O Independente

20-06-2000
marcar artigo

Uma tarde para esquecer

Áurea Sampaio

Paula Costa Simões

oindependente@mail.soci.pt

É muito natural que a “blague” de Carlos Carvalhas seja o fiel espelho da realidade. Um dia destes em que o primeiro-ministro aterrou no país – explicou o secretário-geral do PCP – , Jorge Coelho terá dito a Guterres: “A coisa está a ficar preta”. E perante isto, sentenciou o ministro-adjunto, “é preciso marketing político e comunicação com o país”. Seguiram-se os arranjos para o “diálogo” sob a forma de uma entrevista à RTP, o anúncio da conclusão da auto-estrada para o Algarve e a marcação do debate no Parlamento. Mas os planos saíram furados: a entrevista não correu bem, a auto-estrada já foi tantas vezes anunciada que ninguém ligou e a sessão na AR serviu mais para demonstrar as fraquezas do Governo do que para galvanizar o país. O inesperado disto tudo, possivelmente a grande novidade deste debate, talvez tenha sido o facto de Guterres se apresentar em S. Bento numa sessão marcada e com um figurino feito à sua medida, sem trazer no bolso uma só ideia ou uma proposta inovadora.

AGuterres@yahoo.pt

De facto, o primeiro-ministro atirou para o hemiciclo um conjunto de promessas, mas as exequíveis ou já tinham sido anunciadas ou constam de estudos de grupos de trabalho especializados. Estão no primeiro caso, entre outras, a reestruturação das urgências, a introdução dos genéricos, a revisão da comparticipação dos medicamentos ou o alargamento da rede de creches. No segundo grupo, incluem-se medidas como a diminuição de nove para seis dos escalões do IRS e a eliminação das taxas liberatórias em algumas situações, nomeadamente depósitos a prazo, que estão no estudo conduzido por Silva Lopes no âmbito da Reforma Fiscal. Depois há a internet e os telefones de terceira geração e a ênfase na chamada “nova economia” que tanto deslumbra Guterres e a bancada do PS. Francisco Assis chegou mesmo a dizer que “pela primeira vez na história, o tempo da contemporaneidade é igual ao tempo português”. Uma versão contrariada por toda a oposição, que desde Octávio Teixeira – “os trabalhadores pedem reposição do poder de compra, V. Exa. responde-lhes com a internet e ciberpaleio” – a Paulo Portas – “o primeiro-ministro veio para navegar na internet e eu queria convocá-lo para descer à vida comezinha da classe média portuguesa”- pontuou as divagações de Guterres pelo ciberespaço com estrondosas gargalhadas ou fartos apupos.

Temos ainda as promessas de aumentos na Função Pública no próximo ano, caso a inflação fique acima das previsões do Governo, e o não aumento dos combustíveis este ano e, quem sabe, durante toda a legislatura. Uma e outra não mereceram a credibilidade da câmara. Comunistas e bloquistas denunciaram o “eleitoralismo” dos eventuais aumentos salariais em ano de autárquicas; PSD e PP preferiram desmontar as “contradições” de Guterres na política de combustíveis que ora sacudia responsabilidades na subida dos preços ora dava garantias sobre algo que na verdade não controla. Para mais com a agravante de desmentir uma política de “verdade dos preços” garantida há poucas semanas pelo seu ministro das Finanças justamente naquele púlpito.

Coelho aponta inimigo

Mas há outro elemento novo, este protagonizado por Jorge Coelho, no discurso de encerramento do debate. O número dois do Governo usou praticamente toda a sua intervenção para um ataque cerrado ao PSD e a Durão Barroso. Foi um discurso partidário, como se fosse o líder do PS a falar com o seu mais directo opositor e com esta postura quisesse colar apenas a Guterres a pose de Estado. Coelho atirou primeiro sobre o PSD, como que a marcar o inimigo principal, acusando-o de “não ter uma única ideia para o país” e de utilizar apenas uma “estratégia de desgaste” pela “sede de poder”. Particularizou depois as críticas em Durão, a quem augurou que “nunca chegará a primeiro-ministro”, por “falta de ânimo” e porque os portugueses lhe dão “pouca confiança”. Uma valorização pouco habitual do PSD e que causou alguma estranheza nas bancadas. É certo que Coelho também falava para as suas hostes, tentando galvanizar o partido num momento particularmente difícil, mas talvez a dureza das suas palavras tenha também a ver com a boa intervenção que, pela primeira vez, o líder do PSD fez na AR. Durão foi cáustico para o Governo, enumerando todas as debilidades do estado da nação e pintando um quadro preocupante para o exercício de um futuro executivo.

Como se isto não bastasse, também Paulo Portas esteve no seu melhor, zurzindo o gabinete ministerial com dados demolidores sobre a segurança, desmontando as previsões da inflação e elencando todas as situações elucidativas sobre a falta de coordenação e de solidariedade no seio do Governo. Finalmente, Barroso e Portas não se digladiaram entre si. Eis o caldo de cultura para uma tarde de má memória para António Guterres.

O est@do do engenheiro

António Guterres, conhecido prestidigitador, foi esta semana ao Parlamento. Julgava o primeiro-ministro que a repetida fórmula “Guterres é muito bom parlamentar” resultaria de novo. Não resultou.

A forte queda da popularidade do Governo e a contestação a que tem estado sujeito nas ruas transportou-se quarta-feira para o Parlamento, no pré-debate sobre o estado da nação. Foi tão patente que, pela primeira vez, António Guterres não conseguiu “dar a volta” às críticas da oposição, que, também pela primeira vez, assestou baterias contra o Executivo em vez de se enredar nas habituais disputas entre si. E isto trouxe elementos novos para o resultado final de um debate cujo desfecho - muito negativo para o Governo - não seria previsível há bem pouco tempo.É muito natural que a “blague” de Carlos Carvalhas seja o fiel espelho da realidade. Um dia destes em que o primeiro-ministro aterrou no país – explicou o secretário-geral do PCP – , Jorge Coelho terá dito a Guterres: “A coisa está a ficar preta”. E perante isto, sentenciou o ministro-adjunto, “é preciso marketing político e comunicação com o país”. Seguiram-se os arranjos para o “diálogo” sob a forma de uma entrevista à RTP, o anúncio da conclusão da auto-estrada para o Algarve e a marcação do debate no Parlamento. Mas os planos saíram furados: a entrevista não correu bem, a auto-estrada já foi tantas vezes anunciada que ninguém ligou e a sessão na AR serviu mais para demonstrar as fraquezas do Governo do que para galvanizar o país. O inesperado disto tudo, possivelmente a grande novidade deste debate, talvez tenha sido o facto de Guterres se apresentar em S. Bento numa sessão marcada e com um figurino feito à sua medida, sem trazer no bolso uma só ideia ou uma proposta inovadora.De facto, o primeiro-ministro atirou para o hemiciclo um conjunto de promessas, mas as exequíveis ou já tinham sido anunciadas ou constam de estudos de grupos de trabalho especializados. Estão no primeiro caso, entre outras, a reestruturação das urgências, a introdução dos genéricos, a revisão da comparticipação dos medicamentos ou o alargamento da rede de creches. No segundo grupo, incluem-se medidas como a diminuição de nove para seis dos escalões do IRS e a eliminação das taxas liberatórias em algumas situações, nomeadamente depósitos a prazo, que estão no estudo conduzido por Silva Lopes no âmbito da Reforma Fiscal. Depois há a internet e os telefones de terceira geração e a ênfase na chamada “nova economia” que tanto deslumbra Guterres e a bancada do PS. Francisco Assis chegou mesmo a dizer que “pela primeira vez na história, o tempo da contemporaneidade é igual ao tempo português”. Uma versão contrariada por toda a oposição, que desde Octávio Teixeira – “os trabalhadores pedem reposição do poder de compra, V. Exa. responde-lhes com a internet e ciberpaleio” – a Paulo Portas – “o primeiro-ministro veio para navegar na internet e eu queria convocá-lo para descer à vida comezinha da classe média portuguesa”- pontuou as divagações de Guterres pelo ciberespaço com estrondosas gargalhadas ou fartos apupos.Temos ainda as promessas de aumentos na Função Pública no próximo ano, caso a inflação fique acima das previsões do Governo, e o não aumento dos combustíveis este ano e, quem sabe, durante toda a legislatura. Uma e outra não mereceram a credibilidade da câmara. Comunistas e bloquistas denunciaram o “eleitoralismo” dos eventuais aumentos salariais em ano de autárquicas; PSD e PP preferiram desmontar as “contradições” de Guterres na política de combustíveis que ora sacudia responsabilidades na subida dos preços ora dava garantias sobre algo que na verdade não controla. Para mais com a agravante de desmentir uma política de “verdade dos preços” garantida há poucas semanas pelo seu ministro das Finanças justamente naquele púlpito.Mas há outro elemento novo, este protagonizado por Jorge Coelho, no discurso de encerramento do debate. O número dois do Governo usou praticamente toda a sua intervenção para um ataque cerrado ao PSD e a Durão Barroso. Foi um discurso partidário, como se fosse o líder do PS a falar com o seu mais directo opositor e com esta postura quisesse colar apenas a Guterres a pose de Estado. Coelho atirou primeiro sobre o PSD, como que a marcar o inimigo principal, acusando-o de “não ter uma única ideia para o país” e de utilizar apenas uma “estratégia de desgaste” pela “sede de poder”. Particularizou depois as críticas em Durão, a quem augurou que “nunca chegará a primeiro-ministro”, por “falta de ânimo” e porque os portugueses lhe dão “pouca confiança”. Uma valorização pouco habitual do PSD e que causou alguma estranheza nas bancadas. É certo que Coelho também falava para as suas hostes, tentando galvanizar o partido num momento particularmente difícil, mas talvez a dureza das suas palavras tenha também a ver com a boa intervenção que, pela primeira vez, o líder do PSD fez na AR. Durão foi cáustico para o Governo, enumerando todas as debilidades do estado da nação e pintando um quadro preocupante para o exercício de um futuro executivo.Como se isto não bastasse, também Paulo Portas esteve no seu melhor, zurzindo o gabinete ministerial com dados demolidores sobre a segurança, desmontando as previsões da inflação e elencando todas as situações elucidativas sobre a falta de coordenação e de solidariedade no seio do Governo. Finalmente, Barroso e Portas não se digladiaram entre si. Eis o caldo de cultura para uma tarde de má memória para António Guterres.António Guterres, conhecido prestidigitador, foi esta semana ao Parlamento. Julgava o primeiro-ministro que a repetida fórmula “Guterres é muito bom parlamentar” resultaria de novo. Não resultou.

Uma tarde para esquecer

Áurea Sampaio

Paula Costa Simões

oindependente@mail.soci.pt

É muito natural que a “blague” de Carlos Carvalhas seja o fiel espelho da realidade. Um dia destes em que o primeiro-ministro aterrou no país – explicou o secretário-geral do PCP – , Jorge Coelho terá dito a Guterres: “A coisa está a ficar preta”. E perante isto, sentenciou o ministro-adjunto, “é preciso marketing político e comunicação com o país”. Seguiram-se os arranjos para o “diálogo” sob a forma de uma entrevista à RTP, o anúncio da conclusão da auto-estrada para o Algarve e a marcação do debate no Parlamento. Mas os planos saíram furados: a entrevista não correu bem, a auto-estrada já foi tantas vezes anunciada que ninguém ligou e a sessão na AR serviu mais para demonstrar as fraquezas do Governo do que para galvanizar o país. O inesperado disto tudo, possivelmente a grande novidade deste debate, talvez tenha sido o facto de Guterres se apresentar em S. Bento numa sessão marcada e com um figurino feito à sua medida, sem trazer no bolso uma só ideia ou uma proposta inovadora.

AGuterres@yahoo.pt

De facto, o primeiro-ministro atirou para o hemiciclo um conjunto de promessas, mas as exequíveis ou já tinham sido anunciadas ou constam de estudos de grupos de trabalho especializados. Estão no primeiro caso, entre outras, a reestruturação das urgências, a introdução dos genéricos, a revisão da comparticipação dos medicamentos ou o alargamento da rede de creches. No segundo grupo, incluem-se medidas como a diminuição de nove para seis dos escalões do IRS e a eliminação das taxas liberatórias em algumas situações, nomeadamente depósitos a prazo, que estão no estudo conduzido por Silva Lopes no âmbito da Reforma Fiscal. Depois há a internet e os telefones de terceira geração e a ênfase na chamada “nova economia” que tanto deslumbra Guterres e a bancada do PS. Francisco Assis chegou mesmo a dizer que “pela primeira vez na história, o tempo da contemporaneidade é igual ao tempo português”. Uma versão contrariada por toda a oposição, que desde Octávio Teixeira – “os trabalhadores pedem reposição do poder de compra, V. Exa. responde-lhes com a internet e ciberpaleio” – a Paulo Portas – “o primeiro-ministro veio para navegar na internet e eu queria convocá-lo para descer à vida comezinha da classe média portuguesa”- pontuou as divagações de Guterres pelo ciberespaço com estrondosas gargalhadas ou fartos apupos.

Temos ainda as promessas de aumentos na Função Pública no próximo ano, caso a inflação fique acima das previsões do Governo, e o não aumento dos combustíveis este ano e, quem sabe, durante toda a legislatura. Uma e outra não mereceram a credibilidade da câmara. Comunistas e bloquistas denunciaram o “eleitoralismo” dos eventuais aumentos salariais em ano de autárquicas; PSD e PP preferiram desmontar as “contradições” de Guterres na política de combustíveis que ora sacudia responsabilidades na subida dos preços ora dava garantias sobre algo que na verdade não controla. Para mais com a agravante de desmentir uma política de “verdade dos preços” garantida há poucas semanas pelo seu ministro das Finanças justamente naquele púlpito.

Coelho aponta inimigo

Mas há outro elemento novo, este protagonizado por Jorge Coelho, no discurso de encerramento do debate. O número dois do Governo usou praticamente toda a sua intervenção para um ataque cerrado ao PSD e a Durão Barroso. Foi um discurso partidário, como se fosse o líder do PS a falar com o seu mais directo opositor e com esta postura quisesse colar apenas a Guterres a pose de Estado. Coelho atirou primeiro sobre o PSD, como que a marcar o inimigo principal, acusando-o de “não ter uma única ideia para o país” e de utilizar apenas uma “estratégia de desgaste” pela “sede de poder”. Particularizou depois as críticas em Durão, a quem augurou que “nunca chegará a primeiro-ministro”, por “falta de ânimo” e porque os portugueses lhe dão “pouca confiança”. Uma valorização pouco habitual do PSD e que causou alguma estranheza nas bancadas. É certo que Coelho também falava para as suas hostes, tentando galvanizar o partido num momento particularmente difícil, mas talvez a dureza das suas palavras tenha também a ver com a boa intervenção que, pela primeira vez, o líder do PSD fez na AR. Durão foi cáustico para o Governo, enumerando todas as debilidades do estado da nação e pintando um quadro preocupante para o exercício de um futuro executivo.

Como se isto não bastasse, também Paulo Portas esteve no seu melhor, zurzindo o gabinete ministerial com dados demolidores sobre a segurança, desmontando as previsões da inflação e elencando todas as situações elucidativas sobre a falta de coordenação e de solidariedade no seio do Governo. Finalmente, Barroso e Portas não se digladiaram entre si. Eis o caldo de cultura para uma tarde de má memória para António Guterres.

O est@do do engenheiro

António Guterres, conhecido prestidigitador, foi esta semana ao Parlamento. Julgava o primeiro-ministro que a repetida fórmula “Guterres é muito bom parlamentar” resultaria de novo. Não resultou.

A forte queda da popularidade do Governo e a contestação a que tem estado sujeito nas ruas transportou-se quarta-feira para o Parlamento, no pré-debate sobre o estado da nação. Foi tão patente que, pela primeira vez, António Guterres não conseguiu “dar a volta” às críticas da oposição, que, também pela primeira vez, assestou baterias contra o Executivo em vez de se enredar nas habituais disputas entre si. E isto trouxe elementos novos para o resultado final de um debate cujo desfecho - muito negativo para o Governo - não seria previsível há bem pouco tempo.É muito natural que a “blague” de Carlos Carvalhas seja o fiel espelho da realidade. Um dia destes em que o primeiro-ministro aterrou no país – explicou o secretário-geral do PCP – , Jorge Coelho terá dito a Guterres: “A coisa está a ficar preta”. E perante isto, sentenciou o ministro-adjunto, “é preciso marketing político e comunicação com o país”. Seguiram-se os arranjos para o “diálogo” sob a forma de uma entrevista à RTP, o anúncio da conclusão da auto-estrada para o Algarve e a marcação do debate no Parlamento. Mas os planos saíram furados: a entrevista não correu bem, a auto-estrada já foi tantas vezes anunciada que ninguém ligou e a sessão na AR serviu mais para demonstrar as fraquezas do Governo do que para galvanizar o país. O inesperado disto tudo, possivelmente a grande novidade deste debate, talvez tenha sido o facto de Guterres se apresentar em S. Bento numa sessão marcada e com um figurino feito à sua medida, sem trazer no bolso uma só ideia ou uma proposta inovadora.De facto, o primeiro-ministro atirou para o hemiciclo um conjunto de promessas, mas as exequíveis ou já tinham sido anunciadas ou constam de estudos de grupos de trabalho especializados. Estão no primeiro caso, entre outras, a reestruturação das urgências, a introdução dos genéricos, a revisão da comparticipação dos medicamentos ou o alargamento da rede de creches. No segundo grupo, incluem-se medidas como a diminuição de nove para seis dos escalões do IRS e a eliminação das taxas liberatórias em algumas situações, nomeadamente depósitos a prazo, que estão no estudo conduzido por Silva Lopes no âmbito da Reforma Fiscal. Depois há a internet e os telefones de terceira geração e a ênfase na chamada “nova economia” que tanto deslumbra Guterres e a bancada do PS. Francisco Assis chegou mesmo a dizer que “pela primeira vez na história, o tempo da contemporaneidade é igual ao tempo português”. Uma versão contrariada por toda a oposição, que desde Octávio Teixeira – “os trabalhadores pedem reposição do poder de compra, V. Exa. responde-lhes com a internet e ciberpaleio” – a Paulo Portas – “o primeiro-ministro veio para navegar na internet e eu queria convocá-lo para descer à vida comezinha da classe média portuguesa”- pontuou as divagações de Guterres pelo ciberespaço com estrondosas gargalhadas ou fartos apupos.Temos ainda as promessas de aumentos na Função Pública no próximo ano, caso a inflação fique acima das previsões do Governo, e o não aumento dos combustíveis este ano e, quem sabe, durante toda a legislatura. Uma e outra não mereceram a credibilidade da câmara. Comunistas e bloquistas denunciaram o “eleitoralismo” dos eventuais aumentos salariais em ano de autárquicas; PSD e PP preferiram desmontar as “contradições” de Guterres na política de combustíveis que ora sacudia responsabilidades na subida dos preços ora dava garantias sobre algo que na verdade não controla. Para mais com a agravante de desmentir uma política de “verdade dos preços” garantida há poucas semanas pelo seu ministro das Finanças justamente naquele púlpito.Mas há outro elemento novo, este protagonizado por Jorge Coelho, no discurso de encerramento do debate. O número dois do Governo usou praticamente toda a sua intervenção para um ataque cerrado ao PSD e a Durão Barroso. Foi um discurso partidário, como se fosse o líder do PS a falar com o seu mais directo opositor e com esta postura quisesse colar apenas a Guterres a pose de Estado. Coelho atirou primeiro sobre o PSD, como que a marcar o inimigo principal, acusando-o de “não ter uma única ideia para o país” e de utilizar apenas uma “estratégia de desgaste” pela “sede de poder”. Particularizou depois as críticas em Durão, a quem augurou que “nunca chegará a primeiro-ministro”, por “falta de ânimo” e porque os portugueses lhe dão “pouca confiança”. Uma valorização pouco habitual do PSD e que causou alguma estranheza nas bancadas. É certo que Coelho também falava para as suas hostes, tentando galvanizar o partido num momento particularmente difícil, mas talvez a dureza das suas palavras tenha também a ver com a boa intervenção que, pela primeira vez, o líder do PSD fez na AR. Durão foi cáustico para o Governo, enumerando todas as debilidades do estado da nação e pintando um quadro preocupante para o exercício de um futuro executivo.Como se isto não bastasse, também Paulo Portas esteve no seu melhor, zurzindo o gabinete ministerial com dados demolidores sobre a segurança, desmontando as previsões da inflação e elencando todas as situações elucidativas sobre a falta de coordenação e de solidariedade no seio do Governo. Finalmente, Barroso e Portas não se digladiaram entre si. Eis o caldo de cultura para uma tarde de má memória para António Guterres.António Guterres, conhecido prestidigitador, foi esta semana ao Parlamento. Julgava o primeiro-ministro que a repetida fórmula “Guterres é muito bom parlamentar” resultaria de novo. Não resultou.

marcar artigo