Boda Aos Pobres
Por PEDRO CAMACHO
Segunda-feira, 12 de Fevereiro de 2001
Guterres prometeu que estava de regresso à política e está a cumprir, uma vez mais alavancado no seu principal distribuidor de simpatia. Ver os principais detractores da política governamental, que não têm poupado este Governo ao longo dos últimos meses, ali, bem comportadinhos, a assinarem acordos com o primeiro-ministro e o ministro Ferro Rodrigues em horário nobre de sexta-feira foi coisa que até deu gosto. À esquerda e à direita, representantes dos trabalhadores e do patronato, sem uma única falta.
Tire-se o chapéu a Paulo Pedroso, o secretário de Estado que conseguiu tal proeza política numa altura em que o diálogo entre parceiros e Governo não tem sido o melhor. Mas não vale a pena embandeirar em arco. Foi apenas conseguida uma assinatura para dois dos quatro temas do Acordo de Concertação Estratégica - higiene e segurança no trabalho e formação profissional. Ficou para o fim o mais difícil e "fracturante", os acordos sobre produtividade e salários, mercado de trabalho e sobre a reforma da segurança social.
Convencer alguém a receber dinheiro não é difícil. E, independentemente da "bondade" dos objectivos, distribuir dinheiro pelos descontentes foi o que o Governo andou a fazer na semana passada. Com o mesmo paternalismo de sempre, financiando o que não devia financiar, pagando custos que as empresas deviam assumir como naturalmente seus. "As empresas precisam de dar formação aos seus empregados? Não se preocupem que nós pagamos!", "As empresas precisam de gastar dinheiro para cumprirem a lei no que respeita a regras de higiene e segurança? Não há problema, nós pagamos!" Há alguém que não queira assinar este tipo de acordos?
Nem de propósito, a notícia de que a banca tinha sido multada pela Inspecção-Geral do Trabalho em 340 mil contos, por recorrer a trabalho suplementar não remunerado, surgiu em simultâneo com o anúncio dos apoios do Ministério do Emprego. Ironias... É fácil ver que o dinheiro que saiu por um lado irá entrar pelo outro, eventualmente com um prémio adicional.
O que não se vê é a forma como o Governo consegue compatibilizar este tipo de negócios com o objectivo, repetido até à exaustão, de reduzir a despesa pública. Mais uma vez, anuncia-se que se vai dar um passo à frente e dá-se de imediato dois atrás. Por muito que o Estado corte numa ponta, haverá sempre alguém a cair na tentação de esticar em demasia o lençol.
Pedro Camacho
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Boda Aos Pobres
Por PEDRO CAMACHO
Segunda-feira, 12 de Fevereiro de 2001
Guterres prometeu que estava de regresso à política e está a cumprir, uma vez mais alavancado no seu principal distribuidor de simpatia. Ver os principais detractores da política governamental, que não têm poupado este Governo ao longo dos últimos meses, ali, bem comportadinhos, a assinarem acordos com o primeiro-ministro e o ministro Ferro Rodrigues em horário nobre de sexta-feira foi coisa que até deu gosto. À esquerda e à direita, representantes dos trabalhadores e do patronato, sem uma única falta.
Tire-se o chapéu a Paulo Pedroso, o secretário de Estado que conseguiu tal proeza política numa altura em que o diálogo entre parceiros e Governo não tem sido o melhor. Mas não vale a pena embandeirar em arco. Foi apenas conseguida uma assinatura para dois dos quatro temas do Acordo de Concertação Estratégica - higiene e segurança no trabalho e formação profissional. Ficou para o fim o mais difícil e "fracturante", os acordos sobre produtividade e salários, mercado de trabalho e sobre a reforma da segurança social.
Convencer alguém a receber dinheiro não é difícil. E, independentemente da "bondade" dos objectivos, distribuir dinheiro pelos descontentes foi o que o Governo andou a fazer na semana passada. Com o mesmo paternalismo de sempre, financiando o que não devia financiar, pagando custos que as empresas deviam assumir como naturalmente seus. "As empresas precisam de dar formação aos seus empregados? Não se preocupem que nós pagamos!", "As empresas precisam de gastar dinheiro para cumprirem a lei no que respeita a regras de higiene e segurança? Não há problema, nós pagamos!" Há alguém que não queira assinar este tipo de acordos?
Nem de propósito, a notícia de que a banca tinha sido multada pela Inspecção-Geral do Trabalho em 340 mil contos, por recorrer a trabalho suplementar não remunerado, surgiu em simultâneo com o anúncio dos apoios do Ministério do Emprego. Ironias... É fácil ver que o dinheiro que saiu por um lado irá entrar pelo outro, eventualmente com um prémio adicional.
O que não se vê é a forma como o Governo consegue compatibilizar este tipo de negócios com o objectivo, repetido até à exaustão, de reduzir a despesa pública. Mais uma vez, anuncia-se que se vai dar um passo à frente e dá-se de imediato dois atrás. Por muito que o Estado corte numa ponta, haverá sempre alguém a cair na tentação de esticar em demasia o lençol.
Pedro Camacho