O estadozito da Nação

06-03-2001
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Governo em peso na Assembleia solidário com Cravinho no debate sobre obras públicas

O Estadozito da Nação

Por SÃO JOSÉ ALMEIDA

Sexta-feira, 18 de Junho de 1999 A "guerra" Ferreira do Amaral/Cravinho viveu ontem mais um episódio, em novos moldes. O PSD inscreveu 15 deputados para perguntarem sobre estradas não construídas. O Governo compareceu em peso com quatro ministros, que nem chegaram a falar. Uma espécie de antecipação do debate sobre o estado da Nação. Na primeira oportunidade após a vitória nas europeias, uma interpelação do PSD sobre a "paralisia das obras públicas", o Governo compareceu em peso, encabeçado pelo próprio primeiro-ministro, na Assembleia da República. Não para falar das eleições, mas numa manifestação de força, em solidariedade com o ministro do Equipamento, João Cravinho, e proceder a uma espécie de antecipação do debate sobre o estado da Nação que se realiza na próxima quarta-feira. Um debate no mínimo diferente em que Cravinho acabou a fazer graves acusações a Ferreira do Amaral e a Falcão e Cunha. Aludindo à auditoria que o Tribunal de Contas fez à Junta Autónoma de Estradas (JAE) que será aprovada para a semana e depois enviada à AR, o ministro atirou: "Quero ver aqui o senhor deputado Falcão e Cunha e o senhor deputado Ferreira do Amaral a responder por delapidação de dinheiros públicos, desleixo, incapacidade organizativa e acima de tudo por total irresponsabilidade política". E sobre a modernização da linha ferroviária do Norte defendeu mesmo que Ferreira do Amaral dera ao caso "um tratamento criminoso". Vencer pela exaustão E se o método com que o executivo respondeu a mais este episódio da "guerra" dos quilómetros de estrada construídos foi inédito, a forma como o PSD se perfilou para o combate também inovou. Para interrogar o ministro, inscreveram-se não um nem dois, mas quinze sociais-democratas a perguntarem sobre as estradas nos seus distritos. Como resposta, o Governo tinha preparados quatro ministros - João Cravinho, Marçal Grilo, Elisa Ferreira e Vera Jardim - para desfilarem a obra feita nos seus sectores, como prova de que, para os socialistas, não só de estradas vivem as obras públicas. Ou seja, a solidariedade com as pessoas, tão cara a Guterres, passa por apostas na construção de habitação social, escolas, hospitais e melhoria do Serviço Nacional de Saúde, no melhoramento do equipamento prisional e na preservação do ambiente. Só que nem sequer chegaram a falar. Eram oito da noite quando António Costa "desinscreveu" os seus colegas de Governo, alegando que o debate se transformara numa discussão sobre o PIDDAC, depois de o PSD ter posto quinze deputados a fazerem perguntas concretas. Em suma, tratou-se de um debate diferente no método, mas inconclusivo, como inúmeros outros neste domínio, já que a perspectiva e as prioridades políticas divergem entre socialistas e sociais-democratas. Até porque se o Cravinho avançou com cascatas de números, o PSD não arredou pé das críticas à inoperância e incapacidade de cumprir promessas do PS. A única conclusão foi a de que um debate que se anunciava como o possível enterro político de Cravinho, ainda não o foi. O ministro foi secundado pelos colegas e até teve direito à defesa final feita por Jorge Coelho, que acusou Durão Barroso de ter introduzido no grupo parlamentar a táctica das RGA: inscrever toda a gente para vencer pela exaustão. E sustentou que o PSD acusou o Governo de quebra do investimento público, mas o que há é da parte dos sociais-democratas uma "quebra de investimento real na construção de alternativas". Com o grosso dos ministros sentado na bancada do Governo e saído de um resultado nas urnas que o coloca mais de dez pontos acima do PSD, o PS não teve peias em "desprezar" os sociais-democratas. E assim que foram anunciados por Almeida Santos os nomes dos deputados do PSD inscritos para fazerem perguntas, o executivo não hesitou: Cravinho responderia a todas as perguntas em conjunto, durante apenas cinco minutos. Octávio Teixeira, líder parlamentar do PCP, ainda se manifestou contra o desrespeito à Assembleia. Mas a explicação do ministro dos Assuntos Parlamentares, António Costa, ainda piorou as coisas: "Os nomes eram tantos e tão desconhecidos que fiquei com a ideia de que eram todos do PSD. O Governo não pode gastar o tempo com perguntas só sobre obras públicas". Carlos Encarnação, vice-presidente da bancada social-democrata, tratou de protestar contra o facto de o executivo estar a dividir os deputados em "de primeira e de segunda", só que sem êxito. Os parlamentares do PSD foram obrigados a questionar Cravinho de seguida. E a resposta só a ouviram no fim. Mais um "round" Quanto às obras públicas, o Parlamento viveu mais um embate Ferreira do Amaral/ Cravinho. O ex-ministro das autoestradas de Cavaco Silva abriu o debate classificando o seu sucessor socialista de "ministro zero qulómetros" e opinando que aquele friso de ministros à sua frente acabava "por parecer um velório". Depois, partiu para um violento ataque a Cravinho e ao Governo "que durante quatro anos foi prometendo tudo o que vinha à cabeça, para depois, com a mesma cara, não cumprir nada". E propôs uma "volta ao Portugal das promessas" de Guterres para comprovação de que as estradas não existem. Para concluir que "a política das obras públicas deste Governo salda-se por um monumental falhanço". Os ataques do PSD foram terminados por Carlos Encarnação, já Ferreira do Amaral abandonara o plenário. O "vice" da bancada atirou mesmo que "há ministros que se suicidam só depois de assassinarem a sua credibilidade." Apesar dos ataques, Cravinho manteve o guião pré-programado pelo Governo. Falando logo a seguir a Ferreira do Amaral e ainda antes da procissão de perguntas, atirou com números e números que provam, no entender do Governo, que a obra feita é superior à dos governos de Cavaco Silva. O ministro jurou: "Não só não há crise de construção, como o sector tem à sua frente nos próximos anos, a maior expansão de mercado sustentada a largo prazo, que, alguma vez, se verificou em Portugal". E deslocando o debate para a política pura e dura, Cravinho, numa alusão implícita às europeias, contra-atacou: "Nos últimos tempos algo entrou em crise, mas não foi a indústria de construção. O que entrou em grave crise foi a construção do PSD como alternativa de Governo." OUTROS TÍTULOS

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PSD acusa Guterres no caso JAE

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Sexta-feira, 18 de Junho de 1999 A "guerra" Ferreira do Amaral/Cravinho viveu ontem mais um episódio, em novos moldes. O PSD inscreveu 15 deputados para perguntarem sobre estradas não construídas. O Governo compareceu em peso com quatro ministros, que nem chegaram a falar. Uma espécie de antecipação do debate sobre o estado da Nação. Na primeira oportunidade após a vitória nas europeias, uma interpelação do PSD sobre a "paralisia das obras públicas", o Governo compareceu em peso, encabeçado pelo próprio primeiro-ministro, na Assembleia da República. Não para falar das eleições, mas numa manifestação de força, em solidariedade com o ministro do Equipamento, João Cravinho, e proceder a uma espécie de antecipação do debate sobre o estado da Nação que se realiza na próxima quarta-feira. Um debate no mínimo diferente em que Cravinho acabou a fazer graves acusações a Ferreira do Amaral e a Falcão e Cunha. Aludindo à auditoria que o Tribunal de Contas fez à Junta Autónoma de Estradas (JAE) que será aprovada para a semana e depois enviada à AR, o ministro atirou: "Quero ver aqui o senhor deputado Falcão e Cunha e o senhor deputado Ferreira do Amaral a responder por delapidação de dinheiros públicos, desleixo, incapacidade organizativa e acima de tudo por total irresponsabilidade política". E sobre a modernização da linha ferroviária do Norte defendeu mesmo que Ferreira do Amaral dera ao caso "um tratamento criminoso". Vencer pela exaustão E se o método com que o executivo respondeu a mais este episódio da "guerra" dos quilómetros de estrada construídos foi inédito, a forma como o PSD se perfilou para o combate também inovou. Para interrogar o ministro, inscreveram-se não um nem dois, mas quinze sociais-democratas a perguntarem sobre as estradas nos seus distritos. Como resposta, o Governo tinha preparados quatro ministros - João Cravinho, Marçal Grilo, Elisa Ferreira e Vera Jardim - para desfilarem a obra feita nos seus sectores, como prova de que, para os socialistas, não só de estradas vivem as obras públicas. Ou seja, a solidariedade com as pessoas, tão cara a Guterres, passa por apostas na construção de habitação social, escolas, hospitais e melhoria do Serviço Nacional de Saúde, no melhoramento do equipamento prisional e na preservação do ambiente. Só que nem sequer chegaram a falar. Eram oito da noite quando António Costa "desinscreveu" os seus colegas de Governo, alegando que o debate se transformara numa discussão sobre o PIDDAC, depois de o PSD ter posto quinze deputados a fazerem perguntas concretas. Em suma, tratou-se de um debate diferente no método, mas inconclusivo, como inúmeros outros neste domínio, já que a perspectiva e as prioridades políticas divergem entre socialistas e sociais-democratas. Até porque se o Cravinho avançou com cascatas de números, o PSD não arredou pé das críticas à inoperância e incapacidade de cumprir promessas do PS. A única conclusão foi a de que um debate que se anunciava como o possível enterro político de Cravinho, ainda não o foi. O ministro foi secundado pelos colegas e até teve direito à defesa final feita por Jorge Coelho, que acusou Durão Barroso de ter introduzido no grupo parlamentar a táctica das RGA: inscrever toda a gente para vencer pela exaustão. E sustentou que o PSD acusou o Governo de quebra do investimento público, mas o que há é da parte dos sociais-democratas uma "quebra de investimento real na construção de alternativas". Com o grosso dos ministros sentado na bancada do Governo e saído de um resultado nas urnas que o coloca mais de dez pontos acima do PSD, o PS não teve peias em "desprezar" os sociais-democratas. E assim que foram anunciados por Almeida Santos os nomes dos deputados do PSD inscritos para fazerem perguntas, o executivo não hesitou: Cravinho responderia a todas as perguntas em conjunto, durante apenas cinco minutos. Octávio Teixeira, líder parlamentar do PCP, ainda se manifestou contra o desrespeito à Assembleia. Mas a explicação do ministro dos Assuntos Parlamentares, António Costa, ainda piorou as coisas: "Os nomes eram tantos e tão desconhecidos que fiquei com a ideia de que eram todos do PSD. O Governo não pode gastar o tempo com perguntas só sobre obras públicas". Carlos Encarnação, vice-presidente da bancada social-democrata, tratou de protestar contra o facto de o executivo estar a dividir os deputados em "de primeira e de segunda", só que sem êxito. Os parlamentares do PSD foram obrigados a questionar Cravinho de seguida. E a resposta só a ouviram no fim. Mais um "round" Quanto às obras públicas, o Parlamento viveu mais um embate Ferreira do Amaral/ Cravinho. O ex-ministro das autoestradas de Cavaco Silva abriu o debate classificando o seu sucessor socialista de "ministro zero qulómetros" e opinando que aquele friso de ministros à sua frente acabava "por parecer um velório". Depois, partiu para um violento ataque a Cravinho e ao Governo "que durante quatro anos foi prometendo tudo o que vinha à cabeça, para depois, com a mesma cara, não cumprir nada". E propôs uma "volta ao Portugal das promessas" de Guterres para comprovação de que as estradas não existem. Para concluir que "a política das obras públicas deste Governo salda-se por um monumental falhanço". Os ataques do PSD foram terminados por Carlos Encarnação, já Ferreira do Amaral abandonara o plenário. O "vice" da bancada atirou mesmo que "há ministros que se suicidam só depois de assassinarem a sua credibilidade." Apesar dos ataques, Cravinho manteve o guião pré-programado pelo Governo. Falando logo a seguir a Ferreira do Amaral e ainda antes da procissão de perguntas, atirou com números e números que provam, no entender do Governo, que a obra feita é superior à dos governos de Cavaco Silva. O ministro jurou: "Não só não há crise de construção, como o sector tem à sua frente nos próximos anos, a maior expansão de mercado sustentada a largo prazo, que, alguma vez, se verificou em Portugal". E deslocando o debate para a política pura e dura, Cravinho, numa alusão implícita às europeias, contra-atacou: "Nos últimos tempos algo entrou em crise, mas não foi a indústria de construção. O que entrou em grave crise foi a construção do PSD como alternativa de Governo." OUTROS TÍTULOS

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