A vez de Durão

07-10-2000
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Alberto João Jardim é a única voz dissonante no mar de apoios recolhidos por Durão Barroso na primeira semana do pós-marcelismo. Mas até o polémico madeirense admite vir a apoiar o futuro líder... só depende do programa

MARCELO Rebelo de Sousa já pôs o seu lugar de vice-presidente do PPE à disposição e sugeriu o nome de Durão Barroso para o substituir. O gesto configura o apoio expresso do líder demissionário do PSD ao seu mais que provável sucessor, embora se saiba que Marcelo, desde o momento em que decidiu resignar, e não dispondo Leonor Beleza de condições para assumir o cargo, pensou logo em Barroso como a solução óbvia. O nome de Marcelo Rebelo de Sousa é, porém, apenas mais um a acrescentar à extensa lista de adeptos que o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros conquistou antes mesmo de anunciar - no domingo - a sua candidatura à liderança partidária. A onda de adesões - que levou o próprio candidato a ironizar, afirmando «isto não é uma vaga de fundo, é um 'tsunami' (expressão japonesa para maremoto)» - começou em Leonor Beleza. Rei morto, rei posto Com a prévia «autorização» de Marcelo (e o conhecimento de Barroso), a cabeça-de-lista da AD às eleições europeias convocou a imprensa para as oito da noite de sábado. Em directo para os telejornais, anunciou a sua disponibilidade para continuar a representar o PSD na corrida a Bruxelas e defendeu a necessidade de se resolver o vazio de liderança «o mais depressa possível», apontando logo o nome de Barroso - que, aliás, já apoiara em 1995, contra Fernando Nogueira - como aquele que possui «melhores condições». A declaração da primeira vice-presidente de Marcelo que, até à véspera, tinha estado tão envolvida na estratégia da Alternativa Democrática como o próprio Marcelo, não tardou a ser interpretada como um sinal de que os tempos tinham definitivamente mudado no PSD. E acabou a simbolizar o modo (quase chocante) como os chamados «marcelistas» se transferiram, sem evidenciar quaisquer traumas, para o «barrosismo». Seguiram-se-lhe, nessa mesma noite ainda, as distritais do partido reunidas num jantar - organizado pelo «barrosista» Fernando Reis, presidente da Distrital de Braga - no Porto. Embora nenhum dos representantes das distritais estivesse mandatado para expressar o apoio a qualquer candidato, Valentim Loureiro, apressou-se a confirmar, ainda que a título meramente pessoal, o seu patrocínio à candidatura de Durão Barroso - que, aliás, já deixara claro na edição do EXPRESSO desse dia - e não resistiu a acrescentar que pensava ser esse também o sentimento geral dos restantes comensais. José Raul dos Santos, presidente da Distrital de Beja, e Paulo Pereira Coelho, líder do PSD/Coimbra, confirmaram. O que nada teria de estranho não fosse dar-se o caso de, até aí, os três aparecerem na lista dos indefectíveis de Pedro Santana Lopes. «Não pode confundir-se uma relação de amizade, companheirismo político e coincidência de objectivos regionais com subserviências perfeitamente impróprias», explicou ao EXPRESSO Paulo Pereira Coelho. O recuo de Santana O autarca da Figueira da Foz - que ainda nessa manhã deixara aberta a porta de uma candidatura à liderança do PSD - já sabia, por essa altura, da «deserção» do seus soldados. E, embora um seu colaborador próximo garanta que Santana Lopes «nunca ponderou seriamente» a hipótese de avançar, os contactos feitos, durante a tarde, com Loureiro, Pereira Coelho e Raul dos Santos, tornaram-lhe claro que, mesmo que se decidisse a avançar, não dispunha de quaisquer condições de sucesso. No dia seguinte, na SIC, o homem que uma vez disse ao EXPRESSO que «está escrito» que ele e Durão Barroso se hão-de defrontar um dia desfez as dúvidas: «Não vai ser desta vez». Duarte Lima - que, há um mês, tentou fazer a ponte para um entendimento entre Barroso e Santana Lopes - começou por assumir algumas críticas ao ex-MNE. Lamentou, nomeadamente, o facto de o agora candidato não ter querido assumir-se como alternativa no Congresso do Porto. No jantar das distritais, fez-se representar pelo seu segundo vice-presidente, Alves Monteiro, e deu-lhe instruções precisas para não revelar quaisquer preferências. Para os «barrosistas» mais ferrenhos da sua Distrital não foi preciso mais para levarem o seu protesto à reunião da Permanente, na segunda-feira. Esta acabou, no entanto, por se saldar pela unanimidade na votação de um comunicado à imprensa onde se expressa o apoio do PSD/Lisboa à candidatura de Durão Barroso. Contactado pelo EXPRESSO, Duarte Lima esclareceu que este é um apoio «sem condições», garantindo que não vai negociar quaisquer lugares com o novo líder: «A sua liberdade deve ser o mais ampla possível, porque a sua responsabilidade também é grande», justificou, ao mesmo tempo que desmentiu «categoricamente» os rumores de que estaria a pressionar Barroso para que incluísse certos nomes da Distrital na próxima Comissão Política Nacional. Francisco Torres quer lugar na Europa Com efeito, apesar de asó na próxima segunda-feira ocorrer o Conselho Nacional do PSD que marcará o Congresso extraordinário para a eleição da nova direcção - previsto para 7,8 e 9 de Maio -, já há quem se esteja a bater por um lugar nos futuros elencos partidários. Francisco Torres é um deles. O coordenador do PSD na Comissão Parlamentar dos Assuntos Europeus reclama um lugar elegível na lista de candidatos ao Parlamento Europeu: «Acho lógico poder vir a incluir as listas», admitiu ao EXPRESSO reivindicando a legitimidade de quem, há um ano, em Tavira, encabeçou uma lista ao Conselho Nacional que obteve 10 por cento dos votos e no Porto, há um mês, apresentou uma moção que recolheu o apoio de 20 por cento dos delegado. As pretensões de Torres são, no entanto, rejeitadas por elementos próximos de Barroso que as qualificam mesmo como «ridículas» e garantem que o futuro líder não se deixa impressionar por pressões deste tipo. Nesta onda de unanimismo que se gerou em torno de Durão Barroso não entra Alberto João Jardim. O líder do PSD/Madeira e presidente da Mesa do Congresso faz depender o seu apoio do programa do candidato. CRISTINA FIGUEIREDO Ponte para o futuro A HIPÓTESE de uma aliança entre o PSD crítico de Marcelo e o PP adversário de Paulo Portas começou a desenhar-se no fim do Verão passado, com a constituição do movimento cívico contra a regionalização «Nação Unida».

A iniciativa partiu de Jaime Nogueira Pinto e rapidamente conquistou o apoio de Manuel Monteiro e do ex-secretário de Estado de Cavaco Silva, Paulo Teixeira Pinto. Juntaram-se-lhes quatro antigos ministros de Cavaco (Arlindo Carvalho, Eduardo Catroga, Faria de Oliveira e Mira Amaral), vários apoiantes de Durão Barroso - entre os quais Henrique Freitas, que faz parte do «núcleo duro» dos conselheiros do ex-ministro) - e de Santana Lopes, para além de Maria José Nogueira Pinto e de destacados monteiristas.

Não tardaram as leituras políticas sobre a curiosa associação destes nomes que partilhavam a oposição às respectivas lideranças partidárias e ao projecto da nova AD. E se é verdade que o «Nação Unida» se extinguiu com o referendo das regiões, a ideia de que teria servido de plataforma para entendimentos futuros vingou. Como agora se comprova face aos contactos para um possível acordo entre Barroso e Monteiro, caso Paulo Portas abandone a liderança do CDS/PP. C.F./T.O.

Durão reconcilia-se com Santana... e recebe apoio de Marcelo

A vez de Durão

O «new look» do PSD

Diário do sucessor

Marcelo convidou Leonor Beleza

Marques Mendes fica até Junho

Alberto João Jardim é a única voz dissonante no mar de apoios recolhidos por Durão Barroso na primeira semana do pós-marcelismo. Mas até o polémico madeirense admite vir a apoiar o futuro líder... só depende do programa

MARCELO Rebelo de Sousa já pôs o seu lugar de vice-presidente do PPE à disposição e sugeriu o nome de Durão Barroso para o substituir. O gesto configura o apoio expresso do líder demissionário do PSD ao seu mais que provável sucessor, embora se saiba que Marcelo, desde o momento em que decidiu resignar, e não dispondo Leonor Beleza de condições para assumir o cargo, pensou logo em Barroso como a solução óbvia. O nome de Marcelo Rebelo de Sousa é, porém, apenas mais um a acrescentar à extensa lista de adeptos que o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros conquistou antes mesmo de anunciar - no domingo - a sua candidatura à liderança partidária. A onda de adesões - que levou o próprio candidato a ironizar, afirmando «isto não é uma vaga de fundo, é um 'tsunami' (expressão japonesa para maremoto)» - começou em Leonor Beleza. Rei morto, rei posto Com a prévia «autorização» de Marcelo (e o conhecimento de Barroso), a cabeça-de-lista da AD às eleições europeias convocou a imprensa para as oito da noite de sábado. Em directo para os telejornais, anunciou a sua disponibilidade para continuar a representar o PSD na corrida a Bruxelas e defendeu a necessidade de se resolver o vazio de liderança «o mais depressa possível», apontando logo o nome de Barroso - que, aliás, já apoiara em 1995, contra Fernando Nogueira - como aquele que possui «melhores condições». A declaração da primeira vice-presidente de Marcelo que, até à véspera, tinha estado tão envolvida na estratégia da Alternativa Democrática como o próprio Marcelo, não tardou a ser interpretada como um sinal de que os tempos tinham definitivamente mudado no PSD. E acabou a simbolizar o modo (quase chocante) como os chamados «marcelistas» se transferiram, sem evidenciar quaisquer traumas, para o «barrosismo». Seguiram-se-lhe, nessa mesma noite ainda, as distritais do partido reunidas num jantar - organizado pelo «barrosista» Fernando Reis, presidente da Distrital de Braga - no Porto. Embora nenhum dos representantes das distritais estivesse mandatado para expressar o apoio a qualquer candidato, Valentim Loureiro, apressou-se a confirmar, ainda que a título meramente pessoal, o seu patrocínio à candidatura de Durão Barroso - que, aliás, já deixara claro na edição do EXPRESSO desse dia - e não resistiu a acrescentar que pensava ser esse também o sentimento geral dos restantes comensais. José Raul dos Santos, presidente da Distrital de Beja, e Paulo Pereira Coelho, líder do PSD/Coimbra, confirmaram. O que nada teria de estranho não fosse dar-se o caso de, até aí, os três aparecerem na lista dos indefectíveis de Pedro Santana Lopes. «Não pode confundir-se uma relação de amizade, companheirismo político e coincidência de objectivos regionais com subserviências perfeitamente impróprias», explicou ao EXPRESSO Paulo Pereira Coelho. O recuo de Santana O autarca da Figueira da Foz - que ainda nessa manhã deixara aberta a porta de uma candidatura à liderança do PSD - já sabia, por essa altura, da «deserção» do seus soldados. E, embora um seu colaborador próximo garanta que Santana Lopes «nunca ponderou seriamente» a hipótese de avançar, os contactos feitos, durante a tarde, com Loureiro, Pereira Coelho e Raul dos Santos, tornaram-lhe claro que, mesmo que se decidisse a avançar, não dispunha de quaisquer condições de sucesso. No dia seguinte, na SIC, o homem que uma vez disse ao EXPRESSO que «está escrito» que ele e Durão Barroso se hão-de defrontar um dia desfez as dúvidas: «Não vai ser desta vez». Duarte Lima - que, há um mês, tentou fazer a ponte para um entendimento entre Barroso e Santana Lopes - começou por assumir algumas críticas ao ex-MNE. Lamentou, nomeadamente, o facto de o agora candidato não ter querido assumir-se como alternativa no Congresso do Porto. No jantar das distritais, fez-se representar pelo seu segundo vice-presidente, Alves Monteiro, e deu-lhe instruções precisas para não revelar quaisquer preferências. Para os «barrosistas» mais ferrenhos da sua Distrital não foi preciso mais para levarem o seu protesto à reunião da Permanente, na segunda-feira. Esta acabou, no entanto, por se saldar pela unanimidade na votação de um comunicado à imprensa onde se expressa o apoio do PSD/Lisboa à candidatura de Durão Barroso. Contactado pelo EXPRESSO, Duarte Lima esclareceu que este é um apoio «sem condições», garantindo que não vai negociar quaisquer lugares com o novo líder: «A sua liberdade deve ser o mais ampla possível, porque a sua responsabilidade também é grande», justificou, ao mesmo tempo que desmentiu «categoricamente» os rumores de que estaria a pressionar Barroso para que incluísse certos nomes da Distrital na próxima Comissão Política Nacional. Francisco Torres quer lugar na Europa Com efeito, apesar de asó na próxima segunda-feira ocorrer o Conselho Nacional do PSD que marcará o Congresso extraordinário para a eleição da nova direcção - previsto para 7,8 e 9 de Maio -, já há quem se esteja a bater por um lugar nos futuros elencos partidários. Francisco Torres é um deles. O coordenador do PSD na Comissão Parlamentar dos Assuntos Europeus reclama um lugar elegível na lista de candidatos ao Parlamento Europeu: «Acho lógico poder vir a incluir as listas», admitiu ao EXPRESSO reivindicando a legitimidade de quem, há um ano, em Tavira, encabeçou uma lista ao Conselho Nacional que obteve 10 por cento dos votos e no Porto, há um mês, apresentou uma moção que recolheu o apoio de 20 por cento dos delegado. As pretensões de Torres são, no entanto, rejeitadas por elementos próximos de Barroso que as qualificam mesmo como «ridículas» e garantem que o futuro líder não se deixa impressionar por pressões deste tipo. Nesta onda de unanimismo que se gerou em torno de Durão Barroso não entra Alberto João Jardim. O líder do PSD/Madeira e presidente da Mesa do Congresso faz depender o seu apoio do programa do candidato. CRISTINA FIGUEIREDO Ponte para o futuro A HIPÓTESE de uma aliança entre o PSD crítico de Marcelo e o PP adversário de Paulo Portas começou a desenhar-se no fim do Verão passado, com a constituição do movimento cívico contra a regionalização «Nação Unida».

A iniciativa partiu de Jaime Nogueira Pinto e rapidamente conquistou o apoio de Manuel Monteiro e do ex-secretário de Estado de Cavaco Silva, Paulo Teixeira Pinto. Juntaram-se-lhes quatro antigos ministros de Cavaco (Arlindo Carvalho, Eduardo Catroga, Faria de Oliveira e Mira Amaral), vários apoiantes de Durão Barroso - entre os quais Henrique Freitas, que faz parte do «núcleo duro» dos conselheiros do ex-ministro) - e de Santana Lopes, para além de Maria José Nogueira Pinto e de destacados monteiristas.

Não tardaram as leituras políticas sobre a curiosa associação destes nomes que partilhavam a oposição às respectivas lideranças partidárias e ao projecto da nova AD. E se é verdade que o «Nação Unida» se extinguiu com o referendo das regiões, a ideia de que teria servido de plataforma para entendimentos futuros vingou. Como agora se comprova face aos contactos para um possível acordo entre Barroso e Monteiro, caso Paulo Portas abandone a liderança do CDS/PP. C.F./T.O.

Durão reconcilia-se com Santana... e recebe apoio de Marcelo

A vez de Durão

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Diário do sucessor

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Marques Mendes fica até Junho

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