ser primeiro-ministro. Felicitou Jorge Sampaio (anunciando que já o tinha feito directamente por telefone), afirmando que "o êxito do senhor Presidente da República será o êxito de Portugal" e felicitou Ferreira que "prestou um grande serviço à democracia portuguesa".

"Que teria sido destas eleições sem a candidatura de Ferreira do Amaral? Foi ele quem deu à campanha alguma substância, que abriu o debate sobre os poderes do Presidente da República, sobre a necessidade do Presidente ser independente face ao Governo. Foi ele, com o seu abnegado esforço, que valorizou a campanha das Presidenciais". Um desabafo: "Sejamos francos. Toda a gente já contava com a vitória de Jorge Sampaio. Toda a gente sabia ser difícil este desafio". E pôs-se a comparar os resultados das sondagens, que chegaram a dar a Ferreira do Amaral valores na ordem dos 20 por cento, para concluir com a tese da melhor derrota possível.

"Sampaio tem legitimidade renovada"

"É verdade que a abstenção atingiu resultados preocupantes", afirmou o líder do PSD, demarcando-se, sem o nomear, das teses de Paulo Portas: "Em democracia não se deve utilizar a abstenção para diminuir um resultado político. Os portugueses esperam uma acção firme do Presidente da República relativamente aos grandes anseios nacionais". Declarou, suavemente, ficar à espera de uma "acção atenta [do PR] no sentido de corrigir desvios do Governo" e não se inibiu de avançar com estes resultados para as suas mais favoráveis extrapolações: "Há que registar que Portugal venceu. Vamos para um novo ciclo da vida política".

Durão Barroso recusou a comentar as afirmações de Paulo Portas (ver texto abaixo), limitando-se a dizer que "o PSD esteve de corpo inteiro nesta campanha" e "apresenta-se de cabeça erguida por ter estado ao máximo, plenamente, na candidatura".

Dias Loureiro, que falou antes de Ferreira e Durão, tinha-se manifestado "chocado com a declaração do líder do CDS-PP, que apresentou-se como alguém que está fora do sistema político (...) sem ter dado contributo nenhum para esta campanha". Mas, ao contrário de Leonor Beleza (a mandatária, que fora a primeira a falar) Dias Loureiro não valorizou em excesso o impacto da abstenção, que para o ex-ministro de Cavaco hoje inteiramente dedicado aos seus negócios, até pode querer dizer que "para lá da política há um espaço enorme para as pessoas poderem viver e a política não determina tudo". Esta é, segundo Loureiro, "uma lição que os políticos devem retirar" e que, pelos vistos, ele próprio já retirou em tempo oportuno.

Ferreira do Amaral e direcção do PSD respiram de alívio com o resultado de 34,5 por cento

Alegria na Derrota

Por ANA SÁ LOPES

Segunda-feira, 15 de Janeiro de 2001

Ferreira do Amaral, Durão Barroso e o estado-maior do PSD perderam as eleições, como se esperava, mas aguentaram o embate das presidenciais. E sendo o contexto este, Ferreira e Durão não disfarçavam o prazer, ao assumirem uma derrota que sem saber a vitória, suscita um enorme suspiro de alívio.

Para Ferreira do Amaral, a noite eleitoral acabou às 21h40m, hora a que abandonou a sede da candidatura, ao Saldanha (Lisboa), acompanhado pela mulher, depois de ter recebido mais uma salva de palmas dos membros do "staff" do PSD, que se acotovelavam na exígua entrada do palacete que o abrigou nos últimos meses.

Ao fim e ao cabo, tudo acabou em bem. Como não era esperado que um candidato de direita alternativo a Sampaio viesse a ganhar as eleições - o que, de resto, levou os pesos-pesados Cavaco Silva, Freitas do Amaral e até o próprio Marcelo Rebelo de Sousa a não avançarem para uma candidatura, descontada a de Balsemão, trucidada em seu devido tempo pela hesitação de Barroso "acorrentado" aos tabus de Cavaco - a derrota acabou por se transformar em coisa menos má, ao ultrapassar a barreira dos 34 por cento.

Foi, pois, visível a alegria do candidato "Black and Decker", que apareceu a fazer a declaração de derrota com o prazer de quem inaugura uma auto-estrada: "A minha candidatura foi útil a Portugal", sintetizou, depois de ter felicitado Sampaio e agradecido a todos quantos com ele estiveram. "Os princípios e valores que defendi na minha carreira política são os que defendi na minha candidatura (...) Sinto a sensação do dever cumprido", disse, dedicando uma parte ao PSD ali personificado em Durão Barroso "pela generosidade e extraordinário apoio" e outra aos "militantes do CDS-PP que participaram com convicção na campanha", como Manuel Monteiro e Jorge Ferreira, que apareceram no Saldanha para festejar.

Depois de Ferreira do Amaral, falou Durão Barroso, exibindo uma satisfação de quem, apesar de não se saber quando, vê começarem a ser reunidas as condições para vir a ser primeiro-ministro. Felicitou Jorge Sampaio (anunciando que já o tinha feito directamente por telefone), afirmando que "o êxito do senhor Presidente da República será o êxito de Portugal" e felicitou Ferreira que "prestou um grande serviço à democracia portuguesa".

"Que teria sido destas eleições sem a candidatura de Ferreira do Amaral? Foi ele quem deu à campanha alguma substância, que abriu o debate sobre os poderes do Presidente da República, sobre a necessidade do Presidente ser independente face ao Governo. Foi ele, com o seu abnegado esforço, que valorizou a campanha das Presidenciais". Um desabafo: "Sejamos francos. Toda a gente já contava com a vitória de Jorge Sampaio. Toda a gente sabia ser difícil este desafio". E pôs-se a comparar os resultados das sondagens, que chegaram a dar a Ferreira do Amaral valores na ordem dos 20 por cento, para concluir com a tese da melhor derrota possível.

"Sampaio tem legitimidade renovada"

"É verdade que a abstenção atingiu resultados preocupantes", afirmou o líder do PSD, demarcando-se, sem o nomear, das teses de Paulo Portas: "Em democracia não se deve utilizar a abstenção para diminuir um resultado político. Os portugueses esperam uma acção firme do Presidente da República relativamente aos grandes anseios nacionais". Declarou, suavemente, ficar à espera de uma "acção atenta [do PR] no sentido de corrigir desvios do Governo" e não se inibiu de avançar com estes resultados para as suas mais favoráveis extrapolações: "Há que registar que Portugal venceu. Vamos para um novo ciclo da vida política".

Durão Barroso recusou a comentar as afirmações de Paulo Portas (ver texto abaixo), limitando-se a dizer que "o PSD esteve de corpo inteiro nesta campanha" e "apresenta-se de cabeça erguida por ter estado ao máximo, plenamente, na candidatura".

Dias Loureiro, que falou antes de Ferreira e Durão, tinha-se manifestado "chocado com a declaração do líder do CDS-PP, que apresentou-se como alguém que está fora do sistema político (...) sem ter dado contributo nenhum para esta campanha". Mas, ao contrário de Leonor Beleza (a mandatária, que fora a primeira a falar) Dias Loureiro não valorizou em excesso o impacto da abstenção, que para o ex-ministro de Cavaco hoje inteiramente dedicado aos seus negócios, até pode querer dizer que "para lá da política há um espaço enorme para as pessoas poderem viver e a política não determina tudo". Esta é, segundo Loureiro, "uma lição que os políticos devem retirar" e que, pelos vistos, ele próprio já retirou em tempo oportuno.

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