Há mais mulheres nas redacções, mas notícias mantêm-se

09-05-2001
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Há Mais Mulheres nas Redacções, mas Notícias Mantêm-se

Por TERESA MATOS

Quarta-feira, 9 de Maio de 2001

masculinas

Debate sobre a mulher nos "media" e na publicidade

Apesar de indícios de uma "revolução dos costumes", ainda predominam os estereótipos tradicionais. Tendências de ruptura vêm da publicidade e dos desenhos animados

"Not bad for a girl." Foi assim que a revista "Exame" titulou a entrevista feita há cerca de um mês a Vera Nobre da Costa, a presidente da agência de publicidade Young & Rubican que actualmente lidera o "ranking" Sabatina das agências publicitárias nacionais.

A história, que serviu para ilustrar a forma como ainda hoje as mulheres podem ser discriminadas, foi contada pelo própria, uma das quatro oradoras convidadas, juntamente com Estrela Serrano, Paula Moura Pinheiro e Teresa Ribeiro, para o debate "A Mulher na Comunicação Social e na Publicidade" - uma iniciativa do Ministério da Presidência incluída no ciclo Igualdade de Oportunidades - Entre o Pensar e o Agir -, que teve lugar ontem, no auditório na RTP, em Lisboa.

Foi perante uma plateia maioritariamente feminina - até porque os poucos homens presentes estavam-no por razões institucionais, como salientou a moderadora do debate, Diana Andringa - que Estrela Serrano, provedora do leitor do "Diário de Notícias", salientou a crescente feminização das redacções dos vários "media".

Apesar desta evidência, a primeira mulher a exercer o cargo de provedora em Portugal reconheceu que predomina nas notícias "um certo tom masculino". E justificou este tom com base no facto de a maioria dos editores serem homens. Por outro lado, acrescentou que "a ideologia profissional identifica como notícias importantes as que se relacionam com interesses masculinos". Isto sem esquecer que "os homens possuem um protagonismo muito superior ao das mulheres". Estrela Serrano afirmou ainda que os assuntos relacionados com o mundo feminino são considerados "periféricos" e, embora presentes nos "media", são qualificados de "fait-divers", ou "mundanos".

Paula Moura Pinheiro tem uma visão mais optimista. A jornalista, feminista assumida, afirmou que, no que toca aos direitos das mulheres e exceptuando a questão do aborto, "o fundamental está garantido na lei". E acredita na revolução dos costumes. A publicidade e os desenhos animados são um bom exemplo. Se as louras vendem carros, também já há morenos a vender Coca-Cola. E já não são apenas as mulheres que são sujeitas ao impossível. Depois do mito das super-mulheres, que conseguem conciliar um sem-número de actividades, chegou a vez dos homens também sentirem a pressão de terem de ser "super". Nos desenhos animados japoneses e nas produções da Walt Disney a revolução constata-se no sexo dos heróis: é "indistinto".

Diana Andringa relembrou um outro episódio que pode indiciar uma mudança de atitudes na concepção dos papéis masculino e feminino. Numa recente entrevista ao ministro do Trabalho e da Solidariedade, Paulo Pedroso, a primeira pergunta da jornalista Maria Elisa foi precisamente a de "como consegue conciliar a actividade política com a vida familiar", a pergunta-cliché com que Vera Nobre da Costa se queixa de ser constantemente bombardeada.

Teresa Ribeiro, presidente do Instituto de Comunicação Social desde 1999, e que pertenceu ao Conselho Geral da UNESCO entre 1995 e 1999, tem uma visão mais pessimista. Não acredita na capacidade de os "media" romperem com as concepções mais conservadoras da sociedade - nas quais se incluem os vários estereótipos ligados ao papel das mulheres - já que a sua " tendência natural é o máximo denominador comum", o que não combina com rupturas.

Vera Nobre da Costa deu um toque de humor ao debate. Na presença do ministro da Presidência, Guilherme d'' Oliveira Martins, e do secretário de Estado da Comunicação Social, Arons de Carvalho, manifestou-se contra as quotas. Mas afirmou praticá-las na sua agência. No sentido contrário.

Há Mais Mulheres nas Redacções, mas Notícias Mantêm-se

Por TERESA MATOS

Quarta-feira, 9 de Maio de 2001

masculinas

Debate sobre a mulher nos "media" e na publicidade

Apesar de indícios de uma "revolução dos costumes", ainda predominam os estereótipos tradicionais. Tendências de ruptura vêm da publicidade e dos desenhos animados

"Not bad for a girl." Foi assim que a revista "Exame" titulou a entrevista feita há cerca de um mês a Vera Nobre da Costa, a presidente da agência de publicidade Young & Rubican que actualmente lidera o "ranking" Sabatina das agências publicitárias nacionais.

A história, que serviu para ilustrar a forma como ainda hoje as mulheres podem ser discriminadas, foi contada pelo própria, uma das quatro oradoras convidadas, juntamente com Estrela Serrano, Paula Moura Pinheiro e Teresa Ribeiro, para o debate "A Mulher na Comunicação Social e na Publicidade" - uma iniciativa do Ministério da Presidência incluída no ciclo Igualdade de Oportunidades - Entre o Pensar e o Agir -, que teve lugar ontem, no auditório na RTP, em Lisboa.

Foi perante uma plateia maioritariamente feminina - até porque os poucos homens presentes estavam-no por razões institucionais, como salientou a moderadora do debate, Diana Andringa - que Estrela Serrano, provedora do leitor do "Diário de Notícias", salientou a crescente feminização das redacções dos vários "media".

Apesar desta evidência, a primeira mulher a exercer o cargo de provedora em Portugal reconheceu que predomina nas notícias "um certo tom masculino". E justificou este tom com base no facto de a maioria dos editores serem homens. Por outro lado, acrescentou que "a ideologia profissional identifica como notícias importantes as que se relacionam com interesses masculinos". Isto sem esquecer que "os homens possuem um protagonismo muito superior ao das mulheres". Estrela Serrano afirmou ainda que os assuntos relacionados com o mundo feminino são considerados "periféricos" e, embora presentes nos "media", são qualificados de "fait-divers", ou "mundanos".

Paula Moura Pinheiro tem uma visão mais optimista. A jornalista, feminista assumida, afirmou que, no que toca aos direitos das mulheres e exceptuando a questão do aborto, "o fundamental está garantido na lei". E acredita na revolução dos costumes. A publicidade e os desenhos animados são um bom exemplo. Se as louras vendem carros, também já há morenos a vender Coca-Cola. E já não são apenas as mulheres que são sujeitas ao impossível. Depois do mito das super-mulheres, que conseguem conciliar um sem-número de actividades, chegou a vez dos homens também sentirem a pressão de terem de ser "super". Nos desenhos animados japoneses e nas produções da Walt Disney a revolução constata-se no sexo dos heróis: é "indistinto".

Diana Andringa relembrou um outro episódio que pode indiciar uma mudança de atitudes na concepção dos papéis masculino e feminino. Numa recente entrevista ao ministro do Trabalho e da Solidariedade, Paulo Pedroso, a primeira pergunta da jornalista Maria Elisa foi precisamente a de "como consegue conciliar a actividade política com a vida familiar", a pergunta-cliché com que Vera Nobre da Costa se queixa de ser constantemente bombardeada.

Teresa Ribeiro, presidente do Instituto de Comunicação Social desde 1999, e que pertenceu ao Conselho Geral da UNESCO entre 1995 e 1999, tem uma visão mais pessimista. Não acredita na capacidade de os "media" romperem com as concepções mais conservadoras da sociedade - nas quais se incluem os vários estereótipos ligados ao papel das mulheres - já que a sua " tendência natural é o máximo denominador comum", o que não combina com rupturas.

Vera Nobre da Costa deu um toque de humor ao debate. Na presença do ministro da Presidência, Guilherme d'' Oliveira Martins, e do secretário de Estado da Comunicação Social, Arons de Carvalho, manifestou-se contra as quotas. Mas afirmou praticá-las na sua agência. No sentido contrário.

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