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19-03-2002
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19/1/2002

Partido Popular O ajuste de contas

Já estiveram juntos mas o tempo afastou-os irremediavelmente. Hoje e amanhã Paulo Portas e Manuel Monteiro estarão, por fim, em confronto directo pela liderança do partido que refundaram.

Textos de Maria Teresa Oliveira e Sofia Rainho JORGE SIMÃO Hoje e amanhã serão dias históricos na relação entre Paulo Portas e Manuel Monteiro. Conheceram-se nos primeiros anos da década passada e decidiram refundar o «velho» Centro Democrático Social (CDS) com o objectivo de o transformar no Partido Popular (PP). O projecto foi ganhando forma com Manuel Monteiro à frente do partido e Portas a comandar os destinos do jornal «O Independente». No Verão de 1995, Monteiro apresenta o seu grande trunfo para as legislativas de Outubro: Paulo Portas. E a parceria resulta, triplicando os votos daquele que já era CDS/PP. No início de 1996, o então ex-director de «O Independente» filia-se como militante no distrito de Aveiro, mas as rotas de Monteiro e Portas já começavam a divergir. Era o princípio do fim de uma parceria política que chega agora ao confronto directo pela liderança. Aqui se contam dez anos da atribulada relação entre Manuel Monteiro e Paulo Portas. Hoje e amanhã serão dias históricos na relação entre Paulo Portas e Manuel Monteiro. Conheceram-se nos primeiros anos da década passada e decidiram refundar o «velho» Centro Democrático Social (CDS) com o objectivo de o transformar no Partido Popular (PP). O projecto foi ganhando forma com Manuel Monteiro à frente do partido e Portas a comandar os destinos do jornal «O Independente». No Verão de 1995, Monteiro apresenta o seu grande trunfo para as legislativas de Outubro: Paulo Portas. E a parceria resulta, triplicando os votos daquele que já era CDS/PP. No início de 1996, o então ex-director de «O Independente» filia-se como militante no distrito de Aveiro, mas as rotas de Monteiro e Portas já começavam a divergir. Era o princípio do fim de uma parceria política que chega agora ao confronto directo pela liderança. Aqui se contam dez anos da atribulada relação entre Manuel Monteiro e Paulo Portas. 1990 – Portas e Monteiro cruzam-se politicamente pela primeira vez, apesar de terem sido colegas na Faculdade de Direito da Universidade Católica. Diogo Freitas do Amaral recandidata-se a líder do CDS e Monteiro apresentou, com Ricardo Vieira, uma moção de estratégia alternativa. Portas, que não era militante do partido, faz chegar o seu apoio à moção. 1991 – Na sequência dos 4% nas legislativas de Outubro, Freitas do Amaral abandona a liderança do CDS. Basílio Horta avança e Monteiro é pressionado para se candidatar à presidência do partido. Portas estava entre os que fizeram com que aceitasse o desafio. 1992 – No Congresso do Altis, em Março, Portas, com Luís Nobre Guedes, juntou-se a Manuel Monteiro, que viria a sair líder do conclave, derrotando os outros dois candidatos (Basílio e António Lobo Xavier). O director de «O Independente» passaria a fazer parte do «núcleo duro» que transformou o CDS em Partido Popular. 1995 – Em Fevereiro, o XIII Congresso, que se realizou em Lisboa, transforma o velho Centro Democrático Social no CDS/Partido Popular. A 29 de Julho, Paulo Portas, com Monteiro ao lado, apresentou-se como o cabeça-de-lista do CDS/PP por Aveiro, assumindo de vez a sua entrada na política. O cartão de militante ainda não estava no horizonte. Em Outubro surgem os primeiros sinais de discórdia entre ambos, com as pressões de Portas para uma candidatura presidencial do CDS/PP. 1996 – Foi o ano em que tudo aconteceu. Logo em Janeiro, na Assembleia da República, dá-se um forte sinal público da importância que Portas vinha a assumir: a pedido de Monteiro, faz um discurso onde apela ao voto em Cavaco Silva nas presidenciais. O CDS/PP, nesta questão, tinha-se decidido pela «neutralidade institucional». A 1 de Março (véspera do XIV Congresso) Portas seria, finalmente, militante, mas os jornais já tinham, em definitivo, deixado de o considerar como «fidelíssimo» de Monteiro. No Congresso de Coimbra, apesar de ainda não existir um confronto directo entre os dois, já se podia sentir a rivalidade. Com o passar dos meses a bancada popular tornou-se outro pólo de conflitos. Em Junho, no encerramento de umas jornadas parlamentares no Funchal, Monteiro faz um discurso duríssimo e pede a «quem critica a direcção ou a estratégia do partido que assuma as consequências e apresente a alternativa». Paulo Portas entra em «meditação» sobre a sua «utilidade na política» e «o estado do partido». A 22 de Junho os dois têm um encontro a sós, no Parlamento, onde discutem as suas divergências e o líder tentará demover o ex-jornalista da possibilidade de abandonar a política. Na sequência do encontro, Monteiro diz: «Paulo Portas nunca estará contra mim, nem eu contra ele. Todas as notícias que pretendam dizer o contrário são falsas». Na semana seguinte, porém, já circulava a notícia de que Portas iria pedir a demissão da Comissão Política - a que, entretanto, ascendera - mantendo-se no grupo parlamentar. Os «monteiristas» acolheram esta intenção como «uma declaração de guerra». A 1 de Julho a intenção transformou-se em realidade. Um mês depois, Paulo Portas candidatava-se a líder parlamentar do PP, falando de «unidade» e «pacificação». Em Setembro já se discutia a possibilidade de um Congresso Extraordinário para mudar a liderança. Monteiro falava do regresso à advocacia. Portas afastava a possibilidade de uma candidatura. Entretanto, dá-se a votação para líder parlamentar. Monteiro é quem vota primeiro e abandona a urna de caneta em punho. Diz que votou «na estabilidade» e apelou ao voto no candidato. Votou em branco. Com a bancada dividida, Portas apenas recebe sete votos contra uma maioria de oito em branco. Duas horas depois de serem conhecidos os resultados, acompanhado de sete deputados, faz a declaração de renúncia à eleição. Suspende o mandato como deputado, seguido por Manuela Moura Guedes, Nobre Guedes, Manuel Silva Carvalho, Rui Pedrosa e Lobo Xavier. Cerca de 24 horas depois é a vez de Manuel Monteiro anunciar a sua demissão de presidente do CDS/PP: «Entrego-vos o partido», diz a Lobo Xavier. Cria-se um vazio de poder. Monteiro garante que não se recandidata e Portas, face às pressões dos monteiristas para avançar, recusa o desafio. «Não fui eu quem deu cabo de um grupo parlamentar com um discurso ofensivo, não organizei um sindicato de votos em branco para vexar a candidatura, não me demiti por razões pessoais», dizia então, acusando Monteiro e os monteiristas de «simular, dissimular, mentir e fazer pequenas traições». Manuel Monteiro acaba por se apresentar ao XV Congresso, a 14 e 15 de Dezembro, assumindo total responsabilidade pela crise no partido. Face à inexistência de alternativas, recandidata-se e ganha, de novo. 1998 – A derrota nas autárquicas de Dezembro de 1997 precipita a saída de Manuel Monteiro de líder do Partido Popular. Passam de 13 a oito câmaras e descem na percentagem de voto de 8, 42% para 5,65%. A saída de Monteiro faz voltar à cena a hipótese Paulo Portas - que, entretanto, esteve à frente do centro de sondagens da Universidade Moderna. Este começa por recusar a possibilidade mas acaba por assumir a candidatura e é eleito líder no Congresso que em Março se realizou em Braga. Maria José Nogueira Pinto (apoiada pelo líder cessante) sai derrotada. Para os anais fica a entrada de Paulo Portas no pavilhão do congresso: avança pela ala central em direcção à Mesa onde, rodeado por uma nuvem de jornalistas, dá um aperto de mão a um petrificado e incrédulo Manuel Monteiro. A vitória de Portas significa o princípio do fim do CDS/PP idealizado por ambos. O novo líder inicia a trajectória de regresso ao CDS e recupera históricos como Narana Coissoró e Ribeiro Castro, Basílio Horta ou Anacoreta Correia (que fora a Braga com Nogueira Pinto). Monteiro ficará no Parlamento até às legislativas de 1999, muitas vezes com o mandato suspenso. E com várias divergências com a direcção do partido, sendo que o tratado de Amesterdão foi um dos pontos altos da discórdia. Ao longo do ano assume protagonismo político no referendo da Regionalização, integrando o movimento «Nação Unida» que luta pelo «não» e junta nomes conhecidos das «oposições internas» aos então líderes do PSD e do PP, Marcelo Rebelo de Sousa e Paulo Portas... e à sua AD. 1999 – Em Julho, decorrem as comemorações do 25º aniversário do partido, mas Monteiro não está presente. «Nunca tive dúvidas de que não seria convidado», afirma. Meses, mais tarde, a direcção de Paulo Portas chega a admitir convidar o ex-líder popular para integrar as listas do CDS/PP às legislativas de Outubro. Mas a «reconciliação» não chega nunca a acontecer. 2000 – No Verão, Monteiro volta a dar indícios que pretende regressar à cena política. Portas responde que o seu regresso «não aquece nem arrefece». Monteiro intervém mesmo, apoiando a candidatura presidencial de Ferreira do Amaral contra o candidato do seu partido, Basílio Horta (que acabaria por desistir). 2001 – Em Julho, Manuel Monteiro assume claramente que não esqueceu o projecto do CDS/PP e promete que avançará para a liderança do partido, se para tal tiver condições. Paulo Portas opta por não comentar e desvaloriza o «regresso» do seu agora (e de novo) rival. O CDS/PP passa de oito para três câmaras nas autárquicas e Monteiro pede contas a Portas logo na noite de 16 de Dezembro. Depois de alguns dias de reflexão, Portas anuncia que não se demite e que é, de novo, candidato à liderança do partido. Monteiro dá uma conferência de Imprensa a 21 de Dezembro. Entra na corrida. 23

Há quem diga que o perfil do CDS muda com os seus líderes. E, de facto, por muitas fases tem passado o partido, sendo que a designação que os seus dirigentes vão adoptando é bem reflexo dessas mudanças. Já foi centrista, centrista-popular, popular, centrista, de novo... Em 27 anos muitas personagens ajudaram a construir a imagem do CDS/PP. Escolhemos nove nomes, representativos dos vários períodos do partido. A sua história política ajuda a perceber muito do que esta formação política foi e dá pistas sobre o que o que poderá vir a ser. O pai do CDS O pai do CDS Longe do CDS, Diogo Freitas do Amaral ainda deu uma mão a Paulo Portas nas presidenciais, disponibilizando-se para ser o candidato da AD. Criador do CDS, foi o único ex-líder do partido presente nas comemorações do seu 25º aniversário. O ausente O ausente João Morais Leitão foi um dos fundadores do CDS. Ausente do partido há largos anos, Morais Leitão, ex-ministro das Finanças e advogado de sucesso, tem preferido outras formas de intervenção política. No Verão participou no renascimento da Sedes, a cuja direcção pertence. O trânsfuga O trânsfuga Luís Beiroco teve um papel importante no CDS mas os seus caminhos parecem definitivamente afastados. As suas intervenções têm sido agora na área socialista, tendo a última sido a participação na Comissão Política da recandidatura de Jorge Sampaio. O regressado O regressado De regresso ao partido com o abandono de Manuel Monteiro, Basílio Horta mantém-se ao lado de Portas, apesar de o líder o ter sacrificado nas últimas eleições presidenciais. Como prémio de consolação, teve a liderança da bancada parlamentar. O desejado O desejado Presidente do CDS de 1986 a 1988, Adriano Moreira afastou-se da política em 1995, quando terminou o seu mandato parlamentar. O seu prestígio torna-o um dos nomes cujo apoio é mais desejado, mas tem optado por ausentar-se do partido e intervir noutros fóruns O histórico O histórico Narana Coissoró foi uma das «vítimas» da ascensão do Partido Popular e regressou com a liderança de Paulo Portas. Neste momento, tem um estatuto de histórico: é vice-presidente da Assembleia da República e vogal da Comissão Directiva do partido O «outsider» O «outsider» António Lobo Xavier foi derrotado por Manuel Monteiro na corrida à liderança do CDS, em 1992, e saiu juntamente com Paulo Portas na crise da bancada parlamentar em 1995. Lobo Xavier está com a actual direcção do partido, mas só ao longe. Sempre correu em pista própria. O fiel de Monteiro O fiel de Monteiro Nuno Fernandes Thomás foi vice-presidente de Manuel Monteiro e com ele tem continuado. Tem mantido uma regular intervenção, com críticas à actuação política da direcção de Portas. Mas não concorda com a actual candidatura de Monteiro, embora o apoie. A terceira via A terceira via Maria José Nogueira Pinto foi líder parlamentar de Manuel Monteiro e perdeu a liderança do CDS/PP para Paulo Portas no Congresso de Braga, em 1998. Mas foi a primeira a defender a continuidade do líder do partido logo após o desaire das autárquicas.

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1 comentário 1 a 1

19 de Janeiro de 2002 às 19:21

ramos18 ( jrcontreiras@netcabo.pt )

Uma história muito interessante!

E parece-me que o futuro promete ainda mais! Amanha iremos ver quem ganha. Espero que seja o melhor!

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Partido Popular O ajuste de contas

Já estiveram juntos mas o tempo afastou-os irremediavelmente. Hoje e amanhã Paulo Portas e Manuel Monteiro estarão, por fim, em confronto directo pela liderança do partido que refundaram.

Textos de Maria Teresa Oliveira e Sofia Rainho JORGE SIMÃO Hoje e amanhã serão dias históricos na relação entre Paulo Portas e Manuel Monteiro. Conheceram-se nos primeiros anos da década passada e decidiram refundar o «velho» Centro Democrático Social (CDS) com o objectivo de o transformar no Partido Popular (PP). O projecto foi ganhando forma com Manuel Monteiro à frente do partido e Portas a comandar os destinos do jornal «O Independente». No Verão de 1995, Monteiro apresenta o seu grande trunfo para as legislativas de Outubro: Paulo Portas. E a parceria resulta, triplicando os votos daquele que já era CDS/PP. No início de 1996, o então ex-director de «O Independente» filia-se como militante no distrito de Aveiro, mas as rotas de Monteiro e Portas já começavam a divergir. Era o princípio do fim de uma parceria política que chega agora ao confronto directo pela liderança. Aqui se contam dez anos da atribulada relação entre Manuel Monteiro e Paulo Portas. Hoje e amanhã serão dias históricos na relação entre Paulo Portas e Manuel Monteiro. Conheceram-se nos primeiros anos da década passada e decidiram refundar o «velho» Centro Democrático Social (CDS) com o objectivo de o transformar no Partido Popular (PP). O projecto foi ganhando forma com Manuel Monteiro à frente do partido e Portas a comandar os destinos do jornal «O Independente». No Verão de 1995, Monteiro apresenta o seu grande trunfo para as legislativas de Outubro: Paulo Portas. E a parceria resulta, triplicando os votos daquele que já era CDS/PP. No início de 1996, o então ex-director de «O Independente» filia-se como militante no distrito de Aveiro, mas as rotas de Monteiro e Portas já começavam a divergir. Era o princípio do fim de uma parceria política que chega agora ao confronto directo pela liderança. Aqui se contam dez anos da atribulada relação entre Manuel Monteiro e Paulo Portas. 1990 – Portas e Monteiro cruzam-se politicamente pela primeira vez, apesar de terem sido colegas na Faculdade de Direito da Universidade Católica. Diogo Freitas do Amaral recandidata-se a líder do CDS e Monteiro apresentou, com Ricardo Vieira, uma moção de estratégia alternativa. Portas, que não era militante do partido, faz chegar o seu apoio à moção. 1991 – Na sequência dos 4% nas legislativas de Outubro, Freitas do Amaral abandona a liderança do CDS. Basílio Horta avança e Monteiro é pressionado para se candidatar à presidência do partido. Portas estava entre os que fizeram com que aceitasse o desafio. 1992 – No Congresso do Altis, em Março, Portas, com Luís Nobre Guedes, juntou-se a Manuel Monteiro, que viria a sair líder do conclave, derrotando os outros dois candidatos (Basílio e António Lobo Xavier). O director de «O Independente» passaria a fazer parte do «núcleo duro» que transformou o CDS em Partido Popular. 1995 – Em Fevereiro, o XIII Congresso, que se realizou em Lisboa, transforma o velho Centro Democrático Social no CDS/Partido Popular. A 29 de Julho, Paulo Portas, com Monteiro ao lado, apresentou-se como o cabeça-de-lista do CDS/PP por Aveiro, assumindo de vez a sua entrada na política. O cartão de militante ainda não estava no horizonte. Em Outubro surgem os primeiros sinais de discórdia entre ambos, com as pressões de Portas para uma candidatura presidencial do CDS/PP. 1996 – Foi o ano em que tudo aconteceu. Logo em Janeiro, na Assembleia da República, dá-se um forte sinal público da importância que Portas vinha a assumir: a pedido de Monteiro, faz um discurso onde apela ao voto em Cavaco Silva nas presidenciais. O CDS/PP, nesta questão, tinha-se decidido pela «neutralidade institucional». A 1 de Março (véspera do XIV Congresso) Portas seria, finalmente, militante, mas os jornais já tinham, em definitivo, deixado de o considerar como «fidelíssimo» de Monteiro. No Congresso de Coimbra, apesar de ainda não existir um confronto directo entre os dois, já se podia sentir a rivalidade. Com o passar dos meses a bancada popular tornou-se outro pólo de conflitos. Em Junho, no encerramento de umas jornadas parlamentares no Funchal, Monteiro faz um discurso duríssimo e pede a «quem critica a direcção ou a estratégia do partido que assuma as consequências e apresente a alternativa». Paulo Portas entra em «meditação» sobre a sua «utilidade na política» e «o estado do partido». A 22 de Junho os dois têm um encontro a sós, no Parlamento, onde discutem as suas divergências e o líder tentará demover o ex-jornalista da possibilidade de abandonar a política. Na sequência do encontro, Monteiro diz: «Paulo Portas nunca estará contra mim, nem eu contra ele. Todas as notícias que pretendam dizer o contrário são falsas». Na semana seguinte, porém, já circulava a notícia de que Portas iria pedir a demissão da Comissão Política - a que, entretanto, ascendera - mantendo-se no grupo parlamentar. Os «monteiristas» acolheram esta intenção como «uma declaração de guerra». A 1 de Julho a intenção transformou-se em realidade. Um mês depois, Paulo Portas candidatava-se a líder parlamentar do PP, falando de «unidade» e «pacificação». Em Setembro já se discutia a possibilidade de um Congresso Extraordinário para mudar a liderança. Monteiro falava do regresso à advocacia. Portas afastava a possibilidade de uma candidatura. Entretanto, dá-se a votação para líder parlamentar. Monteiro é quem vota primeiro e abandona a urna de caneta em punho. Diz que votou «na estabilidade» e apelou ao voto no candidato. Votou em branco. Com a bancada dividida, Portas apenas recebe sete votos contra uma maioria de oito em branco. Duas horas depois de serem conhecidos os resultados, acompanhado de sete deputados, faz a declaração de renúncia à eleição. Suspende o mandato como deputado, seguido por Manuela Moura Guedes, Nobre Guedes, Manuel Silva Carvalho, Rui Pedrosa e Lobo Xavier. Cerca de 24 horas depois é a vez de Manuel Monteiro anunciar a sua demissão de presidente do CDS/PP: «Entrego-vos o partido», diz a Lobo Xavier. Cria-se um vazio de poder. Monteiro garante que não se recandidata e Portas, face às pressões dos monteiristas para avançar, recusa o desafio. «Não fui eu quem deu cabo de um grupo parlamentar com um discurso ofensivo, não organizei um sindicato de votos em branco para vexar a candidatura, não me demiti por razões pessoais», dizia então, acusando Monteiro e os monteiristas de «simular, dissimular, mentir e fazer pequenas traições». Manuel Monteiro acaba por se apresentar ao XV Congresso, a 14 e 15 de Dezembro, assumindo total responsabilidade pela crise no partido. Face à inexistência de alternativas, recandidata-se e ganha, de novo. 1998 – A derrota nas autárquicas de Dezembro de 1997 precipita a saída de Manuel Monteiro de líder do Partido Popular. Passam de 13 a oito câmaras e descem na percentagem de voto de 8, 42% para 5,65%. A saída de Monteiro faz voltar à cena a hipótese Paulo Portas - que, entretanto, esteve à frente do centro de sondagens da Universidade Moderna. Este começa por recusar a possibilidade mas acaba por assumir a candidatura e é eleito líder no Congresso que em Março se realizou em Braga. Maria José Nogueira Pinto (apoiada pelo líder cessante) sai derrotada. Para os anais fica a entrada de Paulo Portas no pavilhão do congresso: avança pela ala central em direcção à Mesa onde, rodeado por uma nuvem de jornalistas, dá um aperto de mão a um petrificado e incrédulo Manuel Monteiro. A vitória de Portas significa o princípio do fim do CDS/PP idealizado por ambos. O novo líder inicia a trajectória de regresso ao CDS e recupera históricos como Narana Coissoró e Ribeiro Castro, Basílio Horta ou Anacoreta Correia (que fora a Braga com Nogueira Pinto). Monteiro ficará no Parlamento até às legislativas de 1999, muitas vezes com o mandato suspenso. E com várias divergências com a direcção do partido, sendo que o tratado de Amesterdão foi um dos pontos altos da discórdia. Ao longo do ano assume protagonismo político no referendo da Regionalização, integrando o movimento «Nação Unida» que luta pelo «não» e junta nomes conhecidos das «oposições internas» aos então líderes do PSD e do PP, Marcelo Rebelo de Sousa e Paulo Portas... e à sua AD. 1999 – Em Julho, decorrem as comemorações do 25º aniversário do partido, mas Monteiro não está presente. «Nunca tive dúvidas de que não seria convidado», afirma. Meses, mais tarde, a direcção de Paulo Portas chega a admitir convidar o ex-líder popular para integrar as listas do CDS/PP às legislativas de Outubro. Mas a «reconciliação» não chega nunca a acontecer. 2000 – No Verão, Monteiro volta a dar indícios que pretende regressar à cena política. Portas responde que o seu regresso «não aquece nem arrefece». Monteiro intervém mesmo, apoiando a candidatura presidencial de Ferreira do Amaral contra o candidato do seu partido, Basílio Horta (que acabaria por desistir). 2001 – Em Julho, Manuel Monteiro assume claramente que não esqueceu o projecto do CDS/PP e promete que avançará para a liderança do partido, se para tal tiver condições. Paulo Portas opta por não comentar e desvaloriza o «regresso» do seu agora (e de novo) rival. O CDS/PP passa de oito para três câmaras nas autárquicas e Monteiro pede contas a Portas logo na noite de 16 de Dezembro. Depois de alguns dias de reflexão, Portas anuncia que não se demite e que é, de novo, candidato à liderança do partido. Monteiro dá uma conferência de Imprensa a 21 de Dezembro. Entra na corrida. 23

Há quem diga que o perfil do CDS muda com os seus líderes. E, de facto, por muitas fases tem passado o partido, sendo que a designação que os seus dirigentes vão adoptando é bem reflexo dessas mudanças. Já foi centrista, centrista-popular, popular, centrista, de novo... Em 27 anos muitas personagens ajudaram a construir a imagem do CDS/PP. Escolhemos nove nomes, representativos dos vários períodos do partido. A sua história política ajuda a perceber muito do que esta formação política foi e dá pistas sobre o que o que poderá vir a ser. O pai do CDS O pai do CDS Longe do CDS, Diogo Freitas do Amaral ainda deu uma mão a Paulo Portas nas presidenciais, disponibilizando-se para ser o candidato da AD. Criador do CDS, foi o único ex-líder do partido presente nas comemorações do seu 25º aniversário. O ausente O ausente João Morais Leitão foi um dos fundadores do CDS. Ausente do partido há largos anos, Morais Leitão, ex-ministro das Finanças e advogado de sucesso, tem preferido outras formas de intervenção política. No Verão participou no renascimento da Sedes, a cuja direcção pertence. O trânsfuga O trânsfuga Luís Beiroco teve um papel importante no CDS mas os seus caminhos parecem definitivamente afastados. As suas intervenções têm sido agora na área socialista, tendo a última sido a participação na Comissão Política da recandidatura de Jorge Sampaio. O regressado O regressado De regresso ao partido com o abandono de Manuel Monteiro, Basílio Horta mantém-se ao lado de Portas, apesar de o líder o ter sacrificado nas últimas eleições presidenciais. Como prémio de consolação, teve a liderança da bancada parlamentar. O desejado O desejado Presidente do CDS de 1986 a 1988, Adriano Moreira afastou-se da política em 1995, quando terminou o seu mandato parlamentar. O seu prestígio torna-o um dos nomes cujo apoio é mais desejado, mas tem optado por ausentar-se do partido e intervir noutros fóruns O histórico O histórico Narana Coissoró foi uma das «vítimas» da ascensão do Partido Popular e regressou com a liderança de Paulo Portas. Neste momento, tem um estatuto de histórico: é vice-presidente da Assembleia da República e vogal da Comissão Directiva do partido O «outsider» O «outsider» António Lobo Xavier foi derrotado por Manuel Monteiro na corrida à liderança do CDS, em 1992, e saiu juntamente com Paulo Portas na crise da bancada parlamentar em 1995. Lobo Xavier está com a actual direcção do partido, mas só ao longe. Sempre correu em pista própria. O fiel de Monteiro O fiel de Monteiro Nuno Fernandes Thomás foi vice-presidente de Manuel Monteiro e com ele tem continuado. Tem mantido uma regular intervenção, com críticas à actuação política da direcção de Portas. Mas não concorda com a actual candidatura de Monteiro, embora o apoie. A terceira via A terceira via Maria José Nogueira Pinto foi líder parlamentar de Manuel Monteiro e perdeu a liderança do CDS/PP para Paulo Portas no Congresso de Braga, em 1998. Mas foi a primeira a defender a continuidade do líder do partido logo após o desaire das autárquicas.

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19 de Janeiro de 2002 às 19:21

ramos18 ( jrcontreiras@netcabo.pt )

Uma história muito interessante!

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