Convite a Paulo Portas

18-06-2000
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«O Paulo agora está ocupado», esclareceu Nobre Guedes, para o telemóvel. Mas depois de ouvir o seu interlocutor, afastou o aparelho e contou a Portas: «Ele diz que te quer convidar para dirigires um gabinete sócio-político das universidades privadas fundidas, e que te pagará uma fortuna.»

«E ele julga que eu me ia vender por alguma fortuna?!» Paulo Portas soerguia-se, para se sentar direito, com uma sacudidela determinada dos ombros, uma mirada rápida na minha direcção, a voz num crescendo. «Para mim, a ética acima de tudo! Já chegaram os escândalos da Universidade Moderna!» E depois de um silêncio denso, rematou mais baixo: «Mas vê lá quanto é que oferece, para o partido saber bem o que valho, na avaliação do meu ordenado.»

«O Paulo está realmente ocupado, mas gostaria de saber quanto estavas disposto a pagar-lhe», disse Nobre Guedes para o telefone. Uns instantes depois, esclarecia Portas: «Mil contos por mês, limpos de impostos; e garante que tem assegurada uma cobertura única de toda a imprensa, na sessão de posse.»

«Talvez pudesse tomar posse, só para aproveitar a cobertura de imprensa», comentou Portas, fixando agora o tecto, numa atitude reflexiva. «Seria pelo partido, naturalmente... e só cobraria o primeiro mês, porque me demitiria logo a seguir... definitivamente, não ficaria mais do que um mês!»

«Talvez o Paulo possa ir tomar posse», informou Nobre Guedes, pelo telemóvel. «Mas não assume um compromisso de tempo. Encararíamos uma experiência de um mês...»

Passados momentos, virou-se novamente para Portas: «Diz que no segundo mês está prevista uma grande sessão para a apresentação internacional do gabinete sócio-político, em Nova Iorque, para a qual asseguraram já a cobertura dos maiores órgãos de comunicação de todo o mundo; no dia dessa apresentação, pagam-te um bónus, equivalente ao dobro do ordenado mensal.»

«Asseguraram a cobertura dos principais órgãos de comunicação de todo o mundo?!» Portas empertigou-se todo, num sorriso radioso. «Mas que mais podemos desejar para a promoção internacional do nosso partido?! Dois meses! Aceito o cargo por dois meses, como um serviço ao partido! Nem mais um dia!» E adoptando logo um ar circunspecto, com um olhar de esguelha para mim, acrescentou: «O bónus não me interessa. Nunca deixaria que os meus princípios éticos sucumbissem a umas quantas notas de banco.» E mais baixo, quase ao ouvido de Nobre Guedes: «Não deixes é de avisar a direcção do partido sobre a minha cotação no mercado de trabalho.» E outra vez mais alto: «Avisa-o de que não me ofereça mais dinheiro, se não quer que me enerve!»

«O Paulo pode assumir um compromisso por dois meses», comunicou Nobre Guedes, pelo telefone. «Mas é melhor não oferecer mais dinheiro, porque ele se pode enervar, e os cofres do partido não suportam tantas ofertas.»

Segundos depois, Nobre Guedes transmitiu a Paulo Portas: «Diz que num contrato de seis meses podia incluir um Jaguar XJ8 automático, com gasolina e gastos de manutenção incluídos.»

Portas arrancou o telefone das mãos de Nobre Guedes, e disparou, num grito abafado: «Aceito!»

Relatos do PEDRO BRAGANÇA

«O Paulo agora está ocupado», esclareceu Nobre Guedes, para o telemóvel. Mas depois de ouvir o seu interlocutor, afastou o aparelho e contou a Portas: «Ele diz que te quer convidar para dirigires um gabinete sócio-político das universidades privadas fundidas, e que te pagará uma fortuna.»

«E ele julga que eu me ia vender por alguma fortuna?!» Paulo Portas soerguia-se, para se sentar direito, com uma sacudidela determinada dos ombros, uma mirada rápida na minha direcção, a voz num crescendo. «Para mim, a ética acima de tudo! Já chegaram os escândalos da Universidade Moderna!» E depois de um silêncio denso, rematou mais baixo: «Mas vê lá quanto é que oferece, para o partido saber bem o que valho, na avaliação do meu ordenado.»

«O Paulo está realmente ocupado, mas gostaria de saber quanto estavas disposto a pagar-lhe», disse Nobre Guedes para o telefone. Uns instantes depois, esclarecia Portas: «Mil contos por mês, limpos de impostos; e garante que tem assegurada uma cobertura única de toda a imprensa, na sessão de posse.»

«Talvez pudesse tomar posse, só para aproveitar a cobertura de imprensa», comentou Portas, fixando agora o tecto, numa atitude reflexiva. «Seria pelo partido, naturalmente... e só cobraria o primeiro mês, porque me demitiria logo a seguir... definitivamente, não ficaria mais do que um mês!»

«Talvez o Paulo possa ir tomar posse», informou Nobre Guedes, pelo telemóvel. «Mas não assume um compromisso de tempo. Encararíamos uma experiência de um mês...»

Passados momentos, virou-se novamente para Portas: «Diz que no segundo mês está prevista uma grande sessão para a apresentação internacional do gabinete sócio-político, em Nova Iorque, para a qual asseguraram já a cobertura dos maiores órgãos de comunicação de todo o mundo; no dia dessa apresentação, pagam-te um bónus, equivalente ao dobro do ordenado mensal.»

«Asseguraram a cobertura dos principais órgãos de comunicação de todo o mundo?!» Portas empertigou-se todo, num sorriso radioso. «Mas que mais podemos desejar para a promoção internacional do nosso partido?! Dois meses! Aceito o cargo por dois meses, como um serviço ao partido! Nem mais um dia!» E adoptando logo um ar circunspecto, com um olhar de esguelha para mim, acrescentou: «O bónus não me interessa. Nunca deixaria que os meus princípios éticos sucumbissem a umas quantas notas de banco.» E mais baixo, quase ao ouvido de Nobre Guedes: «Não deixes é de avisar a direcção do partido sobre a minha cotação no mercado de trabalho.» E outra vez mais alto: «Avisa-o de que não me ofereça mais dinheiro, se não quer que me enerve!»

«O Paulo pode assumir um compromisso por dois meses», comunicou Nobre Guedes, pelo telefone. «Mas é melhor não oferecer mais dinheiro, porque ele se pode enervar, e os cofres do partido não suportam tantas ofertas.»

Segundos depois, Nobre Guedes transmitiu a Paulo Portas: «Diz que num contrato de seis meses podia incluir um Jaguar XJ8 automático, com gasolina e gastos de manutenção incluídos.»

Portas arrancou o telefone das mãos de Nobre Guedes, e disparou, num grito abafado: «Aceito!»

Relatos do PEDRO BRAGANÇA

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